Monday, September 12, 2011

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Sofia R.
«Anda comigo ver os aviões» (Os Azeitonas), Os Azeitonas, Salão América, 2009
            Recordo-me que ouvi esta música pela primeira vez cantada por um amigo próximo, que tem o (ótimo) hábito de passar os dias a cantarolar as músicas que vai ouvindo pelo seu Ipod. Ao princípio, pouca atenção me despertou, até porque não conhecia a letra, mas, à medida que comecei a ouvi-la com mais frequência, dei por mim a cantarolar também o seu refrão, cada vez que alguém dizia “Anda comigo (…)”, por qualquer razão banal, mesmo que não se relacionasse com esta música.
            Após pesquisar um pouco no blog da banda, que encontrei quando comecei a fazer este trabalho, descobri que Os Azeitonas começaram a cantar apenas por uma brincadeira entre amigos, mas que esta “brincadeira” se veio a tornar um fenómeno musical nacional. Neste momento, têm algumas músicas a passar nas rádios mais conhecidas, como é o caso da Rádio Comercial – que até chegou a fazer uma versão desta mesma música, referindo-se ao que se deu no passado dia 1 de Maio na cadeia de supermercados da Jerónimo Martins.
Quanto ao texto da música, sou da opinião de que se trata de uma música de amor, em que o cantor faz vários convites à mulher que ama. Pede-lhe que vá consigo ver os aviões, os navios, os automóveis e, mesmo, os foguetões. Faz-lhe também a promessa de que um dia a levará à América (e penso que tenha vindo daqui a ideia para o nome do álbum - Salão América) – “E que eu morra aqui / Se um dia eu não te levo à América / Nem que eu leve a América até ti” – e à Lua – “E que eu morra aqui / Se um dia eu não te levo à lua / Nem que eu roube a Lua / Só para ti”.
Nunca se chega a saber qual a resposta da pessoa para quem esta letra foi escrita, claro – ou talvez não tenha sido escrita para ninguém em especial – mas, para os mais sonhadores, ou que, simplesmente, acreditam mais fortemente no amor, fica sempre a esperança de que o cantor e a sua amada vão juntos ver os aviões.


Lara
“Ontem, Hoje e Amanhã” (José Cid), José Cid, Nasci P’rá Música, 1975
A canção de José Cid “Ontem, hoje e amanhã” faz-me lembrar toda a minha infância. Conheci-a graças a uma amiga que passava os dias a cantá-la. Acabei por decorá-la.
Faz-me lembrar dias muito bons. Pequena, jovem que ainda está a descobrir um pequeno pedacinho do mundo. Estávamos muitas vezes juntas, e lembro-me de ficar sentada no chão a brincar com ela (lembro-me como hoje), enquanto me ia ensinando a letra. Dizia, eu repetia e, depois, cantávamos juntas.
Durante muito tempo, cantei-a na sua totalidade, até porque não é uma letra muito grande; no entanto, com o passar do tempo, ganhamos maturidade (alguma) e as lembranças de criança acabam por ficar um pouco embaciadas, e, no meu caso, esqueci-me do final da música. Hoje apenas sei o seu início.
Penso que a música mostra o passado, o presente e o futuro. Arrisco dizer que esta música seja uma homenagem do cantor José Cid a sua mulher, mostrando que a ama desde sempre até sempre. Temos uma espécie de analepse na música, em que os anos passaram e a paixão que é relatada no início da música (“Ontem eras a menina mais alegre e mais bonita que eu já conheci”) passa assim a ser “hoje dormes a meu lado, mas eu fico acordado vendo-te dormir”, ou seja, o que acontece no presente. Por fim, temos uma prolepse, vamos para o futuro: “Amanhã no fim da vida, hás de ser a minha querida, o meu grande amor”.


Sofia A.

«Esfera» (Pedro Khima), Pedro Khima, Pedro Khima, 2007
Já não me recordo da primeira vez que ouvi esta música, mas penso que tenha sido numa novela que passava em 2007, na televisão. Há poucos dias ia no carro, começou a tocar esta mesma música na rádio e, de imediato, me recordei dos dias em que a ouvia na novela de cujo nome não me recordava. O resto do dia, a música não me saía da cabeça e passei a tarde a cantá-la. Depois de muito pesquisar, lá encontrei a música da minha infância e de que tinha tantas recordações.
O principal tema da música é o amor. Apesar de confusa, a letra retrata uma desilusão amorosa por parte do homem. Havia alguma coisa que o levava a desistir (“Nada mais era do que um som/ Que me levava a tentar fugir de ti... sair de ti...”), porém havia momentos em que a desilusão era esquecida e ele queria ficar com a mulher de volta por alguma situação que acontecesse e o fazia pensar na vida e que só faria sentido com ela (“Desistira de dizer / Nao dá mais, quero mais...”). No entanto, a mulher voltava sempre a desiludir o sujeito poético e faz que cada vez ele sofra mais. A letra mostra que o homem quer esquecer definitivamente a sua amada.

Carolina
«Que Deus?» (com sample do tema “O Pastor”, dos Madredeus) (Boss AC), Boss AC, Ritmo, Amor e Palavras, 2005

