Monday, September 12, 2011

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Guilherme
«Quebramos os Dois» (Tiago Bettencourt/ Toranja), Toranja, Segundo, 2005
Esta música faz-me lembrar de uma noite de verão, no ano de 2005, por volta das onze meia, em que eu e os meus pais fomos dar uma volta de carro por Sintra para conseguirmos adormecer o meu irmão de dois anos (ainda estava eléctrico àquelas horas, aquela pequena pilha Duracell…). Para ele se acalmar, a minha mãe pôs a banda-sonora do Fala-me de Amor, uma popular novela portuguesa da altura que eu e a minha mãe víamos (como as pessoas mudam!). Após alguns minutos de o cd ter começado a tocar, iniciou-se a música «Quebramos os Dois». Ao ouvi-la, eu, um menino alegre de nove anos, fiquei com uma sensação muito melancólica, algo triste, e acabei por adormecer.
Desde então, tenho ouvido a canção bastante pois é melódica, muito bem construída e tem uma letra inteligente. A letra tem uma espécie de moral a ela associada: o amor dói. Foca-se num amor, aparentemente não correspondido e que nunca poderia dar resultado (”juravas a certeza da mentira, / mas sem queimar de mais, / sem querer extinguir o que já se sabia”), que acaba (como se pode notar pela frase, «quebramos os dois afinal», utilizada como refrão). O corpo do texto versa sobre uma espécie de relação amor-ódio entre o «casal», (“pecado que se deixa”), que corrompe e devasta as pessoas duma certa forma psicológica: ”Eras tu a ficar por não saberes partir, / e eu a rezar para que desaparecesses, / era eu a rezar para que ficasses, / tu a ficares enquanto saías”.


Pedro C.
«Não há estrelas no céu»(Carlos Tê / Rui Veloso), Rui Veloso, Mingos & Os Samurais, 1990
Acho que esta é a única música de que decorei totalmente a letra. Não faço a mínima ideia que idade tinha na altura em que consegui tal proeza, mas devia ter uns cinco anos. Lembro-me de ouvir esta canção quando ia nas longas viagens para o Alentejo em que pedia sempre para ouvir o precioso CD de Rui Veloso para poder ouvir esta música (esta e o Chico Fininho, que era muito mais de Rock).
Não posso dizer que me identifico muito com a letra, gosto mais da melodia e das palavras do que do seu real significado. A letra fala de alguns problemas da adolescência, como as mudanças físicas e psicológicas e os desgostos de amor (“Vejo-me à noite ao espelho/ o corpo sempre a mudar”; “Parece que o mundo inteiro/ se uniu pr'a me tramar”; “Mãe, o meu primeiro amor/ foi um trapézio sem rede”; “Não vês como isto é duro/ ser jovem não é um posto,/ ter de encarar o futuro/ com borbulhas no rosto”). Quanto ao título «Não há estrelas no céu», é uma metáfora, sendo as estrelas a esperança, e o céu, o futuro. Assim o sujeito poético exprime que, naquele momento, não sente que a sua vida irá melhorar e não vê a esperança no seu futuro. Por outro lado, como não sou uma pessoa melancólica e pessimista, prefiro pensar que neste verso, contrariamente ao resto da canção, o que o escritor realmente queria dizer é que não existem obstáculos no caminho e que, assim, tem o céu inteiro para poder “voar”.


Francisco R.

 «Quem és tu, miúda?» (Miguel Araújo/ Os Azeitonas), Os Azeitonas, Rádio Alegria, 2007
Esta música surgiu na minha vida via rádio, quando estava numa viagem para o Algarve, no verão de 2008, pois até aí não a conhecia. A banda Os Azeitonas ainda era bastante desconhecida e, quando ouvi pela primeira vez a música, não sei porquê, associei-a aos Xutos & Pontapés, talvez pela guitarra. Esta canção, para além de ser portuguesa, faz–me lembrar as longas viagens em direcção ao Algarve, que, por regra, são bastante enfadonhas. Porém, daquela até foi diferente, porque a música fez parte integral da viagem, sendo cantada por todos até ao seu final. Foi um momento muito engraçado, já que algumas das pessoas que iam no carro não tinham especialmente uma veia de cantor.
Quanto à letra, faz-me lembrar o que sentimos quando nos apaixonamos. Quando estamos apaixonados, aquela rapariga é um ser divino e perfeito («Como um anjo que flutua»). A letra também nos faz querer conhecer alguém especial («Quem és tu? / Quem és tu, miúda?»), apesar das dúvidas e desilusões que possamos ter acerca dela e de tudo não passar de uma fantasia («Há certos momentos em que acho / Que não passas de um golpe baixo / Fantasia de um pobre coração»).

