Sunday, September 16, 2007

10.º 4.ª

A pouco e pouco, irei pondo aqui os bibliofilmes do 10.º 4.ª. A seguir a cada filme, uma sua avaliação.

João Maria (Manuel Teixeira-Gomes, Gente singular)


João Maria (17) Manuel Teixeira-Gomes, Gente Singular Leitura, dicção Boa. Desta vez, quase não houve a excessiva velocidade na pronúncia dos finais de palavra que já tem levado a que, na leitura do João Maria, as palavras se encavalitem umas nas outras. Também a «pontuação» oral já foi devidamente livre da pontuação escrita — excepto num «que» demasiado seguido de pausa, decerto por causa de uma vírgula. Relação com o livro Numa primeira parte, há aproximação ao próprio objecto, visto nas estantes e depois considerado sobretudo pelo título (que o é por ser o de um dos contos). Segue-se a alusão ao autor. Depois, uma segunda parte do filme encontra em personagens-tipo dos nossos dias equivalentes das figuras dos contos de Teixeira Gomes (de certo modo, a estas se faz referência pela sequência de desenhos de Rafael Bordalo Pinheiro; àquelas corresponderá uma série de sketches-perfis (a rapariga que se bronzeia; o arrumador; etc.), em que a ironia resulta. Considero os equivalentes das personagens de Teixeira-Gomes aceitáveis, embora valesse a pena fazer escrutínio caso a caso; e defenderia que a alusão à obra fosse mais explícita. Escrita Tanto a concepção narrativa (que já expliquei em cima) como a redacção propriamente dita são ricas, elaboradas. Um erro notei: «surgiu-me à memória» é substituível por «veio-me à ...», «surgiu-me na ...» Regras Cumpre todas.

José (Manuel Alegre, Cão como nós)


José (15,5) Manuel Alegre, Cão como nós Leitura, dicção A entoação foi, em geral, boa, natural, ainda que por vezes fosse aconselhável maior definição das palavras (uma pronúncia mais nítida; mas este conselho serve a todos os portugueses e, mais ainda, aos de Lisboa). Notei um erro de má acentuação da palavra: «*sêjamos» (a palavra é grave, é claro: «sejamos»). Relação com o livro [Tenho de apurar melhor. Não estou a encontrar o livro, embora o tenha por aí. Por isso, esta apreciação é provisória.] Trata-se de sinopse, intercalada por alguns textos mais livres, que também tiveram como ponto de partida o texto de Alegre. Escrita Correcta, mas acho que o autor do bibliofilme teria capacidade para fazer um texto mais sofisticado. Tiraria um «chateado», que não pertence ao registo formal que nesta situação se tem de adoptar. Regras Cumpre todas; no entanto, é conjunto de diapositivos, não um filme propriamente dito.
Ana C. (Margaret George, As memórias de Cleópatra)

Ana C. (17,5-18) Margaret George, As memórias de Cleópatra Leitura, dicção Muito boa. Sempre correcta a entoação das frases. No entanto, deve notar-se que a leitura em voz alta de textos irónicos [como a prezada autora discorda de que o estilo seja irónico, eu emendo: estilo coloquial, de leve ironia: exemplos: «Sim, foi com o Harry Potter...»; «Chamem-me tola, mas do que eu gosto mesmo é daqueles matacões»; «com algumas mortes à mistura»; «o que não exclui Agatha Christie, com apenas duzentas», «oitenta e cinco crimes publicados»; «eu gosto, mando e leio»; «Ah, e quando me der na telha...»] não é fácil, já que convém que seja o ouvinte a inferir o que haja de risível, não deve o locutor indiciar muito esses momentos — talvez que a solução melhor ainda seja adoptar estilo neutro, como que desinteressado do que se está a dizer. Notei duas pronúncias «hiper-correctas» (leituras segunda a escrita mas sem correspondência com o som normal da palavra): «excepto» com o «p» demasiado audível; «m[i]stura» que em Lisboa se dirá sobretudo «m[e]stura»). Relação com o livro No fundo, não há um livro de que se ocupe o bibliofilme, mas uma lista grande de obras. É o texto — autobiográfico — que sugere a alusão aos livros (e não o contrário). Escrita São muito criativas quer a concepção do texto quer a redacção propriamente dita (e a própria montagem). Contrastes ler/ver filmes e livros juvenis/clássicos estruturam todo o texto. Regras Cumpre todas.