Poderia aqui escrever uma data toda pomposa do dia exacto que esta canção me faz recordar, mas estaria a mentir, porque, ao ouvi-la, não me recordo de nenhuma altura em concreto, uma vez que esta canção ainda hoje me põe a cabeça a trabalhar, não sobre uma época precisa, mas sobre vários temas. A existência de Deus é o mais óbvio e perdura ao longo da canção, mas estão também retratadas outras, como a morte, as guerras, a desigualdade entre os homens, a Religião e as incertezas que consomem o Homem.
Todas estas temáticas estão bastante presentes na minha cabeça no dia-a-dia e são assuntos que me fazem perder muitas horas de sono. E é então, quando me sinto a desviar do “mundo real”, que ouço esta canção.
Realço da letra da canção alguns versos, tal como o refrão («Porque é que os Homens se comportam como irracionais?/Porque é que guerras, doenças matam cada vez mais?/Porque é que a Paz não passa de uma ilusão?/Como pode o Homem amar com armas na mão?/Porquê?/Peço perdão pelas perguntas que têm que ser feitas/E se eu escolher o meu caminho, será que me aceitas?/Quem és tu?/ Onde estás?/O que fazes?/Não sei.../Eu acredito é na Paz e no Amor...»), que sintetiza muitas das questões que me faço a mim mesma, assim como outro passo («Porque é que me pões de luto e me levas quem eu amo?/Será que é essa a justiça pela qual eu tanto reclamo?/Será que só percebemos quando chegar a nossa altura?/Se calhar desse lado está a felicidade mais pura/Mas se nada fiz, nada tenho a temer/A morte não me assusta, o que me assusta é a forma de morrer...») que exprime na perfeição a incerteza e o receio que tenho face à morte e ao desconhecido.
Por fim, realço ainda o facto de a canção ter a colaboração dos Madredeus, que, ao “fornecerem” um sample da sua música, «O Pastor», enriquecem bastante «Que Deus?» e mostram que é possível conciliar dois estilos completamente diferentes de música e, ainda assim, construir um produto final interessante.


João Almendra
«A Paixão (segundo Nicolau da Viola» (Carlos Tê/Rui Veloso e Carlos Tê), Rui Veloso, Mingos & Os Samurais, 1990.

Lembrei-me de escolher esta música para o trabalho, por ser uma canção que me faz recordar de quando era mais novo, naquela altura, quando a música passava na rádio. A partir dessa altura, a canção ficou conhecida por toda a gente e a letra, não sendo muito difícil, era também trauteada por muita gente. Esta música também é cantada, ainda hoje, em castings de programas musicais, como os dos «Ídolos».
Quanto à letra, tem a ver com uma mulher, ou rapariga, e penso que, mais especificamente, relata um namoro. Os vários versos dão a entender isso e mostram alguma saudade, tristeza e, também, a vontade de querer conquistar («Mesmo sabendo que não gostavas, empenhei o meu Anel de Rubi, para te levar ao concerto que havia no Rivoli»). A canção parece ser memorialística e, entretanto, também serve de exemplo a muitas pessoas que querem conquistar outras.


Catarina
«Alguém me Ouviu» (? / ?), Boss AC e Mariza, ?, ?

Chego a casa. Mais um dia cansativo, um dia de rotina igual a tantos outros. Às vezes, triste, outras, feliz, em ambos os casos sem saber o porquê; simplesmente, sinto-me assim, à deriva. Sinto-me sozinha, mesmo com imensos amigos do meu lado, incompreendida, no fundo. Não percebo o porquê de me sentir assim. E é nesses dias mais complicados que entra a música, a minha melhor amiga, pois ela consegue exprimir os meus sentimentos. É nessa parte que esta música entra. Lembro-me da primeira vez que a ouvi: foi uma amiga que me deu a ouvir a música. Ouvi uma vez, logo a seguir duas, três, e comecei a pensar como é que uma música conseguia explicar sentimentos que para mim são inexplicáveis. Uma pergunta que certamente não terá resposta. Bem, para mim, uma das melhores coisas desta música é a letra, sem dúvida fantástica, também depressiva e triste, ou até arrepiante, especialmente se alguém estiver a passar por uma situação idêntica. Ao ouvirmos esta música, consegue-se sentir o que o cantor quer transmitir, quase que sinto a sua dor, raiva e tristeza.
Esta canção passa uma mensagem forte e direta. Boss AC diz-nos que, mesmo se a nossa vida estiver no auge da tristeza, a passarmos pela pior desilusão da nossa vida, se nos sentirmos tristes e infelizes sem razão, seja o que for, nunca devemos desistir de sermos felizes e devemos ter sempre esperança (“Vou-me aguentando a esperança é a ultima morrer, e neste jogo incerto, o resultado não posso prever”). Esta música, com uma junção de hip-hop com fado, dá a força que muita gente precisa para ultrapassar qualquer situação, pois todos somos fortes, alguns é que ainda não descobriram a força que têm em si mesmos. O desespero facilmente se tornará em esperança; e a tristeza em felicidade; basta acreditarmos. O título da canção, «Alguém me Ouviu», é uma forma de o cantor mostrar como se sente sozinho (“prisioneiro de mim próprio meu pior inimigo”), fazendo a tal pergunta sobre se alguém o ouve. Este “alguém” pode não ser propriamente uma pessoa, pode ser também uma força superior, algo que o ajude.
Adoro este cantor e, especialmente, esta canção, pois acho que ele, com as suas músicas, põe as pessoas a pensarem no sentido da vida, e nos seus sentimentos. Tenho a certeza de que, quando se ouve esta música, os pensamentos vão muito além. O nosso problema pode ser o pior do mundo e pensarmos que não há solução, mas, quando isso acontecer, respiramos fundo, somos forte e manter-nos-emos firmes.



