Microfilmes autobiográficos 10.º 9.ª
Nuno (15,5) Texto/Estrutura O texto está correto. O Nuno conseguiu misturar uma perspetiva pessoal — feita de recordações concretas — com uma espécie de teoria das memórias. Houve estratégia de preencher o filme com slides diretamente correspondentes ao que se ia dizendo, mas parece-me que teria sido preferível aproveitar apenas as fotografias do arquivo pessoal ou familiar, mesmo que não fosse possível fazer sempre associação concreta a uma dada imagem. Há uma falha de sintaxe: «aqueles momentos que só nos lembramos deles» deveria ficar «aqueles momentos de que só nos lembramos». Expressão oral Nota-se a intenção de se ser expressivo, que se deve louvar mas que tem também alguns riscos: nos momentos de ênfase (perguntas, exclamações, frases consecutivas ou trechos mais superlativos), não se consegue evitar certa sobrerrepresentação, que é sentida como ligeiramente artificial. Notei ainda uma hesitação em «queremos mais / apagar».
Afonso
Afonso (16,8-17) Texto/Estrutura Boa ideia a da metáfora da viagem, aproveitada depois no uso das vistas tomadas a partir do percurso do autocarro como fundo do microfilme (uma imagem do presente — e de espaço — ilustra o caminho desde o passado — no tempo, portanto). Essa boa ideia foi um pouco prejudicada pelos slides que interrompem o filme da simples viagem e quebram o efeito de cruzamento a que aludi. Também o texto é bastante bom. Mas assinalo estes pontos melhoráveis: «onde já estamos muito cansados» (talvez: «quando»); nas legendas finais, «o filme foi filmado» (talvez: «feito»); Areeiro não será localidade, mas bairro ou zona. Expressão oral A leitura em voz alta é de nível inferior aos aspectos de conceção do filme referidos em cima. Afonso conseguiu ir a uma velocidade que transmite espontaneidade e a entoação é natural e bem escolhida. Porém, há alguns, digamos, tropeções e/ou zonas em que as síllabas são quase comidas por essa velocidade que se imprime (cerca de «mas sei agora» [1,30]; «não é por isso» [1.44]).
Francisco
Francisco (12) Texto/Estrutura Na verdade, não se trata de microfilme propriamente autobiográfico. É, no fundamental, um resumo de livro lido, embora precedido de uma justificação pessoal (o gosto pelos vários livros da coleção em causa). O texto ressente-se de ser sobretudo relato (o tipo narrativo, quando não pouco elaborado, acaba por parecer demasiado coloquial, simples). Gosto de ver o intertesse do Francisco por esta série inovadora de romances policiais, mas houve excessivo afastamento do que fora pedido. Pelo menos um erro de sintaxe: «a coisa mais dura pelo qual jamais passou». Expressão oral Leitura em voz alta tem várias falhas (hesitações ou pausas indevidas), que decerto poderiam ter sido evitadas com mais ensaios. E há o caso mais notório de «trans[at]lântico», a que se comeu uma sílaba.
Gonçalo
Gonçalo (15-14,8) Texto/Estrutura O título é o da tradução da canção que começa e termina o filme — «Bem-vindo à minha vida» —, o que foi um bom achado. O texto consititui um retrato não demasiasdo complexo, mas que se ouve bem e nos transmite a sensação de franqueza, de sinceridade e da calma que, à frente, será alegada como característica pessoal. Imagens mostram Gonçalo a exercitar destrezas futebolísticas (parte que não avaliarei, a não ser notando que é pior do que Cristiano Ronaldo mas talvez melhor do que Postiga), o que foi uma solução eficaz para a necessidade de ter um fundo de imagens, já que, mesmo sem o explicitar constantemente, o retrato fica logo filtrado pelo desporto predileto do autor. E eu até teria evitado os poucos slides (da net) que se sobrepõem, a certa altura, ao filme principal, embora estes se possam justificar por se reportarem a sonhos (logo, um tanto à margem do retrato propriamente dito). Expressão oral A leitura em voz alta é relativamente lenta, mas não se pode dizer que essa lentidão a torne incorreta ou indicie dificuldade em ser mais ligeiro (foi estratégia talvez defensiva, mas que não resulta mal). No entanto, notei as seguintes fragilidades: má pronúncia de um «as» em «[conjunto de experiências] às quais devemos aproveitar» (seria: «as quais»); pausas exageradas em «nascido / a» e em «dos meus sonhos / penso».
