Sunday, September 14, 2008

Cinco

Seguem-se os Egafilmes (microfilmes relativos aos Maias ou aos amores de Pedro e Inês) do 11.º 5.ª. Para já, os de Filipa, Susana, Ricardo & João M., Guilherme, Ana, Augusto & João G., Mafalda & Marta Melim, Beatriz & Catarina, Tiago, Júlia & Mónica [11.º 6.ª], Carolina, Joana & André, Dulce.
Filipa

Filipa (18) Concepção A própria autora, num epílogo do egafilme, resume o seu objectivo: «relatar os princípios dos princípios». Cria-se, mas sempre em coerência com o pouco que nos é dito no livro, o historial dos ascendentes de Afonso da Maia. Expressão oral Muito boa leitura em voz alta. Ocorrre-me só uma falha (ter um «pois» ficado, digamos, indevidamente pontuado — mesmo que haja vírgulas na redacção, é daqueles casos em que a vírgula não implica pausa). Texto Muito bem escrito, ainda que, como sucederia sempre em redacção tão extensa, surjam dois ou três problemas de sintaxe. Em «uma propriedade agrícola, donde resultava grande parte dos seus rendimentos», o «donde» é discutível. Talvez «de que». Melhor ainda: «uma propriedade agrícola, de que (ou de onde) retiravam grande parte dos seus rendimentos». «A zona de Benfica era de acentuado lazer» não soa bem. «A zona era, sobretudo, de lazer». «Os lisboetas inundavam-na» também não é famoso: «Os lisboetas invadiam-na». Em vez de «um memorial de há longos tempos anteriores», «um memorial de há longos tempos». Diga-se «Museu de [e não da] Arte Antiga»; «junto à actual [melhor do que ‘hoje existente’] avenida Grão Vasco». O Ramalhete, nos Maias, situa-se na Rua de S. Francisco de Paula, que, como se diz no filme, é actualmente a Rua Presidente Arriaga; não convém dizer apenas «Rua de S. Francisco», já que, no romance, há também essa outra rua (onde ficava a casa de Cruges e de Maria Eduarda; esta Rua de S. Francisco é actualmente a Rua Ivens, que desce do Chiado em direcção ao rio). (Um pouco à margem, e não porque haja erro no filme de Filipa, veja-se o que escrevi sobre a exacta localização do Ramalhete em comentário ao vídeo de João Picão, do 11.º 4.ª; também as observações acerca da designação do bairro, que não é específica de algum edifício, embora modernamente se possa ter feito crer isso, são agora pertinentes.) Duração 5:38.

Susana

Susana (17,7) Concepção Criou-se, apenas com fragmentos do capítulo VIII de Os Maias, uma síntese (mais paisagística do que narrativa) da ida de Carlos e Cruges a Sintra. Os momentos mais narrativos são a saída de casa e o regresso (a alusão às queijadas funciona como elemento unificador). As imagens, aliás tecnicamente muito boas — embora isso não seja o mais importante —, procuram ilustrar as passagens que vão sendo lidas, relativas a paisagens de Sintra. (É curioso ver assim o capítulo descarnado da componente ‘angústias de Carlos, caricatura de Eusebiozinho, etc.’, como se nos fosse dada apenas a perspectiva de Cruges. Fica a ideia, para quem tenha falta de temas, de se fazer o contraponto psicológico deste egafilme: ‘Sintra, agora aos olhos de Carlos'. Expressão oral A leitura é, quase sempre, muito boa. Só notei hesitações, ou falha, em: «resplendor» (parece ouvir-se uma duplicação de sílaba); «emergindo» (na segunda vogal ouço quase um «a»); na recitação de versos de «Flores e Martírios», de Alencar, saltou-se (propositamente?) o verso «Vê tu que não me esqueceu»; por fim, a entoação de «Esqueceram-me as queijadas» talvez devesse ser mais lamentosa (no romance, diz-se ter ficado Cruges «sucumbido»). Texto Neste caso, a escrita tem de ser entendida como trabalho de escolha dos fragmentos e de planificação do filme (e eu já fui dizendo que acho elegante o modo como se conseguiu, em pouco mais do que os três minutos aconselhados, criar uma «narrativa turística» (novo género!) que se segue com gosto. Rectificações toponomásticas: no filme de Filipa, chamei a atenção para o facto de a rua do Ramalhete ser a de S. Francisco de Paula (e não apenas S. Francisco). Agora, no filme de Susana, vejo uma placa a que, creio, se tirou o «de Paula» (e, de certo modo, bem, já que a rua em que Cruges morava era a rua de S. Francisco, ao Chiado); note-se, porém, que as imagens são da zona das Janelas Verdes (e, em rigor, a espera de Carlos pelo Cruges, um bom quarto de hora, deu-se na actual Rua Ivens; aqui, link para a imagem do prédio de Cruges, em cujo 1.º andar morou Maria Eduarda). É claro que isto tem pouca importância. Duração 3:36.

