Monday, September 12, 2011

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Marta
«Teresa» (elementos da banda), Capitão Fausto, Gazela, 2011
Chegara mais um fim de tarde de mais um dia de férias aborrecido (durante as passadas férias de Páscoa). Enquanto arrumava o meu quarto, que tem uma enorme tendência para se desarrumar sozinho (é claro que quando digo isto às pessoas elas costumam rir-se com malícia; e eu nem percebo porquê, sendo eu tão arrumadinha!), passava uma música na rádio, que era nova para mim, mas que me chamou a atenção. E então fiz uma coisa que não costumo fazer muito, que é prestar atenção à letra das músicas. Assim, reparei que, para além de ser uma música genial por si só, tinha uma letra original e cheia de verdades.
Então não é que fala de uma tal Teresa, uma rapariga que gosta muito de receber atenção de todos. Transportei-me da situação representada pela letra que ouvia para a realidade e constatei que há, de facto, pessoas, como a Teresa, que são capazes de tudo para captar atenções. Tentam ser diferentes, para ver se conseguem sentir-se como gente. Mas será isso tão necessário? Porque será que estas “Teresas” têm tanta necessidade de provar ao mundo que existem? É que, do ponto de vista das pessoas a quem é exigida atenção, torna-se aborrecido a certo ponto, até porque lidar com pessoas absorventes durante muito tempo seguido não faz bem à saúde. E, até para as próprias “Teresas”, as atenções “fazem sentir bem, mas fazem mal” e “o vão prazer das companhias não traz sal”…
Enfim, depois de ter interrompido o processo de arrumar o quarto para esta reflexão, concluí que qualquer um de nós quer deixar a sua marca nos outros de alguma forma. A questão é que, para tal, o importante é sermos nós próprios e deixar que as qualidades das nossas personalidades se destaquem e assim deixem as tais marcas. Sem esforços desnecessários e sem absorver tudo o que seja atenção.

Miguel D.
«Lado Lunar» (Carlos Tê / Rui Veloso), Rui Veloso, Lado Lunar, 1995
Esta canção foi escolhida após um muito frustrante e sem frutos trabalho de procura de «Conchita Morales», Xutos & Pontapés no Youtube, que tinha sido a minha primeira escolha. «Lado Lunar» lembra-me um dia de Verão há pouco tempo, talvez há um ou dois anos, em que andei de jipe ao longo da Costa Vicentina. A música passou seis ou sete vezes nesse dia em várias rádios, pelo que foi a música de que me lembrei logo, a seguir a «Conchita Morales». Nesse dia, íamos parando em várias praias, vendo as paisagens, e, mesmo antes do pôr-do-sol, chegámos a Sagres. Vimos o Sol a pôr-se quando estávamos na ponta da falésia. Nessa noite jantámos numa casa de petiscos na Marina de Albufeira e dormimos na nossa casa perto de Olhos d’Água. No dia seguinte, voltámos a Lisboa e, pouco tempo depois, estávamos outra vez em aulas.
A letra de «Lado Lunar» é, a meu ver, um pouco estranha. Rui Veloso (ou, na verdade, o eu poético) começa por pedir “Não me mostres o teu lado feliz / A luz do teu rosto quando sorris”, parecendo assim um pedido de distância entre os interlocutores. Mas depressa percebemos que não é esse o caso, quando o sujeito poético diz “Faz-me crer que tudo em ti é risonho”, o que nos confunde. Existe também a referência a um “lado solar” e a um “lado lunar”. Seria de esperar que o mais desejável dos dois fosse o lado solar, mas não é isso que testemunhamos, sendo este “lado” aparentemente pernicioso à  personagem (“O teu lado solar só dura um segundo / Não é por ele que te quero amar / Embora seja ele que me esteja a enganar”). Por outro lado, o lado lunar é o objecto principal desta música (“Mostra-me o teu lado lunar”), mesmo sabendo-se que não é o “caminho” mais acertado (“Eu hei de te amar por esse lado escuro / Com lados felizes eu já não me iludo”).

Margarida
«Largar Mais» (Mafalda Veiga), Mafalda Veiga, Zoom, 2011.
Descobri esta música há relativamente pouco tempo, numa navegação na Internet. Em seguida, durante esse dia, o ritmo da canção permaneceu  na minha cabeça, fazendo com que eu a fosse procurar mais vezes e a passasse para o meu mp3. Esta música faz-me recordar os verões em que eu e a minha irmã passávamos tardes tranquilas a ouvir música em Portimão. Escolhi-a por ser pacífica, calma, e também por recordar bons momentos.
Trata-se de uma canção de amor. O sujeito poético aconselha o seu destinatário (“Meu amor”) a não ter receio de se relacionar com outra pessoa (“Sem assombros sem medo”) e a atuar apenas com os seus desejos (“Completamente tu”). Recomenda-lhe também que aproveite o presente, esquecendo o passado e não se preocupando com o futuro (“Acredita o tempo, é sempre agora”). Entretanto, o poeta torna-se obsessivo (ou apenas mais convicto do seu amor) e fecha a canção com uma declaração repetida mais de uma dezena de vezes:  Não te quero largar mais”.

