Sunday, September 16, 2012

Os Maias 10


Filipa (11.º 3.ª)



Filipa (Bom +, quase Bom+/Muito Bom-) Pontos fortes Texto está construído com cuidado, procurando, mais do que apenas dar o enredo do passo no romance, criar o que pudesse ser a expressão, da parte de Carlos, dos seus debates, hesitações, expetativas (nota-se um conhecimento correto da obra; evitou-se um registo demasiado corrente). Também se procurou, com sucesso, adotar uma leitura em voz alta expressiva. Aqui, talvez se devesse alternar mais entre momentos enfáticos, altissonantes, e mais calmos (se tudo for muito valorizado, nada fica valorizado...): por exemplo, o relato da estratégia da ida à Rua de São Francisco poderia ter sido dado neutramente, em simples relato, para que a superlativação da paixão, logo a seguir, pudesse destacar-se. Aspetos melhoráveis Na escrita: «não mostrava grandes evidências» (‘mostrar evidências’ não pode ser: ‘mostrar intenções?’); «[...] me dirigi ao mesmo» (estes pronomes tornam tudo muito burocrático: «me dirigi ao maestro»); «Pois possui uma pessoa da família incomodada» (nem sempre «possuir» é bom sinónimo de «ter»: aqui tem de ser «tem»); «o enjoo e repugna que lhe tenho» (o enjoo e repugnância que lhe tenho), embora não me pareça possível «ter enjoo a alguém» [enjoo de alguém]; «não começou por se esplêndido» é discutível (para mim, «esplêndido» fica estranho em frases negativas). Na oralidade: pronúncia do primeiro som de «acerca» deve ser aberta: «[á]cerca»; no final, saiu mal «atormentara»; «condessa» (0.45) saiu nasalado, quase «condensa».



Sara (11.º 4.ª)





Sara (Bom +, quase Bom+/Muito Bom-) Pontos fortes Texto está bem escrito (pretexto do dia sem carros é feliz). Leitura em voz alta está muito certa (só a pronúncia de «imitações» saiu pouco nítida). Compreensão do passo em causa (corrida de cavalos) é também a correta. Porém, quer em termos de redação quer em termos de oralidade, não se aproveitou cabalmente o formato ‘texto noticioso para rádio’ (que, aliás, reconheça-se não é assumido, já que, logo no início, se dá o encaixe ‘intervenção da professora universitária Sara Salgado’). Na verdade, a redação descarta os truques estipulados para os géneros jornalísticos mais relevantes (notícia curta, reportagem), talvez se aproximando apenas da crónica radiofónica (que também não é, mas, com poucas alterações, poderia vir a ser); fica como longa intervenção de especialista em entrevista, mas um tanto inverosímil. Também o estilo de locução não parece o de quem noticia, o de quem responde a entrevista ou, mesmo, o de cronista radiofónico.) Aspetos melhoráveis Poucas coisas de escrita: «corridas, corridas estas que» (este tipo de estrutura é sempre escusado: experimente-se tirar o que pus em itálico; não fica melhor?); «maldizer do juiz» (injuriar o juiz; vituperar o juiz; criticar o juiz; maldizer o juiz); na legenda de fecho, o título da obra ficaria em itálico (não havendo itálico nos tipos do MM, adotavam-se aspas).





Miguel G. (11.º 6.ª)





