Os Maias 15
Inês C. & João R.
(11.º 1.ª)
João R. & Inês C.
(Muito Bom) Pontos fortes Qualidade do texto criado
(como se sabe, Fradique Mendes foi escritor inventado por Eça e amigos, brincadeira
heteronímica antes de Pessoa; ora o recurso a esta personagem-autor permite que
surja uma série de considerações de teoria literária pertinentes sem se cair
numa abordagem de sebenta, de manual). Conhecimento da obra (num grau que
ultrapassa o estudo pontual escolar) e convocação de elementos fora da estrita
análise do romance (além do de Fradique, o aproveitamento da génese da obra,
com alusão à Tragédia da Rua das Flores,
antetexto de Os Maias). Estilo
gráfico (com bom gosto e, por nebuloso ou fantasmático, apropriado à estratégia
que se adotava). Rigor (tudo foi tratado com cuidado, não se desvalorizaram
quaiquer pormenores). Não haver falhas na leitura em voz alta-representação,
num texto que não era curto nem fácil. Aspetos
melhoráveis Leitura de João, embora muito fluente, é precisamente demasiado
fluente aqui e ali (repetindo-me: lisboeta, «comedora de sílabas»). Do ponto de
vista da capacidade imitativa (de representação), o João, nos seus melhores
momentos, até talvez tenha sido mais eficaz que a Inês. A Inês é muito correta
na transmissão do texto, não faz erros nem erra a «pontuação», mas, em termos
de entoação, nem sempre consegue tão completa naturalidade (um ligeiro overacting em algumas sequências). Aos
cinco minutos exatos, o «lhe criaste» implica uma forma de tratamento que é
incoerente com o tratamento de 3.ª pessoa usado antes por Dâmaso. O último
slide deveria Os Maias em redondo, para
contrastar com o aparente itálico do resto da frase, mas é provável que a fonte
da letra não fizesse distinção de ênfase. No primeiro slide «criação» escusava
de ficar com maiúscula.
Ana Marta & Leonor
(11.º 3.ª)
Leonor & Ana Marta (Muito Bom)
Pontos fortes Idealização, argumento e
realização do filme. O formato foi bem escolhido e conseguiu-se uma imitação fiel
deste género de programas. A prova disso é que a nossa interpretação pode ser
enquanto leve paródia (com a inteligência de não terem forçado a caricatura)
mas também quase como pastiche (cópia bastante realista). Teria sido muito mais
fácil, e menos meritório, fazerem as autoras uma assumida paródia descabelada.
Esta capacidade de aproveitarem o máximo do género que adoptam assenta na qualidade
do texto (verosímil; aproveitando a intriga no que havia de aproveitável e ajustando-a
com habilidade às necessidades da situação criada, dominando bem o registo
linguístico conveniente), na qualidade da representação (perdoar-se-á que
destaque a de Leonor, cujo papel era mais difícil), na boa montagem. Aspetos melhoráveis Um «acerca» dito
por Marta deveria ser pronunciado com [a] aberto ([a]cerca). Na última fala de
Maria Eduarda, «Experiências» saiu demasiado «ex» (a pronúncia da palavra
costuma ser, aproximadamente, [chpriensia]; o [eichperinsia] que ouvimos é
resultado de a Leonor estar decerto a ler o texto e fazer uma pronúncia «ortográfica»,
«ultracorreta»). Talvez haja sintaxe corrigível (por exemplo: «é dos momentos
em que me recordo melhor» ficaria «é dos momentos de que me recordo melhor»),
mas podemos sempre aceitar que se tratava de imitar personagens em entrevista, que,
portanto, usam uma gramática oral, com regras diferentes da da escrita. Se
falassem com a sintaxe típica da escrita, pareceriam artificiais. Há oscilação
entre o uso da 2.ª pessoa («Conta-nos como foram os teus tempos no convento») e
a 3.ª («E o pai da sua filha?»), que aliás não é impossível também neste tipo
de diálogos (o entrevistador tem de parecer mais próximo do entrevistado do que
é na verdade, arriscando um «tu» de que, traindo-se, se esquece depois de vez
em quando).
Marta V. & Cláudia (11.º 3.ª)
Cláudia & Marta V.
(Muito Bom(-)) Pontos
fortes Leitura em voz alta (muito boa a de Marta, aliás extensa e difícil,
também bastante bem a de Cláudia, embora com menor grau de dificuldade). Pertinência
do estilo e do registo linguístico do texto escrito criado. Cuidado, gosto, sofisticação,
em todo a parte musical e, em geral, com o som. Do mesmo modo, apuramento
estético na seleção de imagens (embora, neste caso, tenha dúvidas quanto ao uso
de slides ilustrativos do que se vai dizendo: admito que momentos em que fôssemos
deixados só com o texto lido e o filme do ato de escrever a carta não fosse
solução pior). Aspetos melhoráveis
Na escrita: «sempre foi» (preferível: «sempre
fora»); «o inevitável estaria para acontecer» (preferível: «o inevitável estava
para acontecer»). Na legenda, quase no final, será «chegará» (e não «chegara»),
mas não tenho a certeza.
Miguel B. (11.º 4.ª)
Miguel
B. (Bom (-)/Bom)
Pontos fortes Ideia original, desenhos
criados, música escolhida. Resulta bem a estilização, a simplificação em
registo ligeiro, que se obteve pela conjugação dos retratos, do ritmo (de som
de fundo que acompanhasse um filme mudo), do resumo incisivo na escrita. Toda
essa parte implicou decerto muito trabalho, revela criatividade e está executada
com bastante perfeição (ver só duas grafias corrigíveis, de que refiro à frente).
Aspetos melhoráveis Leitura em voz
alta foi pouco ensaiada. É uma característica do Miguel que há que ir
ultrapassando: ter boas ideias que, depois, não são tão aperfeiçoadas, tão
vigiadas, quanto mereciam ser (embora já se note progresso no sentido de maior
revisão: os trabalhos já me estão a chegar e já não vêm aos bocados). Há hesitações
no que se vai lendo e, sobretudo, um erro forte: «Dâmaso» é palavra esdrúxula (deve
ler-se ‘D[α]m[α]so’, com tónica na antepenúltima sílaba e sem que nenhum dos AA
seja aberto). Na escrita também falha, aqui e ali, a revisão: «para Carlos
limpar-lhe o sebo» (para Carlos lhe limpar o sebo [nestas subordinadas o
pronome tem de vir anteposto ao verbo]); «contou-lhes dela» (contou-lhe dela); «para
lhe lançar um duelo» parece cruzamento com a estrutura ‘lançar um desafio’
(seria: «para o desafiar para um duelo»); «lhe
levou a escrever mentiras» (o levara
a escrever mentiras), mas há várias
outras situações em que o pretérito mais-que-perfeito era mais adequado do que
o perfeito; «que, em troca, a maravilhava [...]« (este «que» não tem referente;
no fundo, era «e, em troca, ele maravilhava-a [...]»); «comprou toda a tiragem
menos dois» (comprou toda a tiragem menos dois exemplares); em duas legendas
vem «alcoólico» com um O a menos; e há momentos em que parece ter-se seguido
demasiado os resumos de sebentas (mas posso estar enganado).
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