Mariana C.
«Lisboa, não sejas francesa» (José Galhardo e Raul Ferrão), Amália Rodrigues, 1954-1958

Tenho de confessar que esta não é uma música que ouça muitas vezes mas, quando me lembro de ir pesquisar música portuguesa, ela é logo a primeira escolha. O professor disse-me que teria de escrever sobre a memória que a canção me suscita e, por essa razão, ouvi a música, vezes e vezes sem conta, para que percebesse em que é que pensava ao ouvi-la. Acabei por chegar à conclusão de que a memória que a música me traz é bastante agradável: imagino um café, numa rua escondida de Lisboa, aqueles cafés que não têm muita gente, apenas seis ou sete clientes habituais que a consideram como a segunda casa. Imagino um pequeno palco e um grupo de pessoas, sentadas à frente (é semelhante ao filme “Uivo” a que assistimos), prontos para testemunhar um grande espetáculo. O ambiente é bastante sereno e, não sei porquê, imagino a cena a preto e branco (talvez por achar que Fado é sinónimo de antigo). Assim que vai começar o espetáculo, alguém, no fundo da sala, grita – “silêncio, que se vai cantar o Fado” - e aparece Amália, a maior fadista de todos os tempos. Enquanto canta, Amália encanta. O som harmonioso da sua voz, a expressividade no rosto mas, especialmente, a sentimentalidade com que “deita cá para fora” tudo o que pensa. Ora, é fácil de entender o porquê de eu imaginar isto enquanto ouço a música: é que, embora não admita, lá no fundo, o meu sonho é ter um público ou, pelo menos, pessoas que admirem as minhas músicas e que nutram um respeito incrível pelo que eu faço, tal com toda a gente nutre pelo trabalho fantástico que Amália desenvolveu na área da música.
Vou ser sincera: no início, eu não tinha entendido o significado da canção, mas o meu pai disse-me que, na altura em que a música foi escrita, o que estava na moda era ser-se francês, ou seja, tocar piano, falar francês, enfim, tudo o que estivesse ligado a França. Por essa razão, Amália cantou esta canção, usando-a como uma forma de enaltecer as qualidades e características próprias de Lisboa, face à cultura dominante da época (“Não namores os franceses/Lisboa não sejas francesa/ tu és portuguesa/ tu és só para nós”). Sendo a capital, Lisboa apresenta um grande número de virtudes e representa Portugal, pelo que, se se tornasse francesa, Lisboa tornava-se a vergonha do país (“Vê-te bem no espelho/ desse honrado velho/ Não dês desgostos ao teu pai”). Os habitantes de Lisboa (em particular) e, de uma forma geral, os portugueses, são admiradores de Lisboa, por isso, querem que ela mantenha as suas tradições e cultura própria (“Lisboa, tens cá namorados/ que dizem, coitados/ tu és portuguesa”).



Marta
«Mudo» (Per7ume), Per7ume, Mudo, 2010

Se me pedissem para dizer quando é que ouvi esta canção pela primeira vez, não o conseguiria fazer, já não me recordo. Mas, se não me engano, penso que foi numa telenovela em 2010. Nessa altura, passava os dias a ouvi-la e a cantá-la mas fui perdendo este pequeno vício pois foram aparecendo outras canções que a substituíram. Porém, às vezes, tenho aquele gosto de recordar músicas antigas e, depois, o vício lá aparece outra vez.
O que a música nos transmite é a noção de mudança. O sujeito poético compara-se às mudanças do estado do tempo e diz ainda que muda muito rapidamente, por exemplo, de opiniões (‘‘Que, de repente, fiquei tão diferente/ Mudo, Mudo, Mudo’’), mas, por outro lado, tenta falar e explicar o que sente à sua amada, mas há sempre qualquer coisa que disso o impede (‘‘Experimento as palavras leva-as/ O vento eu/ Mudo, mudo, mudo’’). O sujeito poético diz ainda que tem de agir e não pensar que tudo pode correr mal e que tudo é demasiado sério: tem de deixar a vida andar normalmente, pensar menos e agir mais (‘’Tenho de agir/ E deixar de pensar/ Que há mistério/ Que é tudo tão sério… ‘’).
Em certos dias, enquadro-me com esta música, pois mudo de repente de humor e perco a coragem para dizer o que realmente sinto ou penso.



Salomé
«Aquarela» (Guido Morra, Maurício Fabrizio, Toquinho e Vinícius de Moraes), Toquinho, ?, ?

