Os Maias 17
Raffaella (11.º 6.ª)
Raffaella (Bom (-)) Pontos fortes Leitura em voz alta percebe-se
ser bastante segura (oiço apenas uma hesitação cerca de «duvido», aos 0.40), estar na
velocidade certa e com as entoações corretas. Também a escrita não mostra falhas
relevantes (ver só as que aponto em baixo), sendo a carta redigida verosímil,
usando-se registo de linguagem certo e mostrando-se conhecimento da obra.
(Talvez a Raffaella pudesse ter arriscado um pouco mais, criando uma situação
mais exigente, mas não foi esse o escopo deste filme.) Aspetos melhoráveis Há um «OK» (0.35), que escapa ao registo
adotado (esse sim, em geral, adequado, como já disse em cima). Ressonância (que
me lembra a de certo Frei Luís de Sousa
na Igreja de Santa Engrácia) prejudica a exata compreensão de alguns pormenores
do texto (por exemplo, no que digo a seguir, sobre a escrita, posso ser eu a
não ter descodificado bem; aos 0.10, será «Noite passada» ou «Na noite passada»?).
Na escrita: «possui todos os documentos que o provem» (provam); «está confirmado
que ceder-te-ei» (está confirmado que te cederei [a subordinação obriga a que o pronome se anteponha ao verbo]). Repetindo o que fui dizendo
em outros trabalhos: preferia que não se tivesse usado imagem da telenovela
brasileira (aliás, neste caso, para corresponder a Maria Eduarda, conviria que
a retratada fosse loura).
Inês B. (11.º 4.ª)
Inês
B. (Bom/Bom
(-)) Pontos fortes Boa compreensão
do ritmo e dos ingredientes do género ‘trailer’ e domínio de diversos recursos
técnicos que ele exige (sobretudo ao nível do som e, em geral, da montagem). É verdade
que um dos requisitos do trabalho que lhes pedia fica bastante comprometido dado
o formato escolhido, já que o trailer não implica tanto discurso oral como
conviria que houvesse (admito que se pudesse ter sido um pouco mais
descritivo/narrativo, sem prejudicar demasiado o estilo liminar que deve ter um
trailer). Leitura em voz alta sem falhas (mas havia pouco texto...). Aspetos melhoráveis Como já tenho dito nos
comentários a outros trabalhos, devia ter-se fugido a usar imagens da
telenovela brasileira (inspirada nos Maias
e, salvo erro, na Relíquia). De certo
modo, é menorizar um livro, dar esta importância toda a um seu subproduto
(coitado do Eça!). Na legenda inicial, Os
Maias deveria estar em itálico (e não entre aspas); «trailer» está com um
ele a mais.
João F. (11.º 6.ª)
João
F. (Bom + ou mesmo cerca
de Bom+/Muito Bom-) Pontos fortes Boa
associação entre compreensão da obra, criatividade, gosto e capacidade de
execução (em termos linguísticos e em termos técnicos). As imagens originais de
Santa Apolónia, a música e o texto conjugam-se bem e são, objetiva e
poeticamente, muito apropriados à situação que se desenvolveu. Escrita e
leitura em voz alta sem incorreções. Aspetos
melhoráveis Som do texto lido, por vezes, esconde-se um pouco atrás da
música e de certa tendência de João (que é a de todos os lisboetas) para comer
vogais. Na escrita: «que hesita a recebê-lo» (que hesita ao recebê-lo; que
hesita em recebê-lo); «em vez de lhe
contar a verdade» («lhe» tem como referente Afonso? Estaria demasiado longe da
anáfora. Reporta-se a maria Eduarda? Também não pode ser, porque ela é tratada
na 2.ª pessoa ao longo da carta).
