Sunday, September 14, 2008

11.º 2.ª

Seguem-se os publifilmes do 11.º 2.ª (Francisco Ch., Marta, Inês, Miguel S., Jorge, Sara A. & Sara C., Pedro G., José, Francisco D., Mariana & Sara M., Tiago, Bernardo, Joana I, Ricardo, Catarina T. & Pedro M., Carlota & Catarina F., Alexis). Estes microfilmes de publicidade à Escola Secundária José Gomes Ferreira enquadram-se na parte que o programa do 11.º ano dedica aos media e à publicidade; visaram ainda testar a expressão oral (leitura em voz alta, representação ou oralidade sem intermediação de texto escrito). Começaram a ser aqui publicados a 20 de Novembro de 2008, dia do 28.º aniversário da ESJGF. (Publifilmes de 2008-2009: 11.º 1.ª, 11.º 2.ª, 11.º 4.ª, 11.º 5.ª, 11.º 6.ª; Instruções para a tarefa; Microfilmes de 2007-2008: 10.º 1.ª; 10.º 2.ª; 10.º 4.ª; 10.º 5.ª; 10.º 6.ª; Bibliofilmes de 2007-2008: 10.º 1.ª; 10.º 2.ª; 10.ª 4.ª; 10.º 5.ª; 10.º 6.ª.)

Francisco Ch.


Francisco Ch. (16,8-17) Concepção Conjuga-se um texto publicitário com outros registos fílmicos e tópicos (das narrativas de suspense ao Benfica). Esta intertextualidade tem um resultado de paródia, sem que no entanto se perca o objectivo primeiro do clip, o louvor da escola. A criatividade e a capacidade técnica tornam o filme agradável de seguir. Há sentido de narratividade, e e síntese (boa solução a de agrupar tudo em quatro características) de que a publicidade também se socorre muitas vezes. Montagem e música estão bem articuladas. Expressão oral Boa. Não notei erros de «pontuação» ou de entoação. Já a pronúncia me parece melhorável. Acontece o que digo no comentário ao filme do Miguel S.: na leitura formal não se deve ser tão comedor de fonemas: «características» resulta em [katkísticas]; «comerciais» é ouvido [cumsaix]; «bullying, [buli] (sim, não sei se a boa pronúncia inglesa anda muito longe disto). Texto Chamou o Francisco a atenção para aspectos da escola que não vejo assim tão gabados em outros filmes (e que realmente me parecem cruciais): o contexto da escola (proximidade de espaços comerciais e de outras escolas; o bairro; o S. L. Benfica), os aspectos de convívio (entre alunos e entre alunos e professores). Creio que aqui há um lapso: «bom companheirismo, seja entre alunos, seja entre professores» seria «bom companheirismo, seja entre alunos, seja entre alunos e professores» (aliás, embora não seja matéria para aqui chamada, devo dizer que já houve companheirismo entre professores, mas este governo conseguiu envenenar tudo e o ambiente entre professores nunca foi tão mau como agora). Duração 2,42

Marta

Marta (17-17,4) Concepção Conseguiu-se bom equilíbrio entre as necessidades de fazer exercício (de texto e de expressão oral) e criar clip publicitário. As imagens mostram o que alguém que vá avançando pelas instalações da ESJGF irá vendo. Fica-se, portanto, com uma perspectiva de caminhante, propícia a interiorizar que o destinatário do clip é também o sujeito que assim descobre a Secundária. Expressão oral Leitura em voz alta irreprensível. O tom é mais memorialístico do que radiofónico (como talvez se impusesse?). Texto Correcto gramaticalmente, sem nenhum problema de sintaxe, mas abusando de um registo com que começo a implicar (embora a Marta disso não tenha culpa): «lutar pelo que queremos», «incutir valores», «perspectivar o futuro», «enfrentar o desconhecido», «do tão desejado conhecimento» são expressões-bengala, a que se recorre por ser mais fácil usar um fraseado abrangente (e sempre politicamente correcto) do que encontrar o que exactamente se poderia dizer. Mas é verdade que a publicidade institucional tende sempre a aproveitar este tipo de « langue de bois». Bom slogan: «ESJGF, a tua segunda casa». Duração 1,37

