Sunday, September 16, 2007

Sugestões

Por ordem meramente alfabética, apresentam-se alguns livros que seriam recomendáveis a um estrangeiro (como obras de literatura portuguesa a ler). Em boa parte, segui a selecção, feita por Fernando Pinto do Amaral, em Cem livros portugueses do século XX (Instituto Camões, 2002; [as imagens clicáveis incluem, em geral, textos desta obra]). Escolhi uma dezena e meia desses livros, juntei outros que sei que já conhecem, do século XX ou anteriores, fazendo questão de misturar alguns a que nos temos referido recentemente (mesmo que alguns pareçam não merecer tamanha honra). De qualquer modo, não te cinjas a este elenco: se conheceres outros livros importantes, não deixes de os incluir na tua escolha dos cinco livros de escritores portugueses que recomendarias.
Adília Lopes, Obra
Há dois anos, muitos de vocês leram poemas desta escritora contemporânea. Aqui, pode ler-se a entrevista que alguns lhe fizeram então.





Agustina Bessa-Luís, A Sibila Podia ter posto aqui muitos outros romances de Agustina, mas A Sibila é talvez o mais conhecido da escritora, sobretudo por tradição escolar. E foi o que escolheu Fernando Pinto do Amaral.







Alberto Caeiro, Poemas. Um dos heterónimos de Fernando Pessoa. Os manuscritos de O Guardador de Rebanhos estão visíveis aqui.




Alexandre O’Neill, Poesias Completas De O'Neill lemos um auto-retrato em soneto (feito à semelhança de um de Bocage, outro poeta que merecia estar nesta selecção), vimos o começo de um filme de Fernando Lopes (em que se mostravam poemas sobre sinais de pontuação e se ouvia um depoimento de um amigo de Alexandre O'Neill, o poeta italiano, lusófilo, Antonio Tabucchi). No manual reaparece nas pp. 154 a 157.


Alice Vieira, Rosa, Minha irmã Rosa Poderá parecer forçado mencionar uma autora «de literatura juvenil». Lemos textos seus quer o ano passado (Um fio de fumo nos confins do mar) quer logo no sétimo ano. Vê aqui começos de muitos dos livros de Alice Vieira, incluindo o de Rosa, minha irmã Rosa.
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa No começo do ano passado chegámos a ler um trecho ou dois desta obra (os que no manual surgiam como ilustração do género, ou modo, dramático). Vimos depois sequências de dois filmes (recente e mais antigo) com adaptação da célebre peça. (Garrett é também o autor de livro narrativo, Viagens na Minha Terra, que também devia figurar nesta lista.) Boa página sobre Garrett.
Álvaro de Ca
mpos, Poesias Ainda outro heterónimo de Fernando Pessoa. (Pessoa virá a ser muito estudado no 12.º ano, sobretudo)




António Gedeão, Movimento Perpétuo Celebrou-se o centenário do seu nascimento o ano passado. Fizeram-se na escola exposições sobre este autor (poeta e professor de Física). Alguns dos trabalhos que então se fizeram para o concurso António Gedeão/Rómulo de Carvalho: do 9.º 1.ª; do 9.º 2.ª; do 9.º 3.ª; do 9.º 5.ª; do 9.º 6.ª. Veja-se também o catálogo da exposição organizada pela Biblioteca Nacional de Lisboa (António é o meu nome).




António Lobo Antunes, Livro de Crónicas Proximamente, leremos textos de Lobo Antunes (mas do seu livro de cartas de guerra). As crónicas parecem-me ser do melhor de Lobo Antunes (e, salvo erro, também temos alguma no manual).




António Nobre, Em anos anteriores calhou lermos textos do . A secção «Poemas de amor portugueses» abre com uma poesia de António Nobre, poeta que fecha o século XIX (ou abre o XX).




Bernardo Soares, Livro do Desassossego Heterónimo de Fernando Pessoa, os seus textos são de prosa poética (e integram-se bem na 1.ª sequência do programa do décimo ano, destinada à leitura de textos introspectivos).