Ana S. (Fernando Pessoa, Mensagem)

Ana S. (16-15,5) Fernando Pessoa, Mensagem Leitura, dicção Boa — sem falhas, hesitações ou incorrecções (mas talvez um pouco mais de vivacidade a valorizasse). Relação com livro Faz-se a leitura do talvez mais conhecido poema de Mensagem («Mar português»), aliás da sua primeira estrofe apenas (quanto a mim, valia a pena ter lido a segunda estrofe também). Seguem-se textos, criados pela autora do bibliofilme, inspirados no livro de Pessoa ou no mesmo tema. Escrita Os poemas estão bem redigidos (se procurasse bastante, talvez conseguisse ver um ou outro lugar comum da poesia ou dos textos poéticos correntes — a metáfora com «caminho», por exemplo — mas o texto, em geral, é bom, não é «lamechas»). Parece-me que as imagens acabam por não apoiar muito a simples audição dos poemas (embora o mar seja uma ilustração óbvia do tema); não sendo essa a minha área, atrevo-me a dizer que, se a câmara estivesse mais parada, dar-se-ia mais ideia do movimento da água. Regras Cumpre todas.


Filipa (Luís Castro, Repórter de guerra)


Filipa (15-15,5) Luís Castro, Repórter de guerra Leitura, dicção Bem. Não detectei falhas (e o estilo de leitura é adequado pelo menos à primeira, e maior, parte do filme — de definições quase poéticas (na parte final, há pequeno trecho que se ouve mal, mas por algum problemas técnico, não por má leitura). Relação com o livro Só na segunda parte do filme se percebe o alcance do texto inicial em torno do tempo: ficamos a saber que foi um trecho do livro que sugeriu toda a abordagem. A ideia é boa, mas parece-me que seria preciso, a seguir, ocupar-se o filme um pouco mais do livro (assim, fica talvez desproporcionada a relação entre o tempo que se gastou a falar de tempo e o que ponto de chegada, o livro de Luís Castro). Escrita O texto inicial está bem escrito, embora se deva dizer que o estilo liminar, afirmativo, de pequenos segmentos frásicos justapostos, acabe por facilitar a redacção. Regras Cumpre todas (se a música ainda tiver direitos, terá ultrapassado o admissível, mas a isso já não temos ligado muito).
Cosme (Eça de Queirós, O Mandarim)

Cosme (15,5-16) Eça de Queirós, O Mandarim Leitura, dicção Bastante razoável (sem falhas nítidas, embora com momentos de perda de expressividade, no final de um trecho mais longo). Relação com livro É um trailer (que aproveita o problema de consciência central na narrativa: a campainha, a fortuna, mas a possibilidade de morrer o mandarim). Escrita O género ‘trailer’ (ou o subgénero ‘trailer animado’) foi bem compreendido. Há muito ritmo no pouco tempo que o filme tem. As frases ditas e os títulos afixados são apropriados ao género de texto. Há soluções criativas (nas animações, na montagem). Crítica: podia ser um pouco mais longo o filme. Regras Cumpre todas.


Guilherme (Carlos de Sousa Guedes, Os Versos do Pai)

Guilherme (16) Carlos de Sousa Guedes, Os Versos do Pai Leitura, dicção Boa, não notei falhas (talvez aqui e ali uma entoação demasiado escolar, mas não). Relação com o livro Como se escolheu livro de um familiar, há um pretexto para introduzir o texto que se vai ler. Essa contextualização beneficia o que depois se segue. Foi bem concebida a estrutura do filme (simples, mas aproximativa, culminando na leitura do texto). Escrita Aproveitaram-se bem as características do livro (que possibilitava abordagem quase memorialística); em pouco tempo, usam-se vários formatos («trecho de poesia», relato de vida de familiar, leitura de texto). Regras Cumpre todas.


Tiago S. (Ricardo Araújo Pereira, Boca do Inferno)


Tiago S. (12) Ricardo Araújo Pereira, Boca do Inferno Leitura, dicção Aqui e ali, leitura revela-se pouco ensaiada, ainda que não encontre muitos casos de incorrecção flagrante. Relação com o livro Parece-me haver certo desperdício da abordagem possível. Surgem imagens do livro de crónicas, uma epígrafe, o retrato do autor, mas rapidamente se passa a considerações sobre outras experiências de leitura. Escrita Texto podia ter sido mais planificado (terá sido feito em pouco tempo). Alguns erros: «*Fala de crónicas» deve dar lugar a «Reúne crónicas»; «*Faz com que entendemos» deve ser «faz que entendamos»; «*Relata a sociedade» é «Caracteriza a sociedade»; há também um exagero de «Este livro», «Esta obra», etc. Regras Som podia ter mais volume. São imagens fixas (não filme, propriamente).
Xavier (Oriol Vergés, Que ano aquele!)