Pedro D.
«Estou Além» (António Ribeiro), António Variações, Povo que lavas no rio / Estou Além, 1982
Esta obra de António Variações assombra a minha mente sempre que a minha avó fica aborrecida pelo facto de realizarmos algum evento familiar fora de casa sem a levar, apesar de esta saber perfeitamente que se fosse ao acontecimento faria um frete, pois já experimentara eventos semelhantes e reclamara por estar a participar nos mesmos. («Estou bem onde não estou / porque eu só quero ir / aonde não vou»).
Esta música remete-me também para as minhas memórias de infância quando tive pela primeira vez contacto com a canção. Desta forma, sempre que a oiço, esta música suscita-me a recordação dos tempos em que eu ouvia entretido os clássicos portugueses enquanto mexia na mesa de mistura que recebera no meu aniversário. Foi devido a esta peça de tecnologia musical que acabei por conhecer muitas obras musicais portugueses de autores muito conhecidos.
A letra que compõe a canção representa a ansiedade, a indecisão e a instabilidade que vivemos nos dias de hoje. O autor, apesar de não ser contemporâneo, terá vivido as mesmas sensações entre as diversas viagens que fez na sua vida instável e espontânea. Os versos «Não consigo dominar / este estado de ansiedade / a pressa de chegar / p´ra não chegar tarde» justificam a ansiedade, tal como «Quero quem / quem eu nunca vi / porque eu só quero quem / quem não conheci», relatam, através da contradição, de querer quem não se conhece, a indecisão do artista. As viagens que o autor fez são também, em parte, relatadas, ao mostrar-se a instabilidade em termos espaciais nos versos «Tenho pressa de sair / quero sentir ao chegar / vontade de partir / p'ra outro lugar». O mundo de hoje pode também ser espelhado nos versos «Vou continuar a procurar / a minha forma / o meu lugar», visto que o ser humano é submetido a tal liberdade que não sabe o rumo a seguir na sua vida. Será que carregando a responsabilidade da liberdade seremos felizes?

Beatriz
"Solta-se o Beijo" (Catarina Furtado/João Gil), Ala dos Namorados, Solta-se o beijo, 1999
Recordo com esta canção a hora de almoço de uma segunda-feira. Por ser o primeiro dia da semana escolar, nunca é sinónimo de trabalho. Tenho apenas de ir controlando o tempo, para não o deixar passar à minha frente.
Estávamos a conversar de tudo um pouco, falávamos de uma coisa naturalmente impossível, mas que, no momento, nos ocupou um pouco - vacas carnívoras são naturalmente impossíveis, mas era esse o tema -, enquanto outros tentavam fazer arte circense com umas bolas de plástico, um pouco mais pesadas, mas idênticas às que encontramos nos parques infantis dos Mc Donalds e das Pizza Hut.
Ouvíamos “atentamente” a vivência das vacas carnívoras, divertindo-nos a lançar as bolas rente à cabeça da oradora. Líamos, também a capa do jornal Metro, ”um jornal repleto de informação útil”, e escutávamos sem muita concentração “Solta-se o beijo”, que era cantada delicadamente e que preenchia, sem propósito, a lembrança daqueles minutos.
A letra da canção retrata um encontro escondido, pelo que o sujeito poético espreita («… por uma porta encostada / Sigo as pegadas de luz / Peço ao gato "xiu" para não me denunciar»), que demora a acontecer, devido ao medo de serem descobertos («Toca o relógio sem cuco / Dá horas à cusquice das vizinhas e eu / Confesso às paredes de quem gosto / Elas conhecem-te bem»). Chega o momento em que é seguro encontrarem-se («E nesse instante em que o silêncio / É o bater do coração / Fecha-se a porta / Pára o relógio / As vizinhas recolhem / Tu olhas-me...»).
De entre estas andanças encontram-se em Lisboa, em Sevilha, em Paris ou, simplesmente no seu mundo («Trago-te o beijo prometido / Sei o teu cheiro, mergulho no teu tocar / Abraças a guitarra e voas para além da lua»).

Rui
«Anda Comigo ver o Aviões» (Os Azeitonas), Os Azeitonas, Salão América, 2011
Não conheço esta música há muito tempo e recordo-me perfeitamente de como a descobri. A primeira vez que a ouvi foi nos «Ídolos», mais um dos inúmeros programas televisivos que preenchem o horário nobre aos Domingos em busca de talentos e que tanto nos prendem à «caixinha mágica». Certamente este não é o meu estilo de música favorito e mal conhecia a banda, mas, naquele momento, quando a ouvi, percebi que não me era indiferente como tantas outras que oiço, percebi que tinha significado, percebi que me tinha feito lembrar memórias passadas. Logo me despachei a procurar a canção e a colocá-la no meu telemóvel (tal qual os jovens dos dias de hoje) para a poder ouvir de novo e ter aquela sensação fantástica outra vez.
A banda não é das mais aclamadas em Portugal mas todas as músicas que fazem têm um significado bastante importante. Esta é como que uma declaração de amor feita por um homem em que ele promete e convida a mulher a embarcar numa viagem “fantástica” com ele (em que entram carros, aviões, etc.) e tenta provar o seu amor de forma incontrolável. Não interpreto a letra desta música literalmente. Ou seja, quando a oiço, não penso numa paixoneta antiga ou em algo assim, mas penso sim na importância das palavras. Comunicar com os outros e expressarmo-nos livremente só nos traz coisas boas e, aqui, o autor conseguiu libertar os seus pensamentos e transmitir as suas emoções para a música.


Inês C.
“Há sempre música entre nós” (Dina / Cristiana Kopke), Dina, 1981

“Há sempre música entre nós…”. Estávamos todos sentados, numa fila bem organizada, totalmente concentrados no papel que segurávamos com força na mão. Todos não. Uma rapariga cantava sem olhar uma única vez para a letra. Sabia-a de cor. Já no ano anterior tinha cantado a mesma canção no dia da Padroeira da Música, Santa Cecília, a 22 de Novembro. A letra marcara-a muito, nem ela percebia bem porquê... A música há muito que fazia parte da vida dela e nunca mais se foi embora. Se pensam que estar sempre a ouvir música é coisa de adolescente, desenganem-se, foi o meu refúgio perfeito quando estava no segundo ciclo. Sim, aquela rapariga era eu e, na altura, frequentava o Colégio Sagrado Coração de Maria.
Olhando para trás, agora percebo (“Não chores não quando a tristeza te doer”): estar no coro trazia-me alguma segurança, mas a integração no Colégio nunca foi conseguida. Cada vez mais, a sala da pastoral era um oásis naquele estabelecimento de ensino tão grande. Um espaço que rivalizava com a biblioteca e com o ginásio, onde passava grande parte do meu tempo.
Era a praticar as canções que cantava a solo ou com o resto do grupo nas missas do Colégio que eu passava a hora de almoço de terça-feira. Tinha nove, dez anos. Não que esta letra tenha muito para dizer, ou tenha um significado muito profundo ou complexo, mas é cheia de um amor incondicional por algo que sempre me disse muito, principalmente em momentos de fragilidade. Agarrei-me a esta letra com unhas e dentes, como se fosse o meu “hino da alegria”.
“Agarro a música no ar” e canto-a a plenos pulmões até os meus pais me mandarem calar, mas não desisto e levo-os comigo (“Cantaremos até ao amanhecer”), até porque esta música é do tempo da adolescência deles (1981).
A Música tem poder: faz pensar num futuro melhor, leva-nos por caminhos longínquos ou faz-nos reviver o passado. Penso que é esse o sentimento que esta letra quer transmitir. Tal como o coração bate, também temos sempre algo musical escondido em nós (“Há sempre música dentro de mim”), algo que nos pode fazer saltar como loucos e sentir que tudo é perfeito (“Qualquer música tem magia”).
Esta canção quer transmitir a quem a ouve como a música leva felicidade a toda a gente (“Não chores não, acorda a voz”) e que esta deveria acompanhar a nossa vida, todos os dias (“Cantaremos até ao dia nascer”). E, neste caso, não importa qual a canção, letra, ou ritmo, o essencial é mesmo sentir a música na nossa vida (“Canta uma música qualquer”).
Apesar da simplicidade, esta letra ganha força por ser imperativa (“Não chores/ canta/ acorda a voz”). Ao longo de toda a letra, a autora relaciona a música com a alegria, não hesitando mesmo em salientar que “Há na música uma alegria/ Que vibra lá dentro de ti”. E escreve, em jeito de aviso, que “Há sempre música entre nós”. Eu completaria com: a música somos nós!



Luís
«Traz Outro Amigo Também», José Afonso, Traz Outro Amigo Também, 1970

O momento que esta canção me faz recordar decorreu à relativamente pouco tempo, quando assisti ao concerto 3 Pianos ‑ por Bernardo Sasseti (que pereceu muito recentemente, com quarenta e um anos, ao cair numa ravina), Mário Laginha e Pedro Burmester ‑, no dia 25 de Novembro de 2011, no auditório principal do Centro Cultural de Belém. Já se aproximava das dez horas da noite, quando o intérprete que estava no piano da esquerda (do público para o palco), segundo creio, Mário Laginha, apresentou o que iriam tocar de seguida, dizendo que prestariam homenagem a um grande músico português, Zeca Afonso. Fiquei surpreendido com o que eles tocaram, mas não reconheci a canção a que estavam a prestar tributo, embora conheça bem a música de José Afonso. Fiz posteriormente algumas pesquisas sobre o que ouvira, passando «Traz Outro Amigo Também» a ser uma das minhas músicas favoritas.
Tendo em vista o texto da canção, associo pouco o seu conteúdo aos temas interventivos característicos de José Afonso e contemporâneos, embora, em geral, os ouvintes da mesma o achem. Segundo o meu ponto de vista, na letra, o amigo é maior que a saudade/recordação («Amigo / Maior que o pensamento»), havendo sempre o desejo e a fé de o reencontrar («Por essa estrada amigo vem / Não percas tempo que o vento / É meu amigo também»), sendo a “estrada” o percurso da vida, e o “vento” o destino. Na segunda estrofe está muito presente a ideia do autor de que todas as pessoas devem ser unidas e amigas, não devendo haver quaisquer fronteiras a separá-las («Em terras / Em todas as fronteiras / Seja bem-vindo quem vier por bem / Se alguém houver que não queira / Trá-lo contigo também). A única parte da letra que admito que possa ser empenhada politicamente é «Aqueles que ficaram / (Em toda a parte todo o mundo tem) / Em sonhos me visitaram», porque aparenta apresentar uma mensagem de apoio aos exilados políticos e aos deportados no tempo da ditadura (deve ter-se em consideração que o próprio José Afonso foi deportado para Moçambique).



Inês P.
“Primavera”, The Gift, Explode, de 2011

Esta música marca-me, porque me faz pensar na minha relação com aqueles que amo, na confiança que tenho neles, no que faria por eles, e ainda porque me diz que sem eles não sou lá grande espingarda.
Da primeira vez que a ouvi estava no carro com a minha mãe e estávamos a ter uma daquelas conversas… Daquelas que deixam a saliva encravada no fundo da garganta, tornando impossível engolir (nem mesmo em seco, porque ela está lá presa como cola). A partir de certo ponto, deixei de ouvir o monólogo do ser sentado ao meu lado com os dois ouvidos, e comecei a sorrir porque este parecia uma cópia da música que tocava no rádio…
A letra explicita muito bem o tema da conversa, principalmente o refrão ( “Hei-de te amar/Então hei-de chorar por ti/Mesmo assim/Quero ver-te sorrir.../ E se perder vou tentar esquecer-me de vez/Conto até três/Se quiser ser feliz…”), sendo, portanto, dispensáveis quaisquer detalhes para compreender o motivo do meu embaraço. 
Quando digo que a música me faz refletir sobre aqueles que amo, falo dos meus amigos, da minha família e dos meus outros amigos. Os versos “Sábado à noite não sou tão só/Somente só/A sós contigo assim/E sei dos teus erros/Os meus e os teus/Os teus e os meus amores que não conheci” fala-me daqueles mesmos sábados à noite passados à luz da lanterna a contar segredos e anedotas, misturados com piadas e risos sem razão. E o trecho “Parasse a vida/Um passo atrás/Quis-me capaz/Dos erros renascer em ti” lembra-me dos erros que fizemos e fazemos, e também do que aprendemos com eles. Tudo resume as horas a olhar para o teto, contando as rachas e as teias de aranha, a planear o próximo assalto ao armário das pastilhas, ou simplesmente a contemplar o céu estrelado do lado de fora do vidro. A harmonia lembra-me os momentos de saudade, de querer estar com aqueles com quem “Eu já fui de cool por aí”.
No contexto da música penso que toda a letra é uma espécie de pedido de desculpa, que foi fundido com uma declaração de amor bastante profunda (“Se há tulipas/No teu jardim/Serei o chão e a água que da chuva cai/Para te fazer crescer em flor, tão viva a cor/Meu amor eu sou tudo aqui...”). Penso que também tem um toque de canção de embalar, porque o ritmo é de facto calmo e tranquilo, quase melancólico para quem não lhe vê um significado tão marcante como eu.



Cláudia
"Ai Se Ele Cai" (Xutos e Pontapés), Xutos e Pontapés, Mundo ao Contrário, 2004

Acho que esta foi a música que mais marcou a minha infância, pois lembro-me de estar sempre a ouvi-la. Apesar da sua letra, esta música lembra-me certas memórias da minha infância. Quando passava três horas de viagem dentro de um carro com a minha família, pedia para a minha mãe ligar a rádio e esta música passava sempre. Se bem me recordo, numa visita de estudo com a minha turma de sétimo ano, após o almoço, enquanto esperávamos pela camioneta, decidimos cantar para matar o tempo. Enquanto cantávamos, um colega nosso propôs cantarmos esta canção: foi um momento de união do 7ºC, jamais o esquecerei.
Analisando agora a canção, o seu principal tema é o amor. Posso dizer que a letra transmite-nos aquela insegurança e medo de virmos a sofrer de quando amamos alguém (“Ai se ele cai/ vai se partir/ meu coração”). Pelo que percebi, ele (o sujeito poético) está à espera de algum sinal da outra pessoa, mas apesar da amada não lhe mandar nenhum sinal (“E eu espero e nunca mais vem”), ele continua a amá-la mas com o medo de vir a sofrer (“De tanto querer / De tanto gostar/ De tanto te amar/ Eu não te quero perder”).


Miguel M.
“Poetas de Karaoke” (Sam The Kid), Sam The Kid, Pratica(mente), 2006

A música Poetas de Karaoke, de Sam The Kid, apresenta uma crítica à falta de originalidade dos músicos portugueses. De forma a expor a sua opinião, o compositor estruturou esta música de acordo com o modelo argumentativo. A sua tese é a falta de originalidade na música portuguesa e é defendida com base em vários argumentos como por exemplo: “Dizem que cantam hip-hop, mas não dizem nada, vêm/ com/ Poesia mas é só fachada…”, “Eu sei, no que é que eu vi do típico inox duro/ Mais que fotocópias óbvias que eu chamo de xerox puro…”. Defende que se deve ser original, criando os seus próprios textos, o seu próprio estilo, como exemplificou com a referência aos Madre de Deus e a Dulce Pontes. Para atingir tais objetivos, temos de trabalhar (“Consistência integridade longevidade na essência/ Tens de ter paciência”), ser criativo e dizer o que nos vai na alma (“ porque eu escrevo como falo, como sonho, e como/ penso…”).
Outra crítica que se faz é ao facto de a música portuguesa ser frequentemente cantada em inglês (“Querem ser internacionais mas tão cá no país/ E nunca são originais são Nova York ou Paris…”). Como contraponto propõe que se trabalhe mais com base na língua portuguesa (“Põe a gramática em prática,/ Didática Dramática mentes citando técnicas/ Poéticas com estéticas/ Fonéticas de sempre atento ao surpreendente/ Com métricas à frente, pra mentes sépticas/ exigentes…”).
O autor cria uma antítese em que introduz duas personagens (“palermas”) a criticarem-no (“E só o nome dele é contraditório… pois… Sam The Kid… o que é pha… aquilo é inglês, é americano…”, Eles nem escrever sabem pha… o “a e i o u “ não? Eles/ nem a 4ª classe … é o que faço-te que te/ aconteço-te…”). Esta antítese serve para contra-argumentar e realçar a falta de originalidade dos músicos portugueses (“ … o meu/ português…/ Não é correto e sou mais poeta que vocês,/ Todos voz do rock, pop, hip-hop é escrito em inglês,…”). Para concluir o autor diz que estes músicos não vão ficar para a história, e nem têm possibilidade de evoluir devido à preguiça.