Sara
«Cuidado Com As Imitações» (Sérgio Godinho), Sérgio Godinho, Era Uma Vez Um Rapaz, 1985
Ao ouvir a canção, lembro-me de quando era pequena e o meu pai costumava ouvir várias músicas do Sérgio Godinho e de como, pouco a pouco, fui adquirindo o gosto por essas canções de cujas letras ainda hoje me lembro. Ouvia-as no carro, em casa, nas férias, e o primeiro concerto a que fui foi, precisamente, um concerto deste cantor e compositor.
Hoje em dia, já quase não ouço estas músicas. Ainda tenho um CD e várias músicas no mp3, mas raramente são utilizados. No entanto, continuo a gostar das músicas de Sérgio Godinho e, principalmente, desta que escolhi. É uma música alegre. A letra fala de um homem, Casimiro Baltazar da Conceição, um nome não muito vulgar que dá um certo toque de graça à história “por detrás” da música. Este tal Casimiro era esperto e não se deixava enganar facilmente, como diz a letra: “tentava sempre não se deixar enganar”, “ era tudo menos burro”. Mas o que realmente se quer acentuar nesta música está na moral da “história”, que nos diz para não nos deixarmos influenciar pelos outros e escolher o que achamos que é certo (“cada qual faz o que melhor pensar”), porque “ser honesto não é só ser bem falante”, nas próprias palavras de Sérgio Godinho.


Daniel
“Um Contra o Outro” (? / ?), Deolinda, Dois Selos e um Carimbo, 2010

Esta canção levou-me a recuperar uma memória menos esperada da minha infância (transição infância-adolescência, mais especificamente). Era a época do Natal, num daqueles dias em que a família decide juntar-se num almoço para apreciar a existência uns dos outros. A ideia era almoçarmos na casa da nossa prima, numa região próxima de Sintra, e aproveitarmos o resto da tarde em actividades típicas desta época. Honestamente, eu não estava com muita vontade de ir. Não sei explicar exactamente o motivo. Foi simplesmente um daqueles momentos em que fazer alguma coisa não parece boa ideia. No entanto, esta hesitação desapareceu quando entrei na casa da nossa prima. Estava a tocar uma música dos Deolinda (possivelmente esta mesmo, não tenho a certeza) e ,de certa forma, comecei a gostar de estar ali.
Em relação à letra da canção em si, penso que a banda tem como objectivo transmitir três ideias ao público: a primeira, é que o mundo não vai mudar se nós não nos mexermos e que, por vezes, não damos atenção suficiente a certas coisas; a segunda está relacionada com o estilo de vida do português moderno: ficar em casa a ver televisão ou a mexer no computador, em vez de sair de casa e apreciar o mundo à sua volta; a terceira formula-se sob a forma de pergunta: será que na sociedade actual vivemos num estado constante de acção e stress e ,novamente, não reparamos no que realmente importa? Por essas razões a banda diz: “Anda, faz uma pausa, encosta o carro, sai da corrida, larga essa guerra, que a tua meta, está deste lado, da tua vida”.



