Aula 27 da Quarentena (= 156)
Aula 156 [= 27 da Quarentena] (10/jun [3.ª, 4.ª, 5.ª, 9.ª])
Aproveito para dar aqui informação que nos chegou agora sobre as provas de exame. Já teriam ouvido
dizer que haveria este ano um sistema segundo o qual se descartariam algumas
das piores respostas. Pois bem, veio agora a informação concreta sobre esse bodo
(não, como o de O Século, aos pobres; mas, na verdade, aos que não
estudaram toda a matéria). Como os exames são prova de seleção, cujo intuito seria
comparar para efeitos de acesso à faculdade, ficam prejudicados os que se
esforçaram por estudar tudo (porque, de repente, veem diluídas as vantagens de
se conhecer todos os conteúdos).
É tão
portuguesinho tudo isto, o fazer parecer que se beneficia alguém quando se está
é a criar injustiças. E toda a gente caladinha, porque ficaria mal reivindicar
que se premiasse o esforço e se zelasse por que as condições tratadas inicialmente
se cumprissem até ao fim. Enfim, também todos acharam normal que se pudesse
prescindir de alguns das provas de exame, quando durante três anos se contou ir
a exame num dado número de disciplinas.
Bem, aqui
ficam os documentos em causa. O primeiro é genérico; o segundo trata já da prova
de Português especificamente. Destaquei o quadro com as novas cotações. Em baixo resumirei o segundo PDF, que precisa de
ser explicado (essa explicação só é útil a quem vá a exame de Português).
Aumenta-se
o valor do grupo III. Valia 40, passa a valer 44 pontos. Aumenta-se também (de 8 para
13!) o valor das perguntas do grupo II, mas tornando obrigatórias apenas as quatro
primeiras (ou seja, as que dependem sobretudo da interpretação do
texto, não implicam muito a gramática).
As
perguntas do grupo I, que costumavam valer 16, passaram todas a valer 13 (vale agora tanto uma pergunta de resposta em dez linhas ou mais, que
implica uns quinze, vinte minutos, de redação, como uma escolha múltipla sobre
um texto, assente apenas na capacidade de interpretação — contingente, aliás). Todas
estas sete perguntas pertencem ao grupo das que não são obrigatórias para
efeitos de seleção das melhores.
É
importante perceber que não são vocês que retiram as duas piores respostas.
Esse processo é automático, feito informaticamente na altura das
classificações.
Não
significa, portanto, que os alunos devam estar a selecionar as duas perguntas a
que não vão responder (no caso das perguntas fechadas seria aliás imbecil
fazê-lo, porque não é relevante o tempo que estas façam perder). O aluno pode (e deve,
talvez) resolver o teste todo, deixando para a informática o processo de descartar
as duas piores respostas.
No
entanto, perante, por exemplo, alguma pergunta do grupo I com que o aluno não
estivesse a atinar — e, sobretudo, tratando-se de aluno lento na escrita, com receio
de não resolver toda a prova durante o tempo dado —, é provável que fosse boa
solução investir pouco nesse item, descartando-o, em última análise, se se
percebesse ser preferível aproveitar o tempo em outros. Note-se, no entanto,
que bastaria haver duas perguntas de gramática — da 5, 6 ou 7 (as de gramática mais «dura») — em que o aluno não acertasse (e, nestas, cada um terá
consciência de estar, ou não, a conseguir responder), para aquele luxo de
descartar uma ou duas perguntas da parte I ser já completamente desaconselhado.
É
importante perceber que há perguntas que não entram nas duas descartáveis pelo
computador (o grupo III, as quatro de escolha múltipla do grupo II). Será útil
o aluno aferir primeiro se consegue resolver as três do grupo II de gramática dura (se
tivesse certezas de estarem todas bem respondidas, haveria crédito para investir menos em um ou dois dos itens do grupo I, aprimorando os restantes cinco ou seis).
Grupo
III ganha importância. (Vou levar-lhes corrigido aquele a que responderam há
pouco; vou ver se os que vão a exame ainda treinam mais exemplos de grupo III.)
Gramática
dura, indiretamente, pode também ganhar importância, já que poderá ser um «valor
seguro»: as três perguntas (5, 6, 7) que antes valiam 8+8+8 [24], passaram a valer 13+13+13 [39], embora incluídas na parte que pode ser descartada em termos de pontuação — enfim,
só dois itens, e fazendo que não haja essa prerrogativa para nenhum item do
grupo I.
