Monday, September 12, 2011

Microfilmes autobiográficos 10.º 6.ª

Mariana C.







Mariana C. (17,3) Texto/Estrutura Aparentemente, o filme é sobretudo narrativo (no estilo de «Um dia na vida de...»), mas, na verdade, à medida que o dia-tipo de Mariana nos vai sendo relatado, temos comentários, relativamente introspetivos, que traçam um retrato da autora. É uma estratégia inteligentemente concebida, já que se evita o rol de definições/gostos em que costumam cair os autorretratos e se escapa também à fórmula meramente informativa da rotina do dia. A redação é bastante boa, embora creia que a autora conseguiria fugir a alguns trechos ora mais evasivos ora simples lugares comuns («como só eu sei fazer», «importante para o meu futuro», «há que ter esperança»), se não tivéssemos de ter em conta que o texto estava condicionado pela necessidade de cumprir tempos das imagens e houve decerto boa preocupação em tudo planificar como conjunto. Em vez de «São nestes sessenta minutos semanais que encontro a minha paz interior», seria «É nestes [...]». Expressão oral É uma leitura muito boa. Com grande esforço de encontrar alguma coisa menos bem, poderia dizer que, por vezes, muito lisboeta, a Mariana quase junta sílabas que deviam estar separadas, como acontece em «para o dia que aí se avizinha». Talvez haja uma pausa indevida entre «reconheço» e «que o estudo é importante».



Lara







Lara (15,3) Texto/Estrutura Foi uma abordagem diferente, que resulta bem: uma narrativa fictícia, embora na 1.ª pessoa (como se estipulara). É como se se tratasse de uma página de romance encontrada solta, que, lida de relance, nos dá a curiosidade de saber o resto. Na redação, escaparam à Lara os seguintes aspetos: «E o facto de ontem» deveria ser «E o facto de no dia anterior», porque a enunciação se situa num tempo indefinido mas que não é tão contemporâneo dos acontecimentos (o mesmo acontece com outro «ontem» ao minuto e dezassete); «E, agora, estou no décimo ano» deveria ser «quando, agora, estou no décimo ano»; «O facto de ter contado coisas» implicava depois o uso do pretérito mais-que-perfeito («que não compartilhara») e não o imperfeito («compartilhava»). Expressão oral Foi uma boa leitura (embora, note-se, uma leitura que assumiu não querer ser expressiva: o grau de dificuldade acima exigia uma espécie de representação, que aqui não foi tentada). Notei apenas hesitações em «Só / de pensar» (0.2) e «com / que cara» (1.38) e, por vezes, o ligeiríssimo respirar fundo para retomar o fôlego após pontos finais.



Marta







Marta (16,5-16,6) Texto/ Estrutura Embora o título seja «A minha vida», o filme é sobretudo uma homenagem à amizade. De certo modo, são umas memórias do 3.º ciclo, mais do que o quotidiano presente, e que aliás não ficam isentas de certa nostalgia. Esse efeito, de saudade misturada com otimismo para o futuro, está bem trabalhado. Aqui e ali, na segunda metade do texto, há aproximações a um autorretrato de Marta. Erros de sintaxe: «E são nesses mesmo momentos» deveria ser «E é nesses mesmos momentos»;«Que apercebo o quanto especiais são para mim» deveria ficar «Que [me] apercebo [de] como [...]».Quanto a «amiga dos meus amigos» e «ninguém é perfeito» são lugares comuns evitáveis. Expressão oral (Por vezes, o volume, baixo, e a música, em sobreposição, tornam difícil perceber tudo o que é dito, mas julgo nada me ter escapado.) Boa leitura. Não era de ler o título («a minha vida»), até porque aparece escrito. Em «Mas, recordando tudo o que passei com eles, [...]», a pontuação do escrito ficou demasiado marcada (é que há vírgulas que não são para ler). Quase a fechar o filme, o primeiro, e único, tropeção (1,51).