Inês Miranda
«Lado Lunar» (Carlos Tê / Rui Veloso), Rui Veloso, Lado Lunar, 1995
“Lado Lunar”, de Rui Veloso, remete-me para vários episódios da minha vida. Esta música fala-nos da perfeição e de como é mais fácil gostar de uma pessoa olhando apenas para as suas qualidades. No entanto, como o cantor afirma, “toda a alma tem uma face negra”; assim, deixa claro que a perfeição é uma utopia e que para gostar verdadeiramente de alguém, seja em termos de amizade ou amor, temos de aceitar esse lado obscuro, essa face negra que todos temos. Precisamente pelo facto de todos nós termos o nosso “lado mausão”, o sujeito poético aconselha-nos a não dramatizar a situação, utilizando um eufemismo para definir essa face negra, o “lado lunar”, e diz que devemos amar alguém por esse “lado lunar”, e não pelo “lado solar”, apesar de, muitas vezes, serem as qualidades das pessoas que nos cativam e que nos enganam (“Não é por ele que te quero amar / embora seja ele que me esteja a enganar”).
Esta canção faz-me pensar numa fase da minha vida (não só em uma, pois a verdade é que lidamos diariamente com problemas relativos a atitudes causadas por esse “lado lunar”, mas especialmente nesta), em que entendi realmente o que era aceitar o lado negro de outra pessoa. Somos seres sociais e, por esse motivo, precisamos de amizades na nossa vida; o problema é quando descobrimos que todas as pessoas têm defeitos, que, mais uma vez, “toda a alma tem uma face negra” e que “nem eu nem tu fugimos à regra”. Aí sim, está o verdadeiro desafio: aprender a lidar, a conviver, a gostar, “a amar por esse lado escuro”. Uma das maiores realizações que alguém pode ter na vida é aceitar essa face de outra pessoa, pois, se não o fizermos, toda a relação com essa mesma pessoa vai ser baseada num lado solar nem sempre verdadeiro e em que podemos tropeçar. Assim, a verdade é que, se nos tornarmos amigos não só de alguém mas também do seu “lado lunar”, estaremos a construir uma relação “à prova de bala / à prova de tudo”. Não será esse o objetivo?



Mar
«Anda comigo ver os aviões» (? / ?), Os Azeitonas, Salão América, #

Esta música é uma das minhas músicas portuguesas favoritas. Gosto imenso do ritmo e da harmonia na música pois são sons muito melodiosos, mas também pela letra fantástica que a canção tem. É uma declaração de amor em que o sujeito poético está tão apaixonado que diz que, se não levar à América a sua amada, então irá trazer a América até ela, e que, se não conseguir tal feito, deverá morrer. Por isso esta canção lembra-me o amor e a paixão.
É mesmo uma música fabulosa, que oiço quando estou feliz e quando quero estar mais calma ou relaxar, pois na canção, o som da guitarra e outros instrumentos transmite uma sensação de calma muito agradável. É uma música lenta mas não em demasia. “Os Azeitonas” são uma ótima banda, com grandes músicas, mas esta é, na minha opinião, a melhor música deles.



Rita
«É p'ra amanhã» (António Variações), António Variações, 1982.

Recuo no tempo, uns seis, talvez sete anos. Ou será mais? Bem, não é importante... Vejo as árvores a aparecer e a sumir à medida que o carro preto do meu pai avança por entre as estradas sem fim, onde a luz do sol cria sombras engraçadas. Ao meu lado, tenho a Lurdinhas, com o seu grande sinal escuro, dois dedos afastado do seu nariz. No banco da frente, ao lado do pai, distraído como sempre, vai a minha mãe, com os seus cabelos claros e olhos castanho avelã. Vamos a ouvir António Variações, aliás como todas as vezes que nos dirigimos para um longo dia de piscina. Vou a cantar, para que o tempo passe mais depressa. Aborreci-me das árvores e das sombras que apreciava até então. Agora concentro-me em fazer latejar os ouvidos dos que me ouvem e estremecer os vidros do carro, com a minha voz aguda e fininha.
Voltando ao presente, aos tão desejados 15 anos que agora quero não ter. A música que ouvia naqueles dias de piscina tornou-se diferente, mudou completamente com uma visão mais atenta e cuidada da sua letra. Na altura, era apenas uma canção, uma maneira tão simples de fazer que o tempo voasse, para que pudesse chegar à piscina o mais rápido possível. Agora, tornou-se uma verdadeira lição de vida. Esta e todas as outras da figura tão peculiar, extravagante, intemporal, inédita, que era António Variações.
'É p'ra amanhã', é, na minha interpretação, uma crítica à nossa sociedade. Mais do que simples poesia, esta música  aponta para um grande defeito presente desde sempre. António Variações buscou e incorporou outras realidades e emoções humanas que pouco se abordam no mundo musical.
Nos primeiros versos ('É p'ra amanhã/ Bem podias fazer hoje/ Porque amanhã sei que voltas a adiar'), parece-me que se foca mais em tarefas , por exemplo, arrumar o quarto, lavar a gaiola do hamster ou fazer este trabalho de português, que, por preguiça, vamos adiando, deixando sempre para amanhã e para depois, cientes de que o tempo está do nosso lado.
Nos versos seguintes, refere-se mais à aventura da vida: 'Bem podias viver hoje/Porque amanhã quem sabe se vais cá estar'. Muitas vezes (na maior parte delas), vamos adiando as oportunidades que a vida nos dá de lutar pelos nossos sonhos, mas o receio de a enfrentar sobrepõe-se à vontade de concretizá-los e, quando damos por nós, já é tarde de mais: 'Quando pensares no tempo que perdeste/Então tu queres mas é tarde demais'.
O tempo é escasso («E tu bem sabes como o tempo foge») e, por esta mesma razão, devemos aproveitar cada segundo para fazer o que temos a fazer, dizer o que temos a dizer, aproveitar o que temos a aproveitar, no fundo, viver o que temos a viver. 'Eu faço amanhã', 'Ainda tenho tempo'; quem já não disse isto? Quem não se revê nesta letra de António Variações? 'Ninguém' é a resposta.


