Aula 29 da Quarentena (= 159)
Aula 159 [29 da Quarentena] (19/jun [9.ª, 5.ª, 4.ª, 3.ª])
Ainda a propósito de estátuas derrubadas — e a pensar
sobretudo em quem goste de história —, aconselho-lhes a
primeira parte deste «E o resto é história», talvez os primeiros vinte minutos.
Rui Ramos refere aí também as celebrações do terceiro centenário da morte de
Camões (que são importantes para o contexto de «O sentimento dum ocidental», de
Cesário Verde; mas a estátua de Camões é focada também em Os Maias, de
Eça, e em O Ano da Morte de Ricardo Reis, de Saramago):
Queria deixar-lhes um bom exemplo da tarefa 16 da Quarentena, que
devolvi recentemente:
A estátua de
Fernando Pessoa prevalece no Chiado despovoado. [Frase simples]
Embora a
pandemia da Covid-19 tenha forçado o refúgio da população portuguesa, a representação
do poeta permanece imperturbável. [Subordinada adverbial concessiva +
Subordinante]
Enquanto uma
catástrofe devasta o país, Pessoa emerge como um símbolo de perseverança. [Subordinada
adverbial temporal + Subordinante]
O poeta
apresenta uma pose serena, encara as adversidades com lucidez e inspira
confiança na superação desta calamidade. [Coordenada + Coordenada assindética
+ Coordenada copulativa]
O pânico
domina a humanidade, mas a visão pessoana de um quinto império determina que o
povo lusitano reconquistará a grandiosidade perdida. [Coordenada +
Coordenada adversativa + Subordinada substantiva completiva]
Pessoa exige a
elevação da nação portuguesa perante uma ameaça mundial. [Frase simples]
(Pedro, 12.º 4.ª)
Queria ainda deixar-lhe as regras de translineação, mostrando-lhes
como se parte uma palavra quando se atinge a linha da margem. Muitos, para
evitarem fazer a translineação, deixam imenso espaço vago antes de chegar à
margem, trocando logo de linha. Não fica bem. Outros partem mal a palavra. Ora
as regras a que se deve sujeitar essa partição são poucas. Ficam aqui inventariadas
(fui buscá-las à Gramática Prática de Português (Lisboa, Raiz, 2014):
Continuando a retomar assuntos tratados na última aula presencial,
tentarei explicar a seguir a estrutura da prova de Português. O vídeo ainda demora
dezassete minutos. Não
perca tempo com ele quem não vá a exame de Português. Os que vão a exame
vejam-no. Mesmo assim há (i) aspetos que não estão definidos (vamos ainda perceber
como vai ser; se souber, dir-lhes entretanto); (ii) aspetos de que não falei e de que podia já ter falado, mas
que prefiro deixar para explicações posteriores. (Antecipo já um lapso meu no vídeo: digo a certa altura que os erros com desconto de dois pontos são os de sintaxe e de pontuação, mas queria dizer «os de sintaxe e propriedade lexical»; os erros de ortografia e de pontuação implicam desvalorização de um ponto — e já não é pouco!)
O resto da aula de hoje está sobretudo pensado para os de
exame, mas queria que todos o seguissem. (O tepecê é que é já só para os que vão a exame de
Português.)
Para se ter uma perspetiva de uma prova de exame inteira,
resolvi, aproveitando trechos de provas sugeridas aqui e ali, dar-lhes uma
prova seguida, criada assim de bocados diversos. No meu vídeo de há pouco
esqueci-me de lembrar o tempo de uma prova de Português: duas horas + trinta
minutos de tolerância (que devem aproveitar mesmo; peço-lhes que não saiam antes
do tempo — vá lá, façam-me esse favor). De qualquer modo, não lhes peço que
resolvam mesmo este modelo aqui criado. Darei as soluções das
perguntas do grupo I; o grupo II é que procurarão fazer,
lançando as respostas no Classroom (quando a tanto os chamar, durante o fim de semana); o grupo III é o
tal tepecê que só farão os que forem a exame.
A prova que se segue é baseada numas do manual Palavras,
12 (de Maria João Pereira & Fernanda Belo Delindro; Porto, Areal, 2017), a quem peço desculpa deste roubo, com recortes e adaptações. As respostas aos itens do grupo I estão no final da aula; mas não deixes de
pensar como os resolverias (os de exame deviam mesmo munir-se de papel e caneta e fazerem, ainda que não seja para me levarem). O grupo II deves resolvê-lo no Classroom quando fores
a isso chamado, mas vai já anotando agora as respostas que darias. O grupo III
será feito só pelos que vão a exame de Português e me levarão a sua solução
para a aula presencial.
Grupo
I
A
Lê o
poema e consulta as notas.
