Aula 14 da Quarentena (= 135-136)
Aula 135-136 [= 14 da
Quarentena] (4
[3.ª, 5.ª, 9.ª], 5/mai [4.ª]) Para aproveitarmos termos lido «A Contrafé» na
última aula, podemos hoje reler (parto do princípio de que todos já leram O Ano
da Morte de Ricardo Reis ou já estão muito avançados) o passo consequente, o interrogatório
nas instalações da PVDE. Eram estas na Rua António Maria Cardoso, que ficou
para sempre a isso associada. A «António Maria Cardoso» ainda é, para a minha
geração ou para a anterior, metonímia de PIDE. Hoje esse prédio está
transformado em apartamentos. Na Apresentação verão várias perspetivas da rua
em causa, acabando nas do 25 de abril de 74, incluindo uma célebre do interior,
e numa do condomínio atual.
O texto intitula-se «Na sede da PVDE», está nas pp. 270 a 274
do manual, é portanto longo, mas já o conhecerão pela leitura do próprio livro
de Saramago. A quem não tenha em casa O Ano da Morte de Ricardo Reis
volto a recomentar o PDF, descarregável aqui.
De qualquer modo, ficam reproduzidas as cinco páginas do
manual. Acrescento uma sexta (p. 275), que apoia a resposta às perguntas da p.
274, sobre Sequências textuais.
Na p. 270, a partir da l. 25, ainda se refere brevemente o
caminho entre o Hotel Bragança e a PVDE, na Rua António Maria Cardoso. Mas o
percurso está mais bem descrito ainda na parte que lemos na última aula (na voz
de Salvador, que o explica a Reis):
«primeiro sobe a Rua do
Alecrim até à esquina da igreja, depois vira à direita, ainda outra vez à
direita, adiante há um cinema, o Chiado Terrasse, do outro lado da rua está à o
Teatro de S. Luís, rei de França, são bons lugares para distrair-se uma pessoa,
artes de luz e de palco, a polícia é logo a seguir, não tem nada que errar, ou
terá sido por ter errado tanto que o chamaram cá» (p. 268 do manual).
Vê esse percurso pelo GoogleMaps (prometo que não te farei
ouvir desta vez uma tentativa minha). Repara que terás de subir toda a Rua do
Alecrim, como fizemos da última vez, só que, chegando ao Chiado-Camões, virarás
à direita para, no fundo, desceres de novo paralelamente ao que subiras, agora
pela António Maria Cardoso. Verás logo no início, à tua direita o que resta do
Chiado Terrasse, um velho cinema (na Apresentação está uma sua imagem ainda
como cinema), pouco depois, mas do outro lado da rua, o Teatro de S. Luís. A antiga sede da PVDE, depois PIDE, pode não se reconhecer muito bem porque é agora um prédio de habitação, mas está à esquerda de quem desce, logo a seguir ao S. Luís, em frente a um outro prédio em obras de «requalificação».
Em vez de
respondermos às perguntas na p. 274, vejamos este quadro que já reúne o
fundamental, que é a caracterização das várias sequências do texto.
Acrescentarás apenas, na coluna da direita, as palavras em falta.
linhas
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sequência
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comentário
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1-25
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argumentativa
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Como
acontece em textos argumentativos, defende-se uma tese, a de que a natureza
não é indiferente às «dores e sentimentos humanos», apresentando-se o ______
de não poder justificar-se de outro modo o temporal que atingia o país há
tanto tempo e dando-se exemplos (a raiva, no Alentejo; as bexigas, o tifo, «as
duzentas pessoas que vivem em três andares», no Porto; a ida de Ricardo Reis
à sede da ___).
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25-72
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narrativa
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Como
é próprio das sequências narrativas, são usados diversos verbos que indicam ações
(«vai», «soprando», «virar», «entra», «mostra», «foi», «leva»,
«precipitou-se», «travou», «Seguiu», «bateu», «abriu-a», «ordenou»,
«pousou-a», «lançou-lhe», «Tirou», «soergueu-se», «leu», «comparou», «tomou»,
«colocou») conjugados no presente do indicativo e no _____ perfeito. São
usados advérbios com valor de tempo («agora»,
«ainda», «depois», «enfim», «depois», «agora», »agora sim») e de ____ («Aqui», «daqui», «por ali», «ali perto»).
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73-163
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dialogal
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O
narrador dá a palavra às personagens, num diálogo que parece considerar
suficientemente esclarecedor para dispensar comentários. O inquérito, considerado
pelo próprio Reis como «mais de devassa que de conversa», cobre a vida
pessoal, sem qualquer justificação, criando ciladas e procurando contradições.
Esta sequência dialogal termina com intervenção de ____, cujo cheiro intenso
a cebola e a náusea que provoca podem servir de metáforas para o ambiente
pestilento da opressão e do seu efeito sobre as vítimas.
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164-178
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descritiva
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Nestas
linhas, o _____ exprime a finalmente a sua posição perante o sucedido. Com
efeito,
o desejo
expresso de um terramoto e, sobretudo, a dúvida sobre se os ossos do agente e
do seu superior algum dia poderiam considerar-se «limpos» são
elucidativos do ponto de vista do narrador.
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Vê solução na Apresentação:
Dá um título (um título-frase, quase uma epígrafe) ao texto que
estivemos a ler e a que as autoras do manual chamaram «Na sede da PVDE». O teu
título-frase deve ser expressivo, mostrar compreensão do texto e ter uma oração
subordinada adverbial (temporal, causal, condicional, final, concessiva), seguindo-se
a respetiva subordinante. É natural que te venha a ser pedido mais tarde
para copiares esse título em «Gaveta do 12.º 3.ª/4.ª/5.ª/9.ª» (Classroom).