Catarina N.
«Rosa Sangue» (Mariza Liz / Tiago Pais Dias), Amor Electro, Cai o Carmo e a Trindade, 2011

“Rosa Sangue”… um nome mais do que sugestivo. Quando ouvi pela primeira vez a canção, estremeci. Apressei-me a agarrar num lápis, porque tinha milhares de histórias na cabeça. Esta canção tivera o poder de fazer vergar uma profunda crise de inspiração que me tolhia havia semanas e não havia um momento a perder. Lembro-me de estar na sala, agitada, roendo as unhas, porque o lápis não era suficientemente rápido e as ideias voavam à velocidade da luz. Lembro-me de, no meu inconsciente, me estar a perguntar por que carga de calhaus a cantora, Mariza Liz, usava umas collants enfiadas na cabeça durante o vídeo todo. Lembro-me que nunca mais queria parar de escrever e que, de repente, já era tarde de mais e as ideias haviam voado de vez. Mas algumas tinham ficado no papel… e a letra também.
“Ninguém te vai parar, perguntar... / Fazer saber... Porquê?” Mariza Liz grita-nos bem alto ao ouvido: “Aperta, trai, morde, engana a sorte, cai”, porque a vida é feita de quedas, porque a vida é mais do que injusta, é cruel e não espera por ninguém. Temos de lutar, “enganar a sorte”, arranhar até atingir aquilo que queremos. A força de vontade é crucial para chegar aos sonhos; desistir não é nem nunca foi solução para nenhum problema. “Rosa Sangue” diz-nos que devemos enfrentar as perdas, guardar no coração as dores e as desilusões, rasgar o arrependimento e os remorsos. Abrir os olhos ao futuro, abraçar o mundo e dar a mão aos outros. “Cala o desespero”, segue em frente, canta Mariza Liz. A vida promete-te mentiras vazias, seduz-te com histórias da carochinha, “fala-te ao ouvido”, murmurando juras ocas de sorrisos e felicidade, e tu dizes que sim, finges acreditar, porque és um fingidor, “dobras a dor” e, de “rosa sangue ao peito” “nasces tu”, um lutador fingidor enganado e enganando, desfeito e refeito. Um lutador de destino traçado, consumido pelas promessas, por vidas que nunca existiram, pelo desespero ensanguentado. Um lutador… de “rosa sangue ao peito”.



Alexandre C.
«Não há Estrelas no Céu» (Carlos Tê / Rui Veloso), Rui Veloso, Mingos & Os Samurais, 1990

A música «Não há Estrelas no Céu» de Rui Veloso faz-me recordar um episódio que ocorreu em 2005. Estava com a minha família a passear na zona de Cascais. Estávamos no carro e, a certa altura, comentámos o facto de, apesar de estarmos numa zona sem prédios, vermos poucas estrelas no céu. Por pura coincidência, passado cerca de dez minutos após termo-lo referido, começou a dar a música na rádio.
Analisando agora a letra, na minha opinião, esta canção é muito diferente da grande maioria dos poemas de canção, devido ao facto de a sua letra ser muito realista. O sujeito poético é uma pessoa comum, num mundo muito próximo daquele que é, para nós, o mundo real: um mundo no qual, apesar de se “ter a chave de casa para entrar” e “uma nota no bolso pr’a cigarros e bilhar”, ter que se “encarar o futuro com borbulhas no rosto”. Não fala de paraísos, não tem tiradas épicas nem amores não correspondidos. Aqui, ele é uma pessoa como nós, um adolescente (“Ser jovem não é um posto / Ter de encarar o futuro / Com borbulhas no rosto”) que vive num mundo urbano (“perdido nas avenidas (…)”) e que fala acerca da solidão em que vive (“sinto-me sempre sozinho”), o que até contrasta com o ritmo alegre e dinâmico da música.
Em vários versos, o sujeito poético lamenta a imprevisibilidade da vida (“Tão depressa o sol brilha como a seguir está a chover”) e o facto de tudo ser incerto (“Porque é que tudo é incerto? Não pode ser sempre assim”). O verso principal e que dá nome à canção (“Não há estrelas no céu”) parece ser uma metáfora que mostra infelicidade e falta de esperança.