1. A viagem representada no
poema assume um caráter metafórico. Identifica os diferentes momentos dessa
viagem.
2. Indica quatro
características do sujeito poético.
3. Explicita o efeito de
sentido resultante do discurso parentético na primeira estrofe.
4. Interpreta a importância
dos dois últimos versos na construção do sentido do poema.
B
Lê estas estrofes da
segunda parte de «O Sentimento dum Ocidental», de Cesário Verde.
5. Mostra como a descrição
da cidade contribui para o contraste entre o tempo passado e o presente.
6. Explicita a intenção
crítica do sujeito poético.
C
7. «Elemento de ligação
entre o passado e a certeza adivinhada do futuro, o mar é o símbolo do ser-se
português."
Artur Veríssimo, Dicionário
de Mensagem,
Porto: Areal, 2000, p. 80.
Fazendo apelo à tua
experiência de leitura de Os Lusíadas e Mensagem, escreve uma exposição sobre a relevância do mar
nestas duas obras literárias.
A sua exposição deve incluir:
• uma
introdução ao tema;
• um
desenvolvimento no qual explicite, para cada uma das obras, uma característica
que permita perceber a importância do mar em Os Lusíadas e em Mensagem,
fundamentando as características apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo
de cada uma das obras;
• uma
conclusão adequada ao
desenvolvimento do tema.
Grupo
II
Lê o texto. [Normalmente,
neste grupo haveria só sete itens; ficam dez, no entanto, para que no Classroom
o questionário tenha dez perguntas. Aí adaptarei as últimas perguntas a escolhas múltiplas, mas olhem que nas provas são de escrita mesmo.]
1. Este texto tem como
principal intenção comunicativa
a)
expor informação objetiva sobre a pesca bacalhoeira.
b)
veicular informação de caráter social sobre a atividade da pesca longínqua.
c)
apresentar uma opinião fundamentada sobre a pesca na Terra Nova.
d)
expor uma opinião sobre o trabalho dos pescadores portugueses no Atlântico
Noroeste.
2. Joana Princesa é o nome
a)
do navio que Pepe Brix descreveu durante três meses e meio.
b)
de um dos navios sobreviventes da pesca bacalhoeira.
c)
de um barco de cruzeiro.
d)
do navio que deu notoriedade ao trabalho de Pepe Brix.
3. A pesca na Terra Nova
inicia-se
a)
no ano de 1497.
b)
por razões políticas e económicas.
c)
por causa de um aumento significativo de consumo de peixe na Europa.
d)
por iniciativa de Giovanni Caboto.
4. A expressão «tremendas
odisseias» (l. 13) valoriza
a)
o trabalho dos pescadores na Terra Nova.
b)
a ousadia dos pescadores portugueses na Terra Nova.
c)
os acontecimentos trágicos e variados enfrentados pelos pescadores portugueses.
d)
a coragem do genovês Caboto.
5. A expressão «com o
coração nas mãos» (l. 20) evidencia
a)
a angústia das tripulações portuguesas.
b)
a amizade que unia as tripulações portuguesas.
c)
a insensibilidade dos portugueses.
d)
a devoção das tripulações portuguesas.
6. 0 segmento «A pesca
longínqua entrava agora numa nova fase» (ll. 28-29) estabelece com o momento
presente
a)
uma relação de simultaneidade.
b)
uma relação de posteridade.
c)
uma relação de oposição.
d)
uma relação de anterioridade.
7. No excerto «Hoje, (...)
esses corajosos pescadores (...) continuam a prescindir do conforto das suas
casas.» (ll. 30-32) está presente a modalidade
a)
epistémica com valor de certeza.
b)
apreciativa.
c)
epistêmica com valor de probabilidade.
d)
deôntica com valor de permissão.
8. Identifica a função
sintática da expressão sublinhada em «demanda do peixe» (l. 7).
9. Classifica a oração «que
existia entre os pequenos botes empilhados» (l. 18).
10. Identifica o referente do
pronome presente em «que experimentaram a fragilidade desses botes» (ll.
23-24).
Grupo
III
[Num exame há
apenas um tema. Aqui, deixo duas alternativas, farás a que prefiras. Como
dissera, esta parte é só para os que vão a exame. É o tepecê]
Hipótese
1
O mar é um local de
incertezas, de perigos, de morte; é também fonte de sedução e de prazer.
Redige um texto de opinião
bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 350 palavras,
em que defendas o teu ponto de vista sobre a ideia exposta. Para fundamentares
a tua perspetiva, recorre a dois argumentos, ilustrando cada um deles com um
exemplo significativo.
Hipótese
2
Mudar de cidade é, para
muitas pessoas, uma necessidade, um prazer, um fator imprescindível para o
cumprimento dos seus objetivos pessoais e profissionais.
