Sunday, September 16, 2012

Os Maias 12


Gi (11.º 3.ª)



Gi (Bom) Pontos fortes Boa ideia e boa redação. Note-se que não se trata de texto narrado por Dâmaso, nem uma fala de Dâmaso em discurso direto; é mais um longo monólogo de Dâmaso em discurso indirecto livre. Como sabemos, o discurso indireto livre é característico de Eça, pelo que foi boa escolha (não sei se pensada se intuitivamente). Alguns momentos da leitura em voz alta (o trecho inicial, por exemplo). Aspetos melhoráveis Nem sempre a leitura mantém a qualidade dos melhores momentos. Por um lado, à medida que se avança na gravação, nota-se certa tendência para a velocidade excessiva, o que leva a alguns tropeções no texto a dizer. Por outro lado, também se vai reparando que é difícil representar/dizer um texto com muitas exclamações, muitos momentos expressivos: resulta a primeira sequência de exclamações, mas, naturalmente, é impossível manter o mesmo tom durante várias investidas (explicando: só se nota o tom de indignação se houver uma base inicial calma; havendo frequentes indignações, a locução torna-se cansativa e o tom de indignação esbate-se, por repetido). «Deixava passar mais algo» (deixava passar mais alguma coisa). Slide-capa não é muito imaginativo.



Daniel (11.º 4.ª)





Daniel (Bom -) Pontos fortes Leitura em voz alta está correta. Redação também não apresenta falhas (se excetuarmos as duas que refiro em baixo). É um texto asseado, bem escrito. Aspetos melhoráveis A solução encontrada para ilustrar o texto dito (slides «néticos» de assunto aproximado ou simbólicos) não é feliz, distrai mais do que realmente apoia o texto. Era preferível escolher um único slide (de preferência, original). A redação podia arriscar um pouco mais para lá de se fazer a síntese do que se diz na obra (e podia, entretanto, ter-se prescindido de redundâncias, que soam artificiais: faz sentido Carlos dizer, no seu diário, que o avô é Afonso da Maia?). Texto criado cinge-se ao que se pode encontrar no capítulo, quando podia, talvez, ser-se mais criativo. «Chateado» é palavras que tenho procurado proscrever. «Condessa dos Gouvarinho» (Condessa de Gouvarinho). Num trabalho deste tipo (que investe sobretudo no texto), esperava extensão um pouco maior (no fundo, foram só dois minutos).





Beatriz (11.º 1.ª)






Beatriz (Muito Bom -) Pontos fortes Género textual: reflexão livre, ora poética ora narrativa (nas alusões à intriga) ora instrucional. Essa miscelânea de tipos redacionais está bem desenvolvida, bem escrita, mostrando conhecimento da obra sem o tornar repetitivo ou escolar. Leitura em voz alta eficiente, nítida, em boa velocidade e sem erros (talvez só tentasse atenuar a ênfase aqui e ali, para poder ser mais enfático em outros poucos momentos; como o escrito é aforístico, poético, liminar, um tom mais desprendido talvez até acentuasse a sua força). Filme, cujo sentido só se percebe no final, quando coincidem completamento de construção, um «refúgio», com o fecho do texto, «refúgio» (é essa confluência o mais interessante). Aspetos melhoráveis Alguma pontuação a mais na leitura em voz alta (pausas excessivas a delimitar um ou dois «agora», também depois de um «mas» e depois de um «perante»), em parte por a pontuação gráfica ser demasiado seguida ou por simples hesitação. Tenho dúvidas sobre se o estilo de música escolhida, um pouco delicodoce, não prejudica mais do que acentua o tom que se queria imprimir (como expliquei quanto à ênfase).




Catarina & Núria (11.º 4.ª)