Itens
do grupo I perdem importância. Se alguém tivesse a certeza de estar a acertar os
itens de gramática 5, 6, 7 (grupo II), poderia investir um pouco menos num ou
em dois dos itens do grupo I (o que é arriscado, mesmo assim, já que não
sabemos se não nos espalhamos naqueles que achamos saber melhor).
Na
prática, desvalorizando o conhecimento das matérias mais informativas (os itens
sobre que incide a prerrogativa de descartar os dois piores são os que dependem
mais de informação prévia, de estudo — e, ao contrário, os itens «obrigatórios»
são os que assentam na capacidade de escrita ou compreensão), este tipo de
classificação de provas em Português é mais simpático para os alunos que tenham
jeito mesmo sem se terem aplicado grandemente do que para os que trabalharam
mas ainda não têm escrita segura ou costumam atrapalhar-se nas escolhas múltiplas
de compreensão de texto.
(É
claro que há alunos que escrevem bem e trabalharam bem também. Mas, em geral,
este modelo de correção protege quem se aplicou um pouco menos e pode injustiçar quem seguiu os programas efetivamente.)
Na
aula presencial da turma 9.ª (dia 9) distribuí uma folha que prefiro pôr aqui
para todas as outras turmas, porque se trata de assunto mais dedicado a quem vá
a exame. É sobre os itens 7 de exames (a parte C do grupo I).
Juntei aqui as quatro perguntas 7
(Grupo I, parte C) dos exames dos dois últimos anos (os que interessam
para aferir o modelo de prova). Já fizemos em aula duas delas (a sobre Maria,
de Frei Luís de Sousa, e a acerca da cidade em Cesário Verde).
Acrescentei uma quinta, sobre poetas contemporâneos, que desafio os que vão a exame
a resolverem mentalmente, relanceando os esquemas que ficam mais à frente,
relendo alguns poemas. No caso da de Lusíadas/Mensagem, deixo parte
dos critérios de correção do IAVE.
2019, 1.ª fase
7.
Do diálogo de José Saramago com o
«passado» emerge, em romances como Memorial do Convento e O Ano da
Morte de Ricardo Reis, uma visão crítica sobre o tempo histórico
representado e sobre a sociedade desse tempo.
Escreva uma breve exposição na qual comprove a
afirmação anterior, baseando-se na sua experiência de leitura de um dos
romances mencionados.
A sua exposição deve incluir:
• uma
introdução ao tema;
• um
desenvolvimento no qual explicite dois aspetos que são
objeto de crítica pelo narrador,
fundamentando cada um desses aspetos em, pelo menos, um exemplo pertinente;
• uma
conclusão adequada ao
desenvolvimento do tema.
Comece por indicar, na folha de respostas, o
título da obra por si selecionada.
2019, 2.ª fase
7.
Leia o excerto seguinte, retirado
de uma fala de Maria em Frei Luís de Sousa (Ato I, Cena IV).
«O que eu sou... só eu o sei, minha mãe... E não sei, não: não sei
nada, senão que o que devia ser não sou…»
Almeida
Garrett, Frei Luís de Sousa, edição de Maria João Brilhante, Lisboa,
Comunicação, 1982, p. 110.
Escreva uma breve exposição na qual comprove que
Maria se afasta daquilo que a família espera dela.
A sua exposição deve incluir:
• uma
introdução ao tema;
• um
desenvolvimento no qual explicite dois aspetos que comprovem que Maria se
afasta daquilo que a família espera dela, fundamentando
cada um deles com uma referência pertinente à obra;
• uma
conclusão adequada ao
desenvolvimento do tema.
2018,
1.ª fase
7. A figura do herói está presente em muitas
obras estudadas ao longo do ensino secundário, embora a sua construção possa
depender de diversos fatores. Escreva uma breve exposição na qual distinga o
herói em Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, do herói em Mensagem,
de Fernando Pessoa.
A sua exposição deve incluir:
• uma
introdução ao tema;
• um
desenvolvimento no qual explicite, para cada uma das obras, uma característica
que permita distinguir o herói em Os Lusíadas do herói em Mensagem,
fundamentando as características apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo
de cada uma das obras;
• uma
conclusão adequada ao
desenvolvimento do tema.