Tomi
«Pedra Filosofal» (António Gedeão / Manuel Freire), Manuel Freire, Manuel Freire, 1979 (1970)

A primeira vez que ouvi esta música foi numa das minhas regulares viagens matinais no carro da minha mãe, quando íamos para a escola. Não me lembro bem do dia nem do mês em que a ouvi então, mas deve ter sido há cerca de três anos. Como sempre, é o meu irmão mais velho que escolhe o que ouvimos na rádio, pois é ele que se senta no banco da frente. Enquanto fazia o seu habitual “zapping” de estações, parou na TSF onde passava esta música que me captou a atenção. Só soube qual era a canção quando o comentador, depois de ela acabar, anunciou: “Pedra filosofal”, interpretada por Manuel Freire, um poema de António Gedeão”.
O que mais me atraiu nesta música foi a sua letra acompanhada por uma melodia simples à guitarra, e uma voz grave e poderosa do cantor. Ela recorda-me de uma aula de História que tivemos com a simpática Professora Alexandra Graça. O sumário ou o tema da aula era os descobrimentos. Foi nessa aula que me apercebi claramente do grande impacto que Portugal teve  na ciência, na geografia, na engenharia, na astronomia e no comércio. No coração do poema, surge a grande contribuição das Descobertas Portuguesas, que iniciaram na verdade a Globalização da economia mundial e que permitiu que um pequeno povo, sem grande poder, apenas com a sua coragem engenho e arte, concretizasse o sonho de um homem em ultrapassar os horizontes conhecidos e revelasse novas terras, novos povos, novas civilizações ao Mundo. Esta parte da canção é a minha parte preferida. Lembra-me a epopeia fantástica que os nossos antepassados realizaram pelos mares desconhecidos.
O título do poema remete-nos para a alquimia, para a descoberta da substância mágica que os alquimistas perseguiam para transformar os metais pobres em ouro. Com este título, António Gedeão faz, portanto, uma associação da criatividade e das aspirações do homem (sonho) e do seu engenho à lenda da "magia do alquimista". No poema, o sonho é sempre entendido como uma parte integrante da actividade rotineira da raça humana e não uma abstracção ou uma coisa surreal: “o sonho, é uma constante da vida, tão concreta e definida como outra coisa qualquer”. Simplesmente existe como qualquer objecto ("Como esta pedra cinzenta onde me sento e descanso"). Os sonhos estão relacionados com algo grandioso e envolvidos pela ideia da esperança, na metáfora dos "Pinheiros altos que em verde e oiro se agitam", remetendo, ao mesmo tempo, para a eterna juventude e para a esperança em torno de um ideal. A altura dos pinheiros que se agitam, as aves que gritam no espaço, sugerem a liberdade, a ausência de limites para o sonho e para o carácter sublime e inebriante da criação ("É vinho, é espuma. É fermento... Em bebedeiras de azul").
Muito feliz é também o paralelo da curiosidade inata do homem e da sua busca constante do conhecimento, com a actividade constante de um "Bichinho alacre e sedento... Em perpétuo movimento" que trata da sua sobrevivência, ou seja, faz uma comparação do sonho (subentendido como o génio humano) com o entusiasmo e agilidade de um pequeno roedor, muito vivo e continuamente em exploração, cheirando, procurando, investigando...
O homem que deixa de sonhar deixa de ter a capacidade de viver a sua essência. O poeta faz, portanto, uso da palavra “sonho”, não no seu sentido literal mas no sentido de ambição e de futuro tal como se usa correntemente nas expressões “Já deixei de sonhar”, ou “não vale a pena sonhar” ou ainda, “os meus sonhos caíram por terra”, exprimindo sempre ideia de objectivos ou de anseios e planos para o futuro. A sensação com que se fica é de que “os sonhos” estão relacionados com algo grandioso e envolvidos pela ideia da esperança. cinco das estrofes são uma o de futurista ao património do homem nas Artes, Arquitectura, Pintura, Música, Teatro Literatura, Ciência, Geografia, Engenharia; ("É tela, é cor é pincel, Base, fuste ou capitel, Arco em ogiva, vitral, Pináculo de catedral, contraponto, sinfonia, Mapa do mundo distante, Rosa dos ventos, Infante, Caravela quinhentista... Passarola voadora, Pára-Raios, Locomotiva, Barco de proa festiva, Alto-forno, Geradora"). O uso consecutivo e ritmado destes tecnicismos e substantivos, faz-nos lembrar a ciência, a máquina, o movimento constante, e dá-nos a impressão de ritmo. Note-se o uso de vocábulos ricos em erres: Retorta, Rosa, Raio, Caravela, Passarola, Barco, Proa, Forno. As expressões "Mapa de mundo distante, Caravela quinhentista, Cabo da Boa Esperança, Ouro, canela, marfim, Florete de espadachim" remetem-nos para um cenário de aventura, de perigo, de mistério e do interesse natural pelo desconhecido, que tanto nos atrai. De uma forma habilidosa e encadeada, Gedeão apresenta a conquista dos mares, apresentando de seguida a conquista dos ares (“Passarola voadora”, na verdade um velho sonho de Ícaro, terminando com a conquista do espaço, “desembarque em foguetão na superfície lunar“). O mais incrível deste poema é que António Gedeão o escreveu em 1956, ou seja treze anos antes da chegada do homem à lua em foguetão. Ou seja, quando o poema foi escrito, chegar à lua não passava de um sonho.
Os versos do poema não têm uma métrica constante, sendo na sua maior parte de 6 e 7 sílabas e usa na maior parte das vezes três palavras por verso. Isto dá-lhe muita musicalidade, que a voz grave e timbrada do cantor realçam.
Sempre que ouço esta canção, fico com um pouco preocupação, devido ao último verso ("Eles não sabem nem sonham, que o sonha comanda a vida, E que sempre que um homem sonha, O mundo pula e avança, Como bola colorida, Entre as mãos de uma criança"). O uso do sujeito "eles" transmite uma ideia de alguém desconhecido que anda aí, que existe, que não sabemos quem é, e que de alguma forma se subentende que tem poder. Não sabe nem sonha o que o sonho é nem o que ele significa. Como tal, é, à partida, um obstáculo à esperança, à mudança e à evolução. Por sua vez, o recurso à imagem da criança e à bola colorida (sinal de alegria, inocência e deslumbramento), dá-nos uma sensação de que sonhar e desejar algo mais é bom. Em suma, "o sonho comanda a vida" e, sem sonho, não se vive plenamente. Pelo menos, a vida não tem sentido.
O sonho é parte integrante da beleza da vida. Portanto, toca a sonhar!