Inês

Inês (17-17,5) Concepção A linha seguida no início («no seu tempo era assim», agora...) podia ter sido mais aproveitada. Segue-se-lhe caracterização da escola — correcta, talvez demasiado institucional. Pareceu-me que o estilo de texto, encomiástico, convencido, empresarial, pedia imagens mais rápidas, a acompanhar com o seu dinamismo a «excelência» (palavra que aliás detesto) de tudo. Também uma música mais eufórica faria bem ao conjunto. Expressão oral Muito boa leitura. Texto Já fui falando do texto (em cima). Slogan («Porque o futuro começa aqui») é estruralmente correcto, mas julgo-o já conhecido. Uma falha de sintaxe: «o acompanhamento [de] que necessitam» (tem de haver preposição); também «o que o seu filho necessita» tem de ficar «aquilo de que o seu filho necessita». Duração 2,05

Miguel S.

Miguel S. (17-17,2) Concepção Inicialmente, o filme adopta o formato de reportagem, visita guiada. No final, descobre-se que a primeira parte, documental, se destina a passar uma mensagem, essa sim, publicitária. Há um momento, que precede o final, em que se usa um recurso recorrente nos anúncios televisivos «clássicos», a entrevista ao acaso para recolha de depoimentos abonatórios do produto. Neste ponto, o realizador beneficiou da extrema espontaneidade e qualidades de representação de Inês e Francisco. (Sim, sim, não estou a falar a sério.) Bloopers são boa solução para fecho (embora na reprodução no Blogger ficasse cortada a última fala, «Chicão», o que faz parecer abrupta a conclusão, mas não é culpa do autor). Como costuma acontecer com os filmes de Miguel, há muito boa planificação, originalidade de concepção, sem se deixar de cumprir as instruções da tarefa. Expressão oral Sem falhas na entoação e na «pontuação», continua a haver, aqui e ali, uma pronúncia — excessivamente fluida, por assim dizer — decididamente lisboeta. Exemplos: «prática» quase é ouvido como [pratka]; «testemunho» fica [tchmunho]. No oral conversado, entre lisboetas, é aceitável; em leitura para documentário, nem tanto, e há que comer menos sílabas ou vogais. Texto Sem falhas, a não ser talvez quando se diz «propício para o estudo» (preferível: «propício ao estudo»). Uma consequência do estilo ‘visita guiada’ é, a partir de certo momento, poder abusar-se dos deícticos (repetir as mesmas fórmulas: «este é», «esta é», «estamos agora»). Duração 2,17

Jorge

Jorge (16-16,5) Concepção O começo é irónico e anuncia estilo telegráfico. Essa estratégia é uma espécie de exórdio (ou de captatio benevolentiae, dentro do exórdio). Para que em termos de clip o tratamento em alíneas resultasse por completo, deveria haver uma maior definição de cada um dos tempos (por música, por mudança no ritmo da locução). Enfim, devia ritmar-se mais o clip, em função dessas divisões. Ou, táctica contrária, manter o mesmo «perfil baixo» da parte em alíneas, mas acrescentar no final um momento breve, forte, de slogan. Expressão oral Boa leitura, ou mesmo muito boa leitura, excepto em «e, consequentemente, [...]», onde as vírgulas do escrito não poderiam ter tanta tradução oral. No ponto 4 há um trecho que se percebe mal (por ter sido dito entarameladamente): «tendo vindo à escola» [?]. Texto O texto está correcto. Numa das legendas, em vez de «proximidade a lugares», «proximidade de lugares». Duração 1,29

Sara A. & Sara C.