Ricardo & João M.

João M. & Ricardo (17,3) Concepção O ponto culminante é um (tele)jornal, mas no contexto do século XIX. Nesse jornal se dá conta do início de vida profissional de Carlos da Maia — sabemos nós agora que esse momento, depois da formatura e do regresso de grande viagem pela Europa, acabará por ser o início da vida falhada de Carlos, e não, como até aí julga o leitor, o advento de uma brilhante carreira. O filme é criativo, no noticiário (onde há dois planos: em «estúdio» e nas imagens de exterior, tudo conjugado), mas também faz o enquadramento necessário no resto da intriga (revelando os autores engenho no recurso aos processos narrativos permitidos pelo cinema). Consegue-se isto em pouco tempo, e até com requinte estético, porque, como já acontecera no publifilme, houve decerto cuidado na planificação. Expressão oral Não sendo a leitura em voz alta, habitualmente, o ponto forte de qualquer um dos autores, estiveram, mesmo neste aspecto particular, a um nível bastante razoável. Texto Não há falhas (talvez: em vez de «ajudando a crescer as terras de El-rei», «ajudando a fazer crescer»; e tiraria um ou dois dos determinantes possessivos — «seu» é quase sempre prescindível, sabemos que é de Carlos que se está falar —: «suas brincadeiras», «seus estudos», «seu sonho»). Porém, creio que era possível ter-se aproveitado ainda mais a situação criada, agregando outras notícias, relativas aproximadamente ao mesmo ponto do romance. É que, tendo-se chegado tão bem à encenação do pretexto, fica depois a sensação de que o jornal podia ainda continuar mais um pouco. No slide final, em «João» está um acento circunflexo pelo til. Duração 1:46.

Guilherme

Guilherme (15,3) Concepção Um trailer obriga a um estilo telegráfico — a que, realmente, correspondem as palavras destacadas em slides neste egafilme («desgosto», «rejeição», «adultério», «suicídio», «incesto»); e a trechos de síntese da intriga ou com perguntas a criar expectativas (é o caso do slide «Será que [...]?» ou das pequenas narrações em off). Porém, costumam também incluir-se fragmentos do próprio filme (diálogos, imagens de incidentes fulcrais). Este terceiro ingrediente ficou ausente (e não considero que tenha sido bem substituído pelas imagens da novela). [A propósito de trailers — de filmes apenas imaginados (e talvez fosse mais apropriado para o estilo criativo de Guilherme ter ido por aí, criando o trailer, por exemplo, de uma sequela dos Maias, ou um trailer «antónimo» do da verdadeira história) —, veja-se http://www.teaserland.com/, um concurso de trailers para filmes inexistentes.] Expressão oral Boa leitura, sem quaisquer falhas. Pode, é certo, dizer-se que, predominando a parataxe (uma sintaxe simples, de mera justaposição), as dificuldades postas à leitura em voz alta são diminutas. Texto Não há erros a assinalar, mas fica a ideia de que se arriscou pouco, de que se podia aproveitar mais as peripécias do livro. Um trailer dá-nos, em geral, a sensação de acumulação rápida de dados, o que contrasta com a relativa calma deste egafilme (e a duração-limite ficou longe de ser esgotada). Considerando a escrita do género que se quis adoptar como formato, tem ainda de se fazer reparos à música e até a aspectos visuais (saiu tudo demasiado cinzento). A certa altura, usa-se «romances» na acepção ‘paixões, amores’, o que é talvez inapropriado a um registo formal. Duração 0:44.