[Tópicos sugeridos
pelo IAVE nos Critérios de correção (entre outros possíveis) para este item:
Em Os Lusíadas:
‒ os heróis são
apresentados na sua dimensão humana e histórica, o que é patente, por exemplo,
nos protagonistas da viagem marítima até à Índia, nomeadamente Vasco da Gama e
os marinheiros, cujos feitos permitiram o desvendamento dos mares desconhecidos;
‒ os heróis
são os portugueses que, vencendo os seus medos e
todos os perigos, foram capazes de superar a própria
condição humana e de
ascender ao plano dos deuses, como se comprova, por exemplo, quando são
recompensados na Ilha dos Amores.
Em Mensagem:
‒ os heróis
não se inscrevem num tempo nem num espaço
determinados, assumindo uma dimensão mítica/simbólica. É o caso de D.
Sebastião, enquanto símbolo da ambição que poderá fazer renascer a glória da
pátria;
‒ os heróis
situam-se na esfera da espiritualidade, como é o caso de D. Fernando, que age
como instrumento da vontade divina/de uma vontade superior.]
2018, 2.ª fase
7.
Cesário Verde adota um olhar
subjetivo e crítico sobre a cidade. Escreva uma breve exposição sobre a
representação da cidade na poesia de Cesário Verde.
A sua exposição deve incluir:
• uma
introdução ao tema;
• um
desenvolvimento no qual refira uma característica
da cidade enquanto espaço físico
e uma característica da cidade
enquanto espaço humano,
fundamentando as ideias apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo
de cada uma das características;
• uma
conclusão adequada ao desenvolvimento
do tema.
[2320, 5.ª fase]
7. Os poetas contemporâneos que estudou no
12.º ano interessar-se-iam por temas diversos, sendo ainda decerto possível
encontrar nos textos de cada um linhas próprias relativamente constantes,
quanto ao espaço e ao tempo (à natureza e à sociedade) ou à relação com os
outros e com o quotidiano.
Escreva uma breve exposição na qual refira dois
poetas estudados, distinguindo a sua atitude quanto a algumas das linhas
temáticas citadas.
A sua exposição deve incluir:
• uma
introdução ao tema;
• um
desenvolvimento no qual refira, para cada um dos poetas escolhidos, um tipo de
abordagem temática que os permita distinguir, fundamentando essas
características próprias apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo;
• uma
conclusão adequada ao
desenvolvimento do tema.
Aconselho
os que vão a exame de Português a pensarem como enfrentariam uma pergunta
destas (que implicaria recordar pelo menos dois destes poetas: Miguel Torga, Eugénio
de Andrade, Ana Luísa Amaral). Deixo uns esquemas, próximos dos que também
estarão no manual, que poderiam fornecer os tópicos pedidos a certa altura:
A
propósito do contraste Mensagem / Lusíadas, leia-se este
texto de Fernando Pinto do Amaral, numa introdução a uma edição de Mensagem
(Mensagem e outros poemas, INCM / Aletheia / Expresso, 2015), em
que se apanham muito bem as especiais características do livro de Pessoa:
«Organizada em torno de algumas figuras centrais da História
de Portugal, Mensagem tem sido
comparada com Os Lusíadas, já que
ambas as obras se baseiam nessa mesma História. No entanto, aquilo que em
Camões é a narrativa empolgante de um passado glorioso e indissoluvelmente
vinculado à nossa identidade coletiva transforma-se em Pessoa numa série de
retratos ou de quadros por onde desfilam reis, heróis, navegadores ou profetas,
numa sequência que, de um modo críptico, nos fala mais do futuro que do passado.
Por isso Os Lusíadas são uma
epopeia e nos custa aplicar com a mesma desenvoltura à Mensagem essa palavra tão
carregada de sentido desde a Antiguidade. Enquanto Camões nos conta a nossa
História, a atitude de Pessoa é a de subentender nos leitores o conhecimento
dessa História, poupando-se ao esforço aliás inglório de no-la recontar três
séculos e meio depois. Assim, mais do que a uma «epopeia» no sentido clássico
do termo, Mensagem
corresponde talvez a uma profecia — uma profecia obscura e luminosa como são
todas as profecias dignas desse nome — que interroga o «futuro do passado» a
partir da singularidade do destino português e da posição geográfica de
Portugal, como rosto da Europa aberto ao Atlântico.