Filipe
Filipe (15) Texto/Estrutura Trata-se de autobiografia, que segue a cronologia e se centra no percurso escolar do autor. Como teria sempre de acontecer, dada a necessidade de se ser informativo, narrativo, a redação não tem grande complexidade, não é muito elaborada. A ideia de tudo subordinar às imagens («Uma vida através de imagens») era boa, mas foi pena não se ter conseguido recorrer apenas às fotografias do acervo pessoal ou familiar (por exemplo, é excelente a imagem dos dois irmãos, um com quatro anos, o outro decerto recém-nascido); como sucede em outros filmes, os slides néticos para preenchimento de alusões a vários assuntos estragam um pouco o conjunto. Expressão oral A tendência do Filipe para ir bastante lentamente, e tudo pronunciar, prejudica a naturalidade, mas temos de reconhecer que acaba por tornar mais o texto mais fácil de seguir. Porém, no início, há algumas frases que mereciam ser mais ensaiadas (e então seriam ditas com espontaneidade; por exemplo, «era o meu avô paterno que me levava e me ia buscar à creche que ficava bem perto de casa» ficou com pausas a mais).
João Pedro
João Pedro (17) Texto/Estrutura Foi uma boa ideia a de ter feito «locução em direto»: o relato é contemporâneo da ação, é todo no presente, coincidindo enunciado e enunciação. Desta opção resulta um efeito curioso, em termos da filmagem (por exemplo, ao calçar-se o autor ou quando vemos, finalmente, a sua imagem refletida no espelho) e até de som (as intervenções da mãe). Ficamos com uma sensação de facilidade de meios que, se calhar, nem é verdadeira (foi tudo simples ou a montagem é que faz que pareça ter sido tudo simples de executar?). O texto não é sofisticado, mas essa possível fragilidade está respaldada na opção realista que se tomou. Expressão oral O facto de o texto ser dito (ou, ao menos, parecer ser dito) quase de improviso impede que os parâmetros para aferir a expressão oral sejam os da leitura em voz alta. Ora, dentro do registo da representação coloquial que adota o João Pedro, nada há a criticar.
Pedro
Pedro (15) Texto/Estrutura É um autorretrato focado nos principais lazeres que Pedro tem tido, que, de certo modo, vão estabelecendo as fases de uma vida (ou seja: um autorretrato ordenato segundo momento autobiográficos). Entretanto, as imagens mostram-nos os espaços que correspondem a cada uma das actividades: o campo em frente (futebol), a sala (playstation), o quarto (colecionismo). O texto é bastante simples, sem grande risco, e, com efeito, não há erros de sintaxe (poria só «quando ele ma mostrou» [em vez de «me»]; e a frase «e desde aí a nossa amizade manteve-se» não está coerente com o trecho anterior). Na legenda do título há um «d» a mais. Expressão oral A leitura em voz alta é lenta, mas também por isso clara, e não podemos dizer que haja paragens devidas a hesitação perante as palavras. Haverá uma pausa excessiva apenas em «os meus amigos que / pertenciam à minha turma» e uma ligeiríssima demora em «até as nossas mães nos chamarem».
Sara
Sara (15,8) Texto/Estrutura O microfilme começa por ser um retrato (mais preocupado com o enquadramento, com o contexto, do que muito virado para a própria autora) e vai evoluindo para umas memórias; no final, através dos gostos, regressa-se ao género «retrato». Imagens e linguagem apontam para uma perspectiva marcada sobretudo pela amizade e pela generosidade. O texto não tem erros, embora também não assumisse grande risco em termos sintáticos. De menos correto pareceu-me só ouvir «dos amigos que gosto muito» (a que faltaria, portanto, o «de»: «de que gosto muito). Como sucede em muitos textos de retrato ou autobiográficos, surgem alguns lugares comuns («ter um bom futuro», «bons e maus momentos», «bem formados»). Em «e por mais pessoas que se afastam e se aproximam», devia estar o conjuntivo («aproximem»). Expressão oral O texto, porque era extenso, não facilitava uma leitura perfeita, sem mácula. De qualquer modo, a leitura em voz alta foi boa, embora eu tivesse preferido um estilo talvez mais ligeiro, não sei se numa aproximação mais expressiva (creio que houve o objetivo de controle da velocidade, o que, é certo, compensa em termos de fidelidade ao texto escrito e na segurança de evitar entoações difíceis). Notei apenas hesitações no ataque a «cada pessoa que se / atravessa no meu caminho», a «eles são / o meu grande apoio» e a «as letras vivem [dizem] muito das pessoas».