Ana

Ana (16,5) Concepção Criam-se páginas de um diário de Maria Eduarda (relativo aos dias que ficam entre terem-se avistado e a declaração amorosa). Expressão oral Boa leitura (e, sem se cair no ridículo, não é fácil conseguir imitar o estilo de monólogo de um apaixonado). Notei apenas um caso de pontuação da escrita transposta para a leitura oral (já se sabe que muitas das vírgulas de um texto escrito não têm de corresponder a pausas na leitura em voz alta): a delimitar «por Carlos», temos uma dessas pausas desnecessárias. Outra pausa (mas a que no escrito não corresponderá vírgula) deveu-se a a frase exigir entoação complicada: «não posso enganar mais ... Castro Gomes». A entoação da frase final («consome por dentro») ficou ligeirissimamente exagerada (ou a repentina suspensão do filme torna aí a entoação um pouco artificial, por não haver depois o resto da curva). Texto Está bem construído, sem resvalar para o registo corrente (só «repleto», no contexto em que aparece, é que talvez seja pouco oitocentista). Não é um conjunto de lugares comuns da expressão amorosa — que era um risco que facilmente se correria —, embora se pudesse ter ido mais longe na complexificação da psicologia de Maria Eduarda. (Com mais um minuto de texto, por exemplo, poder-se-ia matizar, sofisticar, os exactos sentimentos de Maria.) Melhor do que «Oiço um batuque na porta» seria «Oiço tocarem à porta [um toque]», embora «batuque» também possa valer por ‘série de toques’. Não chega a ser incongruência (e além disso o egafilme não assume que se esteja a cumprir a exacta cronologia do romance nem é certo que a ida a Sintra fosse a referida no romance): se bem me lembro, a ida a Sintra do «casal» Castro Gomes ocorre num momento anterior ainda a algum tipo de contacto social entre Maria e Carlos (logo era inverosímil que Maria tivesse ficado contrariada por estar a pensar convidar Carlos para algum encontro). Duração 1:25.

João Garrido & Augusto

Augusto & João Garrido (15) Concepção Há uma boa ideia que, no entanto, não foi completamente aproveitada: o contraste irónico entre duas acções, a pretexto das vantagens da filmagem em câmera [já agora: pode escrever-se «câmera» ou «câmara»] lenta. Era preciso, primeiro, escrutinar nos Maias comportamentos que pudessem ser usados para o efeito pretendido — essa série ajudaria a tornar o filme mais eciano, mas implicaria demasiado tempo, é claro. Ao mesmo tempo, em vez da música teríamos a leitura dos passos equivalentes no romance. Há grande apuro estético (nas imagens, na música, na montagem — e eu nem saberei avaliar devidamente essas capacidades técnicas), mas o cruzamento com o livro é excessivamente leve. Há uma confusão também: na primeira cena, que os autores assumem envolver Maria Eduarda e Carlos, é lido um parágrafo que se reporta a Maria Monforte (é o passo em que Afonso da Maia se apercebe de como é bonita a futura nora, que vai com a sombrinha escarlate). Expressão oral Creio que desta vez não erro ao dizer que só Augusto chega a ler em voz alta. Essa leitura tem algumas falhas: no segundo trecho, não devia haver pausa antes de «em declive»; no trecho sobre a Monforte, há incorrecções mais notórias: «de[s]fronte» por «defronte»; «tornado» por «tomado»; «escondia-se» por «encolhia-se»; e «mantelete da filha» também não é bem pronunciado. Texto Como disse atrás, mesmo em prejuízo do resultado em termos estéticos, deveria haver mais texto (a ler em voz alta). Numa das legendas há um erro: «vêm» (vir) está por «vêem» (ver). O trecho que é lido das corridas tem cortes, mas julgo que foram propositados. Duração 5:23.

