Sunday, September 16, 2012

Os Maias 3


Inês P. (11.º 1.ª)



Inês P. (Bom+/Muito Bom- ou mesmo quase Muito Bom-) Pontos fortes Simplicidade (parcimónia de meios, apostando-se antes na elaboração da escrita e na correção da leitura em volta). Muito boa escrita e muito boa leitura em voz alta. Coerência de música, imagem, estilo de texto. Tipo textual (entre o narrativo e o expositivo, vagamente poético, aforístico aqui e ali). Aspetos melhoráveis Era evitável a repetição em «O ensino inglês acolhe-o [...] e ensina-lhe». Em «como um gentleman deve», terá de se acrescentar «fazer». Em «Este dá-lhe bom coração, que o leva a preocupar-se mais com os outros do que com ele próprio, e inteligência», o referente da anáfora «este» (o ensino inglês) está tão longe que se reconhece mal. Certa propensão para a anteposição do adjetivo ao nome (que é propositada mas de discutível efeito): «estrangeira educação»; «familiar madrugada»; «sombrio futuro»; «simples infância».


Sofia R. (11.º 6.ª)



Sofia R. (Bom+/Muito Bom- ou mesmo quase Muito Bom-) Pontos fortes Redação criativa e muito correta: o relato de uma personagem secundária, o Teixeira, cuja biografia, expandida mas coerente com o que, espaçadamente, se lê nos Maias (casamento com Gertrudes é inventado, se não me escapou a mim) permite acompanhar o essencial da intriga deste capítulo. Leitura em voz alta perfeita, em ritmo e estilo adequados (em parte, reconheça-se, porque se preferiu uma abordagem mais neutra e segura do que o risco de uma mais expressiva). Não há incongruências na história, se considerarmos o contexto do século XIX (talvez só o conceito de «café», onde o Teixeira seria empregado, seja forçado; e o de «um leite», bebido no tal café: havia leitarias com as vacas mesmo ali, não sei se haveria leite que se fosse beber a um café, pedido em garrafa, por exemplo). Aspetos melhoráveis Talvez pudesse a Sofia ter aproveitado mais a focalização no Teixeira, pondo-o a refletir, a opinar, o que, é verdade, talvez não fosse o natural de um criado-mordomo (não diria escudeiro) como o Teixeira. Solução para a imagem é das mais fáceis.



Mar (11.º 4.ª)





Mar (Bom +) Pontos fortes Leitura em voz alta muito clara e sempre correta (levemente expressiva, mas vencendo bem as dificuldades desses momentos de entoação mais vincada; diria apenas que, quase no final, um «muito» e um «extremamente» saíram ligeiramente alongados). A redação, eficiente, consegue dar bem o enredo desta parte do livro (escolheu-se um registo quase corrente, o que leva a que o léxico seja relativamente banal, nada queirosiano, mas essa estratégia de bastante naturalidade é assumida e resulta bem). Aspetos melhoráveis «*quaisqueres» é erro (o plural de «qualquer» é «quaisquer»). Em vez de «lembra-me de» (0,27), seria «lembro-me de». «Em busca de o animar» poderia ficar «Com o fito de o animar». Cerca dos dois minutos, um pouco antes e um pouco depois, há uns três ou quatro «n(ess)a altura» demasiado próximos. Poder-se-ia ter arriscado um Carlos mais opinativo, mais irónico, que implicasse fugir-se à segurança do simples resumo.





Pedro F. (11.º 6.ª)





Pedro F. (Bom -) Pontos fortes Leitura em voz alta, clara, sem erros, na velocidade certa. Escolheu-se o tema fulcral do capítulo (os dois modelos educativos), e fez-se síntese pertinente, embora me parecesse que a posição irónica do narrador relativamente a Eusebiozinho não terá sido descodificada na íntegra (por outro lado, como acontece em geral nas abordagens fundamentalmente expositivas, há um pouco o risco de que o que se diz fique aquém do que se encontraria num ensaio específico; por isso aconselho sempre uma aproximação mais criativa, mais pessoal). Aspetos melhoráveis Não creio que se possa dizer que Eusebiozinho fosse inteligente (o retrato que dele se faz mesmo logo neste capítulo aponta em sentido contrário: era a criança que tudo memorizava, mas não culta nem inteligente). «Este terceiro capítulo vai servir-me de comparação» (vai servir-me para comparação). «A tia, Dona Ana, mais liberal na educação dada a Eusebiozinho em relação aos Maias» (há aqui falhas de sintaxe e, creio, de compreensão do original). Não se poderá dizer que Carlos, durante o tempo de Santa Olávia, tivesse Vilaça como figura paternal, dado que este raramente lá iria.





Afonso (11.º 9.ª)





Afonso (Bom – ou Bom-/Suf+) Pontos fortes Abordagem ensaística correta: é um resumo eficiente do que haveria a dizer acerca de uma das teses do romance (e, no entanto, eu preferiria uma abordagem menos convencional, mais pessoal e mais criativa; acaba por ser um texto que não traz grande novidade relativamente ao que encontramos em milhentas sebentas sobre Os Maias). Escrita é boa, não apresentando o texto agramaticalidades. Preocupação em referir a fonte das imagens (creio é que o blogue em causa as recolheu em livros de Marina Tavares Dias ou de Campos Matos). Aspetos melhoráveis Percebo a ideia de Afonso ao adotar uma leitura de quem imita a exposição não guiada por papel (ou não havia mesmo texto?); por exemplo, em leituras para colóquios científicos, há quem use esta estratégia (ler de tal modo, que até parece que o texto está a brotar no momento). Só que, neste formato (no fundo, próximo do documentário televisivo), creio que é mais pertinente a leitura em voz alta, formal e clara. (Ainda por cima, recentemente, e para importantes competições, o autor até tem mostrado ser capaz de leituras em voz alta muito boas.) Na escrita: «e, por consequente» (e, por consequência; e, consequentemente»).





Rafael & Gisela (11.º 3.ª)





Gisela & Rafael (Muito Bom -) Pontos fortes Todos os aspetos que envolvem a realização de um filme (que implicou decerto a família toda e que mostra domínio de cinema e de montagem, bom gosto, sentido da ironia, planificação, muito trabalho), que depois se vê sem se notar que passaram seis minutos. Grafismo. Expressão gestual e corporal na representação (que mima bem, como no cinema mudo, o que há para encenar; e que não será alheia às capacidades gímnicas dos atores). Leituras claras, na velocidade ideal, quase sempre corretas. Aspetos melhoráveis Na escrita: «vai de encontro a» (vai ao encontro de); «como de.. se tratassem» (como de... se tratasse [neste tipo de estruturas, o verbo «tratar» fica sempre no singular]). Na oralidade: «picuices» saiu um pouco nasalado; «euforicamente» ficou quase «e*foricamente»; «dirigiu-se tristonho» atrapalhado.



#