Miguel P.
«O Que Será? (À Flor da Terra)» (Chico Buarque / Chico Buarque), Chico Buarque & Milton Nascimento, Meus Caros Amigos, 1976

Ao fim de vários dias a pensar, consegui recordar-me do momento em que ouvi esta canção. Foi no ano de 2008, numa noite de Verão, quando estavámos eu, os meus pais, os meus tios e os meus primos num bar brasileiro. Era noite de concerto e Chico Buarque foi convidado para tocar algumas das suas músicas, uma delas, a que vou comentar, «O Que Será? (À Flor da Terra)». Esta é a única música de que me lembro daquela noite, pois, precisamente no momento em que estava a ser tocada, o meu primo mais novo, num gesto rápido, entornou todas as bebidas da nossa mesa para cima do meu tio. Todos começámos a rir, até o meu tio (que, no início, ficara um pouco aborrecido).
Não me revejo muito nesta música, mas penso que está bem escrita e tem uma boa melodia. Esta canção é um pouco ambígua. Pode-se achar que se trata de sexo, algo sobre a natureza humana e o amor no seu estado mais carnal, relativamente a que não há ser humano que consiga manter-se neutro ou indiferente. Também se pode supor que a música fala de Deus, mas de um modo até sarcástico e irónico, vista a condição notoriamente ateísta de Chico. E, por fim, pode-se atribuir à música uma crítica ao sistema em vigor na época, mais propriamente à corrupção e degradação do sistema ditatorial, elevando o desejo do ser humano de poder expressar as suas ideias livremente, a chamada liberdade de expressão, já que, no período em que a canção foi escrita, diversas obras sofreram censura. Na minha opinião «O Que Será? (À Flor da Terra)», é, possivelmente, uma obra que trata da liberdade em seu estado pleno, quer seja na forma de agir, de se expressar ou até de pensar. Talvez o título («O Que Será?») também traga encaixada uma pergunta, que, repetida à exaustão durante a música, sucinta nas pessoas exactamente a dúvida acerca do seu verdadeiro significado: que foi introduzida de forma a que passasse a sua mensagem de maneira subliminar, e que, mesmo não tendo a “autorização” dos censores, ela ficaria, de alguma forma, incrustada no subconsciente das pessoas.



Mónica
«Por quem não esqueci» (?), Sétima Legião, ?

Para esta apreciação, decidi escolher uma canção portuguesa que me diz muito. Chama-se “Por quem não esquece” e quem a canta é um grupo denominado Sétima Legião. A razão pela qual escolhi esta canção lindíssima foi fazer uma homenagem ao meu avô materno, António Gallis Lopes. O meu avô morreu há um ano e três meses com um ataque cardíaco fulminante. Só soube no dia a seguir e fiquei de rastos. Durante muito tempo, achei que ele só tinha ido a Fátima a pé, como fazia todos os anos, e pensava sempre que ele iria aparecer, mas, com o passar do tempo, apercebi-me de que ele tinha mesmo ido embora. Depois de o ter interiorizado, não custou muito. Ficou foi muita saudade.
A letra da canção confirma o que sempre pensei depois de o meu avô ter partido: posso não o ver mas sei que ele está cá sempre a olhar por mim e pela minha família. E identifico o que senti principalmente no início com esta parte da canção: “Ainda procuro / Por quem não esqueci / Por quem já não volta / Por quem eu perdi”.
Com efeito, durante muito tempo, quando saía da escola para ir almoçar, pensava sempre que o meu avô ia lá estar para me abrir a porta e almoçar comigo, com a minha avó e com os meus primos. Mas hoje sei que ele nunca mais vai voltar, mas que não o perdi por completo, porque ele continua a olhar por mim, desde o princípio, e eu não o esqueci, nem esquecerei.