Núria & Catarina (Muito Bom (-)) Pontos fortes O texto está muito bem redigido (associando conhecimento da obra a capacidade inventiva e a adequação de registo linguístico e estilo). Também as leituras em voz alta estão quase perfeitas (excelente a de Catarina, muito boa a de Núria), por conseguirem que quase não nos apercebamos de que há um papel que se está ler (há grande naturalidade, um bem sucedido meio termo entre leitura e representação, que é de grande mérito, até por ser mantido quase sem falhas ao longo de oito minutos). Requinte no grafismo (logo no genérico mas evidente também depois nas imagens durante o texto) e no fundo musical. Aspetos melhoráveis Na oralidade: pausa excessiva, por sugestão da pontuação gráfica, em «devo dizer-te que, / chegando agora» e em «acho que, / quando se chega...» (são daquelas vírgulas que não são para ler); também em «parece-me que / é chegado o momento» (aqui nem na escrita pode haver vírgula); em «Delorme» o «e» é «mudo», não é [ê]. Na escrita: «a madre superiora Teresa, que Deus a tenha» (sem o pronome «a» fica mais elegante: a anáfora não se justifica, estando tão perto o referente); «a discutir, como só duas irmãs o sabem fazer» (aqui é mais claro que o pronome não correto, embora se trate de mudança linguística já em curso, decerto irreversivelmente); «a vida não me foi em vão» (a vida não foi em vão); «nunca apercebi se sim» (nunca percebi se sim; nunca me apercebi de que sim); no genérico, «dos» talvez não devesse estar com maiúscula. Pormenores técnicos ligados ao som: ligeira ressonância na primeira metade (que, mas só em alguns dos piores momentos, me fez lembrar certo eco na Igreja de Santa Engrácia); interferência (de um telemóvel?) cerca de 6.40.




Paco (11.º 3.ª)





Paco (Bom -) Pontos fortes Formato-base (publicidade) foi boa ideia e começou por ser bem executado. A parte filmada com o autor é divertida e está bem realizada. Mesmo depois dos primeiros vinte segundos, a abordagem é coerente. No entanto, a partir dos quarenta e cinco segundos, recorre-se demasiado ao simples resumo, parecendo quase esquecer-se o tipo textual inicial (só recuperado quase no fecho). Creio que era possível ter aproveitado parte do enredo do capítulo como estratégia publicitária também («E sabe o que vai acontecer? Pois bem, este livro também aqui surpreende: tal, tal, tal»), o que implicaria reescrever o texto, abandonando o simples elenco de ações (de livro de resumos?; talvez não, porque tenho a ideia de que o Paco leu mesmo o livro). Aspetos melhoráveis A leitura em voz alta saiu em alguns momentos demasiada veloz, sôfrega (o que leva a que certas pronúncias saiam confusas: «pormenorizada», «ironia», por exemplo, logo no início). Na escrita: «denota-se nos Maias...» (será mais «nota-se»; é uma troca como a que fazem tanto vocês ao trocarem «mostra« por «demonstra»); «Carlos engenha um plano» não é impossível, mas seria mais esperável «Carlos engendra um plano». Na oralidade: «aluguer» é oxítono (com tónica na última sílaba), não é paroxítono como se ouve na gravação («al[ú]guer»).





Francisco (11.º 9.ª)





Francisco (Bom -) Pontos fortes Comparação com outra narrativa (neste caso, com uma série de televisão que se encontrou por acaso ao fazer zapping) é um processo interessante de abordar o capítulo, porque permite destacar aspetos estruturais, deixando cair pormenores, que só são revelados se forem os aspetos contrastantes com o episódio que serve de termo de comparação. Para mais perfeita execução desta estratégia, convinha explicitar qual era a série, dar também alguns dados acerca da sua intriga, evitando-se uma sensação de vagueza que acaba por nos ficar (aliás o slide deveria mostrar essa série, em vez de usar a imagem de uma telenovela feita a partir de Os Maias). Leitura em voz alta está bastante aceitável (não ha erros e há bastante fluência). Aspetos melhoráveis Em geral, a escrita está demasiado corrente (demasiado em conversa, com aquelas ligeirezas de quem fala mas que não são ideais num texto escrito ou de oralidade formal): «vai lá» (onde?), vários «esse» e «desse» (que, no fundo, não foram ainda descritos), «deixar nesse canal» (deixar a televisão nesse canal). De novo: é o facto de não se designar a série que contribui para este estilo um pouco vago. Ainda na escrita: «considerar de mulherengo» (considerar mulherengo); «apesar de a série ser mais moderna e o encontro com a primeira mulher seja..» (em vez de «seja», talvez só possa ser «ser).




Mariana L. & Mariana O. (11.º 6.ª)
 



Mariana O. & Mariana L. (Muito Bom -) Pontos fortes Criatividade no texto (sobre o processo de escrita do próprio microfilme) e no filme (os desenhos, outros aspetos da parte em que intervêm as autoras a representarem com graça, o genérico). Alegria, gosto posto no trabalho. Escrita em género coloquial mas sem deixar de ser elaborada e bastante perfeita. Vários géneros num mesmo trabalho (rimas, alguma reflexão quase ensaística, o tal estilo coloquial); se há crítica a fazer é que chega quase a haver demasiada variedade (o que, por outro lado, significa que houve trabalho e se teve imaginação para experimentar vários formatos). Boas, ou muito boas, leituras em voz alta (Mariana L., por vezes, um pouco rápida). Aspetos melhoráveis Teria evitado os slides tirados da telenovela (era para ter advertido todos de que aproveitar essa série brasileira, ou quaisquer outras que houvesse, é menorizar Os Maias: para nós, o Carlos não deve ser o retrato do Fábio Assunção, a literatura pode mais do que a televisão, que nos obriga a interiorizar uma dada cara como a de uma personagem); por outro lado, é verdade que esses momentos são logo contrariados no discurso, e, por isso, se calhar, até eram propositados. Também os slides da segunda parte quebram um tanto a coerência da parte com placards vossos. Na escrita: «na Gouvarinhos» (na Gouvarinho; só é «Gouvarinhos» na expressão «os Gouvarinhos», os dois condes); «nos apercebemos que a coisa ficara» (apercebemos de que); «Carlos demonstra a sua vontade» (Carlos mostra a sua vontade); «Maria Eduarda era denominada como o seu destino» (considerada; vista; perspetivada; ...); «já se observa maior» (já se nota estar maior).[Comentário proximamente]


Mariana C. & Maria (11.º 6.ª)





Maria & Mariana C.  (entre o Muito Bom- e, em versões que tenho a decência de não exibir, o, digamos, Horroroso+) {É preciso esclarecer os leitores desprevenidos de que esta é uma das cinquenta versões deste filme que me foram entregues: houve um qui pro quo, aliás vários quiproquós, que envolveram ter a Maria perdido o filme no telemóvel, ter ido depois para fora quando era suposto repeti-lo, terem Mariana e manos repetido a gravação, ter Maria colocado o som numa outra versão e apagado o dos outros atores, ter entretanto intervindo o Aurélio e seus conhecidos dotes técnicos, ter-me eu irritado algum tanto várias vezes, ter a Mariana apresentado as suas justificações naquela maneira de falar rapidissíssima em que metade das sílabas é comida, ter portanto eu ficado sem perceber nada, ter a Maria estado sempre esfingicamente calada, um pouco como o Karim, que nada tem a ver com esta história.} Pontos fortes Conceção criativa (a ideia, que não era fácil de executar em termos técnicos mas também de encenação, constituía uma inteligente solução, porque integrava, de forma bastante natural, a intriga do livro e a sua transgressão, na parte do discurso «interior»). Representação de Mariana e dos irmãos. Em gravação que não é a que se apresenta em cima, a leitura em voz alta de Maria não tem falhas, as entoações estão certas, embora se sinta que «há um papel que está a ser lido», que não há verdadeira representação natural (além do constrangimento de ter de ler em função de um espaço de filme delimitado, de modo a não contender com as falas já gravadas). Texto. Aspetos melhoráveis Se este ano houver ‘Prémios’, este trabalho é um imbatível candidato a um lugar que costuma ser vencido pelo Miguel B. (11.º 4.ª), a categoria «microfilmes dados ao professor em retalhos desconexos».






Gonçalo C. (11.º 4.ª)





Gonçalo C. (Suficiente) Pontos fortes Inicialmente, parece haver boa noção do estilo intimista, monologal, que implica um diário (à medida que se avança, logo a partir de 0.36, porém, há tendência para se perder este tipo de redação e começam a aparecer longos passos de resumo da ação, o que torna o texto artificial; num diário, é importante a unidade «dia»...). Aspetos melhoráveis Leitura em voz alta não consegue transmitir-nos bem a ideia de coloquialidade (que, creio, o Gonçalo percebeu ser necessária e procurou alcançar). Era talvez preciso ensaiar mais, a um ponto em que já não se seguisse a pontuação do escrito (que quebra a tal naturalidade pretendida). Cerca de 1.40-1.45, não percebo uma frase que saiu mais atrapalhada. Certa ressonância lembra-me a acústica do Panteão. Na escrita: «ao que ele pensou logo» (este «ao que» não é gramatical). Capítulo correspondente ao lugar do Gonçalo no mapa da sala era o nono (12 era, como foi, da Núria).




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