Núria
“Não há estrelas no céu” (Carlos Tê / Rui Veloso), Rui
Veloso, Mingos & os Samurais, 1990

Estive indecisa mas, após alguma pesquisa, decidi escolher Rui Veloso e uma música que, mesmo antiga, ainda se aplica bem aos dias de hoje. Chama-se “Não há estrelas no céu” e fala sobre a adolescência, essa que vivo eu e vivemos todos nós. Este é o assunto de que vou falar hoje, mas, primeiro, queria só contar algumas recordações que esta música me traz e o que significa para mim.
Embora nada tenha a ver com a letra da música, muitas vezes, quando jantava em casa da minha tia lá estava o CD do Rui Veloso a tocar e esta era uma das músicas que ouvia. Ela cantava e eu cantava também, mas sem ver ainda o que a letra queria realmente transmitir. Como esses jantares eram e, por vezes ainda são, muito agradáveis, sinto-me sempre alegre e bem disposta ao ouvir a música. Por outro lado, mas agora um lado mais meu, a letra faz-me sentir que realmente não sou a única a sentir o que é dito em alguns dos versos e que esses sentimentos e fases já vêm de há muito tempo. Na verdade, não era nada que não soubesse mas acho que todos nós nos sentimos sozinhos nestas alturas e é sempre bom encontrar algo que nos conforte.
Falando agora um pouco mais do tema e da música, e menos de mim, vejamos a letra. Nos versos “Não já estrelas no céu a dourar o meu caminho, / Por mais amigos que tenha sinto-me sempre sozinho”, o autor tenta transmitir-nos que, na adolescência, o nosso caminho, o nosso percurso de vida, parece-nos sempre escuro e sombrio mas também que, por muito que estejamos rodeados de pessoas, amigos ou colegas, acabamos sempre por nos sentir sozinhos, porque, no fundo, sentimos falta de atenção, entre outras coisas. Em “De que serve ter a chave de casa para entrar, / Ter uma nota no bolso para cigarros e brilhar?”, está representado o não querer ir para casa, porque os pais são sempre uns “chatos” ou uns desleixados e nós nunca estamos satisfeitos. Por outro lado, está retratada a pressão social, de ter neste caso de fumar para ser “cool” e ter amigos, que, na verdade, não são verdadeiros amigos, o que provoca normalmente um pior fim para nós.
Os versos “A primavera da vida é bonita de viver, / Tão depressa o sol brilha como a seguir está a chover” completam-se, dizendo que a adolescência é uma fase da vida muito instável e que é boa e má, ao mesmo tempo. Em “Para mim hoje é Janeiro está um frio de rachar, / Parece que o mundo inteiro se uniu para me tramar!”, o último verso é o que acho que melhor caracteriza a adolescência em toda a música, pois diz tudo o que um adolescente sente quando não está bem com a vida ou emocionalmente, como se tudo estivesse mal. Como se estivesse sempre mau tempo. Refere-se depois aqueles momentos em que se está sozinho e não há nada para fazer, não apetece nada ir para casa e tempo é o que não falta (“Passo horas no café, sem saber para onde ir, / Tudo à volta é tão feio só me apetece fugir”). É nesses momentos que tudo que não queremos pensar, ou lembrar, aparece, na realidade ou no nosso pensamento, mas aparece. Em “Vejo-me à noite ao espelho, o corpo sempre a mudar, / De manhã ouço o conselho que o velho tem para me dar” está presente o que mais é falado socialmente, as mudanças físicas, que acontecem no nosso corpo nesta fase, que nos incomodam e afectam, levando até, por vezes, a problemas graves. No segundo verso, vemos relatados aqueles momentos em que, sem mais nem menos, os pais nos dão conselhos para a vida.
Vejamos agora “Vou por aí às escondidas, a espreitar às janelas, / Perdido nas avenidas e achado nas vielas”: quando andamos por aí, sem rumo nem destino, mas com vontade. É o que tantas vezes apetece. E aqui estão os grandes dramas amorosos, que não conseguimos evitar. Não temos soluções, só queremos a mãe para nos consolar (“Mãe, o meu primeiro o amor foi um trapézio sem rede, / Saiam da frente por favor, estou entre a espada e a parede;”). Com “Não vês como isto é duro, ser jovem não é um posto, / Ter de encarar o futuro com borbulhas no rosto;” mais uma vez é relatada a parte física, que nos prejudica, e o trabalho que dá este posto que é a adolescência. Já no final fica a alusão à música (“Porque é que tudo é incerto, não pode ser sempre assim, / Se não fosse o rock and roll o que seria de mim?”) e o quanto esta nos ajuda quando nada faz sentido. Fica então por fim o nome da música (“Não há estrelas no céu...”), que nos diz que na adolescência o caminho é bem escuro. Mas é um caminho pelo qual todos passamos.