Ao ouvir esta música de Toquinho, é inevitável recordarmos a nossa infância e sentirmo-nos bem e tranquilos. Por isso, a maior parte das pessoas identifica-se com esta canção. Mas, se fizermos uma análise pormenorizada da canção, percebemos que não é apenas da infância que trata.
«Numa folha qualquer / Eu desenho um sol amarelo / E com cinco ou seis retas / É fácil fazer um castelo... / Corro o lápis em torno / Da mão e me dou uma luva / E se faço chover / Com dois riscos / Tenho um guarda-chuva...».
Nestas primeiras quadras, apercebemo-nos de que se trata claramente da infância, pois as crianças têm uma imaginação muito fértil e, para elas, tudo é possível. Para as crianças há sempre uma solução na vida, por mais que a vida não nos sorria («E se faço chover/Com dois riscos/ Tenho um guarda-chuva»). Posso falar, por experiência própria, que em criança vivia num mundo diferente do dos adultos. Quando era pequena, não existiam problemas. E, se existissem, acreditava que tudo se iria resolver e que a vida era como uma flor, pronta a desabrochar. O meu mundo era belo. Esse mundo era o Mundo da Imaginação.
«Se um pinguinho de tinta / Cai num pedacinho / Azul do papel / Num instante imagino / Uma linda gaivota / A voar no céu...».
Nesta quadra, podemos verificar tudo o que já referi. Mas há um aspeto importante aqui: para além de haver problemas (neste caso, o pinguinho de tinta no papel), há sempre uma solução (neste caso, a gaivota). A gaivota é um símbolo de liberdade. O que nos dá a entender o que já sabemos: as crianças são livres. São livres de criar o seu mundo de imaginação e são livres dos problemas dos adultos. São livres da tristeza. São simplesmente livres.
«Vai voando / Contornando a imensa / Curva Norte e Sul / Vou com ela / Viajando Havaí / Pequim ou Istambul / Pinto um barco à vela / Brando navegando / É tanto céu e mar / Num beijo azul...».
Neste mundo somos livres de viajar até onde quisermos. De sermos o que quisermos e de estar com quem quisermos. Lembro-me de, em pequena, fingir que era uma princesa. Não era, na verdade. Mas fingia sê-lo no meu mundo, viajando até ao tempo dos nossos antepassados, vivendo num mundo de princesas e príncipes, de reis e rainhas. Lembro-me até de dizer que o meu pai e a minha mãe eram o rei e a rainha e que eu e o meu irmão éramos a princesa e o príncipe.
«Entre as nuvens / Vem surgindo um lindo / Avião rosa e grená / Tudo em volta colorindo / Com suas luzes a piscar... / Basta imaginar e ele está / Partindo, sereno e lindo / Se a gente quiser / Ele vai pousar...».
Nestas duas quadras está nada mais, nada menos do que a imaginação. Com a imaginação, podemos ser tudo e podemos fazer tudo. Com a imaginação, criamos um mundo só nosso, que comandamos.
«Numa folha qualquer / Eu desenho um navio / De partida / Com alguns bons amigos / Bebendo de bem com a vida... / De uma América a outra / Eu consigo passar num segundo / Giro um simples compasso / E num círculo eu faço o mundo...».
Nestas quadras, consigo ver já uma fase diferente na vida: a adolescência. Na adolescência, começamos a criar o nosso mundo, mas na vida real. E, com certeza, fazemo-lo com a ajuda dos nossos amigos. Na fase da adolescência, temos “O navio de partida”, pois começamos a descobrir coisas novas e a sermos menos dependentes dos nossos pais. E vamos construindo, assim, o nosso mundo, na vida real.
«Um menino caminha / E caminhando chega no muro / E ali logo em frente / A esperar pela gente / O futuro está...».
Na fase da adolescência, vamos caminhando. Vamos construindo o nosso presente, que vai afetar o nosso futuro.
«E o futuro é uma astronave / Que tentamos pilotar / Não tem tempo, nem piedade / Nem tem hora de chegar / Sem pedir licença / Muda a nossa vida / E depois convida / A rir ou chorar...».
Nesta parte da música, já passámos para o futuro, o futuro que nos leva para o mundo dos adultos e das responsabilidades, e que “é uma astronave que tentamos pilotar”. Nós tentamos criar o nosso futuro. A maior parte dos adolescentes cria o seu futuro estudando, para mais tarde exercer uma profissão. Mas o futuro não tem tempo nem piedade, e chega, por vezes, quando menos esperamos, mudando a nossa vida tanto para melhor como para pior. E cabe-nos a nós fazer como éramos em criança e sorrir para a vida, mesmo que ela não nos sorria, criando sempre uma alternativa e uma solução.
«Nessa estrada não nos cabe / Conhecer ou ver o que virá / O fim dela ninguém sabe / Bem ao certo onde vai dar / Vamos todos / Numa linda passarela / De uma aquarela / Que um dia enfim / Descolorirá...».
Nas primeiras quatro estrofes, fala-se-nos ainda do futuro, sem que saibamos o que nele vai acontecer. Nas últimas estrofes, passamos à fase da velhice. Na velhice, continuamos a viver e a caminhar consoante as surpresas que o futuro nos reserva. Mas todos sabemos que toda a vida que construímos até àquele momento um dia se desmoronará.
«Numa folha qualquer / Eu desenho um sol amarelo / (Que descolorirá!) / E com cinco ou seis retas / É fácil fazer um castelo / (Que descolorirá!) / Giro um simples compasso / Num círculo eu faço / O mundo / (Que descolorirá!)».
A vida que pintámos, tal como em pequenos fazíamos, “descolorirá”.
Para mim, esta música tem uma mensagem muito importante. Ajuda-me a perceber que devemos aproveitar a vida e que há sempre uma solução. Ajuda-me a perceber que, um dia, tudo o que construí acabará. Por isso, o melhor é aproveitar a vida e colori-la com o máximo de cores que conseguir, para que, no futuro, quando acabar, não descolore por completo, deixando ainda marcas no meu passado.


Mariana O.
«Lado Lunar» (Carlos Tê / Rui Veloso), Rui Veloso, Lado Lunar, 1995

Penso, repenso, rerrepenso e, na verdade, não preciso de pensar tanto assim, as memórias estão vivas e têm alma, são aos milhares, caem com força e, com a velocidade com que passaram, voltam a reaparecer. Lembro-me de, ainda menina, descobrir o sabor da música. Devia ter eu uns onze, doze anos, a primeira vez que tive o privilégio de presenciar tanta paixão numa música só. Lembro-me de sorrir e iniciar a relação mais forte que até hoje trago comigo, a minha e a da música, a única que me conhece tão bem quanto eu. De toda a canção, a frase que mais me chama a atenção é “Toda a alma tem uma face negra, nem eu nem tu fugimos à regra”. Desde mais pequena que me lembro de adorar e de sorrir com ainda mais intensidade cada vez que ouvia tal frase enquanto batia o pezinho no chão em modo ritmado mas pouco coordenado, porém o significado que no início trazia no meu sorriso mudou sensivelmente. Assim como a infância, as nossas primeiras visões do mundo são fáceis e muito menos subjectivas, tudo parece fácil e nem mesmo o medo é capaz de nos impedir de viver; porém, não são precisos muitos anos para que tal pensamento mude. Cada vez que recordo esta música, lembro-me de almoços de família que, ingenuamente, se prolongavam para lanches e até jantares, da mesa montada em pleno jardim e dos meus tios em frente ao grelhador com aventais que na altura me pareciam imensos e pesados. Todo o dramatismo era posto de lado, não havia tempo suficiente nas nossas cabeças que justificasse tais pensamentos: era eu, os meus primos e a nossa eterna infância constituída por correrias infindáveis de modo de fazer o tempo passar ainda mais rápido, enquanto assaltávamos silenciosamente as tigelas das sobremesas que os adultos insistiam em deixar para o fim da refeição. As sardinhas chegavam à mesa perfeitinhas, não havia um único defeito a apontar, mas a mousse mesmo já com marcas de dedos de dez ou onze crianças esfomeadas parecia sempre mais bonita. Foram tempos que ainda hoje me deixam saudade, não por necessitar de reviver o que já foi vivido mas por não ter oportunidade de reescrever agora uma nova história, pois como diz a letra (“Com lados felizes eu já não me iludo”), são inesquecíveis os tempos de infância e esses, apesar de ainda não terem terminado, já ninguém mos tira… O que chamar a isso? Como diria Rui Veloso, “Chamemos-lhe apenas o lado lunar”.
Esta música retrata duas visões, aquela que de princípio parece a mais acertada e a mais tentadora, e a outra, que nos remete para a escuridão e para aquilo que de princípio, nunca colocaríamos em primeiro plano. Porém, na canção, o sujeito poético realça que o lado escuro, neste caso o Lunar, nem sempre tem que ser caracterizado como o lado mau (“O teu lado solar só dura um segundo / Não é por ele que te quero amar”). A letra fala sobre a paixão e o amor que habitualmente têm o poder de cegar todos aqueles que por eles se deixarem levar. Deste modo, a canção indica que o lado bom não necessita de uma caracterização e que é preferível amar pelo lado real, mesmo não sendo o melhor, a amar pelo lado que parece mais brilhante mas que de futuro com o tempo, vai desaparecendo (“Eu hei-de te amar por esse lado escuro com lados felizes eu já não me iludo”).


