10.º 6.ª
Cátia (16) Torey Hayden, A criança que não queria falar Leitura, dicção Boa. Não houve falhas («fez de um tudo», por «fez de tudo», já estaria no texto escrito ou foi lapso de leitura?) e o texto é muito audível (boa pronúncia e entoação, velocidade ideal). Relação com o livro. É uma sinopse da história, com leitura de excertos também. As imagens, filmadas pela autora, e a música dão ao clip a dramaticidade adequada. Escrita Em geral, o resumo está bem redigido, mas há erros pontuais («onde ela pertencia» devia ficar «a que ela pertencia»; no genérico final, vejo duas falhas: «verídico» sem acento; «Tori» onde devia estar «Torey»; no início, pareceu-me haver uma subordinada, com outras intercaladas, que acabava por ficar sem subordinante — se isso não acontece, então podemos dizer que o problema é a frase ser demasiado complexa para o que aceitável num texto oral). Regras Cumpre todas.
Inês (Eça de Queirós, A cidade e as serras)
Inês (15,5-16) Eça de Queirós, A cidade e as serras Leitura, dicção Boa, muito audível, sóbria, com entoações e velocidade certas. Eu diria «entediado» sem abrir o «e» (apesar de «tédio»), mas pronuncio muito à lisboeta. Relação com livro É, no fundamental, comentário-resumo do livro de Eça. Os desenhos, da própria autora, servem para se ter ideia do contexto ao mesmo tempo que o texto pode ser menos descritivo e mais de comentário. (Admito que o formato sequência de diapositivos — powerpoint, no fundo — fosse mais apropriada a este tipo de foco.) Escrita A escrita é boa, não lhe notei incorrecções (no final, hesito se é «demonstrando» ou «mostrando» que se queria; começo do relato não o faria do mesmo modo: lembraria que Zé Fernandes é o narrador, Jacinto o protagonista, ...); final é inovador: transpõe-se lição do texto de Eça para os dias de hoje. Regras Cumpre todas.
Zé Diogo (Paranoid Park; Diário de Anne Frank)
Zé Diogo (14,5-14) Diário de Anne Frank & Paranoid Park Leitura, dicção Não encontrei problemas de entoação ou de pronúncia (e a definição das palavras parece-me ter progredido, relativamente, por exemplo, ao anterior microfilme). Relação com livro Neste caso, trata-se de aludir a dois livros. O Zé Diogo criou texto segundo esse modelo. Mas a alusão talvez devesse ficar mais explícita. Escrita Há uma estrutura demasiado apositiva: em vez de frases, temos sobretudo novos sintagmas (que estão separados por reticências). Sendo o estilo aceitável em poesia (é, em parte, o estilo entrecortado de Florbela Espanca), não pode porém ser tão excessivo. Texto precisava, a certa altura, de frases mais complexas. Não encontrei erros, mas há algum exagero de «lugares comuns» da poesia/paixão. Regras Cumpre todas (mas o minimalismo das imagens é excessivo; há desperdício desse apoio ao texto).
Ana Catarina R. (Paul Auster, Caderno Vermelho)
Ana R. (15) Paul Auster, Caderno Vermelho Leitura, dicção Mais do que leitura, trata-se de representar (ainda que, pareceu-me, relanceando alguma espécie de teleponto). Essa representação está bem feita, caracterizando-se os tiques do estilo Sofia Cerveira/Bárbara Guimarães, etc. No discurso de Manuela Silvestre há algumas hesitações (e «Paul» não me pareceu bem pronunciado). Relação com o livro Na verdade, o filme é mais sobre como são os programas literários na televisão do que sobre o livro (que aliás é interessante e vale a pena lerem). A alusão ao Caderno Vermelho acaba por ser muito curta e, se não me engano, baseada no paratexto do próprio livro. Gostaria de que, ao lado da brincadeira em torno da género ‘programa cultural’, houvesse mais abordagem da obra (mesmo que em paródia). Escrita Como disse agora mesmo, podia ser mais alongada a menção da obra. Mas foi uma boa ideia, original e criativa, o dispositivo do filme. A montagem, a música, a caracterização das duas personagens também imitam bem o género que se pretende parodiar. Regras Cumpre todas.
Pedro (Rodrigo Guedes de Carvalho, Mulher em branco)
Pedro (16) Rodrigo Guedes de Carvalho, Mulher em branco Leitura Boa. Certo ler murmurado — acentuado por ligeira ressonância — pode tornar difícil de entender uma ou outra frase. Além de leitura, que corresponde à parte do narrador, há também representação (salientando-se Bruno, no papel, memorável, de informador — que, por acaso, vem dar informações —, cujo nível de representação só tem rival na magnífica performance de André [Carlos], enquanto zombie ou sonâmbulo, na conclusão do bibliofilme sobre Cell). Relação com obra É criado texto dentro do modelo, enquadramento, do da obra escolhida. Não conheço o livro em causa, mas não tenho má opinião do autor (que, ao contrário do que se poderia supor, não é escritor apenas por ser jornalista conhecido). Escrita Há originalidade, que vem até mais da concepção do filme — estrutura narrativa, tipo de montagem — do que da redacção propriamente dita. Creio que é também o primeiro bibliofilme que se socorre de epígrafe inicial. Um erro: «*Talvez ela lembrar-se-á de mim» («Talvez ela se lembre de mim»; «Lembrar-se-á de mim talvez»). Regras Cumpre todas. Gostaria que o tempo fosse mais ocupado com texto (mas é verdade que essas pausas contribuem para a marca estética que se pretendeu imprimir).