Marta Melim & Mafalda

Mafalda & Marta Melim (17,4) Concepção Foi criada e representada a cena que corresponderia aos (leves) problemas de consciência de Maria Monforte quando se decide a fugir, bem como aos preparativos da fuga. O cenário é moderno, mas não há propriamente transposição temporal, já que linguagem, referências, parecem ser as de oitocentos e da história original. Expressão oral Ambas as autoras representam muito bem. Dicção também é boa (notável até da parte de Mafalda; já Marta incorre, aqui e ali, no erro de ser muito rápida, o que leva a que algumas frases fiquem demasiado ligadas). Como dizia, há pouquíssimas hesitações na representação: talvez apenas, cerca dos dois minutos, quando Marta interrompe uma frase («não irá aguentar [..] a perda da mulher [de quem?] tanto ama» — aliás, o texto aqui não me parece perfeito — e a fala seguinte percebe-se mal). Texto Conseguiram evitar uma dificuldade que põe a escrita de um diálogo destes, que é a possibilidade de se deixar passar termos informais, incoerentes com o contexto a recriar. Não encontrei problemas de sintaxe (a não ser no momento a que aludi em cima — e não sei se aí eram falhas que estivessem no original escrito ou se se tratou de lapsos devidos à representação). Reparos só a questões de pragmática: Trancredo não seria tratado por «majestade» (mesmo assumindo-se que os que o rodeavam tivessem ilusões acerca da sua linhagem); não creio que, em meados do século XIX, uma senhora dissesse à sua criada para se sentar (e é claro que a criada não se sentaria no braço do sofá). Duração 3:05.

Beatriz & Catarina

Catarina & Beatriz (16,5) Concepção É um trailer para Os Maias (isto é, para um filme baseado no livro). Houve preocupação em percorrer os vários passos deste formato, articulando partes liminares, breves, com trechos mais demorados. Tenho pena que nestas zonas com texto mais desenvolvido não tivessem optado por texto original, em que adaptassem ao género ‘trailer’ a intriga do romance, mais do que procurar enquadrar no ‘trailer’ passos relativamente convencionais, próximos do que se encontra nos manuais escolares. Que aspectos do enredo de Os Maias um realizador destacaria num trailer publicitário? E qual a exacta fórmula (diálogos curtos; sínteses biográficas mas mais vivas; ...) da escrita do trailer? Um aspecto importante que é relevante na aparência final deste género (mas em que compreendo não se pudesssem concentrar) é o do som, o da música, sempre determinante no ritmo de um filme destes. Expressão oral
A leitura do início dos Maias, por Catarina, podia ser melhor (tendo em conta as capacidade da autora e a possibilidade de se repetir, de se ensaiar). As leituras seguintes (Beatriz, sobre Afonso; Catarina sobre Pedro; Beatriz, para Carlos) já foram bastante boas. Texto Não há problemas de sintaxe, o texto é sempre correcto, mas sei que são capazes de escrever com mais risco. Não convém dizer-se que Os Maias são uma obra romântica («romântico», numa das suas acepções mais esperadas no contexto em causa, é oposto a realista, precisamente a escola a que pertencia Eça, e que vinha «destronar» a outra; «romântico», no sentido de ‘passional’, sim, mas não é esse o registo devido). Será preferível «liberal» a «liberalista»; «paisagens de Portugal deliciam a leitura de Os Maias» é quase agramatical (teria de ser «paisagens de Portugal tornam deliciosa a leitura de Os Maias»). Duração 3:17.

Tiago

Tiago (16,2) Concepção Criou-se um sketch a propósito da psicologia, débil, de Pedro da Maia. O texto — decerto escrito, mas também, mas, por vezes, aparentemente espontâneo — é representado, por Tiago e por irmão. Consegue-se brincar com as consultas (de psiquiatria; de psicologia; etc.) e, ao mesmo tempo, ir referindo a vida da Pedro da Maia. Quando, já depois de relatada a fuga de Maria, se chega a um momento paradoxal (sabemos que Pedro se suicidou pouco depois da fuga da Monforte, logo não poderia estar agora a relatar tudo), o caso resolve-se com uma espécie de repetição da história: há um revólver à mão, como costuma acontecer em consultas de psicanálise ou de pedopsiquiatria, e Pedro cumpre mesmo o seu destino. Expressão oral Bastante boa a representação (de ambos os actores, mas com relevo para Tiago), embora me parecesse dispensável a caricatura das vozes (é um processo fácil de que, dada a planificação restante, talvez se pudesse ter prescindido). O som é em geral imperfeito, o que dificulta estes comentários. Texto Achei interessante a construção da intriga. A inteligência da cena criada fica um tanto apagada — desnecessariamente — pela adopção do tal aparato histriónico (pronúncia, sobretudo; alguns gestos e adereços). Não há falhas no uso do enredo, embora deva ficar claro que Pedro, vindo do estrangeiro com Maria, não regressa para Benfica (mas para Arroios). Duração 2:57.