Carolina







Carolina (16,2) Texto/Estrutura O texto de Carolina está bem escrito. «Memórias» é prática e teoria (ou talvez até mais teoria do que prática). Vemos a narradora em reflexão sobre como lidar com as memórias: ora como encontrar as recordações do que se passou antes; ora como marcar agora o que se quer vir a recordar no futuro. Não se chega propriamente a recordar alguma coisa em concreto, o que realmente não era o mais importante. Reparos linguísticos: não é «na esperança que o olhar», mas «na esperança de que o olhar»; «momentos que me marcaram e que ainda hoje o fazem», não sendo agramatical, não é talvez elegante («e que ainda hoje marcam» parece melhor); «aí», em estruturas do tipo de «talvez aí eu tenha mudado a vida de alguém» ou «e aí pergunto-me», é substituível com vantagem por «então». E são sempre de evitar os lugares comuns como «vivo ao máximo». Expressão oral Muito boa leitura.



Mariana O.







Mariana O. (16,9-17) Texto/Estrutura Como o título esclarece («Desapego de memórias»), o texto de Mariana é mais um manifesto virado para o presente e para o futuro do que uma reflexão melancólica sobre o passado. Por isso os tipos expositivo e argumentativo marcam quase tanto o texto como o narrativo. Por isso o ritmo é rápido e decidido. Por isso certo pendor para as metáforas («pilares», «encaixe», «forasteira»). A montagem (ou o estilo das imagens) e a música favorecem toda esta euforia otimista. Seguem-se uns poucos reparos linguísticos. «Vejo-me todos os dias deparada com» não é correto (teria de ser «Vejo-me todos os dias confrontada com» ou «Todos os dias me deparo com»). Em vez de «aquilo que grande parte apelida de imperfeito», «aquilo que tantos apelidam de imperfeito». Alguma tendência para pleonasmos («perfeitamente bem» [= perfeitamente], «assim tal como eu» [= como eu]) e para as repetições é de ordem estilística, propositada portanto, e não tem de ser criticada. Expressão oral Muito boa leitura.



Miguel G.







Miguel G. (14,8) Texto/Estrutura O microfilme do Miguel tem o mérito da escrita liminar, económica e criativa, dos filmes de publicidade. Mais do que texto seguido, temos um conjunto de slogans, e essa retórica própria do filme muito curto é perfeitamente alcançada. O texto, baseado em estruturas paralelas, é bom. Pode é dizer-se que, tratando-se de trabalho em que convinha exibir capacidades de escrita e de leitura em voz alta, o corpus talvez devesse ser mais extenso (descontada a música, a parte falada é de cerca de um minuto apenas). Um problema de regência: «Essa pessoa que me orgulho» deveria ficar «Essa pessoa de que me orgulho». Expressão oral As entoações são corretas, embora, à medida que nos aproximamos do fim, aumente demasiado a velocidade da leitura em voz alta, o que faz que fiquem menos definidas as palavras e, por vezes, se perba mal o que é dito (até porque o volume tambám é grande).



Pedro S.







Pedro S. (15,5) Texto/Estrutura Escolheu-se uma abordagem descritiva (os amigos, os gostos), o que acaba por implicar que o texto seja constituído por séries de afirmações justapostas, que, se dão um retrato do autor, não têm, em termos textuais, densidade, complexidade. Creio que o Pedro conseguiria fazer texto mais desenvolvido, mais sofisticado. Um erro apenas: «fazendo o que gosto» (deveria ser: «fazendo aquilo de que gosto»). Expressão oral É uma boa leitura (mas foi pena que o texto não pusesse desafios maiores, que creio que o autor seria capaz de ultrapassar). Em «Optimista» (ou «otimista») o «p» não é para pronunciar. «Desejar» (cerca de 0.24) não saiu bem definido.



Miguel T.







Miguel T. (17,4) