Sunday, September 16, 2012

Os Maias 17


Raffaella (11.º 6.ª)



Raffaella (Bom (-)) Pontos fortes Leitura em voz alta percebe-se ser bastante segura (oiço apenas uma hesitação cerca de «duvido», aos 0.40), estar na velocidade certa e com as entoações corretas. Também a escrita não mostra falhas relevantes (ver só as que aponto em baixo), sendo a carta redigida verosímil, usando-se registo de linguagem certo e mostrando-se conhecimento da obra. (Talvez a Raffaella pudesse ter arriscado um pouco mais, criando uma situação mais exigente, mas não foi esse o escopo deste filme.) Aspetos melhoráveis Há um «OK» (0.35), que escapa ao registo adotado (esse sim, em geral, adequado, como já disse em cima). Ressonância (que me lembra a de certo Frei Luís de Sousa na Igreja de Santa Engrácia) prejudica a exata compreensão de alguns pormenores do texto (por exemplo, no que digo a seguir, sobre a escrita, posso ser eu a não ter descodificado bem; aos 0.10, será «Noite passada» ou «Na noite passada»?). Na escrita: «possui todos os documentos que o provem» (provam); «está confirmado que ceder-te-ei» (está confirmado que te cederei [a subordinação obriga a que o pronome se anteponha ao verbo]). Repetindo o que fui dizendo em outros trabalhos: preferia que não se tivesse usado imagem da telenovela brasileira (aliás, neste caso, para corresponder a Maria Eduarda, conviria que a retratada fosse loura).



Inês B. (11.º 4.ª)





Inês B. (Bom/Bom (-)) Pontos fortes Boa compreensão do ritmo e dos ingredientes do género ‘trailer’ e domínio de diversos recursos técnicos que ele exige (sobretudo ao nível do som e, em geral, da montagem). É verdade que um dos requisitos do trabalho que lhes pedia fica bastante comprometido dado o formato escolhido, já que o trailer não implica tanto discurso oral como conviria que houvesse (admito que se pudesse ter sido um pouco mais descritivo/narrativo, sem prejudicar demasiado o estilo liminar que deve ter um trailer). Leitura em voz alta sem falhas (mas havia pouco texto...). Aspetos melhoráveis Como já tenho dito nos comentários a outros trabalhos, devia ter-se fugido a usar imagens da telenovela brasileira (inspirada nos Maias e, salvo erro, na Relíquia). De certo modo, é menorizar um livro, dar esta importância toda a um seu subproduto (coitado do Eça!). Na legenda inicial, Os Maias deveria estar em itálico (e não entre aspas); «trailer» está com um ele a mais.





João F. (11.º 6.ª)





João F. (Bom + ou mesmo cerca de Bom+/Muito Bom-) Pontos fortes Boa associação entre compreensão da obra, criatividade, gosto e capacidade de execução (em termos linguísticos e em termos técnicos). As imagens originais de Santa Apolónia, a música e o texto conjugam-se bem e são, objetiva e poeticamente, muito apropriados à situação que se desenvolveu. Escrita e leitura em voz alta sem incorreções. Aspetos melhoráveis Som do texto lido, por vezes, esconde-se um pouco atrás da música e de certa tendência de João (que é a de todos os lisboetas) para comer vogais. Na escrita: «que hesita a recebê-lo» (que hesita ao recebê-lo; que hesita em recebê-lo); «em vez de lhe contar a verdade» («lhe» tem como referente Afonso? Estaria demasiado longe da anáfora. Reporta-se a maria Eduarda? Também não pode ser, porque ela é tratada na 2.ª pessoa ao longo da carta).




Miguel M. (11.º 1.ª)





Miguel M. (Bom) Pontos fortes Originalidade e criatividade. Sentido da estrutura, do ritmo, de um filme. Capacidades de realização e de montagem. Também capacidades de representação (embora nem sempre potenciadas, por haver, aqui e ali, bastante improviso). Compreensão do capítulo. Bons momentos de ironia (no tratamento contemporâneo, e à trailer, de linhas essenciais da história do capítulo). Aspetos melhoráveis Na leitura (em off) ou em certos momentos da representação, houve pouco ensaio ou pouco escrutínio dos melhores takes (embora o estilo de improviso seja quase assumido, e por isso aceitável, já que se trata, até certo ponto, de mostrar um filme em processo de construção, era preferível evitar as hesitações mais óbvias, reservando o lado paródico à própria intriga). Esta falta de vigilância no acabamento, mostra-se também no facto de o final ser abrupto (creio que se esqueceu algum trecho na montagem). Na oralidade: «Maias» saiu «Meias» (por acaso fazia-se uma boa paródia a partir desta troca: «Os Meias» com aqueles fantoches confecionados com meias).