David
«Maria» (Zé Pedro, Kalú, Tim, Zé Leonel), Xutos & Pontapés, 88, 1988

Sempre que oiço a letra desta música, recordo-me de uns dias há quatro anos em que fui a Carragoza, uma aldeia a norte de Bragança, já com Espanha à vista. Foi uma viagem longa através da Estremadura e das Beiras até chegar a Trás-os-Montes. Fizemos uma paragem pelo caminho para a viagem não se tornar mais cansativa (“de Bragança a Lisboa / são nove horas de distância”). Carragosa é a terra da minha tia (por isso lá fui parar…), só assim se explica o facto de ela lá ir tantas vezes. Ela também lá tem um grande amor: a sua Mãe, Marina, que também está sempre ansiando pela chegada da filha. Por isto, esta música também me recorda as correrias da minha tia para Bragança sempre que pode.
Quanto à letra da música, penso que a mensagem transmitida, um grande amor longínquo que até faz “voar” (“Q'ria ter um avião / P'ra lá ir mais amiúde / Dei cabo da tolerância / Rebentei com três radares”), é expressa com bastante sentido de humor. É uma letra divertida, mas que, ao mesmo tempo, consegue transmitir um certo desespero pelo pressa em chegar. Para reforçar o sentido de humor, existe também o lado azarado, a falta de sorte (muito utilizado em comédias), que acaba também por realçar ainda mais o desespero (“Outra vez vim de Lisboa / Num comboio azarado / Nem máquina tinha ainda / E já estava atrasado”). Mas a lembrança da sua amada Maria é tão forte e tão presente (“Seja de noite ou de dia / Trago sempre na lembrança / A cor da tua alegria / O cheiro da tua trança”), que nada vai conseguir impedir estas correrias loucas de nove horas de distância! (“E saio Agora! / E vou correndo! / E vou-me embora! / E vou correndo! / E vou-me embora! / E vou correndo p'ra ti...Maria!!!“).



Gonçalo C.
«Vais ver que gostas» (Vasco Palmeirim / Justin Timberlake), Vasco Palmeirim, 2012

«Vais ver que gostas» é da autoria de Vasco Palmeirim, locutor da rádio comercial, e, integrados no coro, tem a participação de Vanda Miranda, Pedro Ribeiro e Ricardo Araújo Pereira, também locutores da rádio comercial. A música original de «Vais ver que gostas» é «SexyBack», de Justin Timberlake. Ouvi pela primeira vez esta música por volta dos finais de Fevereiro, princípios de Março quando ia no carro, com os meus pais e a minha irmã, a caminho da escola.
A letra é fácil de se compreender, porque esta música de Vasco Palmeirim é a resposta à pergunta do presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, «porque é que não nascem mais crianças em Portugal?». Ou seja, Vasco aproveita a música para encorajar os portugueses a terem mais crianças visto que «a natalidade está a descer». Diz também que depende apenas dos portugueses aumentar a taxa de natalidade («vamos ajudar o país») e, já quase no fim da música, diz que se preocupa com os números e, um pouco depois, que em 2012 vai ser o ano para que os portugueses aumentem a taxa de natalidade. No fim da música o letrista dedica-a às mulheres e refere o apelido do autor da música original, «Timberlake do Alto Pina».



Rafaela
«Preciso de ti» (?), Rita Guerra, Luar, ?

Sobre esta música há muita coisa para dizer, recordações que me deixam sem palavras, com momentos passados com amigos e com uma pessoa já amada mas, ao mesmo tempo, que sofreu, por um amor... Talvez seja uma estupidez, pensar que estive apaixonada com apenas catorze anos, mas lembro-me tão bem como me apaixonei e como comecei a ouvir esta música… Lembro-me de as lágrimas me caírem na face uma a uma, e que cada gota dizia o quanto te amava e o quanto te queria, e o quanto era a pessoa mais feliz ao teu lado, mas o tempo voa e agora, não passam de recordações só lembradas apenas pelo coração. Esta música representa muito a minha adolescência e o meu amor verdadeiro.
Sobre a letra, em si, direi que expressa um amor já vivido e quebrado ao mesmo tempo, as saudades desse amor, dessa paixão. A cantora revela que sente saudades de certos momentos e de a própria pessoa por quem esteve e está apaixonada, o quanto sofreu e o quanto lutou também.
Voltando ao quanto esta música significa para mim e como se identifica comigo: foi através desta música tão sentida e tão 'forte' que passei a valorizar melhor as pessoas que estão à minha volta, dar-lhes valor e não as deixar ir embora.


