Friday, August 30, 2019

Aula 27 da Quarentena (= 156)


Aula 156 [= 27 da Quarentena] (10/jun [3.ª, 4.ª, 5.ª, 9.ª]) Aproveito para dar aqui informação que nos chegou agora sobre as provas de exame. Já teriam ouvido dizer que haveria este ano um sistema segundo o qual se descartariam algumas das piores respostas. Pois bem, veio agora a informação concreta sobre esse bodo (não, como o de O Século, aos pobres; mas, na verdade, aos que não estudaram toda a matéria). Como os exames são prova de seleção, cujo intuito seria comparar para efeitos de acesso à faculdade, ficam prejudicados os que se esforçaram por estudar tudo (porque, de repente, veem diluídas as vantagens de se conhecer todos os conteúdos).

É tão portuguesinho tudo isto, o fazer parecer que se beneficia alguém quando se está é a criar injustiças. E toda a gente caladinha, porque ficaria mal reivindicar que se premiasse o esforço e se zelasse por que as condições tratadas inicialmente se cumprissem até ao fim. Enfim, também todos acharam normal que se pudesse prescindir de alguns das provas de exame, quando durante três anos se contou ir a exame num dado número de disciplinas.

Bem, aqui ficam os documentos em causa. O primeiro é genérico; o segundo trata já da prova de Português especificamente. Destaquei o quadro com as novas cotações. Em baixo resumirei o segundo PDF, que precisa de ser explicado (essa explicação só é útil a quem vá a exame de Português).



Aumenta-se o valor do grupo III. Valia 40, passa a valer 44 pontos. Aumenta-se também (de 8 para 13!) o valor das perguntas do grupo II, mas tornando obrigatórias apenas as quatro primeiras (ou seja, as que dependem sobretudo da interpretação do texto, não implicam muito a gramática).

As perguntas do grupo I, que costumavam valer 16, passaram todas a valer 13 (vale agora tanto uma pergunta de resposta em dez linhas ou mais, que implica uns quinze, vinte minutos, de redação, como uma escolha múltipla sobre um texto, assente apenas na capacidade de interpretação — contingente, aliás). Todas estas sete perguntas pertencem ao grupo das que não são obrigatórias para efeitos de seleção das melhores.

É importante perceber que não são vocês que retiram as duas piores respostas. Esse processo é automático, feito informaticamente na altura das classificações.

Não significa, portanto, que os alunos devam estar a selecionar as duas perguntas a que não vão responder (no caso das perguntas fechadas seria aliás imbecil fazê-lo, porque não é relevante o tempo que estas façam perder). O aluno pode (e deve, talvez) resolver o teste todo, deixando para a informática o processo de descartar as duas piores respostas.

No entanto, perante, por exemplo, alguma pergunta do grupo I com que o aluno não estivesse a atinar — e, sobretudo, tratando-se de aluno lento na escrita, com receio de não resolver toda a prova durante o tempo dado —, é provável que fosse boa solução investir pouco nesse item, descartando-o, em última análise, se se percebesse ser preferível aproveitar o tempo em outros. Note-se, no entanto, que bastaria haver duas perguntas de gramática — da 5, 6 ou 7 (as de gramática mais «dura») — em que o aluno não acertasse (e, nestas, cada um terá consciência de estar, ou não, a conseguir responder), para aquele luxo de descartar uma ou duas perguntas da parte I ser já completamente desaconselhado.

É importante perceber que há perguntas que não entram nas duas descartáveis pelo computador (o grupo III, as quatro de escolha múltipla do grupo II). Será útil o aluno aferir primeiro se consegue resolver as três do grupo II de gramática dura (se tivesse certezas de estarem todas bem respondidas, haveria crédito para investir menos em um ou dois dos itens do grupo I, aprimorando os restantes cinco ou seis).

Grupo III ganha importância. (Vou levar-lhes corrigido aquele a que responderam há pouco; vou ver se os que vão a exame ainda treinam mais exemplos de grupo III.)

Gramática dura, indiretamente, pode também ganhar importância, já que poderá ser um «valor seguro»: as três perguntas (5, 6, 7) que antes valiam 8+8+8 [24], passaram a valer 13+13+13 [39], embora incluídas na parte que pode ser descartada em termos de pontuação — enfim, só dois itens, e fazendo que não haja essa prerrogativa para nenhum item do grupo I.