Zanatti
Zanatti (14-13,8) Texto/Estrutura Foi criativo o modo de fugir às repetições que acontecem em muitos textos de caráter autobiográfico: tratar da paixão pelo Sporting como se esta fosse mesmo um ser, marcando-lhe o nascimento (aquando de um convite do avô) e o desenvolvimento sequente. A montagem, recorrendo a imagens fixas — que, tratando-se de texto irreverente, não parecem forçadas —, a pequenos filmes de jogos, a um rugido, a música-hino, é eficaz. O texto é bom, conseguindo fazer ironia com sucesso (o que não é fácil). Note-se que «magnânimo» é ‘generoso’ (não é talvez a mais evidente qualidade das qualidades de João Pereira; creio que se pretendia dizer «magnífico»). Expressão oral A leitura em voz alta não acompanha o nível dos aspetos a que me reportei em cima. À medida que se vai avançando no filme, a velocidade passa a ser frequentemente excessiva, não fazendo então o Martim as entoações corretas, «comendo» umas sílabas, esquecendo pausas obrigatórias. Teria valido a pena ensaiar mais vezes a leitura.
Rita
Rita (16,3) Texto/Estrutura O retrato a que se chegou é mais original do que outros, já que a autora consegue fugir aos lugares comuns, às frases feitas. Constitui um produto coerente — em que ressalta uma aparência de simplicidade, sem «maneirismos» — a conjunção entre imagens (uma avenida a passar rápido, equivalente da metáfora «a minha vida é como um peixe seguindo a corrente do mar »), música (afirmativa) e texto (introspetivo mas desprendido). Pode talvez criticar-se que o texto não seja um pouco mais extenso ou não tenha aqui e ali outra espessura (o que aliás talvez estragasse a sensação de naturalidade a que aludi). E, no início, era escusado ler-se o título (punha-se como legenda ou omitia-se simplesmente). Expressão oral A Rita fez uma leitura em voz alta boa (ou até bastante boa), em que houve o mérito de quase se simular um monólogo representado, tal a naturalidade da entoação. É verdade que o texto, consituído por frases curtas, não punha desafios extraordinários. Há uma pausa excessiva (por vírgula demasiado lida) em «e, / citando Kurt Cobain». No final, não percebo se houve uma hesitação na última palavra pronunciada (porque o som termina abruptamente). Em geral, nota-se a característica (juvenil, lisboeta) de marcar pouco as sílabas, sem que que se tenha caído em extremos de silabofagia.
Manel
Manel (16,4) Texto/Estrutura Começa-se na 3.ª pessoa, mas adota-se logo depois a narração na primeira pessoa. O texto tem ainda outros bons achados, mostrando criatividade, gosto nos pormenores (e são raros os lugares comuns ou frases feitas). Em «mas sim o que eu me apercebia que eram por dentro», era «mas sim ao que eu me apercebia que eram por dentro». Não me parece estar bem escolhido particípio em «está decidido a uma vida muito solitária» [1.45] (seria: «está confinado»). Expressão oral É uma boa leitura em voz alta, que beneficia da agilidade com que o Manel aborda o que escreveu. Apenas falha (mas aí várias vezes) na exagerada pontuação oral dada a alguma da pontuação escrita (notei pausas excessivas depois de uns dois «ques», depois de um «e», depois de um «ou») ou até a trechos onde nem deveria haver pontuação (lembro-me de uma pausa depois de um «eu» antes de «não sou exceção»). E houve um «arranjamos»[2.18] e um «referiu [ou «referira»] aos pais» que saíram arrastados. Também não se percebe bem, por pronúncia pouco nítida, o nome do hospital onde nasceu o protagonista. Aposto que nem houve muitos ensaios da leitura, porque, apesar da destreza geral — que sabemos que o autor tem —, notam-se ligeiros entarelamentos quando se abordam zonas de sintaxe ou léxico mais arrevesados.
