Sunday, September 16, 2012

Os Maias 15


Inês C. & João R. (11.º 1.ª)



João R. & Inês C. (Muito Bom) Pontos fortes Qualidade do texto criado (como se sabe, Fradique Mendes foi escritor inventado por Eça e amigos, brincadeira heteronímica antes de Pessoa; ora o recurso a esta personagem-autor permite que surja uma série de considerações de teoria literária pertinentes sem se cair numa abordagem de sebenta, de manual). Conhecimento da obra (num grau que ultrapassa o estudo pontual escolar) e convocação de elementos fora da estrita análise do romance (além do de Fradique, o aproveitamento da génese da obra, com alusão à Tragédia da Rua das Flores, antetexto de Os Maias). Estilo gráfico (com bom gosto e, por nebuloso ou fantasmático, apropriado à estratégia que se adotava). Rigor (tudo foi tratado com cuidado, não se desvalorizaram quaiquer pormenores). Não haver falhas na leitura em voz alta-representação, num texto que não era curto nem fácil. Aspetos melhoráveis Leitura de João, embora muito fluente, é precisamente demasiado fluente aqui e ali (repetindo-me: lisboeta, «comedora de sílabas»). Do ponto de vista da capacidade imitativa (de representação), o João, nos seus melhores momentos, até talvez tenha sido mais eficaz que a Inês. A Inês é muito correta na transmissão do texto, não faz erros nem erra a «pontuação», mas, em termos de entoação, nem sempre consegue tão completa naturalidade (um ligeiro overacting em algumas sequências). Aos cinco minutos exatos, o «lhe criaste» implica uma forma de tratamento que é incoerente com o tratamento de 3.ª pessoa usado antes por Dâmaso. O último slide deveria Os Maias em redondo, para contrastar com o aparente itálico do resto da frase, mas é provável que a fonte da letra não fizesse distinção de ênfase. No primeiro slide «criação» escusava de ficar com maiúscula.


Ana Marta & Leonor (11.º 3.ª)



Leonor & Ana Marta (Muito Bom) Pontos fortes Idealização, argumento e realização do filme. O formato foi bem escolhido e conseguiu-se uma imitação fiel deste género de programas. A prova disso é que a nossa interpretação pode ser enquanto leve paródia (com a inteligência de não terem forçado a caricatura) mas também quase como pastiche (cópia bastante realista). Teria sido muito mais fácil, e menos meritório, fazerem as autoras uma assumida paródia descabelada. Esta capacidade de aproveitarem o máximo do género que adoptam assenta na qualidade do texto (verosímil; aproveitando a intriga no que havia de aproveitável e ajustando-a com habilidade às necessidades da situação criada, dominando bem o registo linguístico conveniente), na qualidade da representação (perdoar-se-á que destaque a de Leonor, cujo papel era mais difícil), na boa montagem. Aspetos melhoráveis Um «acerca» dito por Marta deveria ser pronunciado com [a] aberto ([a]cerca). Na última fala de Maria Eduarda, «Experiências» saiu demasiado «ex» (a pronúncia da palavra costuma ser, aproximadamente, [chpriensia]; o [eichperinsia] que ouvimos é resultado de a Leonor estar decerto a ler o texto e fazer uma pronúncia «ortográfica», «ultracorreta»). Talvez haja sintaxe corrigível (por exemplo: «é dos momentos em que me recordo melhor» ficaria «é dos momentos de que me recordo melhor»), mas podemos sempre aceitar que se tratava de imitar personagens em entrevista, que, portanto, usam uma gramática oral, com regras diferentes da da escrita. Se falassem com a sintaxe típica da escrita, pareceriam artificiais. Há oscilação entre o uso da 2.ª pessoa («Conta-nos como foram os teus tempos no convento») e a 3.ª («E o pai da sua filha?»), que aliás não é impossível também neste tipo de diálogos (o entrevistador tem de parecer mais próximo do entrevistado do que é na verdade, arriscando um «tu» de que, traindo-se, se esquece depois de vez em quando).



Marta V. & Cláudia (11.º 3.ª)





Cláudia & Marta V. (Muito Bom(-)) Pontos fortes Leitura em voz alta (muito boa a de Marta, aliás extensa e difícil, também bastante bem a de Cláudia, embora com menor grau de dificuldade). Pertinência do estilo e do registo linguístico do texto escrito criado. Cuidado, gosto, sofisticação, em todo a parte musical e, em geral, com o som. Do mesmo modo, apuramento estético na seleção de imagens (embora, neste caso, tenha dúvidas quanto ao uso de slides ilustrativos do que se vai dizendo: admito que momentos em que fôssemos deixados só com o texto lido e o filme do ato de escrever a carta não fosse solução pior). Aspetos melhoráveis Na escrita: «sempre foi» (preferível: «sempre fora»); «o inevitável estaria para acontecer» (preferível: «o inevitável estava para acontecer»). Na legenda, quase no final, será «chegará» (e não «chegara»), mas não tenho a certeza.





Miguel B. (11.º 4.ª)





Miguel B. (Bom (-)/Bom) Pontos fortes Ideia original, desenhos criados, música escolhida. Resulta bem a estilização, a simplificação em registo ligeiro, que se obteve pela conjugação dos retratos, do ritmo (de som de fundo que acompanhasse um filme mudo), do resumo incisivo na escrita. Toda essa parte implicou decerto muito trabalho, revela criatividade e está executada com bastante perfeição (ver só duas grafias corrigíveis, de que refiro à frente). Aspetos melhoráveis Leitura em voz alta foi pouco ensaiada. É uma característica do Miguel que há que ir ultrapassando: ter boas ideias que, depois, não são tão aperfeiçoadas, tão vigiadas, quanto mereciam ser (embora já se note progresso no sentido de maior revisão: os trabalhos já me estão a chegar e já não vêm aos bocados). Há hesitações no que se vai lendo e, sobretudo, um erro forte: «Dâmaso» é palavra esdrúxula (deve ler-se ‘D[α]m[α]so’, com tónica na antepenúltima sílaba e sem que nenhum dos AA seja aberto). Na escrita também falha, aqui e ali, a revisão: «para Carlos limpar-lhe o sebo» (para Carlos lhe limpar o sebo [nestas subordinadas o pronome tem de vir anteposto ao verbo]); «contou-lhes dela» (contou-lhe dela); «para lhe lançar um duelo» parece cruzamento com a estrutura ‘lançar um desafio’ (seria: «para o desafiar para um duelo»); «lhe levou a escrever mentiras» (o levara a escrever mentiras), mas  há várias outras situações em que o pretérito mais-que-perfeito era mais adequado do que o perfeito; «que, em troca, a maravilhava [...]« (este «que» não tem referente; no fundo, era «e, em troca, ele maravilhava-a [...]»); «comprou toda a tiragem menos dois» (comprou toda a tiragem menos dois exemplares); em duas legendas vem «alcoólico» com um O a menos; e há momentos em que parece ter-se seguido demasiado os resumos de sebentas (mas posso estar enganado).




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