Vanessa S. (Gonçalo Cadilhe, No princípio estava o mar)
Vanessa S. (12,5-13) Gonçalo Cadilhe, No princípio estava o mar Leitura Escolheu-se um formato dos mais complicados: não é fácil decorar texto e falar para uma câmara (e, ainda menos, improvisar um comentário). Há partes em que se conseguiu bastante naturalidade (no início, por exemplo), mas, à medida que avançamos, há momentos em que fizeram falta âncoras que aliviassem a dificuldade de se falar continuamente (já facilitaria a tarefa que houvesse leitura intercalada de alguns trechos do livro). Mesmo assim, a apresentadora consegue desenvencilhar-se bem de aparentes esquecimentos de texto prévio e mostra capacidades de representação . Relação com o livro Imita-se o formato 'programa de livros' na televisão. Resulta melhor a informação sobre o autor do que a sobre as crónicas, mas é verdade que as duas coisas se interligam. Escrita Texto devia ser mais preparado. Em televisão, mesmo o que parece espontâneo tem muitas vezes suporte escrito. Creio que faltou alguma planificação (com as tais bengalas de que falei em cima). Alguns erros: «durante o Verão de 1982 onde juntou dinheiro» (em vez de «onde», pôr «em que»); «um homem que tornou-se» (em oração subordinada tem de ser próclise: «um homem que se tornou»). Regras Excede-se o tempo combinado.
Bárbara (Ana Macedo, Sem pecados na culpa)
Bárbara (15-15,5) Ana Macedo, Sem pecados na culpa Leitura Já tenho ouvido melhores leituras por parte da Bárbara. Há momentos em que um ritmo mais pausado ficava melhor (sente-se que o texto está a ser lido, quando conviria que se pensasse estar a ser pensado, fosse como um monólogo). Há frases que, pela velocidade a que são ditas, se percebem mal, embora a entoação seja a correcta. E houve algumas hesitações no ataque a palavras (que, aparentemente, mais ensaios teriam evitado). Uma má pronúncia: «banho [beijo] na testa»; Relação com o livro Precisava de confirmar que se trata de texto da Bárbara, embora segundo modelo do de Ana Macedo. Estive a ver o livro e não encontro os mesmos trechos mas há vários semelhantes. Escrita O estilo é próximo do de Sem pecados, embora mais repetitivo e com vocabulário mais corrente. Notei uma ou outra parte com redacção imperfeita: «os contos de fadas que tu me contavas e guiavas» (e por que [e pelos quais] me guiavas); exageros pontuais de demonstrativos (aquela). Foi boa ideia a de nas imagens ir mostrando livro (com desenhos da Bárbara?). Regras Cumpre todas.
Filipa (Manuel Alegre, «Nevermore», O Homem do País Azul)
Filipa (15) Leitura Correcta. (A certa altura, quando há frases apelativas ou imperativas, não faria mal que houvesse maior ênfase.) Relação com o texto Parte-se de ideias do conto de Manuel Alegre, preenchidas com texto criado pela autora. O resultado, mesmo em termos visuais, é agradável. Escrita A redacção, neste caso, imbrica-se com as imagens e os títulos (retirados do conto, creio). Tem de se reconhecer que há algum desaproveitamento do tempo disponível para texto (podia haver mais leitura em off, há pausas grandes). O título inicial escusava de estar sublinhado (títulos de contos aspam-se e nada mais). Regras São imagens fixas, não filme propriamente dito. Música também terá tempo excessivo.
Joana C. (Pablo Neruda, alias Martha Medeiros)
Joana C. (12) Na verdade, o poema em causa não é de Pablo Neruda. Terá sido popularizado na net e aí atribuído ao poeta chileno, mas a sua autora (ou, pelo menos, divulgadora) será a brasileira Martha Medeiros. (Há na net outros casos semelhantes. Há pouco corria um Fernando Pessoa que se reconhecia demasiado escolar, demasiado evidente. Este poema parece-me a mim demasiado adolescente e fácil para ser de Neruda.) Confirma-se a necessidade de desconfiar das primeiras coisas que se descobrem na net, e de tudo investigar de forma menos superficial. Além disso, eu pedira que fizessem filme sobre livro lido (que, quando muito, um poema serviria para ilustrar; neste caso, parece que o poema não corresponde a nenhum livro efectivamente lido). Leitura Boa. Mas é «trop[ê]ços» que se diz. «Indagam-lhe» também não me parece possível (mas aí será problema do texto). Regras São imagens fixas, não filme.
João M. (J. R. R. Tolkien, O Hobbit)
João M. (14,5-14) J. R. R. Tolkien, O Hobbit Leitura, dicção Boa. Tem o mérito de ser pausada. Aqui e ali, maior vivacidade não seriam indesejáveis. Relação com livro Aproveita-se um leitmotiv do livro (importância da casa, do lar) para criar um comentário pessoal. (Talvez a abordagem da obra ou a apropriação do tema pudessem ser mais desenvolvidas.) Escrita O estilo adoptado (liminar, axiomático) facilita a redacção, que escapa a pronominalizações, a subordinadas, etc.. Também aqui não faria mal que o texto fosse mais complexo, embora reconheça que um comentário a ser lido em voz alta ganha em ser sobretudo justaposição de frases simples. Erro: «onde» surge em frases em que não poderia entrar: «*É nela onde vivemos» (É nela que vivemos); «*É nela onde se centra a nossa vida» (É nela que se centra a nossa vida); etc. Regras Cumpre todas. Admito que o tempo com um mesmo tema musical exceda o aceitável para efeitos de direitos.
Tânia (Fina Casalderrey, Não te cases, papá!)
Tânia (13,5-13) Fina Casalderrey, Não te cases, papá! Leitura Pausada, bem audível. Há porém algumas hesitações na «pontuação» e na entoação (que, é verdade, se a leitura fosse mais rápida, quase nem se notariam). Relação com o livro É uma sinopse. Ao mesmo tempo, as imagens — crianças felizes — aludem ao tema do livro. Julgo que se poderia ter fugido ao simples resumo da história, ter feito texto mais pessoal. Escrita Redacção aceitável. Teria sido possível burilar mais o texto. Conclusão parece um pouco abrupta. Há um exagero de «seus» (o determinante possessivo é muitas vezes dispensável em português: «Saiu de casa e levou o seu carro» é pior do que «Saiu de casa e levou o carro»). Regras Cumpre todas (mas foi pena que usasse pouco tempo: apenas um terço do limite máximo).
Vanessa C. (Margarida Rebelo Pinto, Sei lá)
Vanessa C. (13,5) [* a reprodução do bibliofilme, por razões a que autora é alheia, está imperfeita: falta a imagem, a partir de certa altura; verei se consigo resolver o problema, que não ocorre no filme original] Margarida Rebelo Pinto, Sei lá Leitura Clara, sem erros, com boa entoação e «pontuação». Não sei se não seria vantajoso adoptar um estilo de leitura com maior informalidade, mais conversado e menos lido. Relação com livro É um pequeno resumo/sinopse (posso aqui fazer duas críticas: era mais interessante uma abordagem menos centrada sobre o texto de Rebelo Pinto, mais inventiva, portanto; por outro lado, tenho pena que não se tenha escolhido obra literária — menos fácil). Escrita Redacção correcta (texto foi fundado em partes paratextuais do livro, mas também tem trechos da lavra de Vanessa, e não lhe vejo erros). Regras Aproveitamento das imagens minimalista (aliás, a própria duração do filme é também parcimoniosa: não se chega a gastar um terço do tempo disponível).
Joana L. (Frank McCourt, As cinzas de Angela)
Joana L. (17-16,5) Frank McCourt, As cinzas de Angela Leitura Muito boa leitura. Não notei falhas. Segue-se o registo ideal — leitura formal, mas não empolada —, a velocidade conveniente — pausada mas sem que deixe de parecer quase natural, sem que nunca a pontuação escrita se evidencie. Palavras inglesas bem pronunciadas também. Relação com o livro Faz-se uma sinopse durante quase todo o tempo, cerzindo-se texto próprio a um início e final de McCourt. Escrita O texto está muito bem redigido, nem se distinguindo os trechos de McCourt da redacção da autora do filme. Um erro: «os malfadados dos ingleses» era para ser «os malvados dos ingleses», se não me engano. Regras São imagens fixas, não propriamente filme.
Joana O. (Charles Darwin, Autobiografia)
Joana O. (14-14,5) Charles Darwin, Autobiografia Expressão oral A opção por aparecer a falar (em vez da; mais típica nestes bibliofilmes, voz off) implica certo risco, sabida a dificuldade acrescida de ler (ou recitar?) um texto, tendo de se controlar também a presença «em cena». Nesta parte, a Joana saiu-se bem, mostrando que consegue um discurso que não é trapalhão numa situação em que a maioria de nós hesitaria mais. Relação com livro Faz-se um resumo de dados da autobiografia de Darwin (mas julgo que resultaria melhor um texto mais opinativo sobre o livro, mais pessoal). Escrita Não sei se o texto que ouvimos é um texto previamente escrito ou se é mais espontâneo. Admitindo que o texto estava escrito, devia a autora ter evitado algumas repetições: há demasiados determinantes possessivos: «sua autobiografia», «seu legado», «seu leito», «seus netos», «sua mãe» (bastaria substituir por artigo simples alguns dos posssessivos); também o próprio nome «Charles Darwin» devia dar lugar, por vezes, a simples elipses ou a alguma anáfora (por hiperónimo, por exemplo: «o cientista», «o biólogo»). Regras Cumpre todas.
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