Bocage, Sonetos Sugiro Bocage por, já este ano, termos visto um seu soneto, o famoso auto-retrato («Magro, de olhos azuis, carão moreno»), que inspirou, por exemplo, Alexandre O'Neill (e um tepecê nosso, já agora). Autor do final do século XVIII — tendo ainda produzido no início do século XIX —, Bocage alarga assim a cronologia desta lista. Veja-se aqui boa página sobre «Elmano Sadino».
Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição
Lembro-me que Marta Prino (agora no 10.º 7.ª) escreveu sobre este livro — que aqui representa Camilo (que tinha mesmo de figurar em lista deste género). Apesar de longa, transcrevo a recensão da Marta: «Esta obra suscitou-me interesse por ter assistido à sua representação por um grupo de teatro de Santarém, VETO — Teatro Oficina, e também porque vi um ou dois episódios da novela Paixões Proibidas, baseada nas histórias de Camilo Castelo Branco, o autor do romance. O que mais me cativou foi o facto de se retratar uma história de amor intensa e dramática. // O romance narra a história dos amores contrariados de Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, cujos pais vivem numa divergência constante e inabalável, medindo a todo o momento o seu poder em perante o outro, tornando-se, portanto, impossível esta relação de amor. // Domingos Botelho e Tadeu de Albuquerque são personagens com um carácter semelhante, porque tanto um como o outro representam pais autoritários que parecem defender princípios morais, mas que no fundo defendem os seus interesses pessoais pela força do dinheiro e o poder da posição social. // Contrastando com o protagonista da história, surge Baltasar Coutinho que se revela cobarde, cínico, vaidoso e defensor dos seus interesses a todo o custo, através de uma relação com Teresa de Albuquerque, que o rejeita. // Teresa de Albuquerque e Simão Botelho são as personagens principais. Vivem um amor romântico que tentam defender através da sua força interior, persistência e esperança. São parecidos um com o outro nessa força que os une. Teresa, que é sensível e frágil embora nunca se submeta à vontade do pai, mostra-se determinada e totalmente dedicada a este amor, chegando a preferir a morte a entregar-se a seu primo Baltasar Coutinho. Simão, jovem forte, culto e persistente, manifesta também um comportamento romântico, dedicando toda a sua energia ao amor por Teresa. Porém, acaba por desistir de ter esperança, ao preferir o degredo, que lhe permitiria uma vida em liberdade, à prisão, que lhe permitiria estar mais próximo de Teresa e, quem sabe, um futuro com a sua amada. // Torna-se este enredo ainda mais triste pela participação de Mariana, filha do ferreiro João Cruz, moça do povo, pobre, pouco culta mas pura e bondosa, que acaba por se apaixonar por Simão, dedicando-se por completo a um amor desinteressado e não correspondido, chegando mesmo a ajudar Simão na sua relação com Teresa durante o isolamento. // A intriga destes amores proibidos emociona e leva-nos a pensar nas atitudes e comportamentos dos homens e das mulheres perante os obstáculos do amor. Uns revelam privilegiar o amor verdadeiro, mostrando força de carácter, persistência e confiança nesse amor, outros preferem dar mais valor aos interesses materiais e ao poder do dinheiro ou da posição social. Também podemos reflectir acerca das alterações que ocorreram na sociedade desde a época em que o romance foi escrito até aos nossos dias. A autoridade dos pais em relação aos filhos, dos homens em relação às mulheres, das classes sociais mais elevadas em relação às classes mais baixas, alterou-se. Hoje em dia há mais liberdade e os direitos dos mais fracos passaram a ser mais respeitados, apesar de sabermos que, em muitos locais e em sociedades menos desenvolvidas, isso ainda não acontece. Posso recomendar este livro pela intriga romântica e também porque é um bom retrato da sociedade da época.»
Camilo Pessanha, Clepsidra