Itens do grupo I perdem importância. Se alguém tivesse a certeza de estar a acertar os itens de gramática 5, 6, 7 (grupo II), poderia investir um pouco menos num ou em dois dos itens do grupo I (o que é arriscado, mesmo assim, já que não sabemos se não nos espalhamos naqueles que achamos saber melhor).

Na prática, desvalorizando o conhecimento das matérias mais informativas (os itens sobre que incide a prerrogativa de descartar os dois piores são os que dependem mais de informação prévia, de estudo — e, ao contrário, os itens «obrigatórios» são os que assentam na capacidade de escrita ou compreensão), este tipo de classificação de provas em Português é mais simpático para os alunos que tenham jeito mesmo sem se terem aplicado grandemente do que para os que trabalharam mas ainda não têm escrita segura ou costumam atrapalhar-se nas escolhas múltiplas de compreensão de texto.

(É claro que há alunos que escrevem bem e trabalharam bem também. Mas, em geral, este modelo de correção protege quem se aplicou um pouco menos e pode injustiçar quem seguiu os programas efetivamente.)



Na aula presencial da turma 9.ª (dia 9) distribuí uma folha que prefiro pôr aqui para todas as outras turmas, porque se trata de assunto mais dedicado a quem vá a exame. É sobre os itens 7 de exames (a parte C do grupo I).

Juntei aqui as quatro perguntas 7 (Grupo I, parte C) dos exames dos dois últimos anos (os que interessam para aferir o modelo de prova). Já fizemos em aula duas delas (a sobre Maria, de Frei Luís de Sousa, e a acerca da cidade em Cesário Verde). Acrescentei uma quinta, sobre poetas contemporâneos, que desafio os que vão a exame a resolverem mentalmente, relanceando os esquemas que ficam mais à frente, relendo alguns poemas. No caso da de Lusíadas/Mensagem, deixo parte dos critérios de correção do IAVE.

2019, 1.ª fase

7.        Do diálogo de José Saramago com o «passado» emerge, em romances como Memorial do Convento e O Ano da Morte de Ricardo Reis, uma visão crítica sobre o tempo histórico representado e sobre a sociedade desse tempo.

Escreva uma breve exposição na qual comprove a afirmação anterior, baseando-se na sua experiência de leitura de um dos romances mencionados.

A sua exposição deve incluir:

uma introdução ao tema;

um desenvolvimento no qual explicite dois aspetos que são objeto de crítica pelo narrador, fundamentando cada um desses aspetos em, pelo menos, um exemplo pertinente;

uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

Comece por indicar, na folha de respostas, o título da obra por si selecionada.

2019, 2.ª fase

7.        Leia o excerto seguinte, retirado de uma fala de Maria em Frei Luís de Sousa (Ato I, Cena IV).

«O que eu sou... só eu o sei, minha mãe... E não sei, não: não sei nada, senão que o que devia ser não sou…»

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, edição de Maria João Brilhante, Lisboa, Comunicação, 1982, p. 110.

Escreva uma breve exposição na qual comprove que Maria se afasta daquilo que a família espera dela.

A sua exposição deve incluir:

uma introdução ao tema;

um desenvolvimento no qual explicite dois aspetos que comprovem que Maria se afasta daquilo que a família espera dela, fundamentando cada um deles com uma referência pertinente à obra;

uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

2018, 1.ª fase

7.        A figura do herói está presente em muitas obras estudadas ao longo do ensino secundário, embora a sua construção possa depender de diversos fatores. Escreva uma breve exposição na qual distinga o herói em Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, do herói em Mensagem, de Fernando Pessoa.

A sua exposição deve incluir:

uma introdução ao tema;

um desenvolvimento no qual explicite, para cada uma das obras, uma característica que permita distinguir o herói em Os Lusíadas do herói em Mensagem, fundamentando as características apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo de cada uma das obras;

uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.