Miguel
Miguel (15,4) Texto/Estrutura Trata-se de uma autobiografia, organizada muito segundo o percurso escolar do Miguel, focada também nos outros (que, por assim dizer, são homenageados, com amizade e generosidade). O texto é adequado a este programa — que implica frases informativas, não muito complexas, alguns lugares comuns —, não tendo eu percebido falhas de sintaxe ou especiais deselegâncias de redação. Expressão oral O som não é facilmente audível, mas disso não curarei aqui. É uma leitura correta, mas que ainda se percebe que é mesmo leitura (o próximo passo seria tentar que o texto parecesse mais falado, mais confessado em monólogo, do que lido). Entre «primeiros passos» e «primeiras palavras» [0.16] pareceu-me haver ligeiro ‘tropeção’ (mas não oiço bem o segmento). Em «aqueles que, de certo modo, mudaram a minha vida» [0.53], a pontuação escrita que delimita «de certo modo» não tinha de ficar tão traduzida na oralidade. Em «mas já conheço pessoas para a vida» houve ligeira hesitação, tal como pouco a seguir, em «e vai ficar para sempre» [1.22].
Márcia
Márcia (17) Texto/Estrutura Trata-se de autorretrato, fugindo-se a uma abordagem linear (de simples definições convencionais), o que é boa solução. É um filme que, sobretudo nas imagens, faz deslocar o retrato para quem rodeia o retratado. O texto da Márcia não tem erros de sintaxe. Só não estará correta a expressão que funciona quase como organizadora do texto («É nisto que eu consisto»): «consistir» costuma aplicar-se a objetos, aliás a processos; por outro lado, se se trata de uma figura de estilo, também não será conveniente (precisamente, porque parece poder ser erro). Eu poria: «é isto que me define» (ou «que me caracteriza»; ou mesmo, «é assim que sou», «é isto que sou»). Muito perto do final, omitiria o último «manhã» em «amanhã de manhã, às seis horas e ? minutos da manhã». Alguns lugares comuns («milagre da vida», «vítima do sistema»). Expressão oral É uma leitura muito boa, em que não encontrei falhas (embora, por vezes, se tenha de fazer esforço para perceber tudo, já que a música está relativamente alta — não percebi as palavras em 0.32 [«acerca da minha ?»], em 1.09 [«momento ? sensibilidade extrema»]).
Daniel
Daniel (15) Texto/Estrutura Há vários estilos dentro do microfilme. E essa segmentação até é agradável, embora me pareça que o trecho final talvez fosse prescindível (já se chegara a um bom desfecho no anterior, aos 2.22: «a solução é sorrir!»). Sintaxe é simples, propositadamente simplificada, e até, por vezes, dependente das imagens que vão surgindo, o que tem efeito curioso. Mas também há falhas: «gostar» deveria exigir «de»; e faltaram os pronomes em «muitas pessoas ainda não [as] esqueci»; «algumas delas até [as] costumo encontrar». Expressão oral Dicção é boa, nítida, e alguma lentidão é geralmente propositada. A pausa em «e... a solução é sorrir» talvez seja voluntária (mas, nesse caso, devia ocorrer mais à frente: «e a solução é... sorrir»; certamente sem quere foi a pausa em «e / algumas delas até costumo encontrar» [0.31].
Tiago D.
Tiago D. (13,5) Texto/Estrutura É uma curta autobiografia. O texto do Tiago tem algumas ideias interessantes e, apesar de simples, é coerente e equilibrado. Porém, podia estar mais trabalhado (futuramente, valerá a pena rever mais e até ser menos económico no tempo do filme, na variedade das imagens). Uma correção mais concreta: em «São tempos [de] que já não me lembro» faltou a preposição. Expressão oral Leitura merecia ter sido mais ensaiada: percebe-se que o texto está a ser lido (quase: a ser reconhecido) — se houver mais repetições nos ensaios de leitura, será possível ir antecipando as dificuldades, conhecer bem a pontuação e, assim, ir lendo como se se estivesse a falar sem olhar a folha.