[...] É dessa atitude esotérica que teremos de partir para nos
aproximarmos da Mensagem, cujo
percurso pode condensar-se numa dúzia de protagonistas históricos bem
conhecidos, mas cujo golpe de génio reside em fazer deles os intérpretes de uma
via mística ou iniciática em que Pessoa terá vislumbrado um desígnio português
capaz de iluminar e transcender decisivamente as circunstâncias históricas ou
geográficas do rectângulo, como se Portugal fosse o protagonista de um sonho
culminado em D. Sebastião, ao mesmo tempo que ele, Fernando Pessoa, aí investia
também todos os sonhos do seu mundo sem fim.»
Como
hoje é dia de Portugal, dia de Camões — que, como se lembra em O Ano da
Morte de Ricardo Reis, nem aparece entre as figuras que Fernando Pessoa
elege para cabeça de tantos poemas em Mensagem —, vejamos o mais célebre
poema de Mensagem, «Mar Português», a ser lido por estrangeiros num clip
feito precisamente a propósito do 10 de junho (aqui para nós, quem fez o clip não
se apercebeu de que escolher a obra que é quase o reverso dos Lusíadas
para assinalar o Dia de Camões não era sensato):
Relativamente
a Os Lusíadas, aconselho os que vão a exame a uma revisão, se calhar, sobretudo «sebenteira». Estes tabelas serão porventura úteis:
E, para
confronto com Mensagem, este Quadro comparativo.
Outro assunto que gostava de ir revendo é a ortografia. A ideia é mesmo
chegar a uma lista de palavras que convém ir advertindo. Hoje trataria só de
um problema recorrente, que adveio também do Acordo Ortográfico (e sim,
qualquer erro, mesmo por culpa do AO, em exame tem pontuação descontada). É o
problema dos hífenes. A regra não é fácil. Aqui fica ela:
Entretanto,
não lhes peço propriamente que resolvam a tarefa que se segue, mas antes que vejam que não seria fácil e passem logo para as soluções, um
quadro que acaba por ser o mais útil disto tudo:
Palavras
que talvez sejam mais úteis:
hei de
hás de
hão de
há de
fim de semana
dia a dia
mulher a dias
pôr do sol
autorretrato
autobiografia
coautor
hipermercado
segunda-feira
sexta-feira
beira-mar
além-mar
é-nos
é-lhes
e, ainda, as de que me for lembrando entretanto: #,
#, #.
Começa
por ouvir «Fevereiro», da banda brasileira Acidália:
Transcrevo
as três quadras que constituem a letra, assinalando já três dísticos que
gostaria que comentasses do ponto de vista da expressividade. É um item típico em
exame, comentar o valor estilístico de uma dada frase.
Já
passou o carnaval
Já pode se fantasiar de alguém que não se é
Que não quer saber
E parece ser um
ser tão igual a outro qualquer
Acabou a última atração
E se perdeu na solidão da multidão
Nesse vai e vem
A contramão é
sempre sem direção do vento, meu bem
Folhas em branco
Caem no meu jardim
Dia após dia
Morrem dentro de
mim
Darei
as minhas soluções em próxima aula, mas tenta tu também uma explicação de duas
delas (fica com a tentativa manuscrita
contigo; depois direi se é preciso enviar-ma; quanto aos saudosos confinados — D., G., I., S. —,
enviem-mas por mail). Imagina-te a responder a um daqueles itens de
exame, do Grupo I, em que se pede a explicação do valor expressivo de uma passagem.
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Como
estamos em feriados, não os maçarei muito mais. Lembro só os nossos encargos
próximos: rever gramática toda, ter lido O Ano da Morte de Ricardo Reis
(não é preciso reler, se já leram mesmo a obra), lançar no Classroom a leitura
em voz alta pedida (tarefa da aula 25).
Na
sexta-feira afixarei a aula que foi presencial para as turmas azaradas que não
tiveram feriado e que as 4.ª e 5.ª turmas farão o favor de relancear (haverá uma
tarefa pedida aí, a levar para a nossa penúltima aula).
Volto
a sugerir que leiam os contos (dos três que estão no livro) que lhes tenham
escapado na altura: «Sempre é uma companhia», p. 136; «George», p. 150; «Famílias
desavindas», p. 163. Façam-no, porém, apenas se não trataram disso há tempos:
não repitam leituras.
Finalmente,
pedia-lhes que vissem se têm livros meus de que já não precisem e, se for assim,
mos levassem numa das próximas aulas presenciais. (Lembrei-me agora: como farei
com os Prémios Tia Albertina, que tenho cheios do vírus chinês, porque
conviveram com pangolins nas feiras no oriente onde os fui adquirir na
companhia de Pessanha e Campos jovem — estes andavam mais à caça de ópio —?)
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