Cesário Verde, Poesias Tendo vivido no século XIX (aliás pouco, já que morreu jovem), foi talvez o poeta que mais influenciou a escrita portuguesa do século XX. Transcrevo o poema que, há dois anos talvez, estava no nosso manual (ou foi lido em concurso de poemas de amor portugueses). De tarde // Naquele «pic-nic» de burguesas, / Houve uma cousa simplesmente bela, / E que, sem ter história nem grandezas, / Em todo o caso dava uma aguarela. // Foi quando tu, descendo do burrico, / Foste colher, sem imposturas tolas, / A um granzoal azul de grão-de-bico / Um ramalhete rubro de papoulas. // Pouco depois, em cima duns penhascos, / Nós acampámos, inda o sol se via; / E houve talhadas de melão, damascos, / E pão-de-ló molhado em malvasia. // Mas, todo púrpuro a sair da renda / Dos teus dois seios como duas rolas, / Era o supremo encanto da merenda / O ramalhete rubro das papoulas!
Eça de Queirós, A cidade e as serras Esperar-se-ia que puséssemos Os Maias (ou mesmo O Crime do Padre Amaro ou A Ilustre Casa de Ramires). Porém, sigo a escolha de Fernando Pinto do Amaral (que, para pôr obra de Eça no XX, acabou por preferir este livro, que Eça já não pôde rever na totalidade — foi a Ramalho Ortigão que coube essa tarefa). Site com obras de Eça digitalizadas.
Gil Vicente, Compilação de Todas as Obras
Não poderíamos pôr aqui apenas um dos autos (embora da Barca do Inferno até haja um folheto que circulou à época); para homenagem a um dramaturgo que estudaste o ano passado, figura assim a compilação que das suas obras fez o filho Luís Vicente. Essa edição póstuma é visível aqui: Obras completas de Gil Vicente (edição fac-similada da Copilaçam de todalas obras de Gil Vicente, 1562); clica depois na capa, para entrares nas várias páginas.
Fernando Pessoa, Poemas
Realmente, Pessoa está multiplamente representado nesta selecção (pelos heterónimos Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Bernardo Soares — só preterimos Ricardo Reis — e pelo ortónimo, Fernando Pessoa ele-mesmo, portanto, dos Poemas e de Mensagem (ver a seguir). Nesta secção estão alguns vídeos (de alunos brasileiros sobretudo) com poemas de Fernando Pessoa.
Fernando Pessoa, Mensagem O ano passado, sobretudo para estabelecer paralelos ou contrastes, com Os Lusíadas, lemos poemas deste livro de Fernando Pessoa, o único que publicou em vida (se exceptuarmos as publicações em inglês). Nesta secção, logo depois de umas referências a Camões, pus o ano passado uns vídeos com poemas de Mensagem (e de mais Fernando Pessoa ortónimo).
Ferreira de Castro, A Selva Na geração dos meus pais era um autor mais querido do que é agora.







Florbela Espanca, Charneca em flor Para ver textos de Florbela Espanca, clicar aqui. No nosso manual há dossiê seu entre as pp. 126 e 129.




José Cardoso Pires, O Delfim Ainda na última aula se leu um texto de José Cardoso Pires. Também, cheguei a mostrar o início do filme adaptado de O Delfim.






José Gomes Ferreira, Poesia-I Fica o José Gomes Ferreira poeta — porque assim está no livro cujas imagens estou a aproveitar —, embora o Zé Gomes cronista não lhe seja inferior (quanto a mim, é mesmo melhor).


José Saramago, Memorial do Convento É obra incluída no programa do 12.º ano. (No 12.º ano também se volta a estudar Os Lusíadas. E Fernando Pessoa, de que já falei há pouco.)