Júlia & Mónica [11.ª 6.ª]

Mónica [6.ª] & Júlia (16,9) Concepção O filme tem duas partes claramente distintas. Na primeira, mais convencional, faz-se uma súmula do enredo dos Maias, sobretudo dos capítulos iniciais. (Há leitura em voz alta, fotografias — preferia que tivessem evitado as da telenovela —, o texto é estandardizado.) Na segunda parte, mais criativa, há representação, por parte das autoras, que transpuseram a intriga para a nossa época e fingem uma conversa de vizinhas. Já se percebeu que gosto mais desta parte, mas percebo que a narração que a precede é útil para enquadrar a cena da intriguice acerca desse casal de manos perversos. Diga-se também que mostram bastante arte a construir as condições narrativas para o surgimento da segunda parte (conseguem fazê-lo em pouco tempo, suspendendo a história a dada altura). Expressão oral Quase sempre boas, as leituras em voz alta e a representação. Um exemplo de pontuação do escrito que não teria de ser lida: a vírgula a seguir a «porém» (Júlia). Quando Mónica lê «acabara por se casar, mais tarde [...]» não seria antes «acabará por se casar, mais tarde [...]»? Na representação, há apenas uma pausa «falsa», entre «vizinha» e «da frente» (Mónica). Texto Teria havido vantagem em investir menos na parte introdutória (ou, se calhar, investir mais, tornando-a porém mais curta e original) e conceder tempo à parte representada (creio que aqui, com facilidade, teriam encontrado mais maledicências em torno dos dois Eduardos — Carlos e Maria). Reparos localizados: «doida e, até, excessiva» soa-me mal; quase que era melhor «excessiva e, até, doida»; por outro lado, como acontece tanto na escrita da vossa geração, há excesso de determinantes possessivos (revejam quantos «seus» eram prescindíveis); em vez de «família da Maia», «família Maia» ou «dos Maias»; em vez de «abandonar Pedro com um dos seus filhos, Carlos», «abandonar Pedro e um dos filhos, Carlos» ou «dexando-o com um dos filhos». (Notem também que Sintra, ao contrário do que se podia retirar das imagens que exibem antes da cena representada, não é local crucial no caso dos encontros Carlos-Maria — sê-lo-ão a Toca e a Rua de S. Francisco.) Duração 3:16.

Carolina

Carolina (17,5-17,6) Concepção O género é indefinido (entre o monólogo, quase poético, e a narrativa breve, o incidente, a anamnese — momento breve, por vezes irrelevante, que se tenta fixar). Há uma narração (uns «conselhos para a vida») que decorre enquando é focada uma personagem (que poderia ser a enunciadora dessa reflexão mas não é certo seja). Num segundo, e final, momento, já temos um diálogo em que intervém a mesma personagem feminina e um rapaz. O desfecho é de imediato associado aos Maias (Carolina/Maria Eduarda; Ricardo/Carlos Eduardo). Em todo o filme (música, modos de filmagem, escolha dos espaços, lettering) se revela apurado sentido estético, artístico. Expressão oral Muito boa leitura (embora o estilo de texto a ler não seja dos mais difíceis). Texto Bem escrito. Por motivos didácticos, preferia que o texto fosse um pouco mais longo (mas é verdade que, assim, poder-se-ia prejudicar uma das características deste tipo de micro-ficções, a sua brevidade, o epílogo inesperado). A construção «especular os acontecimentos» talvez seja possível, mas parece-me mais esperável «especular acerca dos acontecimentos». Acho «o nosso eu pensante» uma expressão demasiado rebuscada. Tenho dúvidas sobre se «nos faz transcender as nossas expectativas» é viável («faz que suplantemos as nossas expectativas»). Duração 1:39.

