Aula 19 da Quarentena (= 143-144)
Aula 143-144 [= 19 da Quarentena] (14 [5.ª], 15/mai [3.ª, 4.ª, 9.ª]) Comentei já os
vossos trabalhos sobre os trailers de filmes cujo argumento adotou livros de Ian McEwan.
É incrível a quantidade de vezes em
que títulos de livros e de filmes surgem entre aspas ou sem nada. Era em itálico
(ou, para os que carregaram imagem do manuscrito, sublinhado): Na praia de
Chesil, por exemplo. (Nos comentários e enunciados de tarefas no Classroom posso ter de usar aspas mas apenas porque não há itálico. No vosso Word não têm esse constrangimento; e, se for em manuscrito, sublinhariam.)
Também continua a ser usado
«romance» no sentido de ‘paixão’, ‘amor’. Ora, quando se trata de literatura, o
termo «romance» deve ficar reservado para a aceção ‘formato’, ‘género incluído na forma natural de literatura narrativa, tal como o conto, a novela, a epopeia’.
Gostei de ver alguns dos
comentários em imagem do manuscrito (o escreverem à mão faz que haja menos
trapalhices). Nestes casos, convém zelar para que a imagem fique na direção
correta, para eu não ter de virar o computador nem ficar com um torcicolo.
Também reparei que alguns já não se
lembravam de que chegámos a ver em aula, no décimo ano, Atonement (Expiação).
A aula de hoje será a última aula longa, de bloco de noventa minutos, «de quarentena». Segundo o que se sabe, a partir da próxima semana (18 de maio-...) haverá, semanalmente, uma aula de Português presencial de 90 minutos (dada a duas metades de turma — aula que eu repetirei oito vezes, portanto, ...) e uma aula de 45 minutos a distância (que continuarei a dar neste estilo: Gaveta de Nuvens + Gaveta no Classroom).
Nas aulas presenciais falarei menos do que tenho falado aqui, e não é apenas pela máscara, que me embacia os óculos. É que vamos aproveitar essas aulas (no fundo, cinco ou seis aulas presenciais até ao fim do ano) para fazer o que foi um pouco descartado à distância: questionários de compreensão de textos, tarefas de gramática, certo tipo de escritos (cujo transporte passará a ser de novo mais fácil). Ainda não decidi se vou retomar a tarefa de recitação com Mensagem ou que tarefa «grande» lhes pedirei.
Como sempre disse, no caso do Português, não sentirei falta de elementos de avaliação e, como também já disse, não considero fechadas as classificações — este 3.º período acabou até por ser maior do que o que se previa. É importante que não deixem tarefas para trás. Não há muitos casos desses, mas há quem tenha de recuperar tarefas rapidamente se não quiser baixar muito a nota no final do ano.
Hoje vamos aproveitar um poema de Fernando Pessoa, ortónimo, escrito em 1934, portanto perto da época (1935) dos poemas antissalazaristas que vimos há poucos dias e dos anos (1935-1936) que José Saramago ficcionou em O Ano da Morte de Ricardo Reis.
Nas aulas presenciais falarei menos do que tenho falado aqui, e não é apenas pela máscara, que me embacia os óculos. É que vamos aproveitar essas aulas (no fundo, cinco ou seis aulas presenciais até ao fim do ano) para fazer o que foi um pouco descartado à distância: questionários de compreensão de textos, tarefas de gramática, certo tipo de escritos (cujo transporte passará a ser de novo mais fácil). Ainda não decidi se vou retomar a tarefa de recitação com Mensagem ou que tarefa «grande» lhes pedirei.
Como sempre disse, no caso do Português, não sentirei falta de elementos de avaliação e, como também já disse, não considero fechadas as classificações — este 3.º período acabou até por ser maior do que o que se previa. É importante que não deixem tarefas para trás. Não há muitos casos desses, mas há quem tenha de recuperar tarefas rapidamente se não quiser baixar muito a nota no final do ano.
Hoje vamos aproveitar um poema de Fernando Pessoa, ortónimo, escrito em 1934, portanto perto da época (1935) dos poemas antissalazaristas que vimos há poucos dias e dos anos (1935-1936) que José Saramago ficcionou em O Ano da Morte de Ricardo Reis.
