Os Maias 10
Filipa
(11.º 3.ª)
Filipa
(Bom +,
quase Bom+/Muito Bom-) Pontos fortes Texto está construído com
cuidado, procurando, mais do que apenas dar o enredo do passo no romance, criar
o que pudesse ser a expressão, da parte de Carlos, dos seus debates, hesitações,
expetativas (nota-se um conhecimento correto da obra; evitou-se um registo
demasiado corrente). Também se procurou, com sucesso, adotar uma leitura em voz
alta expressiva. Aqui, talvez se devesse alternar mais entre momentos enfáticos,
altissonantes, e mais calmos (se tudo for muito valorizado, nada fica
valorizado...): por exemplo, o relato da estratégia da ida à Rua de São
Francisco poderia ter sido dado neutramente, em simples relato, para que a
superlativação da paixão, logo a seguir, pudesse destacar-se. Aspetos melhoráveis Na escrita: «não
mostrava grandes evidências» (‘mostrar evidências’ não pode ser: ‘mostrar intenções?’);
«[...] me dirigi ao mesmo» (estes pronomes tornam tudo muito burocrático: «me
dirigi ao maestro»); «Pois possui uma pessoa da família incomodada» (nem sempre
«possuir» é bom sinónimo de «ter»: aqui tem de ser «tem»); «o enjoo e repugna
que lhe tenho» (o enjoo e repugnância que lhe tenho), embora não me pareça possível
«ter enjoo a alguém» [enjoo de alguém]; «não começou por se esplêndido» é
discutível (para mim, «esplêndido» fica estranho em frases negativas). Na
oralidade: pronúncia do primeiro som de «acerca» deve ser aberta: «[á]cerca»;
no final, saiu mal «atormentara»; «condessa» (0.45) saiu nasalado, quase «condensa».
Sara (11.º 4.ª)
Sara
(Bom +,
quase Bom+/Muito Bom-) Pontos fortes Texto está bem escrito
(pretexto do dia sem carros é feliz). Leitura em voz alta está muito certa (só
a pronúncia de «imitações» saiu pouco nítida). Compreensão do passo em causa (corrida
de cavalos) é também a correta. Porém, quer em termos de redação quer em termos
de oralidade, não se aproveitou cabalmente o formato ‘texto noticioso para
rádio’ (que, aliás, reconheça-se não é assumido, já que, logo no início, se dá
o encaixe ‘intervenção da professora universitária Sara Salgado’). Na verdade, a
redação descarta os truques estipulados para os géneros jornalísticos mais
relevantes (notícia curta, reportagem), talvez se aproximando apenas da crónica
radiofónica (que também não é, mas, com poucas alterações, poderia vir a ser);
fica como longa intervenção de especialista em entrevista, mas um tanto
inverosímil. Também o estilo de locução não parece o de quem noticia, o de quem
responde a entrevista ou, mesmo, o de cronista radiofónico.) Aspetos melhoráveis Poucas coisas de
escrita: «corridas, corridas estas
que» (este tipo de estrutura é sempre escusado: experimente-se tirar o que pus
em itálico; não fica melhor?); «maldizer do juiz» (injuriar o juiz; vituperar o
juiz; criticar o juiz; maldizer o juiz); na legenda de fecho, o título da obra
ficaria em itálico (não havendo itálico nos tipos do MM, adotavam-se aspas).
Miguel G. (11.º 6.ª)
Miguel
G.