Miguel G.
«Sexta-feira» (Boss Ac), Boss AC, Para os Amigos, 2012

Férias de Páscoa e Gouveia são as palavras, ou momentos, que a música “Sexta-Feira”, do Boss Ac, me fez lembrar de imediato. Porquê? É simples: nas tão desejadas férias de Páscoa, eu e uns quantos amigos fomos para o Festival Secundário — em Gouveia, é claro —, o mesmo Festival a que já queríamos ir há uns quantos pares de meses e, quando chegámos lá, só se ouvia essa mesma música a tocar, desde as tendas até aos concertos. E isso durou o Festival todo, durante todos os seus cinco dias. Como o Festival, para mim, foi um grande momento que passei com as pessoas de que gosto, essa música tornou-se uma lembrança, ou até mesmo um símbolo, desse bom momento. Agora, sempre que oiço a música, lembro-me do Festival e dos seus felizes momentos, mas, também, de como eu já estava farto da música…
Quanto ao texto da canção, faz-me lembrar do estado do país, com muito desemprego, principalmente entre os jovens, e os baixos salários (“Tantos anos a estudar para acabar desempregado / ou num emprego da treta, mal pago / e receber uma gorjeta que chamam salário”). Uma das razões por que gosto tanto dessa música é a sua letra, pois faz uma crítica à situação actual que o país vive, e de que tanto se fala, e, por outro lado, mostra a revolta que os jovens vivem ao não conseguir um emprego e condições para uma vida estável (“Onde vou arranjar dinheiro para uma renda? / Não tenho condições nem para alugar uma tenda”). Sempre que oiço o refrão, lembro-me de Gouveia, porque todos o cantavam – até mesmo nas aulas de português, à sexta-feira, alguém o canta («É sexta-feira, yeah»).



Mariana L.
«Dá-me um abraço» (Miguel Gameiro), Miguel Gameiro, A Porta ao Lado, 2010

Escolhi esta música, porque retrata um dos melhores momentos da minha vida. No Verão do ano passado, passei umas “mini-férias” com os meus melhores amigos, e estávamos um pouco nostálgicos por ser o último ano de escolaridade juntos, tínhamos receio de que nos viéssemos a separar. Entre muita praia, muita parvoíce e muitas lamechices, sem querer, entrámos numa feira, apenas para passear e jantar, mas acabámos assistindo a um concerto dos Pólo Norte, de que Miguel Gameiro é vocalista, e lá ficámos nós durante umas horas. A última música foi “Dá-me um abraço”, cantada pelo Miguel Gameiro e por um pequeno grande convidado, o sobrinho do mesmo, que tinha cerca de sete anos. Recordo-me que foi um momento único ver os meus melhores amigos todos agarrados a cantarem a música, ouvir toda a plateia a cantar. Foi como ter a certeza de que a nossa amizade não acabaria ali, foi apenas mais uma prova, impossível de descrever através de palavras.
Esta música defende que o amor não necessita apenas de palavras, os gestos são muito mais valorizados e sentidos, existem alturas, de pura fraqueza ou pura felicidade, que só conseguimos transmitir ao outro através de um abraço (“Dá-me um abraço que seja forte / E me conforte a cada canto / Não digas nada que o nada é tanto / E eu não me importo”). Por vezes, quando estamos perdidos, é disso que precisamos, de uma prova concreta de que alguém está lá e também necessita de nós (“Dá-me um abraço que me desperte / E me aperte sem me apertar / Que eu já estou perto abre os teus braços / Quando eu chegar). Nesse dia, eu tive a prova.