Sara C. & Sara A. (17,7-18) Concepção Muito boa planificação, revelada na simetria que há — entre início e fim do filme —, na exacta correspondência entre imagens, recolhidas com cuidado, e os elogios à escola, e no próprio texto. O formato dialogal permite resolver um dos problemas que encontrei em outros filmes: como descrever a escola, e gabá-la, sem se tornar demasiado institucional. Ora, é a leve ironia que advém da conversa — ingénua, é claro — que faz que o percurso pelas qualidades da escola não se torne «cinzento». Expressão oral Boa leitura. (É verdade que a leitura seria ainda mais difícil se não se tivesse assumido uma espécie de caricatura da pergunta-resposta escolares. Assim, é aceitável que a leitura em voz alta seja artificialmente escolar, sobretudo nas perguntas ou no exacto momento de se retorquir.) Só ouvi uma ou duas más pronúncias (um quase «desfurtar», por «desfrutar»; «pr[os]ionar» por «proporcionar». Há hiper-pontuação oral em «E, sim, [...]». Sara A. hesita um pouco em «dentro da / escola». Texto Já fui falando do texto em cima (a virtude maior foi a idealização do género). Quase não encontrei problemas. Só estas falhas muito localizadas: em vez de «as suas acessibilidades», «as acessibilidades»; nos agradecimentos, falta acento em «Cláudia»; evitaria usar muito «existe», preferirndo-lhe o simples «há». Duração 3,28

Pedro G.

Pedro G. (16,5-16,7) Concepção No fundo, trata-se de três mini-documentários, que visam constituir um conjunto de publicidade à ESJGF. Há uma primeira parte descritiva da escola (num estilo institucional); a segunda parte é a biografia de José Gomes Ferreira; a terceira parte é sobre o jornal da escola. Para o objectivo publicitário, esta estratégia não será muito conveniente: há dispersão, perde-se a força do apelo. Enquanto documentário, estas transições (aliás não sentidas como artificiais) até tornam a peça agradável de seguir. Expressão oral Bastante boa a leitura em voz alta. (Um único problema na entoação, que me pareceu hesitante, de «e não é isto que nos distingue dos animais?». Por outro lado, achhei exageradas as pausas correspondentes às vírgulas em «E, muitas vezes, [...]», logo no início.) Texto Boa escrita. Depois de «[escolha,] a qual se prende a muitos factores», passa-se logo à enumeração de características que são já apenas da ESJGF (foi propositado? a sintaxe obrigava a que se dissessem os factores, antes de se assumir que a escolha recairia sobre a ESJGF; é verdade que é mais à frente que se responde ser a ESJGF essa escola). Não se pode dizer que, além do Porto, José Gomes Ferreira só tivesse vivido em Lisboa. Assim, de memória,lembro-me pelo menos da sua estada na Noruega, onde foi cônsul de Portugal. Um aspecto linguístico a melhorar: evitar a sobrecarga de possessivos (nos últimos trinta segundos: «a sua coragem», «sua obra», «sua coragem», «seu desejo», «seu patrono», «seus artigos»). O slogan final ficava melhor sem ponto de exclamação (é um sinal que devemos usar com muitíssima parcimónia! [estou a usá-lo agora para me dizeres que que não estou a ser parcimonioso e para reparares que fica mal!]). Duração 2,16

José

José (15,5-15,8) Concepção Trata-se mais de apresentação da escola do que publicidade à escola. Porém, é verdade que a publicidade mais institucional pode seguir aproximadamente este perfil. Acrescentaria um slogan no final, ainda assim. Expressão oral Bastante boa a leitura em voz alta. Texto Correcto, embora, quanto a mim, demasiado institucional (já fiz esta crítica a outros publifilmes; veja-se certo léxico que acaba por ser vago: «grau de exigência»; «marco da «escola pública»; ...). Raul Hestnes Ferreira, ao desenhar a escola, não quis homenagear o pai. José Gomes Ferreira só foi escolhido como patrono muito mais tarde. Nos primeiros anos a escola era simplesmente a «Secundária de Benfica». A escola tem cinco blocos (e não quatro) e um pavilhão. Trechos a corrigir: «grau de exigência que é exigido aos alunos»; «possui espaços verdes» (é preferível «tem espaços verdes»); também algumas formas verbais de «existir» deviam ficar por um simples «há». Duração 1,25

Francisco D.

Francisco D. (15,5) Concepção Apresenta-se a escola, em visita. Esta parte talvez requeresse mais brevidade, velocidade, música, para se aproximar dos formatos publicitários. Assim, funciona mais como um pequeno documentário. Expressão oral Leitura, em geral, boa, mas que parece, por vezes, demasiado escolar. No momento do slogan houve uma hesitação. Texto Aqui e ali fugiu-se à escrita demasiado burocrática, mas também surgiram problemas de sintaxe: o primeiro período não se chega a fechar: «pois os muitos degraus [...]» não tem nenhum predicado, já que, pelo meio, surgem orações que fazem esquecer esse começo. «Que irão moldar a percepção do nosso mundo» será «Que irão moldar a nossa percepção do mundo»? Cuidado com a estrutura «desde... a...» (por duas vezes, abres um «desde» que não tem depois o «a»: «Que vão desde as modalidades praticadas [..] bem como [...]»; «desde livros, cedês, [...]»). Por fim, tratando-se de publicidade, evitaria usar a sigla da escola (não parece ser muito recordável; nome por extenso, sim). Duração 2,08

Sara M. & Mariana

Mariana & Sara M. (16,5-16,8) Concepção Vai-se mostrando e narrando. Leva este dispositivo a que predominem as marcas da enunciação, os deícticos («esta é», «vamos agora»), o que, a certa altura, se sente ser exagerado. No entanto, este formato tem vantagens: ao contrário do que vi acontecer em outros filmes, o retato da escola aqui é mais vivo, beneficia de quase haver interacção com as personagens com que as autoras se vão cruzando. De tudo resultar bastante alegre, optimista e movimentado. Expressão oral Leitura boa (da parte parte de Mariana, sem falhas; já mais oscilante, no caso de Sara). Por vezes, a leitura de Sara parece-me demasiado rápida, o que implica ligeiros tropeções. Um caso também de pontuação escrita que, no oral, não teria de ocorrer: «no bar / onde». Texto Tenas vantagens que referi em cima, que o tornam um texto mais natural (como se espontâneo). Algumas correcções a fazer: preferia «Tens um intervalo, durante o qual [...]» a «Tens um intervalo, no qual». Na legenda com agradecimentos, faltam vírgulas a isolar os modificadores («entre eles», «pela sua grande contribuição», «pela sua ajuda e colaboração»). Duração 2,11

Tiago

Tiago (14,5-15) Concepção Uma crítica que se pode fazer é não haver articulação (ou relação directa) entre o texto e as imagens que vão surgindo, a partir dos primeiros trinta segundos (até aí, sim, há essa coerência entre texto e imagens que o exemplificam). Além disso, as imagens — fixas —, por vezes, parecem ficar demasiado tempo: houve recolha de imagens ou usaram-se imagens já arquivadas?. Expressão oral Já é uma leitura muito razoável ou mesmo boa — pausada e quase sem falhas de pontuação ou de entoação. Certo ruído (de ordem técnica) prejudica a comodidade do ouvinte (no início mais do que no resto do filme). Texto O texto é sempre correcto, mas considero-o demasiado institucional, quase «politicamente correcto», com aqueles lugares comuns que se costumam dizer sobre o ensino. Creio que resultava melhor uma abordagem mais pessoal, cumprindo afinal o propósito anunciado no começo, ao escolher-se o título «A minha escola». Duração 1,34

Bernardo

Bernardo (16,5-16,8) Concepção O formato escolhido é o de «antes / depois», tomado caricaturalmente (aqui, ainda mais, porque se trata de pastiche; de qualquer modo esse formato, mesmo na publicidade comercial, facilmente ganha uma conotação risível). O efeito levemente cómico que se consegue resulta também das boas encenações que ilustram a narrativa e do próprio tom desprendido do relato. Expressão oral Leitura boa, com a calma devida, mas com umas duas falhas (o que não é assim tão pouco, se considerarmos que o filme é curto): ao dizer-se «secundária», que soa «segundária»; numa hesitação em «e se ter tornado ... um aluno exemplar» Texto Considero boa opção ter-se fugido a explicitar vantagens da escola: é boa estratégia deixar que seja o espectador a concluir o que se pretende transmitir. Na primeira legenda falta um «de» («Este é o dia-a-dia [de] António Jorge»). Em «e, principalmente, o facto de se ter tornado ...» falta o verbo «e deu-se o facto de ...». Duração 1,18