[Tópicos sugeridos pelo IAVE nos Critérios de correção (entre outros possíveis) para este item:

Em Os Lusíadas:

os heróis são apresentados na sua dimensão humana e histórica, o que é patente, por exemplo, nos protagonistas da viagem marítima até à Índia, nomeadamente Vasco da Gama e os marinheiros, cujos feitos permitiram o desvendamento dos mares desconhecidos;

os heróis são os portugueses que, vencendo os seus medos e todos os perigos, foram capazes de superar a própria condição humana e de ascender ao plano dos deuses, como se comprova, por exemplo, quando são recompensados na Ilha dos Amores.

Em Mensagem:

os heróis não se inscrevem num tempo nem num espaço determinados, assumindo uma dimensão mítica/simbólica. É o caso de D. Sebastião, enquanto símbolo da ambição que poderá fazer renascer a glória da pátria;

os heróis situam-se na esfera da espiritualidade, como é o caso de D. Fernando, que age como instrumento da vontade divina/de uma vontade superior.]

2018, 2.ª fase

7.        Cesário Verde adota um olhar subjetivo e crítico sobre a cidade. Escreva uma breve exposição sobre a representação da cidade na poesia de Cesário Verde.

A sua exposição deve incluir:

uma introdução ao tema;

um desenvolvimento no qual refira uma característica da cidade enquanto espaço físico e uma característica da cidade enquanto espaço humano, fundamentando as ideias apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo de cada uma das características;

uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

[2320, 5.ª fase]

7.        Os poetas contemporâneos que estudou no 12.º ano interessar-se-iam por temas diversos, sendo ainda decerto possível encontrar nos textos de cada um linhas próprias relativamente constantes, quanto ao espaço e ao tempo (à natureza e à sociedade) ou à relação com os outros e com o quotidiano.

Escreva uma breve exposição na qual refira dois poetas estudados, distinguindo a sua atitude quanto a algumas das linhas temáticas citadas.

A sua exposição deve incluir:

uma introdução ao tema;

um desenvolvimento no qual refira, para cada um dos poetas escolhidos, um tipo de abordagem temática que os permita distinguir, fundamentando essas características próprias apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo;

uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

Aconselho os que vão a exame de Português a pensarem como enfrentariam uma pergunta destas (que implicaria recordar pelo menos dois destes poetas: Miguel Torga, Eugénio de Andrade, Ana Luísa Amaral). Deixo uns esquemas, próximos dos que também estarão no manual, que poderiam fornecer os tópicos pedidos a certa altura:






A propósito do contraste Mensagem / Lusíadas, leia-se este texto de Fernando Pinto do Amaral, numa introdução a uma edição de Mensagem (Mensagem e outros poemas, INCM / Aletheia / Expresso, 2015), em que se apanham muito bem as especiais características do livro de Pessoa:

«Organizada em torno de algumas figuras centrais da História de Portugal, Mensagem tem sido comparada com Os Lusíadas, já que ambas as obras se baseiam nessa mesma História. No entanto, aquilo que em Camões é a narrativa empolgante de um passado glorioso e indissoluvelmente vinculado à nossa identidade coletiva transforma-se em Pessoa numa série de retratos ou de quadros por onde desfilam reis, heróis, navegadores ou profetas, numa sequência que, de um modo críptico, nos fala mais do futuro que do passado. Por isso Os Lusíadas são uma epopeia e nos custa aplicar com a mesma desenvoltura à Mensagem essa palavra tão carregada de sentido desde a Antiguidade. Enquanto Camões nos conta a nossa História, a atitude de Pessoa é a de subentender nos leitores o conhecimento dessa História, poupando-se ao esforço aliás inglório de no-la recontar três séculos e meio depois. Assim, mais do que a uma «epopeia» no sentido clássico do termo, Mensagem corresponde talvez a uma profecia — uma profecia obscura e luminosa como são todas as profecias dignas desse nome — que interroga o «futuro do passado» a partir da singularidade do destino português e da posição geográfica de Portugal, como rosto da Europa aberto ao Atlântico.

[...] É dessa atitude esotérica que teremos de partir para nos aproximarmos da Mensagem, cujo percurso pode condensar-se numa dúzia de protagonistas históricos bem conhecidos, mas cujo golpe de génio reside em fazer deles os intérpretes de uma via mística ou iniciática em que Pessoa terá vislumbrado um desígnio português capaz de iluminar e transcender decisivamente as circunstâncias históricas ou geográficas do rectângulo, como se Portugal fosse o protagonista de um sonho culminado em D. Sebastião, ao mesmo tempo que ele, Fernando Pessoa, aí investia também todos os sonhos do seu mundo sem fim.»