Miguel G. (Bom) Pontos fortes Versos criados percorrem bem o episódio das corridas, não erram nas rimas (não diria o mesmo da métrica), não apresentam incorreções de sintaxe, revelam inteligência. Confirma-se que o Miguel tem facilidade na invenção de poesia, incluindo sentido lúdico e irónico da escrita. (Lamentável, porém, que não conste uma quadra alusiva ao grande Conhé: «Mas mais que todos admiro / — E esta a pura verdade é —, / Mais até qu’ao Vladimiro, / O extraordinário Conhé!»). Apresentação do texto em slides está bem sincronizada, embora talvez se pudesse ter conseguido que cada verso ocupasse apenas uma linha. Aspetos melhoráveis Leitura em voz alta podia estar mais expressiva, mais animada. Não faz sentido a imagem do slide inicial (são símbolos maias, uma das primeiras imagens googladas a partir de «maias», e que, naturalmente, nada têm de ver com Os Maias); também apressada, a legenda: «Os Maias / Capítulo X / de Eça de Queirós» (Capítulo X / de Os Maias / de Eça de Queirós). Na escrita: «tentaçã» (tentação). Na oralidade: «nos episódios» (no episódio); «como a desordem», em registo formal, não deve soar «com’à desordem»; «parecia um pileca» (uma pileca); «sem Dâmaso apareceu» (sem Dâmaso aparecer).





Guilherme & Nuno (11.º 3.ª)





Nuno & Guilherme  (Bom/Bom(+)) Pontos fortes Ideia do formato (diálogo entre autor e protagonista) e seu aproveitamento em tom ligeiro e agradável (bom efeito do desenho de Carlos, por contraste com a fotografia de Eça; bom achado da imagem marginal ao contexto, em que se insiste). Boas leituras em voz alta (com expressividade adequada). Aspetos melhoráveis Extensão podia ser maior (há relativamente pouco espaço para pôr mais à prova a oralidade). Há algumas falhas de sintaxe: em «Queria discutir o capítulo cujos alunos [...]», teria de ser «Queria discutir o capítulo que os alunos [...] estão a tratar»; «em todas as mulheres que conheci ao longo da história só me apaixono por» (entre todas as mulheres que conheci ao longo da história só me apaixono por); «podia ter passado por despercebido» (podia ter passado despercebido).





Miguel & Pedro (11.º 9.ª)





Pedro & Miguel (Suficiente +) Pontos fortes Não há erros significativos na leitura em voz alta, embora leitura de Miguel seja, por vezes, demasiado lenta e um pouco enfática; mais natural a leitura de Pedro (creio que a expressividade, na leitura de um diário, se deve aproximar bastante do estilo coloquial e, no caso de diários angustiados, pode reproduzir hesitações, dúvidas). Aspetos melhoráveis O que se relata corresponde ao que sucede no capítulo, mas talvez seja demasiado narrativo (resumo da ação), quando, na verdade, um diário deve ser sobretudo um texto introspetivo, de interpretação mais do que de síntese. Na oralidade: «tudo que se [le?] passava na festa dos Cohen»; «quando este [se?] descobriu»; «Raquel» é palavra aguda (não grave). Na escrita: «diário do Carlos da Maia» (diário de Carlos da Maia); «pois Dâmaso me pediu» (pois Dâmaso pediu-me); «ainda o tentei explicar» (ainda lhe tentei explicar); cuidado com o uso de «este» (por vezes, não há antecedente suficientemente perto; em outro casos, é desnecessário).





Aurélio (11.º 6.ª)





Aurélio (Bom-/Suficiente+) Pontos fortes Boa leitura em voz alta, que simula bem o ato de Carlos a pensar, a hesitar, a interrogar-se. Redação consegue transpor o enredo em termos de comentário da personagem (alguns diários de outros colegas limitaram-se a resumir a história e pô-la na 1.ª pessoa; ao contrário, Aurélio percebeu que havia que recorrer às estratégias discursivas de um monólogo, mesmo se exibindo menos conhecimento da intriga). Aspetos melhoráveis Na escrita: idealmente, Os Maias ficaria em itálico (e não entre aspas), mas admito que a fonte não tivesse itálico; evitaria repetir«deveras»; Maria Eduarda não parte para o Brasil com Castro Gomes (mas já não sei se no livro Carlos chega a assumir isso). Como já disse em outros comentários, não vejo vantagens no uso de imagens da telenovela inspirada nos Maias.



#