Redige um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo
de 350 palavras, em que defendas o teu ponto de vista sobre a ideia exposta.
Para fundamentares o teu
ponto de vista, recorre a dois argumentos, ilustrando cada um deles com um
exemplo significativo.
Soluções para Grupo I
1. A viagem pode ser entendida
como uma metáfora da vida humana.
Antes
da viagem, temos preparativos do barco (vv. 1-2) e partida apressada do «cais»
(vv. 12-13), isto é, o «eu» toma a decisão de iniciar a «aventura da vida».
Depois,
há a navegação em pleno mar (vv. 14-18), durante a qual o sujeito corta as «ondas»,
lutando com determinação contra as adversidades da vida, de modo a concretizar
os objetivos do seu percurso pessoal.
2. O sujeito poético é:
sonhador
(vv. 1-3 e 5-11); acredita no «sonho» de uma vida durante a qual procura o «velho
paraíso» perdido, para alcançar a felicidade plena;
insatisfeito
(v. 13); rejeita um modelo de vida em que a paz é «tolhida»;
determinado
(vv. 3 e 15-18); apesar das adversidades, persiste na concretização do seu objetivo;
lúcido
(vv. 16-17); a existência humana é efémera, por isso não há lugar para ilusões;
aventureiro
(vv. 19-20); enfrenta a incerteza e o risco.
3. O discurso parentético
constitui um aparte no relato do percurso da «viagem» e introduz um momento de
reflexão em que o «eu» apresenta os fundamentos da sua atitude, enquanto regra
de vida que pretende generalizada a toda a humanidade. 0 ser humano deve lutar
pela felicidade absoluta, consciente de que a vida que nos é «concedida» é
única e muito curta. Os parênteses destacam a importância desta tese no poema,
aquela que está na base da sua atitude.
4. Os dois últimos versos
congregam as ideias já apresentadas anteriormente. De facto, o «eu» salienta
que em «qualquer aventura» se deve privilegiar a busca e não a chegada, isto é,
vale a pena procurar, mesmo que não se alcance o objetivo. Mesmo consciente de
que a morte é inevitável (vv. 15-17), o sujeito persiste na procura do sonho
como se fosse essa demanda que confere o verdadeiro sentido à existência
humana.
5. O contraste entre os dois
tempos põe em evidência a grandiosidade do passado e a vulgaridade do presente.
De facto, o ambiente citadino que o sujeito descreve enquanto deambula
apresenta-se como um espaço trivial, um «recinto público e vulgar, / Com
bancos de namoro e exíguas pimenteiras», contrastando com a estátua de Camões, «Um
épico de outrora» com «proporções guerreiras», que ascende de forma «monumental».
Percebe-se aqui uma clara alusão aos Descobrimentos, um tempo de grandeza e
riqueza, e ao papel de Camões no engrandecimento dos portugueses, por oposição
ao presente triste e medíocre.
6. O sujeito poético apresenta
uma clara intenção crítica face a alguns setores da sociedade. Efetivamente,
denuncia a desigualdade social em «Inflama-se um palácio em face de um casebre»,
a repressão dos membros do clero através das expressões «a nódoa negra e
fúnebre do clero» e o «inquisidor severo», e a repressão militar em «Partem
patrulhas de cavalaria» e «A pé, outras, (...) derramam-se por toda a capital».
7. Tanto em Os Lusíadas
como em Mensagem, são enaltecidos os feitos dos portugueses que, no
passado, os levaram à construção de um grande império territorial.
Efetivamente,
em Os Lusíadas, a insatisfação humana e a procura do desconhecido, características
evidenciadas pelo povo português, permitiram alcançar os objetivos de Portugal —
a chegada à Índia por mar. O mar espelha, assim, o português desvendador e
dominador de mundos. Do mesmo modo, o mar «sagrado português» surge como
símbolo da ação e de toda a procura em Mensagem. Mas, a partir da
aventura temporal que foram as Descobertas, traça-se um plano para o futuro, o
da aventura espiritual e transcendente. A construção de um novo Império,
espiritual e cultural, permitirá repor os valores patrióticos, tendo os portugueses
uma missão a cumprir.
Concluindo,
o mar faz a ligação passado-futuro, na medida em que o sucesso das Descobertas
se apresenta como um ensinamento para o futuro. Mensagem inspira-se na
aventura temporal para propor uma outra. uma aventura de natureza espiritual
porque falta «cumprir Portugal».
TPC — Para os de exame: leva
para a aula presencial a tua solução para o grupo III. (Entretanto, em breve todos
serão chamados a resolver no Classroom o questionário que constituía o grupo
II.)
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