Friday, August 30, 2019

Aula 29 da Quarentena (= 159)


Aula 159 [29 da Quarentena] (19/jun [9.ª, 5.ª, 4.ª, 3.ª]) Ainda a propósito de estátuas derrubadas e a pensar sobretudo em quem goste de história, aconselho-lhes a primeira parte deste «E o resto é história», talvez os primeiros vinte minutos. Rui Ramos refere aí também as celebrações do terceiro centenário da morte de Camões (que são importantes para o contexto de «O sentimento dum ocidental», de Cesário Verde; mas a estátua de Camões é focada também em Os Maias, de Eça, e em O Ano da Morte de Ricardo Reis, de Saramago):
Queria deixar-lhes um bom exemplo da tarefa 16 da Quarentena, que devolvi recentemente:
A estátua de Fernando Pessoa prevalece no Chiado despovoado. [Frase simples]
Embora a pandemia da Covid-19 tenha forçado o refúgio da população portuguesa, a representação do poeta permanece imperturbável. [Subordinada adverbial concessiva + Subordinante]
Enquanto uma catástrofe devasta o país, Pessoa emerge como um símbolo de perseverança. [Subordinada adverbial temporal + Subordinante]
O poeta apresenta uma pose serena, encara as adversidades com lucidez e inspira confiança na superação desta calamidade. [Coordenada + Coordenada assindética + Coordenada copulativa]
O pânico domina a humanidade, mas a visão pessoana de um quinto império determina que o povo lusitano reconquistará a grandiosidade perdida. [Coordenada + Coordenada adversativa + Subordinada substantiva completiva]
Pessoa exige a elevação da nação portuguesa perante uma ameaça mundial. [Frase simples]
(Pedro, 12.º 4.ª)
Queria ainda deixar-lhe as regras de translineação, mostrando-lhes como se parte uma palavra quando se atinge a linha da margem. Muitos, para evitarem fazer a translineação, deixam imenso espaço vago antes de chegar à margem, trocando logo de linha. Não fica bem. Outros partem mal a palavra. Ora as regras a que se deve sujeitar essa partição são poucas. Ficam aqui inventariadas (fui buscá-las à Gramática Prática de Português (Lisboa, Raiz, 2014):

Continuando a retomar assuntos tratados na última aula presencial, tentarei explicar a seguir a estrutura da prova de Português. O vídeo ainda demora dezassete minutos. Não perca tempo com ele quem não vá a exame de Português. Os que vão a exame vejam-no. Mesmo assim há (i) aspetos que não estão definidos (vamos ainda perceber como vai ser; se souber, dir-lhes entretanto); (ii) aspetos de que não falei e de que podia já ter falado, mas que prefiro deixar para explicações posteriores. (Antecipo já um lapso meu no vídeo: digo a certa altura que os erros com desconto de dois pontos são os de sintaxe e de pontuação, mas queria dizer «os de sintaxe e propriedade lexical»; os erros de ortografia e de pontuação implicam desvalorização de um ponto — e já não é pouco!)
O resto da aula de hoje está sobretudo pensado para os de exame, mas queria que todos o seguissem. (O tepecê é que é já só para os que vão a exame de Português.)
Para se ter uma perspetiva de uma prova de exame inteira, resolvi, aproveitando trechos de provas sugeridas aqui e ali, dar-lhes uma prova seguida, criada assim de bocados diversos. No meu vídeo de há pouco esqueci-me de lembrar o tempo de uma prova de Português: duas horas + trinta minutos de tolerância (que devem aproveitar mesmo; peço-lhes que não saiam antes do tempo — vá lá, façam-me esse favor). De qualquer modo, não lhes peço que resolvam mesmo este modelo aqui criado. Darei as soluções das perguntas do grupo I; o grupo II é que procurarão fazer, lançando as respostas no Classroom (quando a tanto os chamar, durante o fim de semana); o grupo III é o tal tepecê que só farão os que forem a exame.
A prova que se segue é baseada numas do manual Palavras, 12 (de Maria João Pereira & Fernanda Belo Delindro; Porto, Areal, 2017), a quem peço desculpa deste roubo, com recortes e adaptações. As respostas aos itens do grupo I estão no final da aula; mas não deixes de pensar como os resolverias (os de exame deviam mesmo munir-se de papel e caneta e fazerem, ainda que não seja para me levarem). O grupo II deves resolvê-lo no Classroom quando fores a isso chamado, mas vai já anotando agora as respostas que darias. O grupo III será feito só pelos que vão a exame de Português e me levarão a sua solução para a aula presencial.
Grupo I
A
Lê o poema e consulta as notas.

