Os Maias 12
Gi (11.º 3.ª)
Gi
(Bom) Pontos fortes Boa ideia e boa redação. Note-se
que não se trata de texto narrado por Dâmaso, nem uma fala de Dâmaso em
discurso direto; é mais um longo monólogo de Dâmaso em discurso indirecto
livre. Como sabemos, o discurso indireto livre é característico de Eça, pelo
que foi boa escolha (não sei se pensada se intuitivamente). Alguns momentos da
leitura em voz alta (o trecho inicial, por exemplo). Aspetos melhoráveis Nem sempre a leitura mantém a qualidade dos
melhores momentos. Por um lado, à medida que se avança na gravação, nota-se certa
tendência para a velocidade excessiva, o que leva a alguns tropeções no texto a
dizer. Por outro lado, também se vai reparando que é difícil representar/dizer
um texto com muitas exclamações, muitos momentos expressivos: resulta a
primeira sequência de exclamações, mas, naturalmente, é impossível manter o
mesmo tom durante várias investidas (explicando: só se nota o tom de indignação
se houver uma base inicial calma; havendo frequentes indignações, a locução
torna-se cansativa e o tom de indignação esbate-se, por repetido). «Deixava
passar mais algo» (deixava passar mais alguma coisa). Slide-capa não é muito
imaginativo.
Daniel (11.º 4.ª)
Daniel
(Bom -) Pontos
fortes Leitura em voz alta está correta. Redação também não apresenta
falhas (se excetuarmos as duas que refiro em baixo). É um texto asseado, bem
escrito. Aspetos melhoráveis A
solução encontrada para ilustrar o texto dito (slides «néticos» de assunto
aproximado ou simbólicos) não é feliz, distrai mais do que realmente apoia o
texto. Era preferível escolher um único slide (de preferência, original). A
redação podia arriscar um pouco mais para lá de se fazer a síntese do que se
diz na obra (e podia, entretanto, ter-se prescindido de redundâncias, que soam
artificiais: faz sentido Carlos dizer, no seu diário, que o avô é Afonso da
Maia?). Texto criado cinge-se ao que se pode encontrar no capítulo, quando
podia, talvez, ser-se mais criativo. «Chateado» é palavras que tenho procurado
proscrever. «Condessa dos Gouvarinho» (Condessa de Gouvarinho). Num trabalho
deste tipo (que investe sobretudo no texto), esperava extensão um pouco maior
(no fundo, foram só dois minutos).
Beatriz (11.º 1.ª)
Beatriz
(Muito Bom -) Pontos fortes Género textual: reflexão livre,
ora poética ora narrativa (nas alusões à intriga) ora instrucional. Essa
miscelânea de tipos redacionais está bem desenvolvida, bem escrita, mostrando
conhecimento da obra sem o tornar repetitivo ou escolar. Leitura em voz alta
eficiente, nítida, em boa velocidade e sem erros (talvez só tentasse atenuar a
ênfase aqui e ali, para poder ser mais enfático em outros poucos momentos; como
o escrito é aforístico, poético, liminar, um tom mais desprendido talvez até
acentuasse a sua força). Filme, cujo sentido só se percebe no final, quando
coincidem completamento de construção, um «refúgio», com o fecho do texto,
«refúgio» (é essa confluência o mais interessante). Aspetos melhoráveis Alguma pontuação a mais na leitura em voz alta
(pausas excessivas a delimitar um ou dois «agora», também depois de um «mas» e depois
de um «perante»), em parte por a pontuação gráfica ser demasiado seguida ou por
simples hesitação. Tenho dúvidas sobre se o estilo de música escolhida, um
pouco delicodoce, não prejudica mais do que acentua o tom que se queria
imprimir (como expliquei quanto à ênfase).
Catarina & Núria
(11.º 4.ª)
Núria & Catarina (Muito Bom (-)) Pontos fortes O texto está muito bem
redigido (associando conhecimento da obra a capacidade inventiva e a adequação
de registo linguístico e estilo). Também as leituras em voz alta estão quase
perfeitas (excelente a de Catarina, muito boa a de Núria), por conseguirem que
quase não nos apercebamos de que há um papel que se está ler (há grande
naturalidade, um bem sucedido meio termo entre leitura e representação, que é
de grande mérito, até por ser mantido quase sem falhas ao longo de oito
minutos). Requinte no grafismo (logo no genérico mas evidente também depois nas
imagens durante o texto) e no fundo musical. Aspetos melhoráveis Na oralidade: pausa excessiva, por sugestão da
pontuação gráfica, em «devo dizer-te que, / chegando agora» e em «acho que, /
quando se chega...» (são daquelas vírgulas que não são para ler); também em
«parece-me que / é chegado o momento» (aqui nem na escrita pode haver vírgula);
em «Delorme» o «e» é «mudo», não é [ê]. Na escrita: «a madre superiora Teresa,
que Deus a tenha» (sem o pronome «a»
fica mais elegante: a anáfora não se justifica, estando tão perto o referente);
«a discutir, como só duas irmãs o
sabem fazer» (aqui é mais claro que o pronome não correto, embora se trate de
mudança linguística já em curso, decerto irreversivelmente); «a vida não me foi em vão» (a vida não foi em vão);
«nunca apercebi se sim» (nunca percebi se sim; nunca me apercebi de que sim);
no genérico, «dos» talvez não devesse estar com maiúscula. Pormenores técnicos
ligados ao som: ligeira ressonância na primeira metade (que, mas só em alguns dos
piores momentos, me fez lembrar certo eco na Igreja de Santa Engrácia);
interferência (de um telemóvel?) cerca de 6.40.