Xavier (15-15,5) Oriol Vergés, Que ano aquele! Leitura, dicção Não é fácil ler um texto em que se pretende estar a conversar com leitores. Ora isso é conseguido, e quase sem falhas (só lá para o final é que há um momento em que há hesitações na entoação certa). Uma má acentuação: «âmbar» é palavra grave (não aguda). Relação com a obra No começo, dão-se informações sobre autor e faz-se resumo (creio que esta parte está bastante assente no paratexto do livro). Depois há uma parte mais criativa, em que a história é contada em estilo coloquial. Ao longo do filme, vão-se intercalando imagens da ESJGF, que acabam por vincar a associação entre a adolescência em geral e a história narrada no livro. Escrita Consegue usar-se o tal estilo coloquial e um registo relativamente informal, sem que a linguagem nos pareça inadequada. Regras Pedro Agostinho aparece mais do que duas vezes, o que não é permitido.


Gonçalo (Jorge Amado, Capitães da areia)


Gonçalo (14,5) Jorge Amado, Capitães da areia Leitura, dicção Não há nenhum tropeção nem detectei más pronúncias. «Pontuação» está sempre certa e expressividade é aceitável. Relação com livro Sem se cair no mero resumo, dá-se ideia de como é o livro de Jorge Amado. É um comentário que refere também características linguísticas (a variante brasileira do português; a gíria das crianças). O próprio livro é o único foco da imagem. Escrita Texto é correcto e tem estrutura inteligente, mas podia ser mais longo (por exemplo, intercalaria trechos da própria obra). Erros: «*Amor que nunca lhes foi contribuído» não é gramatical (teria de ser «amor esse que nunca lhes foi dado»); «*Usa sem receio [...] usar» Regras Cumpre todas.

David (Henry Fielding, Diário de uma viagem a Lisboa)

David (15,5-16) Henry Fielding, Diário de uma viagem a Lisboa Leitura, dicção Merecia maiores ensaios (até porque o texto é denso, haveria que advertir algumas entoações, várias dificuldades provocadas pela sintaxe). Relação com a obra Consegue aludir-se ao essencial do Diário de Fielding, sem se fazer um resumo ou algum tipo de introdução convencional. Essa articulação com um texto quase cronístico é eficaz. Escrita Quanto a mim, é o melhor do filme. Fez bem o David em aproveitar do livro apenas algumas passagens e o geral tom de misantropia, e transpor para o século XXI as conclusões depreciativas do autor de Tom Jones. O texto é irónico e liminar (e, mais do que as imagens, é ele que sustenta o filme). Regras Cumpre todas (excepto a tradição de Cajó aparecer a dada altura).


Bruno (Stephen King, Cell)


Bruno (18) Stephen King, Cell Leitura, dicção Há vários tipos de leitura (segundo géneros: notícia de última hora, narrador, monólogo com fobia de Toni Carreira) e até por diferentes locutores; há ainda trechos representados (junto ao campo dos Pupilos). Esta diversidade é um dos grandes méritos do filme. Relação com o livro Tenho de advertir que não li o livro de Stephen King. Percebo que se trata de recriação, paródica, de clima e tema do livro do autor americano (ou a viver nos Estados Unidos). Escrita Deve incluir-se aqui toda a planificação (e depois a montagem) que me parecem excelentes: este bibliofilme, como é típico do cinema, implicou trabalho colectivo, com o realizador a dirigir a várias pessoas. Além disso, o filme revela muita criatividade (e no registo que é mais difícil: a paródia, a ironia). A redacção propriamente dita tem algumas imperfeições (não é fácil gerir tantos géneros textuais diferentes): «o maior desastre para o qual a humanidade não estava preparada» (o maior desastre a que a humanidade se podia sujeitar); «assolam por toda a parte» (tudo assolam; disseminam-se por toda a parte»; «o resto dos outros» (os restantes); «capacidades telepatas» (telepáticas). Regras Salvo erro, Cajó é um dos que fogem logo no início (embora não conste nos agradecimentos no genérico). Se assim for, já fica cumprida uma regra destes filmes.