Nuno (11.º 9.ª)





Nuno (Bom-) Pontos fortes Estilo de leitura foi bem escolhido (o que não significa que a fluência fosse sempre impecável ou que não houvesse entoações discutíveis — mas o «tom» foi o indicado). Na redação da carta, inicialmente, apropriada; creio que, a partir de certo momento, se exagera no fraseado entrecortado, exclamativo (era preciso, então, termos um Ega menos emocional e, por exemplo, ver alguma da sua ironia ou criatividade, em trechos um pouco mais complexos). Aspetos melhoráveis Na escrita: «e é à família Maia que desaba esta tragédia» (e é sobre a família Maia que desaba esta tragédia); «peço que lhe faça isso por mim» (peço-lhe que faça isso por mim); «também o relembro que» (também lhe lembro que /também o relembro de que); «João de Ega» (João da Ega). Na oralidade: cerca de 1.45, tentativa de expressividade não resulta bem.





Inês (11.º 3.ª)





Inês (Suf+/Bom- ou Bom-) Pontos fortes Leitura em voz alta até talvez meio da gravação (até aí, a expressividade é conseguida, é a de que está a monologar; depois, na segunda parte, a leitura fica mais mecânica, e passamos a perceber que há um texto que está a ser lido (e que talvez pudesse ter sido mais ensaiado). Texto: cerzindo fragmentos do original fez-se uma transposição verosímil para um monólogo (nem tanto «diário») de Carlos. Aspetos melhoráveis Podia haver alguma imagem que ilustrasse a gravação. Na escrita: «O seu amor me entra na alma» (O seu amor entra-me na alma); «disse-me que um tal Vilaça» (seria Guimarães?). Na oralidade: não se percebe o verbo antes de «que nos encontrássemos»; «por um motivo supremo de dignidade e de razão» surge repetido (propositadamente?).





Alexandre F. (11.º 4.ª)





Alexandre F.  (Suficiente -) Pontos fortes Ter o trabalho sido entregue (e, por fim, já não desconjuntadamente), mostrando sentido de compromisso da parte do Alexandre. Esperança minha de que o livro tenha sido efetivamente lido, mesmo se não há interpretação mas, sobretudo, resumo um tanto mecânico. Aspetos melhoráveis Devia ter-se fugido à abordagem em termos apenas narrativos (creio que nas instruções já sugeria isso); mas, adotando-se esse formato, de mero resumo, haveria que escrever e ler com mais rigor (parece que texto poderia ser mais elaborado, evitando a mera justaposição de acontecimentos, e leitura em voz alta não foi muito ensaiada, havendo hesitações e velocidade exagerada, sobretudo à medida que nos aproximamos do final). Na escrita: «a difícil tarefa de chegar a Carlos» (a difícil tarefa de fazer chegar a Carlos); «dizer tal notícia» (dar tal notícia); «vai ter com Vilaça para o ajudar» (vai ter com Vilaça, pedindo-lhe ajuda); «onde mais tarde se encontrara com Carlos em Santa Olávia» (não faz sentido o «onde» nem o mais-que-perfeito); a frase cerca de 0.40 tem problemas (e note-se que Afonso não poderia admitir que Maria Eduarda era «sua irmã direta», mas sua neta [o referente de «sua», eu percebo, era «Carlos», só que esse antecedente está demasiado longe]).




Maria Inês (11.º 4.ª)
 


Maria Inês  (entre Bom+ e Bom+/Muito Bom-) Pontos fortes Sentido poético, artístico, revelado na abordagem seguida. Consegue-se, pelo texto, pelas imagens, pela música, um registo estético equivalente ao da obra literária, apesar de se tratar de criação pessoal, original. Num filme que é relativamente curto (1.56), houve investimento criativo em várias áreas, todas elas tratadas sofisticadamente: nas imagens (o cenário, a representação pela autora, a troca por manequim mais ou menos mutilado, a luz intermitente do candeeiro na mesa de cabeceira, o contraste das cores iniciais com o preto e branco sequente); no texto, que é complexo e evita a linguagem corrente; na música, coerente com o que se lê e vê (o «era» inicial parece até coordenado com a música). Leitura em voz alta. Aspetos melhoráveis Na escrita: a coesão temporal, não tendo erros propriamente, ganhava em aproveitar as seguintes trocas: em vez do presente, o imperfeito (o que resta > o que restava; serve > servia); em vez do futuro, o condicional (que jamais se irá > que jamais se iria); em vez de alguns pretéritos perfeitos, o mais-que-perfeito (foi > fora; sobrou > sobrara; tornou-se > tornara-se). Hesito quanto a «foi tornado» (tornou-se; transmutou-se [em]) e «foi dissipado» (dissipou-se). «Metamorfoseados» é melhor do que «metamorfizados» (mas admito que em Biologia se use a última forma. Será?). Na oralidade: «Outrora» saiu «Outr[ô]ra» mas é aberta a vogal («Outr[ó]ra»); pronúncias de «no mundo» e de «pretrificado» ficaram pouco claras

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