Paco (11.º 3.ª)
Paco
(Bom -) Pontos fortes Formato-base (publicidade)
foi boa ideia e começou por ser bem executado. A parte filmada com o autor é divertida
e está bem realizada. Mesmo depois dos primeiros vinte segundos, a abordagem é
coerente. No entanto, a partir dos quarenta e cinco segundos, recorre-se
demasiado ao simples resumo, parecendo quase esquecer-se o tipo textual inicial
(só recuperado quase no fecho). Creio que era possível ter aproveitado parte do
enredo do capítulo como estratégia publicitária também («E sabe o que vai
acontecer? Pois bem, este livro também aqui surpreende: tal, tal, tal»), o que
implicaria reescrever o texto, abandonando o simples elenco de ações (de livro
de resumos?; talvez não, porque tenho a ideia de que o Paco leu mesmo o livro).
Aspetos melhoráveis A leitura em voz
alta saiu em alguns momentos demasiada veloz, sôfrega (o que leva a que certas
pronúncias saiam confusas: «pormenorizada», «ironia», por exemplo, logo no
início). Na escrita: «denota-se nos Maias...»
(será mais «nota-se»; é uma troca como a que fazem tanto vocês ao trocarem
«mostra« por «demonstra»); «Carlos engenha um plano» não é impossível, mas
seria mais esperável «Carlos engendra um plano». Na oralidade: «aluguer» é
oxítono (com tónica na última sílaba), não é paroxítono como se ouve na
gravação («al[ú]guer»).
Francisco (11.º 9.ª)
Francisco
(Bom -) Pontos fortes Comparação com
outra narrativa (neste caso, com uma série de televisão que se encontrou por
acaso ao fazer zapping) é um processo interessante de abordar o capítulo, porque
permite destacar aspetos estruturais, deixando cair pormenores, que só são
revelados se forem os aspetos contrastantes com o episódio que serve de termo
de comparação. Para mais perfeita execução desta estratégia, convinha
explicitar qual era a série, dar também alguns dados acerca da sua intriga,
evitando-se uma sensação de vagueza que acaba por nos ficar (aliás o slide
deveria mostrar essa série, em vez de usar a imagem de uma telenovela feita a
partir de Os Maias). Leitura em voz
alta está bastante aceitável (não ha erros e há bastante fluência). Aspetos melhoráveis Em geral, a escrita
está demasiado corrente (demasiado em conversa, com aquelas ligeirezas de quem
fala mas que não são ideais num texto escrito ou de oralidade formal): «vai lá»
(onde?), vários «esse» e «desse» (que, no fundo, não foram ainda descritos), «deixar
nesse canal» (deixar a televisão nesse canal). De novo: é o facto de não se
designar a série que contribui para este estilo um pouco vago. Ainda na
escrita: «considerar de mulherengo»
(considerar mulherengo); «apesar de a série ser mais moderna e o encontro com a
primeira mulher seja..» (em vez de «seja», talvez só possa ser «ser).
Mariana
L. & Mariana O. (11.º 6.ª)
Mariana O. & Mariana L. (Muito Bom -) Pontos fortes Criatividade no texto (sobre o processo de escrita do próprio microfilme) e no filme (os desenhos, outros aspetos da parte em que intervêm as autoras a representarem com graça, o genérico). Alegria, gosto posto no trabalho. Escrita em género coloquial mas sem deixar de ser elaborada e bastante perfeita. Vários géneros num mesmo trabalho (rimas, alguma reflexão quase ensaística, o tal estilo coloquial); se há crítica a fazer é que chega quase a haver demasiada variedade (o que, por outro lado, significa que houve trabalho e se teve imaginação para experimentar vários formatos). Boas, ou muito boas, leituras em voz alta (Mariana L., por vezes, um pouco rápida). Aspetos melhoráveis Teria evitado os slides tirados da telenovela (era para ter advertido todos de que aproveitar essa série brasileira, ou quaisquer outras que houvesse, é menorizar Os Maias: para nós, o Carlos não deve ser o retrato do Fábio Assunção, a literatura pode mais do que a televisão, que nos obriga a interiorizar uma dada cara como a de uma personagem); por outro lado, é verdade que esses momentos são logo contrariados no discurso, e, por isso, se calhar, até eram propositados. Também os slides da segunda parte quebram um tanto a coerência da parte com placards vossos. Na escrita: «na Gouvarinhos» (na Gouvarinho; só é «Gouvarinhos» na expressão «os Gouvarinhos», os dois condes); «nos apercebemos que a coisa ficara» (apercebemos de que); «Carlos demonstra a sua vontade» (Carlos mostra a sua vontade); «Maria Eduarda era denominada como o seu destino» (considerada; vista; perspetivada; ...); «já se observa maior» (já se nota estar maior).[Comentário proximamente]
Mariana C. & Maria (11.º 6.ª)
Gonçalo C. (11.º 4.ª)