Joana

Joana I (17-17,5) Concepção Parte-se de uma série de perguntas (não respondidas: «Achas a escola uma seca?», etc.). São elas o pretexto para a descrição das características da escola. Ou seja, o estilo descritivo dos filmes mais institucionais é evitado, mas não deixando de se fazer elogios à escola — porém, enquanto respostas, como frases imperativas). Através deste modelo, consegue-se aliar a brevidade que convém à publicidade com um retrato bastante completo do objecto do anúncio. Embora isso não seja relevante em termo de exercício escolar, sente-se a falta de algum tipo de som para além do da leitura. Expressão oral Excelente leitura em voz alta (decerto, das melhores de todos os publifilmes). E deve dizer-se que o texto obrigava a várias entoações, ditas rapidamente, o que a tornava especialmente difícil. Texto Em cima, expliquei o formato ficticiamente dialogal e aludi às suas vantagens na economia do estilo publicitário. Só defenderia que se tivesse tentado encontrar algumas fórmulas discursivas que pudessem ser mais surpreendentes (penso sobretudo no slogan — «Diz sim à melhor escola de Lisboa! / Diz sim à Escola Secundária José Gomes Ferreira» — que, sendo «certinho», não é criativo). Uma falha de regência: «Usufruires os intervalos» é pior do que «Usufruires dos intervalos». Duração 1,22

Ricardo

Ricardo (17,2) Concepção O filme funciona como anti-publifilme (e chega mesmo a meter-se especificamente com os outros publifilmes — a que chamei «institucionais» um tanto pejorativamente —, numa cena em que alguém aparece a fazer o que estou agora a tentar fazer também: a olhar para o blogue a procurar escrever um comentário. Queria gabar a elegância da «montagem». As aspas significam que não me reporto à colagem dos fragmentos, mas a toda a estrutura do filme. É um daqueles casos em que a simplicidade resultante implicou soluções complexas (sem se notarem as dificuldades que adviriam de um actor fazer os papéis todos, de haver vários mini-episódios, de haver muitas narrativas numa única). Expressão oral Prolegómenos em off não foram bem lidos. Aí há incoerências entre as pausas feitas e aquelas que sugeririam decerto a pontuação escrita e a sintaxe das frases. Também a entoação não é boa. Essas partes de «narração» vão melhorando: a segunda, pouco antes do minuto e meio, já não tem aquelas falhas; nem a terceira, cerca dos dois minutos e pouco, nem a quarta, aos dois minutos e trinta; a última intervenção em off, mais longa de novo, também está bastante melhor do que a primeira. Na representação a expressão é sempre boa. Talvez haja dois ou três saltos do texto pensado/redigido, mas podemos sempre dizer que as pessoas, quando falam, também não usam uma sintaxe impecável (e segundo esta perspectiva benévola esses lapsos até reforçariam a naturalidade da representação: o «carta minha» por «minha carta»; o «até já ia mandar» em vez de «até já ia manda a resposta»; ...). Texto Já se sabe que fazer um texto humorístico é tarefa difícil. Estes diálogos, no entanto, conseguem ser inteligentemente críticos, sobretudo perspicazes a apanhar expressões fixas da linguagem da interacção (e respectivos tiques gestuais). Aí consegue o Ricardo apanhar exactamente o que há de ensaiado nesses turnos de fala repetíveis (o professor a entregar o relatório; o director a despedir-se do candidato a professor; etc.). Serão raros os momentos de humor falhado (embora escapassem expressões coloquiais juvenis estranhas à caricatura que se está a fazer: «ó meu», «sabem como é que é», «a sério» funcionam como bordões do actor, não são esperáveis nas personagens que ele está a representar, nem visavam ser hipérbole cómica). No entanto, muito maioritariamente, os textos das falas são verosímeis e a ironia é sofisticada. Duração 3,48

Catarina T. & Pedro M.