Scheltinga
Scheltinga (14,8) Texto/Estrutura Faz-se o contraste entre um dia de trabalho do autor (ou o começo de um dia de trabalho, para ser mais rigorosos) e o tempo de lazer. O texto é inferior ao de que o Scheltinga seria capaz — julgo que um dos problemas foi ter-se querido ir atrás das imagens e ter-se limitado a redação ao próprio comentário do que se vai vendo. Lapsos a ter em conta: em «risos que me fazem a pessoa», seria «risos que me fazem ser a pessoa»; em «aquela que mais gosto», falta a preposição («aquela de que mais gosto»). Expressão oral Há trechos em que a fala «em direto», ou improvisada, parece justificar-se, mas não talvez em todo o filme. Ora, esse registo, que é de quase conversa, natural, estende-se a todo o texto. Teria sido preferível uma locução formal, em off, lida (ou, se eftivamente se fez uma leitura, teria sido conveniente ensaiar mais vezes). Não se percebe bem o que é dito entre «ou até» e «risos» (0.12) Houve hesitação, ou pausa excessiva, em «fazer» (1.27), «lá tenho eu de / fazer as coisas» (1.47); «o meu / serviço no voleibol» (2.04).
Rui
Rui (15,8) Texto/Estrutura Rui usa registo familiar, com leve ironia, que resulta. Valia a pena ter sido um pouco menos económico (1.23 é o que demora o filme). «Fui viver para Lisboa» (teria de ser «vim» — o deítico justifica-se por ser claro, dado o resto do texto, que o contexto da enunciação é ‘hoje, Rui, Lisboa’). Num dos últimos slides, «miúdos» surge com o acento trocado (sobre o i); num dos primeiros, «microfilme» vem separado em duas palavras. «Entroncame/nto» aparece mal translineado, mas admito que tivesse sido imposição do computador. Expressão oral O autor tem facilidade na leitura em voz alta (ou na expressão oral, já que, por vezes, mal se percebe que o texto esteja a ser lido), mas esse à-vontade acaba por o levar a ser, aqui e ali, demasiado rápido. Em geral, porém, consegue-se uma leitura quase conversada, como se o locutor estivesse atento ao papel e ao que vai aparecendo em imagens, o que é bastante eficaz.
Catarina S.
Catarina S. (15) Texto/Estrutura O texto é bastante aceitável, embora se baseie em frases relativamente autónomas, não exigindo por isso uma grande elaboração. É curioso o contraste entre imagens (vistas paradas de Belém) e a música (tom épico da canção dos Coldplay), mas eu talvez advogasse um meio termo nos dois casos, de forma a aproximá-los do texto. Em vez de «Autobiografia dos meus quinze anos», talvez fosse melhor «Autobiografia aos quinze anos»; em vez de «velocidade alucinante em que a vida corre», «velocidade alucinante a que a vida corre»; por «e os passos que nela darei», «e os passos que nela der». Expressão oral Houve bastante cuidado na leitura em voz alta, parecendo-me evidente que a Catarina não se esqueceu de ensaiar. O estilo adotado foi um tanto enfático (quase teatral) — o que prejudica a naturalidade — mas beneficia a compreensão por parte do ouvinte (já que é um estilo que escande bem as palavras e as diz definidamente). Notou-se maior hesitação em «a sociedade em constantes mutações» (que, diga-se de passagem, é uma daqueles frases feitas de que podíamos prescindir).
Bárbara
Bárbara (cerca de 15,8-16) Texto/Estrutura [Farei um comentário mais detalhado à versão definitiva, já que creio que a parte final do microfilme ainda não é a definitiva.] É um autorretrato, sustentado em duas fases autobiográfica (Bárbara rezingona; Bárbara na Delfim Santos), escrito sem erros (nem grandes rasgos também). Notei este lapso: «entretia-me» é erro (terá de ser «entretinha-me», pois que «entreter», derivado de «ter», conjuga-se como este seu verbo primitivo). Expressão oral É uma boa leitura em voz alta. Não se percebe bem o texto em «a fazer tudo o que [ocorresse?] na cabeça» (0.19).