João S.
“Vem Viver a Vida Amor” (José Cid), José Cid, Vem Viver a Vida Amor, 1993

Esta música é realmente interessante. Como o próprio título indica, fala de amor. Lembra-me os tempos de infância e as respetivas paixonetas de crianças.
Penso que fala de um passado de uma criança que tentara, de certa forma, conquistar uma rapariga (“Há muito, muito tempo eras tu uma criança que brincava num baloiço e ao pião”). O tempo passou mas ele nunca a esqueceu, até que a encontrou vinte anos depois. Acabaram por se falar muito bem, com boas recordações do passado. Faz lembrar livros de paixões, apesar de incluir várias críticas (por exemplo, a mensagem de que as pessoas julgam ter sempre medo de perder as pessoas de que mais gostam). Neste caso, até poderia ter sido a morte que separasse os amantes.
Enfim, é uma canção de mistérios, que pode ser considerada eufemística, pois mostra como o futuro acaba por acontecer de uma forma que, afinal, não é tão negra e má como todos pensam.


Pedro M.
«Minha Casinha» (João Silva Tavares / António Luís de Melo), Xutos & Pontapés,1987.

Casa, mãe, eu, rapariga, inteligência, imaginação, computador e jogos – as minhas palavras preferidas, especialmente quando estão todas na primeira, Casa. Sempre gostei muito de estar enfiado em casa, quer esborrachado no sofá a ver televisão, frenético no escritório a jogar no computador e a ouvir música aos gritos ou calminho a ler um livro na cama. É onde me sinto melhor, pronto! Afinal, quem não gosta de estar em casa, na sua zona de conforto? Huh? Sempre que estou fora de casa lembro-me desta pequena grande música (também, duvido que conseguisse decorar uma maior...) e fico mais feliz. Lembro-me de a ter ouvido pela primeira vez no Rock in Rio em 2004, gostei tanto da música, dos Xutos e de todos os concertos em geral, que a ida a esta festa musical se tornou uma tradição sempre cumprida até hoje.
“As saudades que eu já tinha da minha alegre casinha”, como já deu para entender, basta eu abrir a porta de casa para ficar deprimido e cheio de saudades; “Tão modesta quanto eu”, não é preciso a minha casa ser semelhante ao Palácio de Sintra para gostar dela, é simplesmente onde me sinto melhor (por acaso até o avisto da minha sala); “Meu Deus como é bom morar num modesto primeiro andar a contar vindo do céu”, ter acesso a uma paisagem bonita é sempre bom, porventura até moro num andar alto e, outra vez, em casa é onde nos sentimos mais “altos”.


Duarte
«Movimento Perpétuo Associativo» (Pedro da Silva Martins), Deolinda, Canção ao Lado, 2008

Esta canção faz-me vir à memória um dia de verão em que estava num passeio de jipe, organizado pelo meu tio e pelo meu padrasto. Eu tinha viajado no jipe do meu tio, o condutor da viatura, com a sua namorada, no lugar de passageiro, e mais dois amigos dele (tecnicamente também meus amigos), e íamos os três no banco de trás. Pouco antes de vermos um magnífico pôr-do-sol no cimo de um monte, no rádio começa então a tocar esta música e um dos amigos começa também a cantá-la. E foi então que, por algumas horas, esta música me ficou na cabeça. Acontece uma música que ouvimos pela primeira vez ficar-nos na cabeça e não a conseguirmos parar de cantar durante algum tempo, por mais que tentemos.
Esta música fala da preguiça por parte do povo em não se revoltar contra o Estado que temos, do qual todos estão descontentes por dar más condições de vida para os portugueses, neste caso. De um lado, há a vontade de mudar o país, diz-se para todos se revoltarem (“Agora sim, damos a volta a isto! Agora sim, há pernas para andar!”), mas, do outro lado, existem os que estão sempre a “adiar” essa revolta, arranjando desculpas para que não o façam naquele momento mas apenas no dia seguinte (“Agora não, que é hora do almoço. Agora não, que é hora do jantar.”). Enfim, nunca chegam a aceitar o desejo e a se revoltaram contra o governo para mudar o país para melhor.


João R.
«Impressões digitais» (Rui Reininho / Tóli César Machado), GNR, In vivo, 1990

Associo esta canção à minha infância no geral , não a um único e singelo momento, mas a várias memórias dispersas. Seria então impossível relatá-las a todas, pelo que vou cingir-me à mais marcante. Certa noite de 2008, isto segundo os meus cálculos, estava eu a andar de carro com os meus pais, a ouvir um velho CD dos GNR bem como a habitual repreensão por não estudar para os testes (sim na altura dava-me ao luxo de não estudar nada e tirar boas notas), quando, por uma coincidência inacreditável, começa a tocar esta música. Os meus pais começaram logo a utilizar a letra para me martirizar com discursos sobre a importância do estudo (principalmente aquela parte do “Faz-me impressão o trabalho”). Portanto, liguei-me imediatamente à música, estranhamente, não por um lado negativo mas pelo lado positivo, na medida em que aquela música descrevia-me, logo era como se fosse uma música feita à minha medida, para mim.
Analisando agora a letra da canção percebo (se bem que admito que possa estar a perceber isto mal, pois Rui Reininho é conhecido pelas suas músicas não fazerem o menor sentido) que ela é uma crítica que encaixa bem na nossa geração, a geração digital, a geração “Google”. A parte mais evidente disso é quando diz “deixo tudo para mais logo não sou analógico sou criatura digital”: é que a nossa geração tem tendência para adiar as coisas que tem de fazer, muitas vezes acabamos por nem as fazer, damos depois connosco a pensar que, se tivéssemos feito isto na hora devida, talvez as coisas tivessem tomado um rumo diferente (“Sinto depressão conforme perco tempo essencial”); temos também alguma tendência para ficarmos desnorteados, sem saber o que fazer (“faz-me um favor estou perdido indica-me algo fundamental”).