Pedro M. & Catarina T. (17,2) Concepção Começa-se com abordagem bastante convencional; depois, a pretexto de «quem já cá está não tem dúvidas», entram os depoimentos. Com esses testemunhos intercalados o anúncio ganha um ritmo que o torna agradável (apesar do som pouco audível — e fizeram bem em legendar as falas dos colegas). Algumas das intervenções (João Marcelo, Rui, Henrique) valorizam o filme, porque lhe dão vivacidade, aliviando a parte de elogio institucional. Expressão oral Muito boa leitura (as únicas críticas, e mesquinhas: Catarina faz ligeiríssima pausa, indevida, entre «agregado» e «escolar»; Pedro entaramela-se em «aspectos»). Texto Na parte de locução, o estilo institucional não teria de corresponder a pobreza do vocabulário. Notem o tipo de qualificações que usam: «bem equipado»; «boa educação»; «óptimos colegas»; «boas instalações»; «bons recursos»:; «bom ambiente» (como se só houvesse um adjectivo, «bom» e o seu superlativo, e o advérbio da mesma família). Uma das vezes em que usam «ajuda a consolidar» deixam o verbo sem objecto directo — «consolidar» deve ser sempre transitivo; seria «ajudam a consolidá-la» (à teoria, salvo erro). Nas legendas há uma gralha: «confiltos», no testemunho de Ricardo. Duração 2,58

Catarina F. & Carlota

Carlota & Catarina (17,4-17,5) Concepção O estilo é o que vejo, por exemplo, nos filmes de promoção das próprias televisões: ao mesmo tempo que se vai, bastante imperativamente, dialogando com um destinatário virtual/universal — os alunos que ainda não se tenham decidido a frequentar a ESJGF —, vão aparecendo os actuais alunos em atitudes que acentuam a sua alegria (e, em geral, o bem-estar que resulta da escola em causa). Este desfile dos que já estão na escola para, frente à câmara, explicitamente, manifestarem a sua alegria, lembra as tais campanhas dos canais de televisão, quando são os jornalistas e outros trabalhadores que vão aparecendo a manifestar-se, encarando a câmara com expressões de optimismo. Essa sensação de alegria é bem transmitida, também pelos ângulos usados, pela montagem de curtas sequências. Música também vai bem com esse ritmo. Expressão oral É muito boa, até porque se deve ter em conta que não era um texto fácil de ler (o fingir o diálogo com um destinatário ausente, as frases informativas, pelo meio; a necessidade de imprimir estilo vivo). No entanto, ainda conseguiriam fazer melhor ambas as autoras (Catarina: ouvi excesso de «pontuação» em «e, a melhor decisão [...]»; também certa tendência para ligações indevidas, por se tratar de um texto que deveria ser formal, como em «é aquica», por «é aqui que a», ou em «qu’andando» por «que andando», «[ju]logia» por «g[i]ologia»; Carlota: em geral, ligeiríssima velocidade a mais; «’tá» em jogo, num oral formal, ainda não é tão aceitável como «está em jogo»; ligeira hesitação em «passar [...] os melhores momentos da tua vida»). Texto Há boa lógica na construção: uma fase de pergunta, que se apoia na metáfora da porta, seguida pela resposta, o elogio da escola. Esse elogio tem como tema agregador, como já fui dizendo, a alegria, a «socialização». Só criticaria uma certa cedência, por vezes, a lugares comuns da publicidade (‘tomar decisões’, ‘inesquecíveis, ‘aprender o que é viver’, ‘estar na altura de mudar’), Na última legenda, «Ferreira» está com minúscula. Duração 2,35

Alexis

Alexis (17) Concepção O formato é o de paródia à publicidade. Usam-se bem as exactas características do género ’anúncio publicitário’ mas para obter efeitos de caricatura (ao próprio formato). Depois, há um segundo nível de humor, que brinca com a singularidade do símbolo que, alegadamente, a ESJGF teria assumido. Quer a ridicularização do formato quer o motivo final de brincadeira (sobre que não quero pronunciar-me) são tratados com bom gosto, capacidade técnica, elegância. Expressão oral Bastante boa (muito boa, mesmo) a leitura em voz alta. Como se trata de frases curtas, apelativas, não é um texto de leitura especialmente complicada. Mas deve assinalar-se que não há nunca falhas (o que já não será assim tão fácil). Por outro lado, o autor usa várias entoações, em diversas velocidades e volume, conseguindo sempre a expressividade adequada. Texto O tal registo de ironia leve que já fui gabando, a criatividade nas legendas e falas, é também já da ordem da escrita. O tipo de texto não implicava muito mais dificuldades, mas os trechos (necessariamente telegráficos) foram bem redigidos. Em «Luís de Camões» falta o acento. Duração 1,15