Tiago F.
«Imagina» (SP & Wilson), SP & Wilson, Barulho, 2006

Esta canção foi a minha escolha para o trabalho, visto ser uma música que fala sobre um mundo, imaginável, em que não existiria guerra, apenas paz e harmonia entre todos os seres humanos. Assemelha-se um pouco a Imagine, de John Lennon, por ambas defenderem um mundo igual, sem discriminação, onde todos temos os mesmos direitos.
Em primeiro lugar, esta canção defende um mundo pacífico, onde não exista pobreza, onde o dinheiro não tenha qualquer valor e a sociedade não esteja dividida hierarquicamente e todos, independentemente das suas posses, tenham a mesma igualdade de oportunidades. Outro dos pontos mais importantes desta música é, tal como já referi, a luta contra a discriminação. Apesar de vivermos numa sociedade desenvolvida e, supostamente, justa, existe ainda demasiado preconceito com pessoas fora das maiorias sociais, seja pela diferença de cor, orientação sexual ou até mesmo, pelo tipo de corpo. Este é um dos pontos importantes por que se deve lutar – todo o ser humano é igual e merece igualdade de direitos e deveres.
Devemos também amar o próximo tal como nos amamos a nós mesmos. Apesar de este ser um dos princípios da religião cristã, nem sempre é respeitado e usamos, muitas vezes, o ser humano como meio para um fim, preocupando-nos apenas com os bens materiais. É possível então pôr uma questão bastante importante: qual será o sentimento de amor? Hoje em dia, não arrisco em dizer todos, mas pelo menos, a maior parte, age querendo algo em troca ou, por vezes, age por dever, não porque deva, mas sim porque, agindo dessa forma, terá alguma recompensa. Portanto, temos de nos deixar de preocupar tanto com os bens materiais e preocuparmo-nos mais com o próximo.
“Podes pensar e falar, sem medos.” Este verso, na minha perspectiva, remete-nos, mais uma vez, para um dos críticos problemas na nossa sociedade actual: os juízos de valor que são feitos através das nossas opiniões, dos nossos princípios, das nossas acções. Como seres humanos, temos todos uma dignidade inviolável, não devemos ser julgados ou discriminados pelas nossas opiniões. O que tu achas que está certo eu posso achar que está errado. Será que tenho menos direitos que tu? Será que sou “menos humano” por pensar ou agir de maneira diferente?
A canção acaba por felicitar todos aqueles que, apesar de viverem numa sociedade tão problemática, conseguem ser emocionalmente fortes e são capazes de amar, no sentido máximo da palavra, respeitar, mas, principalmente, aqueles que conseguem ser felizes e que nunca perdem a esperança de que tudo irá mudar um dia.
Por fim, podemos afirmar que a letra da música alude a uma situação utópica, a uma sociedade perfeita, onde todos os objectivos seriam cumpridos, passando assim, a não existir discriminação e preconceito, onde o respeito e o verdadeiro sentido do amor estariam presentes. Será que o ser humano é capaz de pôr os seus interesses de lado e agir de forma moral, de forma a respeitar o próximo? Esta será uma questão que dificilmente será respondida, visto o ser humano se assemelhar sempre às suas origens, ou seja, à animalidade, achando sempre que as suas necessidades e preocupações são maiores que as do próximo.
Até lá, imagina, tal como fizeram muitos cantores e tenta ser feliz no teu mundo ilusório.


Filipa
«Intervalo» (Rui Veloso & Per7ume), Per7ume, 2008

Esta canção faz-me lembrar imensa coisa, o Karaoke na Galé em que, normalmente, todas as pessoas cantam esta música, talvez por retratar uma história de amor e porque o que há mais são pessoas apaixonadas e a sofrer desilusões. Lembro-me perfeitamente de, uma noite quentíssima em Agosto de 2009, eu e os meus amigos estarmos sentados no mesmo sítio de sempre. Estava a beber coca-cola e, de repente, a Cátia, uma amiga minha, puxa-me e disse «vamos cantar». A primeira vez em que eu iria cantar no Karaoke da Galé, e, ainda por cima, nem sabia o que ia cantar. Quando chego lá em cima, vejo imensa gente, olho para o ecrã onde leio a letra, e vejo «Per7ume, Intervalo». Mas que música é esta? Quando a batida linda que a música tem começou a tocar, eu fiquei logo fascinada, a Cátia começou a cantar e eu fui acompanhando. Quando acabei, todas as pessoas presentes bateram palmas (como se sabe, no Karaoke, cantando ou não, somos aplaudidas na mesma). Quando me sentei é que me apercebi de como aquela música me tinha tocado: era linda. Como era possível eu nunca a ter ouvido? E, a partir desse dia, ouvi a música uma quinhentas mil vezes, e ainda hoje, quando a oiço, me emociono.
Quanto ao texto da canção, quando se diz «Vida em câmara lenta, Oito ou oitenta, Sinto que vou emergir, Já sei de cor todas as canções de amor, Para a conquista partir.», o autor quer dizer que a vida é lenta, é oito ou oitenta, ou seja, ou é tudo ou é nada. Diz que já sabe de cor todas as canções de amor e que vai partir para a conquista. Com «Diz que tenho sal, Não me deixes mal, Não me deixes», está a pedir que a pessoa de que gosta lhe diga que ele é interessante, que não o abandone para ele não sofrer um desgosto de amor. Não leu nenhum livro com ela, não viu nenhum filme com ela, nem entrou em nenhuma foto dela, mas a sua paixão é ela («No livro que eu não li, No filme que eu não vi, Na foto onde eu não entrei, Notícia do jornal, O quadro minimal, Sou eu»). Pede para que ele não o deixe, que não pare de estar apaixonado por ela, porque a sua relação não terminou («Não me deixes na história que não terminou, Não me deixes»).



Daniel
«Quem és tu miúda» (Os Azeitonas), Os Azeitonas, Salão América, 2009

Recordo-me que ouvi esta música pela primeira vez na televisão na série da TVI “Morangos Com Açúcar”. Ao princípio, pouca atenção me despertou, até porque não conhecia a letra, mas, à medida que comecei a ouvi-la com mais frequência, dei por mim a cantarolar também o seu refrão. Cada vez que alguém dizia “Olha me aquela rapariga (…)”, por qualquer razão banal, mesmo que não se relacionasse com esta música, pensava sempre no refrão da mesma.
Após pesquisar um pouco no blog da banda, que encontrei quando comecei a fazer este trabalho, descobri que  «Os Azeitonas» começaram a cantar apenas por uma brincadeira entre amigos, mas que esta “brincadeira” se veio a tornar um fenómeno musical nacional. Neste momento, têm algumas músicas a passar nas rádios mais conhecidas, como é o caso da Rádio Comercial.
Quanto ao texto da música, sou da opinião de que se trata de uma música de amor, ou então mesmo de declaração em que o cantor faz vários elogios à “miúda” que ama. Pergunta quem é ela, que já a presença dela é tão intensa que atormenta o cantor. Também a ansiedade de vê-la está bem presente na canção: “Quem és tu miúda/Miúda quem és tu/Me atormentas em câmara lenta/Eu já não posso mais conter, esta ansiedade de te ver”.
Nunca se chega a saber qual a resposta da pessoa para quem esta letra foi escrita, claro – ou talvez não tenha sido escrita para ninguém em especial – mas, para os mais sonhadores, ou que, simplesmente, acreditam mais fortemente no amor, fica sempre a esperança de que o cantor sempre concretizou aquela sua paixão.


Pedro F.
«Amor Combate», Linda Martini, Olhos de Mongol, 2006

Não foi há muito que ouvi pela primeira vez esta banda e, particularmente, esta música, que rapidamente cativou o meu interesse pelo seu rock de garagem desleixado. A letra faz, a meu ver, alusão a um amor impossível, nunca esquecido por ambas as partes e que se intensifica a cada dia que passa, mesmo que seja “combatido” e que os destrua por dentro. Há uma falsa eterna esperança de felicidade e conforto emocional e isso só poderá ser alcançado quando acabar a luta a que o amor leva. Afinal, o amor é mesmo um combate do qual ninguém sairá vencedor. Apenas a dor, essa sim, a grande vencedora de qualquer combate, nos invade a todos, deixando marcas que dificilmente se apagarão.
Sempre que ouço esta música, ela deixa-me um sentimento nostálgico, uma lembrança dos amores complicados mas normais na adolescência, das gargalhadas com os amigos. Ao mesmo tempo, a canção transmite uma certa calma e solidão no escuro, como se não existisse mais ninguém e todas as memórias fossem as melhores possíveis. Afinal, é mesmo para isto que a música serve, para acalmar o combate emocional de todos os dias.



Miguel T.
«Tirana», GNR, ?

Gosto muito da letra da canção principalmente pelos seus trocadilhos e brincadeiras de palavras; por outro lado, há coisas na letra que ainda não consegui compreender. É também um pouco por isso que gosto dela. Desde sempre que gostei da banda, li muito sobre eles e há um episódio, dos tempos em que começaram a ficar famosos, em que Rui Reininho (então vocalista do grupo) quando sai de um concerto vai falar com os jornalistas sobre uma polémica que existiu (e ainda existe) entre eles e a Guarda Nacional Republicana por as suas siglas serem as mesmas. Rui Reininho diz então com o seu sotaque cerrado nortenho: “-Eles que mudem de nome (…)!”
A tensão desse episódio acaba em bem com um concerto da banda com a banda filarmónica da GNR. Na verdade, embora poucos o saibam, a sigla GNR significa Grupo Novo Rock. Mas, voltando à canção, gosto bastante da maneira como começa. Os primeiros versos dizem-me muito (têm muita mensagem). Há uma pequena introdução e a letra começa assim: “Tirana é um lugar (…)” e só com estas quatro palavras podemos prever o que vem a seguir. Tirana, como saberão muitos, é a capital da Albânia, país sempre considerado isolado do resto do mundo. Por isso, “Tirana é um lugar. Quem sabe? / Difícil de encontrar. / Tirar à sorte e dar. / Avançar, retirar”.
O terceiro verso tem uma brincadeira com a fonética, a forma parecida de dizer “Tirana” e “Tirar”. O quarto verso rima com os dois anteriores e também as duas palavras no verso rimam entre si. A música continua e muda completamente a definição de “Tirana”. Desta vez diz-nos que Tirana é uma menina, que foi muito sedutora (há pouco tinha sido um lugar, agora personificam a palavra Tirana e dão-lhe vida, dizendo que é uma pessoa, uma menina). Essa menina que atira algo ao ar sem o intuito de acertar, atira à sorte: “Tirana é uma menina. Foi! / Muito sedutora. / Atirar à sorte. P’ró ar, / sem o intuito de acertar”.
Quando entramos no refrão, canta-se uma mistura de termos e contas matemáticas, com a letra que se tinha vindo a desenvolver até aqui: “Dois, três, seis. [2x3=6] / Multiplicar somar. / Mais carne para canhão. / Despir e investir. / Três, dois, um. [3-2=1] / É só subtrair, / Aprender a dividir. / Para poder reinar.”
E voltamos assim às estrofes e começamos a dar um novo significado à palavra “Tirana”. Gosto muito destes “jogos” que fazem sempre à volta da mesma palavra. O português, língua tão versátil, permite-nos fazer alguns trocadilhos muito engraçados que embelezam, de alguma maneira, as canções.
“Tirana é sofrimento Foi! / É ferida e unguento, / Tirana é sincera. / Mas só por um momento.”. Nesta quadra vemos a mesma palavra a ter agora uma conotação sentimental, ligando-a a emoções como o sofrimento e sinceridade. E, logo a seguir muda-se completamente e volta-se a dizer que “Tirana é um bom nome” associando à figura de Salazar, paradigma ou ironia.
“Tirana é um bom nome Foi! / Para quem não sentiu fome / Se ela ainda te enganar / Não vais partir e podes cá ficar”.
E assim acaba a nossa música; viajamos nas asas de “Tirana”por vários mundos (os vários significados da palavra) mesmo que, às vezes, os significados não sejam bem “reconhecidos”. Gosto muito desta música por causa destas pequenas coisas e do mistério que a letra deixa perante algumas palavras soltas que são inexplicáveis mas servem mesmo para isso: guardar o mistério…




Maria
«Embeiçados» (?), Clã, ?, ?