Miguel B.
"A cantiga do avô cantigas" (Carlos Alberto Vidal), Avô Cantigas, 1982

Esta canção é sobre o que o avô Cantigas gosta de fazer, que coincide com o que as crianças gostam de fazer ("e por isso alinho e não engalinho com as vossas maroteiras, até gosto delas..."), sendo engraçado para elas reconhecer o facto de alguém fora da sua faixa etária ter os mesmos gostos e lazeres. O Avô Cantigas fala das suas traquinices e das experiências pelas quais foi castigado, o que, mais uma vez, coincide com as vivências das crianças.
Esta canção faz-me lembrar que eu mesmo, quando era mais novo, achava engraçado este "avô".

Joana
«Nos desenhos animados (Nunca acaba mal)» (Miguel AJ), Os Azeitonas, Rádio Alegria, 2007
Esta música é muito especial para mim, porque percorre todo o meu imaginário. No fundo, considero-a, uma alegoria dos meus primeiros anos. Quando viajava para o campo, sempre me imaginei como o Tom Sawyer de pés descalços, sentindo a textura do chão. Sempre o admirei porque vivia a liberdade, descomprometido e feliz. E era assim que eu me sentia, sempre que cheirava uma flor ou que comia um fruto colhido de uma árvore generosa. No fim das caminhadas, deitava-me sobre a relva abundante de um campo, olhava o sol, deixava-o aquecer me a alma, e era feliz. Sempre gostei de emoções fortes e de enfrentar o perigo com um sorriso.
Também a Pipi não era um super-herói, mas só porque não tinha super-poderes. Mas representava a imaginação, a vontade de viver e a perseverança. Nunca recuava  e vivia as suas aventuras apenas porque acreditava que as podia viver. Era a irreverência inocente, a recusa das fronteiras da imaginação. Salvou o pai de piratas, viajou de balão, vivia numa casa colorida, dormia ao contrário, tomava o pequeno almoço com o cavalo e vestia o macaco. É impossível não a adorar. Mais, é impossível não querer ser como ela. Sempre que a via, era eu que usava aquelas tranças e vestia aquelas meias arco-íris.
Gosto muito de animais, e acredito que o respeito que tenho hoje por eles o devo a um selvagem sem maneiras, que comia com as mãos e rugia para comunicar. O Tarzan foi um herói que me marcou. Não era a sua força ou a sua destreza que me impressionavam, mas a comunhão com a natureza. Sempre me emocionava quando arriscava a vida para salvar os mais fracos e inocentes. O Tarzan era uma personagem selvagem e irracional que vivia em perfeita harmonia com todos os seres.
Quem nunca quis ser princesa? Ser acordada de um sono profundo pelo príncipe dos seus sonhos, ou cavalgar à beira-mar na garupa de um corcel branco, nos braços do seu desejado. Pois é, eu também consigo ser a mais normal das meninas. A Branca de Neve, a Cinderela, a Bela Adormecida representam a vitória do bem sobre o mal. Mas todas elas, incluindo Ariel, a Bela, a Jasmine ou a Pocahontas, ilustram o poder inabalável do amor. Deixem-me dizer que uma vida sem amor é uma vida por viver.
Pois é: também sou romântica, como todas as personagens de banda desenhada. Esta música é o meu retrato, melhor, é muitos retratos. Mas este álbum de fotografias ainda tem alguns espaços por preencher, porque a minha personagem de banda desenhada ainda está por inventar.

Artur
«Foi feitiço» (André Sardet), André Sardet, Acústico, 2006
Decidi escolher esta música pois há algum tempo comecei a criar uma sua versão alternativa, por puro divertimento meu ou de quem a ouvisse. Acho a canção bonita e agrada-me ainda que a música original seja sobre o amor e eu tenha criado uma alternativa sobre o ódio. Uma coisa estranha é, apesar de esta canção estar, digamos, no meu «top 10» de músicas, não sabia quem a cantava, o que, porém, não me parece muito relevante (agora sei que é André Sardet).
Resumindo. O sujeito poético está a dizer à amada que a ama, precisamente, mas que não comprende o que se passa, como se se tratasse de «um feitiço». (Enfim, a minha versão é melhor.)