Miguel
M. (11.º 1.ª)
Miguel
M. (Bom) Pontos fortes Originalidade e criatividade.
Sentido da estrutura, do ritmo, de um filme. Capacidades de realização e de
montagem. Também capacidades de representação (embora nem sempre potenciadas,
por haver, aqui e ali, bastante improviso). Compreensão do capítulo. Bons
momentos de ironia (no tratamento contemporâneo, e à trailer, de linhas essenciais
da história do capítulo). Aspetos
melhoráveis Na leitura (em off) ou em certos momentos da representação, houve
pouco ensaio ou pouco escrutínio dos melhores takes (embora o estilo de
improviso seja quase assumido, e por isso aceitável, já que se trata, até certo
ponto, de mostrar um filme em processo de construção, era preferível evitar as
hesitações mais óbvias, reservando o lado paródico à própria intriga). Esta
falta de vigilância no acabamento, mostra-se também no facto de o final ser
abrupto (creio que se esqueceu algum trecho na montagem). Na oralidade: «Maias»
saiu «Meias» (por acaso fazia-se uma boa paródia a partir desta troca: «Os
Meias» com aqueles fantoches confecionados com meias).
Nuno (11.º 9.ª)
Nuno
(Bom-) Pontos fortes Estilo de
leitura foi bem escolhido (o que não significa que a fluência fosse sempre
impecável ou que não houvesse entoações discutíveis — mas o «tom» foi o
indicado). Na redação da carta, inicialmente, apropriada; creio que, a partir
de certo momento, se exagera no fraseado entrecortado, exclamativo (era
preciso, então, termos um Ega menos emocional e, por exemplo, ver alguma da sua
ironia ou criatividade, em trechos um pouco mais complexos). Aspetos melhoráveis Na escrita: «e é à
família Maia que desaba esta tragédia» (e é sobre a família Maia que desaba
esta tragédia); «peço que lhe faça isso por mim» (peço-lhe que faça isso por
mim); «também o relembro que» (também lhe lembro que /também o relembro de que);
«João de Ega» (João da Ega). Na oralidade: cerca de 1.45, tentativa de expressividade
não resulta bem.
Inês (11.º 3.ª)
Inês (Suf+/Bom-
ou Bom-) Pontos fortes Leitura em
voz alta até talvez meio da gravação (até aí, a expressividade é conseguida, é
a de que está a monologar; depois, na segunda parte, a leitura fica mais
mecânica, e passamos a perceber que há um texto que está a ser lido (e que
talvez pudesse ter sido mais ensaiado). Texto: cerzindo fragmentos do original
fez-se uma transposição verosímil para um monólogo (nem tanto «diário») de
Carlos. Aspetos melhoráveis Podia
haver alguma imagem que ilustrasse a gravação. Na escrita: «O seu amor me entra
na alma» (O seu amor entra-me na alma); «disse-me que um tal Vilaça» (seria
Guimarães?). Na oralidade: não se percebe o verbo antes de «que nos encontrássemos»;
«por um motivo supremo de dignidade e de razão» surge repetido (propositadamente?).
Alexandre F. (11.º 4.ª)
Alexandre F. (Suficiente -) Pontos fortes Ter
o trabalho sido entregue (e, por fim, já não desconjuntadamente), mostrando
sentido de compromisso da parte do Alexandre. Esperança minha de que o livro
tenha sido efetivamente lido, mesmo se não há interpretação mas, sobretudo,
resumo um tanto mecânico. Aspetos
melhoráveis Devia ter-se fugido à abordagem em termos apenas narrativos
(creio que nas instruções já sugeria isso); mas, adotando-se esse formato, de
mero resumo, haveria que escrever e ler com mais rigor (parece que texto poderia
ser mais elaborado, evitando a mera justaposição de acontecimentos, e leitura
em voz alta não foi muito ensaiada, havendo hesitações e velocidade exagerada, sobretudo
à medida que nos aproximamos do final). Na escrita: «a difícil tarefa de chegar
a Carlos» (a difícil tarefa de fazer chegar a Carlos); «dizer tal notícia» (dar
tal notícia); «vai ter com Vilaça para o ajudar» (vai ter com Vilaça,
pedindo-lhe ajuda); «onde mais tarde
se encontrara com Carlos em Santa Olávia»
(não faz sentido o «onde» nem o mais-que-perfeito); a frase cerca de 0.40 tem
problemas (e note-se que Afonso não poderia admitir que Maria Eduarda era «sua
irmã direta», mas sua neta [o referente de «sua», eu percebo, era «Carlos», só
que esse antecedente está demasiado longe]).