Como hoje é dia de Portugal, dia de Camões — que, como se lembra em O Ano da Morte de Ricardo Reis, nem aparece entre as figuras que Fernando Pessoa elege para cabeça de tantos poemas em Mensagem —, vejamos o mais célebre poema de Mensagem, «Mar Português», a ser lido por estrangeiros num clip feito precisamente a propósito do 10 de junho (aqui para nós, quem fez o clip não se apercebeu de que escolher a obra que é quase o reverso dos Lusíadas para assinalar o Dia de Camões não era sensato):


Relativamente a Os Lusíadas, aconselho os que vão a exame a uma revisão, se calhar, sobretudo «sebenteira». Estes tabelas serão porventura úteis:




E, para confronto com Mensagem, este Quadro comparativo

Outro assunto que gostava de ir revendo é a ortografia. A ideia é mesmo chegar a uma lista de palavras que convém ir advertindo. Hoje trataria só de um problema recorrente, que adveio também do Acordo Ortográfico (e sim, qualquer erro, mesmo por culpa do AO, em exame tem pontuação descontada). É o problema dos hífenes. A regra não é fácil. Aqui fica ela:




Entretanto, não lhes peço propriamente que resolvam a tarefa que se segue, mas antes que vejam que não seria fácil e passem logo para as soluções, um quadro que acaba por ser o mais útil disto tudo:




Palavras que talvez sejam mais úteis:

hei de

hás de

hão de

há de

fim de semana

dia a dia

mulher a dias

pôr do sol

autorretrato

autobiografia

coautor

hipermercado

segunda-feira

sexta-feira

beira-mar

além-mar

é-nos

é-lhes

e, ainda, as de que me for lembrando entretanto: #, #, #.

Começa por ouvir «Fevereiro», da banda brasileira Acidália:


Transcrevo as três quadras que constituem a letra, assinalando já três dísticos que gostaria que comentasses do ponto de vista da expressividade. É um item típico em exame, comentar o valor estilístico de uma dada frase.

Já passou o carnaval

Já pode se fantasiar de alguém que não se é

Que não quer saber

E parece ser um ser tão igual a outro qualquer



Acabou a última atração

E se perdeu na solidão da multidão

Nesse vai e vem

A contramão é sempre sem direção do vento, meu bem



Folhas em branco

Caem no meu jardim

Dia após dia

Morrem dentro de mim

Darei as minhas soluções em próxima aula, mas tenta tu também uma explicação de duas delas (fica com a tentativa manuscrita contigo; depois direi se é preciso enviar-ma; quanto aos saudosos confinados — D., G., I., S. —, enviem-mas por mail). Imagina-te a responder a um daqueles itens de exame, do Grupo I, em que se pede a explicação do valor expressivo de uma passagem.

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Como estamos em feriados, não os maçarei muito mais. Lembro só os nossos encargos próximos: rever gramática toda, ter lido O Ano da Morte de Ricardo Reis (não é preciso reler, se já leram mesmo a obra), lançar no Classroom a leitura em voz alta pedida (tarefa da aula 25).

Na sexta-feira afixarei a aula que foi presencial para as turmas azaradas que não tiveram feriado e que as 4.ª e 5.ª turmas farão o favor de relancear (haverá uma tarefa pedida aí, a levar para a nossa penúltima aula).

Volto a sugerir que leiam os contos (dos três que estão no livro) que lhes tenham escapado na altura: «Sempre é uma companhia», p. 136; «George», p. 150; «Famílias desavindas», p. 163. Façam-no, porém, apenas se não trataram disso há tempos: não repitam leituras.

Finalmente, pedia-lhes que vissem se têm livros meus de que já não precisem e, se for assim, mos levassem numa das próximas aulas presenciais. (Lembrei-me agora: como farei com os Prémios Tia Albertina, que tenho cheios do vírus chinês, porque conviveram com pangolins nas feiras no oriente onde os fui adquirir na companhia de Pessanha e Campos jovem — estes andavam mais à caça de ópio —?)





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