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O ano passado vimos um interrogatório, muito agressivo, a uma
paragem de autocarro ou a caixote de lixo que era testemunha. Não recupero
esse sketch dos Gato Fedorento, que era longo, mas estoutro, que também já
vimos — «Inspetor que não sabe fazer perguntas» —, e ainda «Polícia Bom,
Polícia Bonzinho», que nunca vimos. Todos estes interrogatórios têm polícias
ainda menos inteligentes que o inspetor da PVDE e interrogados muito menos
inteligentes do que Reis.
A prova de exame do ano passado tinha uma pergunta
sobre O Ano da Morte de Ricardo Reis, precisamente sobre a importância
do enquadramento histórico e sociológico. Repara que a pergunta apresentava em
alternativa O Ano da Morte de Ricardo Reis e Memorial do Convento,
porque as escolas podem optar por uma destas duas obras de Saramago. (Isto
aliás lembra-nos que as provas de exame podem fazer o mesmo com outras obras de leitura integral —
Farsa de Inês Pereira ou Auto da Feira, de Gil Vicente; Os
Maias ou A Ilustre Casa de Ramires, de Eça de Queirós — ou mesmo com
Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco.)
Era uma pergunta do Grupo I, mas da parte C, ou seja a que
implica escrever sobre assunto literário mas sem texto prévio:
[Prova
de exame 2019, 1.ª fase]
Grupo I, Parte C
7. Do diálogo de José
Saramago com o «passado» emerge, em romances como Memorial do Convento e
O Ano da Morte de Ricardo Reis, uma visão crítica sobre o tempo
histórico representado e sobre a sociedade desse tempo. Escreva uma breve
exposição na qual comprove a afirmação anterior, baseando-se na sua experiência
de leitura de um dos romances mencionados.
A
sua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicite dois aspetos que são objeto de crítica pelo narrador,
fundamentando cada um desses aspetos em, pelo menos, um exemplo pertinente;
• uma conclusão adequada ao
desenvolvimento do tema.
Comece
por indicar, na folha de respostas, o título da obra por si selecionada.
Nos critérios de classificação estipulava-se o seguinte:
7. Relativamente à obra
selecionada, devem ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros
igualmente relevantes.
Em
O Ano da Morte de Ricardo Reis, é evidente o olhar crítico do narrador
sobre:
‒ a opressão vivida durante o Estado
Novo, patente, por exemplo, no controlo exercido pela PVDE/pela polícia política sobre a população e na existência de delatores;
‒ a repressão de manifestações de revolta, como a
que ocorreu durante a sublevação dos marinheiros;
‒ a manipulação da informação transmitida pelos meios
de comunicação social, por exemplo, sobre as notícias da guerra na Europa;
‒ a propaganda política, patente, por
exemplo, no enaltecimento de Salazar, perspetivado como um modelo para os outros países/como o «salvador» da pátria.
Nota que os critérios apresentam o assunto da crítica de modo
genérico (a opressão durante o Estado Novo ... / a repressão de manifestações ...
/ a manipulação da informação ...) e citam as evidências no enredo da obra
apenas enquanto exemplos (controlo pela PVDE, reação à sublevação dos
marinheiros, notícias ...). Receio que
alguns de vocês passassem diretamente aos exemplos, por não lhes ser fácil
encontrar los tais termos generalizadores. É um treino que é preciso fazer.
Isto também é verdade para o Grupo III: distinguir tese (a
vossa posição quanto ao assunto em causa), argumentos (ou seja em que se
baseiam para ter tomado a posição definida na introdução) e respetivos exemplos
(casos concretos que comprovam o argumento que deram).
Deixo aqui os links da prova e dos critérios de classificação. Sobretudo se estás
a pensar fazer exame de Português, aproveita para ver a estrutura da prova e,
especialmente, o estilo de critérios, com descrições de proficiência em escalas, usado nestas classificações.
Há filmes portugueses recentes cujo enredo envolve bastante a
PIDE. Ficam os trailers de
alguns:
48 (de Susana de Sousa Dias)
Luz Obscura (de Susana de Sousa Dias)
A uma hora incerta (de Carlos Saboga)
Operação Outono (de Bruno de Almeida)
Os dezoito minutos iniciais do documentário «As grades que nos guardaram» também abordam os interrogatórios da PVDE/PIDE (assiste apenas a esses dezoito minutos).
Na penúltima aula usei na apresentação capas de diversas
edições (incluindo estrangeiras) de O Ano da Morte de Ricardo Reis.
Repito-as na apresentação de hoje individualizadas. Pensa tu também numa capa
que criasses para este livro de Saramago. Não a desenharás — a não ser que
queiras ou, num esboço, como ponto prévio do teu trabalho — mas descrevê-la-ás
em poucas linhas (cerca de cento e trinta palavras), o que pode incluir alguma
justificação das opções que tomasses. Guarda esse teu texto por agora.
(Na p. 301 do manual, há uma apreciação crítica a uma capa de
livro, a de uma edição finlandesa de Memorial do Convento. Não é
imprescindível lê-la agora, mas também não se perderia nada. Recomendo este top de capas de livros; bem como este ou este.)
TPC — Escreve em «Gaveta do
12.º 3.ª/4.ª/5.ª/9.ª» o título-frase sobre o texto lido que te pedi no início
da aula de hoje (com oração subordinada adverbial e subordinante).
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