(Bom) Pontos fortes Versos criados percorrem
bem o episódio das corridas, não erram nas rimas (não diria o mesmo da métrica),
não apresentam incorreções de sintaxe, revelam inteligência. Confirma-se que o
Miguel tem facilidade na invenção de poesia, incluindo sentido lúdico e irónico
da escrita. (Lamentável, porém, que não conste uma quadra alusiva ao grande
Conhé: «Mas mais que todos admiro / — E esta a pura verdade é —, / Mais até qu’ao
Vladimiro, / O extraordinário Conhé!»). Apresentação do texto em slides está
bem sincronizada, embora talvez se pudesse ter conseguido que cada verso
ocupasse apenas uma linha. Aspetos
melhoráveis Leitura em voz alta podia estar mais expressiva, mais animada. Não
faz sentido a imagem do slide inicial (são símbolos maias, uma das primeiras
imagens googladas a partir de «maias», e que, naturalmente, nada têm de ver com
Os Maias); também apressada, a legenda:
«Os Maias / Capítulo X / de Eça de Queirós» (Capítulo X / de Os Maias / de Eça de Queirós). Na
escrita: «tentaçã» (tentação). Na oralidade: «nos episódios» (no episódio); «como
a desordem», em registo formal, não deve soar «com’à desordem»; «parecia um
pileca» (uma pileca); «sem Dâmaso apareceu» (sem Dâmaso aparecer).
Guilherme & Nuno (11.º 3.ª)
Nuno
& Guilherme (Bom/Bom(+)) Pontos
fortes Ideia do formato (diálogo entre autor e protagonista) e seu
aproveitamento em tom ligeiro e agradável (bom efeito do desenho de Carlos, por
contraste com a fotografia de Eça; bom achado da imagem marginal ao contexto,
em que se insiste). Boas leituras em voz alta (com expressividade adequada). Aspetos melhoráveis Extensão podia ser
maior (há relativamente pouco espaço para pôr mais à prova a oralidade). Há
algumas falhas de sintaxe: em «Queria discutir o capítulo cujos alunos [...]», teria de ser «Queria discutir o capítulo que os alunos [...] estão a tratar»; «em todas as mulheres que conheci ao
longo da história só me apaixono por» (entre
todas as mulheres que conheci ao longo da história só me apaixono por); «podia
ter passado por despercebido» (podia ter passado despercebido).
Miguel & Pedro (11.º 9.ª)
Pedro & Miguel (Suficiente
+) Pontos fortes Não há erros significativos
na leitura em voz alta, embora leitura de Miguel seja, por vezes, demasiado
lenta e um pouco enfática; mais natural a leitura de Pedro (creio que a
expressividade, na leitura de um diário, se deve aproximar bastante do estilo coloquial
e, no caso de diários angustiados, pode reproduzir hesitações, dúvidas). Aspetos melhoráveis O que se relata
corresponde ao que sucede no capítulo, mas talvez seja demasiado narrativo
(resumo da ação), quando, na verdade, um diário deve ser sobretudo um texto
introspetivo, de interpretação mais do que de síntese. Na oralidade: «tudo que
se [le?] passava na festa dos Cohen»; «quando este [se?] descobriu»; «Raquel» é
palavra aguda (não grave). Na escrita: «diário do Carlos da Maia» (diário de
Carlos da Maia); «pois Dâmaso me pediu» (pois Dâmaso pediu-me); «ainda o tentei
explicar» (ainda lhe tentei explicar); cuidado com o uso de «este» (por vezes,
não há antecedente suficientemente perto; em outro casos, é desnecessário).
Aurélio (11.º 6.ª)
Aurélio (Bom-/Suficiente+)
Pontos fortes Boa leitura em voz
alta, que simula bem o ato de Carlos a pensar, a hesitar, a interrogar-se.
Redação consegue transpor o enredo em termos de comentário da personagem
(alguns diários de outros colegas limitaram-se a resumir a história e pô-la na
1.ª pessoa; ao contrário, Aurélio percebeu que havia que recorrer às estratégias
discursivas de um monólogo, mesmo se exibindo menos conhecimento da intriga). Aspetos melhoráveis Na escrita: idealmente,
Os Maias ficaria em itálico (e não
entre aspas), mas admito que a fonte não tivesse itálico; evitaria repetir«deveras»;
Maria Eduarda não parte para o Brasil com Castro Gomes (mas já não sei se no
livro Carlos chega a assumir isso). Como já disse em outros comentários, não
vejo vantagens no uso de imagens da telenovela inspirada nos Maias.
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