Joana & André

André & Joana (17) Concepção Imaginou-se uma alternativa à conclusão de Os Maias. Maria e Carlos não teriam nunca recebido informação do carácter incestuoso da sua relação; casaram e têm um filho com uma doença excepcional (não se explicita isso no filme, mas podemos assumir que a doença seria uma consequência da consaguinidade dos pais). Entretanto, procede-se a transposição da narrativa para outro local (Nova Iorque), em parte, e para outra época, a nossa. Para se fazer este relato, seguem-se dois formatos: locução em off, amenizada com desenhos (que a ilustram; ou que aquela explica) decerto da autoria de André e/ou Joana; representação (representação dos dois autores e, ainda, salvo erro, irmão de Joana). Este segundo formato parece ter certa falta de espaço no filme (como se viesse resolver o impasse da conclusão da história mas fosse um tanto desperdiçado — mal chega a haver diálogo). Houve criatividade e boa planificação. Expressão oral A leitura é aceitável, mas não terá sido devidamente ensaiada. Pronúncia de André é, por vezes, pouco nítida, apressada (talvez por displicência lisboeta), ficando nós com dúvidas acerca do que foi dito (exemplo: não percebo o adjectivo a seguir a «um documento»: «revelado»?). Joana podia ser expressiva em certos momentos que o próprio texto marca como representáveis (por exemplo, «Bem, se julgam que [...]» foi lido sem se imitar o estilo coloquial). Pausa indevida em «e foi mesmo isto /.../ que aconteceu a Carlos e a Maria» (Joana). Antes de «Instalaram-se numa casa», teria de haver mais pausa (André); não se percebe bem o final de «Sem mais demoras, pomo-vos a [par?; pau?]» (André); «noves meses» (Joana). Texto Em cima, tracei o esquema narrativo de que se valeram os autores, e que considero uma boa ideia. A parte textual não apresenta erros, embora o registo pudesse ser mais sofisticado, mais literário. Exemplos de trechos em que a elegância era melhorável: «a vida tornava-se despreocupada», logo seguida de «preocupação» («o dinheiro não era [...]»); e, sobretudo, duas ou três regências (ligação verbo + preposição) que estão no limite do gramatical. Slide com dizeres parece-me bem (com a ironia que vem da caricatura do mistério; do exagero das reticências; da mistura com linguagem familiar). Duração 3:57

Dulce

Dulce (17,5) Concepção Em tom ligeiro, aborda-se o facto de Os Maias serem obra vista como emblema do cânone escolar (o que aliás acaba por a prejudicar para boa parte dos efeitos que se pretendiam com a leitura de textos literários). Para o estilo de leve ironia concorrem, logo no início, a articulação de música e animação (nos dizeres em slide); a construção do texto (adjectivação, sobretudo); o jogo entre o que vai sendo dito e as imagens que servem de fundo à locução. A ironia é conseguida, muitas vezes, pela forma como as imagens (por vezes, de BD; algumas a implicar inferências nossas) pontuam o discurso (prazenteiro também, mas mais cuidado, mesmo erudito). Expressão oral Muito boa leitura, em que não notei falhas. Texto Já elogiei o «corpo-a-corpo» com as imagens. De qualquer modo, é um texto que, mesmo se fosse só ouvido (sem o decisivo contraste que constituem os slides), seria também agradável de seguir, já que está construído com sintaxe e léxico, digamos, ecianos (isto é, com requintes de ironia ‘à Eça’), sem que notasse quaisquer erros (há apenas uma proximidade de dois «pequeno[s]», que eu resolveria trocando o adjectivo de «pequeno país»). Curiosamente, chega a haver trechos que correspondem a discurso indirecto livre («Ah! Que bernarda!», «O mais cedo possível!», inseridos dentro de partes de discurso indirecto); já agora: seriam talvez momentos que exigissem uma leitura ligeirissimamente mais expressiva. Duração 2:35