Afonso (José Gabriel Quaresma / Pedro Mantorras, Livro directo)


Afonso (12,5-13) José Gabriel Quaresma / Pedro Mantorras, Livro Directo Leitura Não foi suficientemente preparada. Há demasiadas hesitações, como se o Afonso estivesse a ler o texto pela primeira vez. Relação com o livro Faz-se uma biografia do jogador (o que acaba também por corresponder a um resumo do livro). Julgo que nesse relato foram usados trechos do próprio livro, embora haja também ligações pelo autor. Escrita Não encontro grandes falhas. Ainda assim: «a origem da alcunha deve-se ao facto de...» («a alcunha deve-se ao facto de...» ou «a origem da alcunha é...»); «sem que o Mantorras» («sem que Mantorras»); «18.000.000 parecem irrisórios hoje» (hoje, ao contrário, parecem ainda mais exagerados do que sempre foram [cá para mim, sempre achei que o Mantorras era apenas um trapalhão com velocidade, a quem se consentiam as faltas com os braços]; porém, «irrisórios» pode ficar, se tiver o sentido de «risíveis», ridículos). Regras São imagens fixas, não filme.

Carlos (Sue Townsend, Adrian Mole na crise da adolescência)

Carlos (12) Sue Townsend, Adrian Mole na crise da adolescência Leitura Aceitável, sem falhas de entoação, mesmo se nem sempre com a expressividade possível. Relação com o livro Começa-se por uma informação sobre a autora, faz-se depois a sinopse do livro. Teria preferido uma abordagem mais criativa. Não se foca a principal característica do livro, a ironia (relativamente a Adrian; mas também a partir do olhar de Adrian sobre os outros). Também o facto de se tratar de diário devia ser posto em relevo. Escrita Não encontrei falhas, a não ser nesta frase: «os pais se situam num mau momento familiar» («os pais passam por um mau momento familiar»); no genérico final, «Adrian» aparece com «e». Regras São imagens fixas, não filme.

Daniel (Manuel Alegre, Cão como nós)

Daniel (15,5) Manuel Alegre, Cão como nós Leitura Bastante boa (na parte final, o texto ouve-se mal, mas isso é problema técnico). Relação com a obra Além de se lerem trechos do livro, também se faz comentário (e funciona bem que o percurso seja mesmo este, com o comentário a surgir só depois de ouvidos excertos). Escrita Texto não tem incorrecções. No comentário, sem se recorrer a linguagens que o autor não domine, consegue fazer-se uma síntese certa, e com a terminologia que costumamos usar na disciplina. Admito, porém, que o Daniel pudesse ter usado estratégia mais criativa. Regras Usam-se imagens fixas, não se trata de filme propriamente.

Bernardo (Anne Frank, Diário de...)

Bernardo (14-14,5) Diário de Anne Frank Leitura Bastante aceitável (apenas lá para o final há um momento em que a pontuação escrita é demasiado dita). Relação com o livro Faz-se uma recensão, comentário ao livro. Começa-se por dar contexto da leitura (o leitor confessa que não tem um palmarés preenchido) Escrita Fez o bem o Bernardo em escrever o seu texto, não se colando muito ao que sobre o livro outros disseram (o que é comum neste formato de sinopse/comentário. De qualquer modo, teria preferido uma abordagem mais criativa, menos convencional. Regras Cumpre todas, mas as imagens são excessivamente minimalistas.

João C. (José Rodrigues dos Santos, A filha do capitão)

João C. (14,5-15) José Rodrigues dos Santos, A filha do capitão Leitura É a parte menos convincente do bibliofilme. (Talvez que o trabalho para a escrita e a montagem das imagens tenha levado a que houvesse menos investimento no ensaio da leitura em voz alta.) Em «sector» o «c» não costuma ser dito; «reivindincar» também não foi bem pronunciado. Relação com o livro No essencial, faz-se sinopse do livro. De qualquer modo, articulação com imagens permite conseguir perspectiva irónica interessante. Escrita Como de costume, havendo certo risco na sintaxe que se tenta (e acho isso bem), acabam por surgir algumas falhas de linguagem: «*Os seus poucos tempos livres em que gozava de licença» («Quando gozava a licença»); «fez todos os reparos para conseguir o seu afastamento» («fez todas as diligências»); «regressou *à França» («regressou a França»). Se consideramos a escolha das imagens também, ficamos com uma ideia mais justa da prepraração da redacção. Regras Cumpre todas.

Duarte (Dan Brown, O Código Da Vinci)

Duarte (11-11,5) Dan Brown, O Código Da Vinci Leitura Sem falhas de pronúncia. Entoação aceitável. Por vezes, velocidade exagerada leva a que a pontuação não seja bem cumprida. Relação com livro Faz-se sinopse-resumo (igual a tantos que sobre o mesmo livro já se fizeram). Teria gostado que se escolhesse outro livro (indicara que pretendia obras literárias ou, quando muito, livros incluídos nos critérios para leitura em férias; esta obra não responde a nenhum desses critérios). Escrita Texto é demasiado pequeno. Preferia outro tipo de abordagem, mais criativa. Erros: «*O livro tem como base grandes organizações» («O livro alude a...» ou «O livro faz referência a»); «*A sociedade [...] possuía membros famosos» («tinha membros famosos» ou «Integravam a sociedade membros famosos») Regras São imagens fixas, não livro. Tempo é curto.