Alexandre A.
«Jardins proibidos» (Paulo Gonzo), Paulo Gonzo & Olavo Bilac, Quase Tudo, 1997
Basta ouvir falar de Paulo Gonzo e a primeira música que me ocorre do seu vasto reportório é “Jardins Proibidos”. A razão para tal foi a sua constante audição no carro do meu pai. A minha primeira memória de ouvir esta música remonta ao verão de 2000, tinha eu cinco anos. Na altura, o meu pai acabara de trazer da Alemanha um carro novo, um mercedes novinho em folha, com um extra que me deixou impressionado: um airtop, nada mais nada menos do que uma abertura no tejadilho do carro, que, a meus olhos, fazia daquele carro um “mini-descapotável”. No carro seguia apenas eu, o meu pai e um amigo dele. O meu pai decidira ir mostrar as capacidades do carro ao amigo, em Monsanto, e, como sempre, pusera a tocar o disco de Paulo Gonzo. Provavelmente, ouvimos várias músicas nessa noite, mas apenas me lembro desta.
A letra da canção fala de uma paixão por uma mulher, bela, tão bela que o dia abrandava o seu passo para a observar (“e mesmo o dia vem devagar para te ver”). Esta mulher tinha um mundo só seu, o suposto jardim, interdito a todos, menos a quem ela queria (“ardo em ciúme desse jardim, onde só vai quem tu quiseres”). No jardim, a bela senhora teria controlo total sobre tudo, numa autêntica hipérbole (“onde és senhora do tempo sem fim”); e, apesar disso, era mesmo aí que o sujeito poético queria entrar, perdendo-se nos recantos por onde ela andaria sozinha (“e lá vou eu, para me perder, para me perder nesses recantos, onde tu andas sozinha, sem mim”).
Como é óbvio, o autor refere-se a uma paixão, e eu sempre associei a canção a esse tema, a uma mulher bela e harmoniosa com um mundo totalmente à parte do resto do mundo (e muito melhor, por sinal). Penso que este pensamento será transponível para todos nós, quando nos apaixonamos.

Hipólito
«Contentores» (Xutos & Pontapés), Xutos & Pontapés, Circo de Feras, 1987
Estava eu deitado na minha toalha na praia de Carcavelos a apanhar sol, quando, de súbito, começo a ouvir um som (ainda não tinha percebido de que música se tratava pois o emissor de som estava longe). Levanto a minha cabeça (até então enterrada nos sons das ondas do mar) e começo a olhar em volta, à procura da origem daquele som, e reparo que o meu amigo André está com o seu MP3 a ouvir rádio. Aparentemente, não fora o único a reparar pois começámos todos a fazer troça dele. Não sei bem por que motivo o fiz, pois cinco minutos depois era eu que estava a tentar cantar aquela canção, embora sem grande sucesso. Até hoje gosto de ir para a praia e pensar naquela música, pois recordo-me sempre do meu erro (e também porque é uma música engraçada e divertida).
Quanto à letra, penso que refere uma mudança de lugar ou de cidade («A carga pronta metida nos contentores/ Adeus aos meus amores que me vou/P'ra outro mundo») e que, ao mudar de cidade, o sujeito poético vai também deixar a sua vida para trás, ou seja, vai deixar o passado para trás («É uma escolha que se faz / O passado foi lá atrás»).
«Mudaram todas as cores / Rugem baixinho os motores / E numa força invencível / Deixo a cidade natal / Não voa nada mal / Não voa nada mal» indica-nos que foi preciso coragem para abandonar a cidade natal, mas que foi uma decisão que lhe agrada. Porém, como seria de esperar, ele ainda se lembra com muita exactidão da vida passada. Termina a canção, dizendo que é preciso acreditar que vai correr tudo bem , que é preciso um pouco de fé para as coisas darem bem.

Rodrigo
“Anda comigo ver os aviões” (Os Azeitonas), Os Azeitonas, Salão América, 2009
Porquê esta canção? Eu nunca ouvia música portuguesa, até que os meus pais, durante as férias de natal, me mostraram o CD dos Azeitonas e algumas das músicas ficaram-me na cabeça, esta principalmente. Sempre que gosto de uma música, e vejo que não é muito complicada, vou tentar aprender a tocá-la na guitarra e acompanhá-la com a minha voz. Os meus irmãos, sempre que eu toco ou canto muitas vezes a mesma música, começam a cantá-la a toda a hora; por isso, mesmo que me esquecesse desta música, eles lembravam-ma.
A letra retrata o amor que um homem tem por uma mulher, dizendo o sujeito poético que, por ela, tudo fará, que a leva a muitos lugares com algum significado romântico, nem que tenha de lhos trazer. O homem, para mostrar o quanto a ama, diz que se sacrificará se não conseguir melhorar a vida dela ou dar-lhe um momento inesquecível (“mas que eu morra aqui, / mulher, tu sabes o quanto eu te amo / o quanto eu gosto de ti/ e que eu morra aqui / se um dia eu não te levo à lua / nem que eu roube a lua/ só para ti”).