Noorani
«Barco Negro» (?), Amália Rodrigues, The art of Amalia, 1998

«Mas logo os teus olhos disseram que não / e o sol penetrou no meu coração». Estes foram os primeiros versos que ouvi quando, num dia quente de sol, estava sentada num banco de jardim, sozinha, a desenhar. Fascinaram-me de tal forma e levaram-me a conhecer outros mundos, a recordar romances e filmes, que pervivem comigo desde há muito. Creio até que o desenho final me pareceu mais verdadeiro e real; olhava para ele com outros olhos e, ao mesmo tempo, recordava-me da mulher que pelo jardim passou a cantar aquela belíssima música (que já não me saía da cabeça). Tempos mais tarde, enquanto navegava pela Internet, preparada para ouvir uma música de um estilo mais recente, cliquei no lugar errado e comecei a ouvir esta canção, que hoje sei ser fado e sinto como fado. Fiquei surpreendida, era tudo o que eu menos esperava ouvir, mas acho que esta música me estava destinada. Foi então que a comecei a ouvir vezes sem conta e comecei a fazer as minhas próprias interpretações acerca dela e a lembrar-me de muitas experiências por que passei.
Esta música tem um grande valor sentimental para mim e diz-me muito. Por vezes, quando a oiço, até fico arrepiada. Creio que a letra fala de alguém que partiu, que já não está entre nós, permanecendo, no entanto, na nossa memória e pensamentos, e em todos os sítios em que partilhámos momentos juntos: «Dizem as velhas da praia, que não voltas», «me diz que estás sempre comigo» e «dentro do meu peito, estás sempre comigo». Talvez seja este um dos motivos pelos quais esta música tanto me atrai. No entanto, acredito que a letra deste fado possa tomar outras memórias e sentidos, um amor entre duas pessoas, «mas logo os teus olhos disseram que não», ou a partida daqueles que, tal como na época dos Descobrimentos, foram em busca de algo desconhecido mas melhor, e não voltaram…
É uma música muito triste, mas, ao mesmo tempo, muito verdadeira e humana, de sentimentos e inquietações. É de uma tal intensidade, que acabo também por senti-la alegre, de esperança e de saudade. Afinal, não sentimos nós saudade de tempos e coisas boas? A voz da fadista e o dedilhar da guitarra portuguesa faz do fado a tristeza por sentir saudade de algo que foi fortemente bom e sabemos não ter mais.

Marta
«Sei-te de cor», Paulo Gonzo, Perfil, 2008
Após algumas pesquisas, consigo obter com bastante precisão os momentos que esta canção me faz lembrar. Lembro-me de quando a minha família se juntava e cantávamos no singstar: era uma alegria e uma verdadeira diversão. Por norma, costumávamos cantar a música «Sei-te de Cor», do Paulo Gonzo, uma das minhas favoritas, porque conseguia sempre grandes pontuações no jogo e porque me divertia imenso a cantar coma família toda. Às vezes, era só eu e o meu pai, e, algumas vezes, mas não muitas, a minha mãe também se juntava a nós. Era sempre fantástico. Recordo-me de todos se divertirem e esta era a música que cantávamos sempre. Depois de cantarmos, vinha outra boa parte que era ouvirmo-nos, pois o jogo gravava as nossas «performances». Adorei esses momentos maravilhosos passados com a minha família toda, o que os tornava emocionantes, e é por isso que esta música fica guardada na minha memória (como todos os bons momentos).
Quanto ao texto da canção, é um apelo para o romance, para a paixão. Marca para o facto de o sujeito poético se sentir apaixonado e nos querer deixar apaixonados também. Transmite a informação de que não ama uma pessoa só por amar ou só pelo seu físico, ama-a pelo que ela é, pelo para ele é, pelo que fica mais guardado na sua memória (o rosto, o olhar, a voz, o silêncio, os gestos). É um amor verdadeiro. Por isso, esta canção de Paulo Gonzo é bastante romântica, sentida, emocional e verdadeira. É por isso que admiro tanto a canção e que não me canso de a cantar. seja com quem for ou mesmo sozinha. Mas o melhor é com alguém com quem possa conduzir  os meus pensamentos e as minhas emoções com alegria e um grande sorriso.

Yaroslav
«Intervalo», Per7ume, participação especial de Rui Veloso, 2008
Ouvi a música pela primeira vez na rádio, em 2008, quando tinha acabado de sair. Nessa altura, estavam constantemente a dar a música em todas as estações, e por isso a canção ficou muito famosa, alcançando os primeiros lugares em Portugal. Acho que foi por esse facto que a decorei, ficando na minha cabeça durante muitas semanas, até meses. Hoje em dia, quando a oiço a tocar na rádio, lembro-me das coisas que se passaram então, em 2008.
É uma das poucas músicas de que consegui decorar a letra, por ser fácil e repetitiva, apesar de não ser este o meu estilo de música favorito. Não tento entender exactamente a letra da música, o que acontece frequentemente com as canções que oiço, porque gosto somente de ouvi-la e cantá-la para mim.