Maria
Inês (11.º 4.ª)
Maria Inês (entre Bom+ e Bom+/Muito Bom-) Pontos fortes Sentido poético, artístico, revelado na abordagem seguida. Consegue-se, pelo texto, pelas imagens, pela música, um registo estético equivalente ao da obra literária, apesar de se tratar de criação pessoal, original. Num filme que é relativamente curto (1.56), houve investimento criativo em várias áreas, todas elas tratadas sofisticadamente: nas imagens (o cenário, a representação pela autora, a troca por manequim mais ou menos mutilado, a luz intermitente do candeeiro na mesa de cabeceira, o contraste das cores iniciais com o preto e branco sequente); no texto, que é complexo e evita a linguagem corrente; na música, coerente com o que se lê e vê (o «era» inicial parece até coordenado com a música). Leitura em voz alta. Aspetos melhoráveis Na escrita: a coesão temporal, não tendo erros propriamente, ganhava em aproveitar as seguintes trocas: em vez do presente, o imperfeito (o que resta > o que restava; serve > servia); em vez do futuro, o condicional (que jamais se irá > que jamais se iria); em vez de alguns pretéritos perfeitos, o mais-que-perfeito (foi > fora; sobrou > sobrara; tornou-se > tornara-se). Hesito quanto a «foi tornado» (tornou-se; transmutou-se [em]) e «foi dissipado» (dissipou-se). «Metamorfoseados» é melhor do que «metamorfizados» (mas admito que em Biologia se use a última forma. Será?). Na oralidade: «Outrora» saiu «Outr[ô]ra» mas é aberta a vogal («Outr[ó]ra»); pronúncias de «no mundo» e de «pretrificado» ficaram pouco claras
Maria Inês (entre Bom+ e Bom+/Muito Bom-) Pontos fortes Sentido poético, artístico, revelado na abordagem seguida. Consegue-se, pelo texto, pelas imagens, pela música, um registo estético equivalente ao da obra literária, apesar de se tratar de criação pessoal, original. Num filme que é relativamente curto (1.56), houve investimento criativo em várias áreas, todas elas tratadas sofisticadamente: nas imagens (o cenário, a representação pela autora, a troca por manequim mais ou menos mutilado, a luz intermitente do candeeiro na mesa de cabeceira, o contraste das cores iniciais com o preto e branco sequente); no texto, que é complexo e evita a linguagem corrente; na música, coerente com o que se lê e vê (o «era» inicial parece até coordenado com a música). Leitura em voz alta. Aspetos melhoráveis Na escrita: a coesão temporal, não tendo erros propriamente, ganhava em aproveitar as seguintes trocas: em vez do presente, o imperfeito (o que resta > o que restava; serve > servia); em vez do futuro, o condicional (que jamais se irá > que jamais se iria); em vez de alguns pretéritos perfeitos, o mais-que-perfeito (foi > fora; sobrou > sobrara; tornou-se > tornara-se). Hesito quanto a «foi tornado» (tornou-se; transmutou-se [em]) e «foi dissipado» (dissipou-se). «Metamorfoseados» é melhor do que «metamorfizados» (mas admito que em Biologia se use a última forma. Será?). Na oralidade: «Outrora» saiu «Outr[ô]ra» mas é aberta a vogal («Outr[ó]ra»); pronúncias de «no mundo» e de «pretrificado» ficaram pouco claras
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