Mariana O. & Mariana L. (Muito Bom -) Pontos fortes Criatividade no texto (sobre o processo de escrita do próprio microfilme) e no filme (os desenhos, outros aspetos da parte em que intervêm as autoras a representarem com graça, o genérico). Alegria, gosto posto no trabalho. Escrita em género coloquial mas sem deixar de ser elaborada e bastante perfeita. Vários géneros num mesmo trabalho (rimas, alguma reflexão quase ensaística, o tal estilo coloquial); se há crítica a fazer é que chega quase a haver demasiada variedade (o que, por outro lado, significa que houve trabalho e se teve imaginação para experimentar vários formatos). Boas, ou muito boas, leituras em voz alta (Mariana L., por vezes, um pouco rápida). Aspetos melhoráveis Teria evitado os slides tirados da telenovela (era para ter advertido todos de que aproveitar essa série brasileira, ou quaisquer outras que houvesse, é menorizar Os Maias: para nós, o Carlos não deve ser o retrato do Fábio Assunção, a literatura pode mais do que a televisão, que nos obriga a interiorizar uma dada cara como a de uma personagem); por outro lado, é verdade que esses momentos são logo contrariados no discurso, e, por isso, se calhar, até eram propositados. Também os slides da segunda parte quebram um tanto a coerência da parte com placards vossos. Na escrita: «na Gouvarinhos» (na Gouvarinho; só é «Gouvarinhos» na expressão «os Gouvarinhos», os dois condes); «nos apercebemos que a coisa ficara» (apercebemos de que); «Carlos demonstra a sua vontade» (Carlos mostra a sua vontade); «Maria Eduarda era denominada como o seu destino» (considerada; vista; perspetivada; ...); «já se observa maior» (já se nota estar maior).[Comentário proximamente]
Mariana C. & Maria (11.º 6.ª)
Maria & Mariana C. (entre o Muito Bom- e, em versões que tenho a
decência de não exibir, o, digamos, Horroroso+) {É preciso esclarecer os
leitores desprevenidos de que esta é uma das cinquenta versões deste filme que me
foram entregues: houve um qui pro quo,
aliás vários quiproquós, que envolveram ter a Maria perdido o filme no
telemóvel, ter ido depois para fora quando era suposto repeti-lo, terem Mariana
e manos repetido a gravação, ter Maria colocado o som numa outra versão e apagado
o dos outros atores, ter entretanto intervindo o Aurélio e seus conhecidos
dotes técnicos, ter-me eu irritado algum tanto várias vezes, ter a Mariana
apresentado as suas justificações naquela maneira de falar rapidissíssima em
que metade das sílabas é comida, ter portanto eu ficado sem perceber nada, ter
a Maria estado sempre esfingicamente calada, um pouco como o Karim, que
nada tem a ver com esta história.} Pontos
fortes Conceção criativa (a ideia, que não era fácil de executar em termos
técnicos mas também de encenação, constituía uma inteligente solução, porque integrava,
de forma bastante natural, a intriga do livro e a sua transgressão, na parte do
discurso «interior»). Representação de Mariana e dos irmãos. Em gravação que não é a que se apresenta em cima, a leitura em voz alta de Maria não tem falhas, as entoações estão certas, embora se sinta que «há um papel que está a ser lido», que não há verdadeira representação natural (além do constrangimento de ter de ler em função de um espaço de filme delimitado, de modo a não contender com as falas já gravadas). Texto. Aspetos melhoráveis Se este ano houver ‘Prémios’,
este trabalho é um imbatível candidato a um lugar que costuma ser vencido pelo
Miguel B. (11.º 4.ª), a categoria «microfilmes dados ao professor em retalhos
desconexos».
Gonçalo C. (11.º 4.ª)
Gonçalo C. (Suficiente) Pontos fortes
Inicialmente, parece haver boa noção do estilo intimista, monologal, que
implica um diário (à medida que se avança, logo a partir de 0.36, porém, há
tendência para se perder este tipo de redação e começam a aparecer longos
passos de resumo da ação, o que torna o texto artificial; num diário, é
importante a unidade «dia»...). Aspetos
melhoráveis Leitura em voz alta não consegue transmitir-nos bem a ideia de coloquialidade
(que, creio, o Gonçalo percebeu ser necessária e procurou alcançar). Era talvez
preciso ensaiar mais, a um ponto em que já não se seguisse a pontuação do
escrito (que quebra a tal naturalidade pretendida). Cerca de 1.40-1.45, não
percebo uma frase que saiu mais atrapalhada. Certa ressonância lembra-me a acústica
do Panteão. Na escrita: «ao que ele pensou logo» (este «ao que» não é gramatical). Capítulo correspondente ao lugar do Gonçalo no mapa da sala era o nono (12 era, como foi, da Núria).
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