André (Fernando Pessoa, Mensagem)
[filme não arquivável]
André (12) Fernando Pessoa, Mensagem Leitura Ainda há algumas hesitações e pequenas trocas em palavras, mas a leitura foi bastante melhor do que costuma ser. Além disso, as partes mais expressivas (com imitação de vozes, a representar papéis) resultam bem, são engraçadas. Alguns erros no momento da leitura: «1940» (por «1640»); «fez-te» (por «foste»); «falta-se cumprir» («falta cumprir-se»); «muita amiga» (por «muito amiga»). Relação com livro Não sei se houve propriamente leitura do livro. Houve recurso a partes biográficas (da net) e criação de imagens, pequenos filmes incorporados na apresentação, que completam a leitura de alguns poemas de Mensagem (já agora: Mensagem não é o único livro publicado de Pessoa; é o único livro em português publicado em vida por Pessoa — Pessoa publicara livros em inglês e, claro, depois da sua morte, foram editados outros livros em português com os textos que deixara na famosa arca). Esse enquadramento biográfico é agradável e revela criatividade. Escrita Nas partes retiradas da net, devia ter havido pelo menos o cuidado de alterar ortografia (que é a brasileira): «atuou» ficaria «actuou»; «fato» ficaria «facto»; «sua» ficaria «a sua». Regras Formato filme não foi seguido.

Gil & Rodrigo (Florbela Espanca, Poemas)
[filme não arquivável]
Gil & Rodrigo (16) Florbela Espanca, Poemas Leitura Bastante clara, sem erros. O estilo de leitura é quase escolar (como se se fizesse a caricatura da representação de um diálogo [os sketches MelgaMike já não são do vosso tempo, pois não?]), o que, creio, é propositado (mesmo que não seja, seria difícil fugir a este estilo, dado o modo como o diálogo foi concebido). Relação com o livro Um dos méritos do bibliofilme é ser bastante rico quanto a concepção narrativa: há, por um lado, o nível narrativo «livraria» (que aliás é pertinente também por o espaço em causa ser recente e mercer ser conhecido); esta primeira narrativa articula-se com a menção de poemas e leitura de texto de Florbela Espanca; a propósito, vem também a canção dos Trovante. Estes três planos coexistem em bastante harmonia (sem que o conjunto pareça forçado: este resultado, de aparente simplicidade de processos, implica, ao contrário, ter havido muito engenho na concepção do todo, na montagem, etc.). Escrita Além do que disse atrás, diga-se que há momentos de ironia, ou de estilo leve, conseguidos: por exemplo, quando se começa a cantar e se diz ‘já chega’; e certo registo demasiado formal para um diálogo só se justificam se houver o tal objectivo de caricatura («vamos então imprimir o ticket com a sua localização»; «deve contê-lo»). Notei um erro apenas: «*foram compostos músicas». Regras Filme não parece ser arquivável. Há tempo de música a mais.

Tiago G. (Gonçalo Cadilhe, África acima)

Tiago G. (14,5) Gonçalo Cadilhe, África acima Leitura Bastante razoável. Velocidade e volume certos, sem muitas hesitações no ataque das palavras; entoações são as adequadas e só uma vez me pareceu que a «pontuação» oral seguia erradamente a pontuação escrita (foi em «[e porque,] claro, [...]», demasiado delimitado para o que aconteceria normalmente na oralidade). Relação com livro Depois de se aludir a outras obras do autor, faz-se recensão (ao estilo de apreciação jornalística ou de contracapa de livro). Cuidado havido na selecção das imagens também torna a narração agradável. Escrita Creio que também não funcionaria mal um texto mais subjectivo, mais pessoal — que desse conta da própria experiência de leitura. Redacção correcta (notei só duas palavras aparentemente mal escolhidas — «planetas», quando se pretendia um hiperónimo para «África», mas não descarto fosse figura de estilo propositada; «deslumbrada» por «deslumbrante»), mas relativamente curta (não faria mal que tivesse aproveitado mais umas dezenas de segundos). Regras Imagens são fixas (ou são quase todas fixas), embora haja um trabalho de montagem que consegue dar movimento a alguns planos. Há aliás um efeito interessante conseguido com o mapa de África.