1. A viagem representada no poema assume um caráter metafórico. Identifica os diferentes momentos dessa viagem.
2. Indica quatro características do sujeito poético.
3. Explicita o efeito de sentido resultante do discurso parentético na primeira estrofe.
4. Interpreta a importância dos dois últimos versos na construção do sentido do poema.
B
Lê estas estrofes da segunda parte de «O Sentimento dum Ocidental», de Cesário Verde.

5. Mostra como a descrição da cidade contribui para o contraste entre o tempo passado e o presente.
6. Explicita a intenção crítica do sujeito poético.
C
7. «Elemento de ligação entre o passado e a certeza adivinhada do futuro, o mar é o símbolo do ser-se português."
Artur Veríssimo, Dicionário de Mensagem, Porto: Areal, 2000, p. 80.
Fazendo apelo à tua experiência de leitura de Os Lusíadas e Mensagem, escreve uma exposição sobre a relevância do mar nestas duas obras literárias.
A sua exposição deve incluir:
uma introdução ao tema;
um desenvolvimento no qual explicite, para cada uma das obras, uma característica que permita perceber a importância do mar em Os Lusíadas e em Mensagem, fundamentando as características apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo de cada uma das obras;
uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
Grupo II
Lê o texto. [Normalmente, neste grupo haveria só sete itens; ficam dez, no entanto, para que no Classroom o questionário tenha dez perguntas. Aí adaptarei as últimas perguntas a escolhas múltiplas, mas olhem que nas provas são de escrita mesmo.]

