Os Maias 16
Marta & Miguel D. (11.º
4.ª)
Miguel D. & Marta
(Muito Bom) Pontos fortes Conceção da
adaptação, articulando momentos de encenação de diálogos próximos dos do
romance e representação de depoimentos de personagem (um pouco como em certos
tipos de documentários biográficos, quase docu-dramas — neste caso, as reflexões
de Ega permitem resumir e explicar, ajudando a resolver uma das dificuldades que
põe a transposição da prosa narrativa para teatro/cinema). Ainda no âmbito da
criação, o final alternativo (que fixa um crescendo de leve ironia, que já se
entrevia nos depoimentos), à bengalada. Caracterização, adereços, cuidado na
forma de dizer o texto, cenário (é mesmo a zona da Rua Nova da Trindade e
imediações no Chiado), e, enfim, a realização em geral, tornam tudo realista.
Lettering dos slides, escolhido com bom gosto. Aspetos melhoráveis Apesar da boa representação, a figura de
Guimarães, por razões óbvias — a dificuldade de caracterizar Marta como o velho
revolucionário tio do Dâmaso — não sai verosímil. Talvez se pudesse seguir uma
de duas estratégias: (i) assumir a personagem como paródica (pareceu-me às
tantas que a barba vimaranense era creme de barba ou chantili — seria um
exemplo de ingrediente para essa brincadeira com o original); (ii) criar uma
personagem funcionalmente idêntica a Guimarães mas que pudesse ser representada
por uma rapariga (bastaria inventar uma Madame de Braga). As pronúncias de «Loreto»
(por Miguel) e de «Pelourinho» (por Marta) não saíram perfeitas: ambos os [ô]
(ou [ô] e [u]) parecem soar [a] (isto é [α]).
Gonçalo V. (11.º 4.ª)
Gonçalo V. (Bom (+))
Pontos fortes Ideia (simples,
inteligente) e sua concretização (eficaz, com concisão e bom acabamento). Leitura
em voz alta, das partes propriamente do Gonçalo (pode parecer demasiado
sincopada, controlada, mas é assim mesmo que deve ler um apresentador de rádio;
talvez sugerisse apenas um ligeiro acréscimo de vivacidade; e não houve erros).
Domínio técnico (quando se trata de gerir várias fontes de som, nem sempre se
consegue uma nivelação satisfatória, problema que me parece bem ultrapassado). Aspetos melhoráveis Nos créditos, Os Maias deveria estar em itálico.
Talvez valesse a pena, nestas legendas finais, pôr a referência dos três
excertos usados, por ser um bom princípio académico e por ser útil a quem, mais
ingénuo, não percebesse o processo paródico (a recitação do «Manifesto Anti-Dantas»,
de Almada Negreiros, por Mário Viegas; a composição de Beethoven; a intervenção
do deputado ... [Mendes Bota?]).
Karim
& João Almendra (11.º 6.ª)
Rui (11.º 1.ª)
Rui (11.º 9.ª)
João (11.º 3.ª)
João Almendra &
Karim (Suficiente) Pontos fortes A ideia de comentar (em
termos mais analíticos) uma primeira parte do trabalho (neste caso, o trailer),
ainda que depois esse comentário ficasse curto (anagnórise é bem apontada;
argumento do preto e branco é discutível: na época em causa não havia cinema a
cores mas também ainda não havia cinema...; não sei se uma das características
de Os Maias é mesmo o suspense ou o
mistério). Cuidado a cumprir o prazo. Aspetos
melhoráveis Ambos os autores costumam ser cumpridores das tarefas combinadas
e pontuais a entregá-las, são habitualmente rápidos e tendem a ser sintéticos, o
que, por vezes, os leva a serem um pouco precipitados. Creio que foi o caso. Podiam
ter desenvolvido mais a ideia, aumentando a extensão do próprio trailer e do comentário
sobre ele. Nas instruções sobre esta tarefa pedia-se um tempo suficiente de
texto oral, que ficou muito longe de ser atingido. Assim, é difícil avaliar a
leitura em voz alta: não há falhas na curtíssima intervenção de João; a de
Karim também não tem falhas clamorosas («requiem» deve ser dito como
proparoxítona), mas parece-me um pouco insegura. O nível de elaboração também é
parcimonioso. Enfim, esperava que investissem mais tempo nesta tarefa (dou
exemplo: em vez de aproveitarem os retratos de personagens da telenovela
brasileira, teria sido relativamente fácil tentarem uma rápida caracterização
vossa enquanto Carlos, Guimarães, Alencar, Ega, Afonso, pedirem a alguma colega
para a retratarem como Maria Eduarda, e usarem antes essas imagens).
Rui (11.º 1.ª)
Rui
(Bom (+))
Pontos fortes Simplicidade da ideia
(que resulta efetivamente) e boa execução técnica desse plano (incluindo a
redação enquadradora no contexto de um programa de televisão). Boa leitura em
voz alta, sem erros (ligeira hesitação após «atribulada»), embora se possa
dizer que o registo de locução de programas de televisão seria mais
empertigado, mais eufórico. Bom acabamento do conjunto (digamos assim: trabalho
limpo). Aspetos melhoráveis Texto
resume bem a intriga, mas poderia ser mais rico (arriscando para além da simples
síntese — é certo que há a menção dos descendentes, bisnetos, Miguel da Ega e
João Vilaça). A própria extensão do filme é relativamente económica (cerca de
um minuto com texto apenas).
Rui (11.º 9.ª)
Rui
(Bom)
Pontos fortes Texto da página de
diário consegue resumir a intriga e, ao mesmo tempo, adotar um estilo coloquial,
verosímil, que não se confunde, como já vi em outros casos, com a reprodução
preguiçosa de sínteses de sebenta. Em parte, isso é conseguido porque o estilo
é de monólogo intimista oral, mais do que diarístico escrito. Leitura em voz
alta resolve bem as principais dificuldades de um texto assim (com pequenas
interrogações, suspensões, etc.), embora um pouco menos de velocidade fosse talvez
aconselhável. Aspetos melhoráveis Na
oralidade: não percebo as palavras em «É ? que esteja a acontecer tal coisa»;
«e com valores de ?». Na escrita: «*constatou-me todos os factos aquele velho»
(confirmou-me); na «didascália» final não pode haver vírgula entre «Este diário»
(sujeito) e «foi encontrado» (verbo que inicia o predicado); em vez de «chamada
de Ramalhete» (brasileirismo), «chamada Ramalhete».[Comentário proximamente]
João (11.º 3.ª)
João (Bom/Bom(-))
Pontos fortes Situação criada (que
altera todo o desfecho, de capítulo e de obra, e é paralela ao desfecho da
narrativa dos amores Pedro/Maria). Esse texto, transgredindo o original, revela
inteligência e aparente da obra. Música bem coordenada com o relato.
Leitura em voz alta quase sem falhas. Aspetos
melhoráveis Em trabalhos de outros colegas já fui torcendo o nariz à
escolha de imagens da telenovela brasileira inspirada nos Maias (e na Relíquia,
salvo erro). Na escrita: o pretérito mais-que-perfeito ainda não está bem
dominado («Maria Eduarda tivera ficado» [tinha ficado; ficara]; «o papel tivera
voado» [voara; tinha voado]; «não fora algo que ele entendesse» [não era]);
«estava a organizar a sua casa e aqueles documentos pertenciam lá» (pertenciam
a ela / deviam ficar lá). Na oralidade: «Para o Vilaça | Não Abrir» exige pausa
(ou então será «para o Vilaça não abrir», o exato contrário).
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