Luís de Camões, Os Lusíadas Já conheces algumas das passagens do poema épico português mais famoso. Aqui está a reprodução digital de uma das suas edições: Os Lusíadas (edição «Ee»), 1572. Uma vez neste endereço, pode clicar-se na indicação das folhas (à esquerda) e vai-se tendo cada uma das páginas dos Lusíadas. Também: Os Lusíadas, em edição moderna.
Manuel Alegre, Praça da Canção Sobretudo por termos lido textos deste autor recentemente. No manual há textos seus sobretudo nas pp. 170 a 175.
Mário Dionísio, O Dia Cinzento e outros contos O ano passado lemos contos desta colectânea de pequenas narrativas. Mariana (agora no 10.º 8.ª ou no 10.º 9.ª) escreveu um excelente texto sobre este livro: «O segundo livro da colecção “Obras de Mário Dionísio” foi uma obra que me encantou. Fiquei a conhecê-la através do meu professor de Língua Portuguesa ao propor aos alunos que fizessem, como trabalho de casa, continuações de pequenos trechos, retirados do início de cada um dos catorze contos deste autor. Além de me ter interessado pela escrita descritiva, mas ao mesmo tempo crítica pormenorizada à sociedade, também fiquei curiosa por comparar as “continuações” que escrevera com as verdadeiras. Ao ler o livro, concluí igualmente que a escrita deste autor retrata essencialmente aspectos da sociedade dos anos 40, aludindo às diferenças sociais, aos modos de vida, de educação e, por vezes, à família. São histórias de final aberto, o que permite aos leitores interpretarem o que lêem de diferentes modos: imaginar questões não descritas na história sobre as personagens, ou razões do seu comportamento face aos outros e à sociedade em geral, por exemplo. Os títulos dos contos são: “Nevoeiro na cidade”, “Véspera”, “Assobiando à vontade”, “Os sapatos da irmã”, “Morena-Vulcão”, “O corte das raízes”, “A lata de conserva”, “A corrida”, “Os bonecreiros vão de terra em terra”, “Uma principiante”, “Sardinhas e vento”, “Uma tarde de Agosto”, “Horas suplementares” e “Entre cafés e pensamentos”.Interessei-me particularmente por “Assobiando à vontade”, conto que fala da habitual e apressada rotina diária da cidade, num dia de trabalho. No meio de todo esse caos, há alguém que permanece “intacto”, não parecendo ser tocado pelo stress. Entra num eléctrico cheio, insistindo para que o deixem passar, e, vendo um lugar desocupado que ninguém quer, lá se senta, despertando toda a multidão que se encontra no transporte, por achar aquele homem um tanto estranho. Essas pessoas ficam então a observar o sujeito que acaba de se sentar, e este, sentindo-se já confortável no seu lugar, decide começar a assobiar, para grande espanto de todos. E, indiferente à reacção dos outros passageiros, o indivíduo cada vez se entusiasma mais, deixando todos perplexos perante tal situação, invulgar naqueles tempos. Desde a sua entrada até à sua saída do eléctrico, contam-se reacções, pensamentos e gestos das restantes personagens, dependentes da presença da personagem principal. Neste texto aprendi que, muitas vezes, as pessoas só se preocupam com elas próprias e com o que lhes compete fazer no dia-a-dia e apenas isso, raramente ligando ao que realmente é importante. Como essas pessoas estão tão habituadas ao estilo de vida que levam, qualquer acontecimento estranho a que assistam, merece uma atitude intolerante, por vezes de desprezo ou mesmo de inveja. Qualquer um que não aja como uma maioria, é visto de forma crítica e pejorativa. Esta é a mensagem que o conto me transmite. É também a minha opinião pessoal sobre a atitude de algumas pessoas para com outras. Resta-me acrescentar que agora que descobri esta escrita, que tão bem me impressionou, não deixarei de procurar mais obras deste autor.»
Miguel Torga, A Criação do Mundo Decorreram este ano comemorações do centenário de Torga (pseudónimo de Adolfo Rocha). Já o ano passado lemos poemas seus; este ano, as pp. 136 a 139 do manual contêm textos de Torga. No dia da escola ficarão expostos no CRE trabalhos sobre o poeta (e a biblioteca prepara exposição biobibliográfica). Sobre Torga. Também podes escolher as obras de pequenos contos: Os Bichos, Novos Contos da Montanha, por exemplo.
Raul Proença (coord.), Guia de Portugal É um livro diferente dos outros desta lista: é colectivo; tendo textos literários (foi colaborado pelos principais escritores dos anos vinte, trinta e quarenta do século passado), não deixa de ter um cariz utilitário (embora essa parte esteja prejudicada pela passagem de décadas que o desactualizaram como guia turístico propriamente dito); são vários volumes, mas o melhor será o primeiro, sobre Lisboa e arredores.
Ruben A., A Torre da Barbela De Ruben A., leremos proximamente trechos de livros memorialísticos. Não é o caso de A Torre da Barbela, que é decerto o seu livro mais conhecido. É engraçado que fique aqui colado a Sophia, com quem conviveu tão de perto.

Sophia de Mello Breyner, Poesia Desde o sétimo ano é talvez a autora de quem mais temos lido poemas. No nosso manual, a pp. 140-147, há novo dossiê com textos seus.
Vergílio Ferreira, Manhã Submersa Haveria outros livros de Vergílio Ferreira que aqui poderiam figurar (por exemplo, os mais monologais, diarísticos, introspectivos). Fica Manhã Submersa, por se relacionar bastante com a biografia do escritor, por a ela termos aludido no sétimo e no oitavo ano (e a irmos agora referir de novo, a propósito do próximo texto que leremos).

Vitorino Nemésio, Mau tempo no canal Boa página sobre Nemésio.




Teixeira de Pascoaes, Marânus Havia que fazer figurar Pascoaes. Ora, no texto «Quase um auto-retrato», que lemos há duas ou três aulas, Manuel Alegre citava por duas vezes o «autor de Marânus».