1. Este texto tem como principal intenção comunicativa
a) expor informação objetiva sobre a pesca bacalhoeira.
b) veicular informação de caráter social sobre a atividade da pesca longínqua.
c) apresentar uma opinião fundamentada sobre a pesca na Terra Nova.
d) expor uma opinião sobre o trabalho dos pescadores portugueses no Atlântico Noroeste.
2. Joana Princesa é o nome
a) do navio que Pepe Brix descreveu durante três meses e meio.
b) de um dos navios sobreviventes da pesca bacalhoeira.
c) de um barco de cruzeiro.
d) do navio que deu notoriedade ao trabalho de Pepe Brix.
3. A pesca na Terra Nova inicia-se
a) no ano de 1497.
b) por razões políticas e económicas.
c) por causa de um aumento significativo de consumo de peixe na Europa.
d) por iniciativa de Giovanni Caboto.
4. A expressão «tremendas odisseias» (l. 13) valoriza
a) o trabalho dos pescadores na Terra Nova.
b) a ousadia dos pescadores portugueses na Terra Nova.
c) os acontecimentos trágicos e variados enfrentados pelos pescadores portugueses.
d) a coragem do genovês Caboto.
5. A expressão «com o coração nas mãos» (l. 20) evidencia
a) a angústia das tripulações portuguesas.
b) a amizade que unia as tripulações portuguesas.
c) a insensibilidade dos portugueses.
d) a devoção das tripulações portuguesas.
6. 0 segmento «A pesca longínqua entrava agora numa nova fase» (ll. 28-29) estabelece com o momento presente
a) uma relação de simultaneidade.
b) uma relação de posteridade.
c) uma relação de oposição.
d) uma relação de anterioridade.
7. No excerto «Hoje, (...) esses corajosos pescadores (...) continuam a prescindir do conforto das suas casas.» (ll. 30-32) está presente a modalidade
a) epistémica com valor de certeza.
b) apreciativa.
c) epistêmica com valor de probabilidade.
d) deôntica com valor de permissão.
8. Identifica a função sintática da expressão sublinhada em «demanda do peixe» (l. 7).
9. Classifica a oração «que existia entre os pequenos botes empilhados» (l. 18).
10. Identifica o referente do pronome presente em «que experimentaram a fragilidade desses botes» (ll. 23-24).
Grupo III
[Num exame há apenas um tema. Aqui, deixo duas alternativas, farás a que prefiras. Como dissera, esta parte é só para os que vão a exame. É o tepecê]
Hipótese 1
O mar é um local de incertezas, de perigos, de morte; é também fonte de sedução e de prazer.
Redige um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 350 palavras, em que defendas o teu ponto de vista sobre a ideia exposta. Para fundamentares a tua perspetiva, recorre a dois argumentos, ilustrando cada um deles com um exemplo significativo.
Hipótese 2
Mudar de cidade é, para muitas pessoas, uma necessidade, um prazer, um fator imprescindível para o cumprimento dos seus objetivos pessoais e profissionais.
Redige um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 350 palavras, em que defendas o teu ponto de vista sobre a ideia exposta.
Para fundamentares o teu ponto de vista, recorre a dois argumentos, ilustrando cada um deles com um exemplo significativo.
Soluções para Grupo I
1. A viagem pode ser entendida como uma metá­fora da vida humana.
Antes da viagem, temos preparativos do barco (vv. 1-2) e partida apressada do «cais» (vv. 12-13), isto é, o «eu» toma a decisão de iniciar a «aventura da vida».
Depois, há a navegação em pleno mar (vv. 14-18), durante a qual o sujeito corta as «ondas», lutando com determinação contra as adversidades da vida, de modo a concretizar os objetivos do seu percurso pessoal.
2. O sujeito poético é:
sonhador (vv. 1-3 e 5-11); acredita no «sonho» de uma vida durante a qual procura o «velho paraíso» perdido, para alcançar a felicidade plena;
insatisfeito (v. 13); rejeita um modelo de vida em que a paz é «tolhida»;
determinado (vv. 3 e 15-18); apesar das adversidades, persiste na concretização do seu objetivo;
lúcido (vv. 16-17); a existência humana é efémera, por isso não há lugar para ilusões;
aventureiro (vv. 19-20); enfrenta a incerteza e o risco.
3. O discurso parentético constitui um aparte no relato do percurso da «viagem» e introduz um momento de reflexão em que o «eu» apresenta os fundamentos da sua atitude, enquanto regra de vida que pretende generalizada a toda a humanidade. 0 ser humano deve lutar pela felicidade absoluta, consciente de que a vida que nos é «concedida» é única e muito curta. Os parênteses destacam a importância desta tese no poema, aquela que está na base da sua atitude.
4. Os dois últimos versos congregam as ideias já apresentadas anteriormente. De facto, o «eu» salienta que em «qualquer aventura» se deve privilegiar a busca e não a chegada, isto é, vale a pena procurar, mesmo que não se alcance o ob­jetivo. Mesmo consciente de que a morte é inevitável (vv. 15-17), o sujeito persiste na procura do sonho como se fosse essa demanda que con­fere o verdadeiro sentido à existência humana.
5. O contraste entre os dois tempos põe em evidência a grandiosidade do passado e a vulgaridade do presente. De facto, o ambiente citadino que o sujeito descreve enquanto deambula apresenta-se como um espaço trivial, um «recin­to público e vulgar, / Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras», contrastando com a estátua de Camões, «Um épico de outrora» com «proporções guerreiras», que ascende de forma «monumental». Percebe-se aqui uma clara alusão aos Descobrimentos, um tempo de grandeza e riqueza, e ao papel de Camões no engrandecimento dos portugueses, por oposição ao presente triste e medíocre.
6. O sujeito poético apresenta uma clara intenção crítica face a alguns setores da sociedade. Efetivamente, denuncia a desigualdade social em «Inflama-se um palácio em face de um casebre», a repressão dos mem­bros do clero através das expressões «a nódoa negra e fúnebre do clero» e o «inquisidor severo», e a repressão militar em «Partem patrulhas de cavalaria» e «A pé, outras, (...) derramam-se por toda a capital».
7. Tanto em Os Lusíadas como em Mensagem, são enaltecidos os feitos dos portugueses que, no passado, os levaram à construção de um grande império territorial.
Efetivamente, em Os Lusíadas, a insatisfação humana e a procura do desconhecido, características evidenciadas pelo povo português, permitiram alcançar os objetivos de Portugal — a chegada à Índia por mar. O mar espelha, assim, o português desvendador e dominador de mundos. Do mesmo modo, o mar «sagrado português» sur­ge como símbolo da ação e de toda a procura em Mensagem. Mas, a partir da aventura temporal que foram as Descobertas, traça-se um plano para o futuro, o da aventura espiritual e transcendente. A construção de um novo Império, espiritual e cultural, permitirá repor os valores patrióticos, tendo os portugueses uma missão a cumprir.
Concluindo, o mar faz a ligação passado-futuro, na medida em que o sucesso das Descobertas se apresenta como um ensinamento para o futu­ro. Mensagem inspira-se na aventura temporal para propor uma outra. uma aventura de natureza espiritual porque falta «cumprir Portugal».

TPC — Para os de exame: leva para a aula presencial a tua solução para o grupo III. (Entretanto, em breve todos serão chamados a resolver no Classroom o questionário que constituía o grupo II.)


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