Este poema tem o interesse especial de ser sobre um poeta que
Pessoa e a sua geração muito estimavam, Camilo
Pessanha. Podemos dizer que, dos poetas portugueses que precederam a
geração modernista, Camilo Pessanha e, um pouco antes, Cesário Verde
(1855-1886), foram os mais admirados por Pessoa.
Pessanha (1867-1926), na verdade, foi contemporâneo destes
poetas ligeiramente mais jovens (Pessoa era mais novo vinte e um anos, mas só
lhe sobreviveu nove). Estava, porém, quase sempre longe de Lisboa, em Macau, o
que também contribuiu para a aura romântica que tinha junto desta geração, que
era sobretudo do Chiado e da Baixa lisboeta.
Mostro primeiro o manuscrito e depois a decifração (no autógrafo, a cruz ao lado da segunda estrofe significa que Pessoa
ainda não estava decidido quanto a esses versos):
135 [62A-43r]
Ah, como eu
quereria
Ser como
aqueles em quem
A inspiração
é já poesia
E a forma
toda a alma tem!...
Meu mestre
Camilo Pessanha!
Como
sentias? Por que modo
O que em ti
é matéria estranha
Era teu
natural, teu todo?
Ninguém
sabe. E teus versos são
Como o que
passa no sonhar
E que é
melhor que uma visão
Sem que haja
de que despertar.
7-8-1934
Fernando Pessoa, Poemas de Fernando Pessoa. 1934-1935, Lisboa,
INCM, 2000
Neste poema em três quartetos, a homenagem a Pessanha inclui
elementos que podemos relacionar com linhas temáticas sempre atribuídas à
poesia ortónima.
O que o sujeito poético declara invejar em Pessanha tem que
ver com aquele dilema tão tratado da impossível compatibilização do sentir e
do pensar (talvez também ao tema da fragmentação do eu) e constitui
uma aproximação, de novo, à teoria pessoana do fingimento poético.
À mão, a caneta, comenta a ideia defendida no parágrafo
anterior, não deixando de citar, aqui e ali, o poema, e, ao mesmo tempo,
mostrando conhecimento das mencionadas linhas temáticas recorrentes no Pessoa
ortónimo. (Cerca de cento e cinquenta palavras. Guarda o texto contigo. Direi
depois o que se fará com ele.)
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A vida de Camilo Pessanha dava um filme. A longa estada em
Macau envolve muito ópio, vida com concubinas chinesas, etc. O ópio
lembrar-lhes-á «Opiário», do Álvaro Campos jovem.
E lembra outra experiência de «paraíso artificial», a dos
cogumelos alucinogénios de O Último a sair:
Lê esta ficha informativa sobre processos fonológicos (evoluções fonéticas, dizia-se à
vezes):
Apoiando-te na ficha em cima, resolve estes exercícios que
roubei a Maria Regina Rocha, Gramática de português, Porto, Porto
Editora, 2016, pp. 190-191.
Vê soluções dos itens 6, 7, 8 na Apresentação (a cara da capa é a de Camilo Pessanha, é claro, cheia de alusões macaenses):
Vê o documentário sobre Camilo Pessanha que está imediatamente
a seguir (Camilo Pessanha, um poeta ao longe) e/ou relanceia qualquer um dos três em baixo. Não tens de ver tudo, mas relanceia o suficiente.
Recentemente, a INCM disponibilizou uma boa edição de Clepsidra, de Camilo Pessanha — descarregável, ou visível, aqui. Os poemas só começam depois das primeiras cinquenta páginas; lê mesmo alguns. Entretanto, neste dicionário sobre Modernismo temos um bom verbete dedicado a Camilo Pessanha. Também pode merecer
consulta o site de Pessanha na Biblioteca Nacional.
TPC — Aproveita para pôr em
dia as tarefas que tenho pedido. Relanceia as aulas se não as tens seguido
sempre. É natural que ainda te venha a pedir a tarefa de escrita feita hoje.
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