Maria
Maria (14,8) Texto/Estrutura O texto é quase coloquial, de quem está à conversa, mas talvez demasiado curto e simples, se bem que agradável de seguir. Como acontece em outros filmes com o mesmo tipo de abordagem — centrada num autorretrato por definições diretas —, surgem alguns lugares comuns («amiga do meu amigo»; «viver cada dia como se fosse o último»; ...). Em vez de «não dispensava nada em relação à minha vida», poria «não dispensava nada da minha vida»; e, em «chego à conclusão [de] que», faltou a preposição. Expressão oral Inicialmente, a leitura em voz alta de Maria foi muito rápida; depois, ao longo do filme, foi-se adaptando à velocidade ideal. Em «Por vezes / penso no que poderia mudar», a pausa depois de «por vezes» parece exagerada.
Catarina V.
Catarina V. (14,9) Texto/Estrutura Adotou-se um formato que, vistos agora os microfilmes autobiográficos todos, nos parece demasiado repetido: breve alusão aos tempos mais infantis (sempre considerados mais simpáticos do que o presente, porque a suporem menos responsabilidades), referência ao quotidiano (com a imagem da escola costumeira) e passagem aos gostos (também relativamente previsíveis). Quanto a mim, um trabalho destes aconselhava esforço de maior originalidade, tentando-se construir texto mais elaborado. É verdade que, inicialmente, este modelo não soava talvez tão repetitivo e simples — enfim, é uma desvantagem também de se ter deixado a entrega do filme para tarde. Diga-se ainda que, sem grandes ambições, o filme da Catarina é limpo, bem acabado, sem falhas linguísticas gritantes. Faço só estas correções: em vez de «os tempos que podíamos brincar o dia todo», ficaria «os tempos [em] que podíamos brincar o dia todo»; em vez de «medos e aventuras que já passei», «medos e aventuras [por] que já passei»; o trecho «eu já pertenci a esses tempos, mas agora já não» é bastante pleonástico (ao dizermos «eu já pertenci» estamos, implicitamente, a assumir que ‘agora já não pertencemos’ — a escrita e o oral formal devem ser económicos). Expressão oral Foi boa solução a leitura calma, lenta mesmo (o que torna tudo facilmente compreensível e evita dificuldades a atacar frases ou palavras mais extensas). A expressividade conseguida na parte relativa ao chocolate (1.25) lembra-nos que talvez pudesse haver mais momentos assim (isto é, quase representados). Faria uma pausa maior antes de «Havia infantário das nove às cinco»; ao contrário, houve pausa indevida entre «estão» e «demasiado ocupados» (0.32), verbo e predicativo do sujeito de um mesmo predicado nominal; tal como entre «para nos dar» e «hoje» (1.00); a pronúncia de «a única coisa» (0.20) saiu quase como «[ô]nica coisa» e, mesmo no final, «ser» aproxima-se de «s[é]r».
Tiago F.
Tiago F. (15) Texto/Estrutura O autor revela bom domínio técnico, mas nota-se que o trabalho foi terminado um pouco à pressa ou não teve os mesmos cuidados em toda a sua extensão (há zonas em que se percebe que a recolha de imagens ficou incompleta — quando aparecem imagens da net, no fundo). Quanto ao texto, mostra boa capacidade de sintetizar em poucas frases os sentimentos que quer exprimir, embora não escape completamente aos lugares comuns («a vida são dias», «aproveitar cada minuto ao máximo», por exemplo). Falhas que notei: em vez de «uma vivência de apenas quinze anos», era melhor «uma vida de...» ou «vivências de...»; a frase «A minha infância quando tinha seis anos era um miúdo muito irrequieto» teria de ser revista (parece que o sujeito vai ser «a minha infância» mas surge depois para esse efeito, embora subentendido, «eu»: «[eu] era um ...»). Expressão oral Parece-me que podia ter sido mais ensaiada a leitura, dado que o Tiago costuma ser um bom leitor em voz alta; mas, mesmo assim, não há falhas de entoação e a leitura segue um estilo muito aceitável, em ritmo apropriado.
<< Home