Esta música descreve-me enquanto pessoa e companheira. Embore exagere bastante tanto na descrição bem como na parte física, integra-se perfeitamente na maneira como me descrevem, mesmo se enfatizando os pontos menos bons.
Não me sei descrever de um modo simples e percetível. Ainda assim, sinto que a minha personalidade se insere no perfil traçado na canção: “Ela tem boca torta, nariz grande, cabelo mal cortado, rói as unhas, usa cunhas, mas eu estou apaixonado… uma boca exagerada”; “Ela é ciumenta, rabugenta, embirrenta e tagarela, intriguista e moralista”.



João F.
«Sol da Caparica» (Luís Varatojo), Peste & Sida, Portem-se Bem, 1989

Ultimamente tem estado um calor infernal, o que me fez lembrar verão, praia, festas, raparigas, enfim, esta música! Ouvi-a pela primeira vez durante a minha infância, e, hoje em dia, ainda dou por mim a cantar o refrão (que fica muito facilmente na cabeça), sempre que oiço falar em Costa da Caparica, um destino muito apreciado por mim e onde a minha praia favorita é a Praia da Cabana do Pescador, que regularmente frequento nas férias.
A letra desta música fala-nos de alguns adolescentes aventureiros que, unidos pela música da “Cassete dos Ramones” e pelo descapotável, “fogem de Lisboa” (ou seja, da confusão da capital portuguesa) para relaxarem nas praias da Costa da Caparica durante as férias de verão. Esplanadas, cerveja, “míudas” – as suas maiores tentações deste destino, que acompanhado do calor e da praia, tornariam as suas férias bastante agradáveis.

Sol
"Vivo por ti", Hugo Piló, Espírito Indomável, ?
A letra da música fala sobretudo de uma pessoa. O refrão ("Luz que acende o meu sentir, / Mão que ampara o meu cair / Cada passo, Cada hora, / Cada momento, vivo por ti") refere a importância que essa pessoa tem para o sujeito poético. Na estrofe "Trazes na tarde que cai, / O dia, o fim / A paz que há em mim, / No teu olhar", o foco é sobre o poder que o olhar de quem ama tem sobre o poeta. Segue-se uma quadra em que o «eu» admite que o seu sonho é pertencer-lhe ("Trazes na noite que vai, / O sonho que é meu / Dizes sou teu, / E o tempo vai parar"); note-se a metáfora "o tempo vai parar". A estrofe seguinte faz parecer que há um controlo sobre o sujeito poético, dando-lhe a amada aquilo de que precisa para conseguir viver ("Trazes no corpo o meu ar, / Os sentidos / O que sou, / E onde vou"). Vêm depois versos sobre o facto de ele estar sempre pronto para fazer o que fosse preciso por ela ("Trazes no teu acordar, / O desejo / Pronto p'ra to dar, / Aqui estou"). Por fim, nas duas últimas estrofes, surge a constatação de que os dois se completam, de que o que falta num o outro tem ("Se sou o fogo, és a chama, / És a vontade, e eu agir / Se sou querer, tu és o poder, / És a viagem, eu sou o partir // Quando és sonho, eu sou desejo, / Se eu sou caminho, és meu andar / O meu verão, a minha sede, / A minha voz o meu cantar").
Identifico-me com esta música porque também eu tenho pessoas muito importantes na minha vida, como a minha família e os meus amigos, que lhe trazem mais cor. Quando estou mais em baixo, tenho sempre a sua ajuda, conseguem-me pôr um sorriso na cara. Sem estas pessoas também eu não sou nada. Preciso deles para me sentir bem e feliz.

Pedro S.
«Que Deus» (Boss AC, com sample dos Madredeus), Boss AC, Ritmo, Amor & Palavras, 2005
Escolhi esta música pela letra que tem e pela mensagem que me transmite. Desde que a ouvi que teve um grande impacto em mim, pois faz algumas perguntas que também já me coloquei, especialmente numa fase menos positiva da minha vida.
Na minha opinião, o sample dos Madredeus encaixa muito bem com a música, provando que dois géneros musicais tão diferentes se podem fundir e com isso constituir um produto final de qualidade.
Alguns dos versos têm um especial impacto em mim: «Quem quer que sejas, onde quer que estejas, / Diz-me se é este o mundo que desejas, / Homens rezam, acreditam, morrem por ti, / Dizem que estás em todo o lado mas não sei se já te vi, / Vejo tanta dor no mundo pergunto-me se existes, / Onde está a tua alegria neste mundo de homens tristes? / (…) / Porquê que guerras, doenças matam cada vez mais? / Porquê que a Paz não passa de ilusão? / Como pode o Homem amar com armas na mão? / (…) / Quem és tu? Onde estás? O que fazes? Não sei... / Eu acredito é na Paz e no Amor... / (…) / Interrogo-me, penso no destino que me deste, / E tudo que acontece é porque tu assim quiseste, / Porque é que me pões de luto e me levas quem eu amo?»
Como podemos ver, o sujeito poético interpela Deus, questionando-o várias vezes com o objetivo de tentar perceber o porquê de haver tanto sofrimento no nosso mundo, como a guerra, as doenças e a morte, se (supostamente) existe uma entidade com poder para mudar isso.
A existência de Deus sempre foi um tema com que me debati ao longo da vida, e continuo a fazê-lo. Ao ver tanto mal no mundo, como as guerras e as doenças que dizimam milhares, pergunto-me constantemente como é possível alguém deixar que isto aconteça, qual é o objetivo de fazer sofrer as pessoas?
Esta música lembra-me da altura em que o meu bisavô morreu, um momento em que, emocionalmente, me fui abaixo. O meu avô, pessoa bastante religiosa, tentou animar-me diversas vezes, dizendo coisas como «Ele está num lugar melhor agora»; mas estas tentativas não surtiram efeito e tornou-se rotineiro ouvir esta música, especialmente a passagem «E tudo que acontece é porque tu assim quiseste, / Porque é que me pões de luto e me levas quem eu amo?», pois expressava perfeitamente o meu estado de espírito de então.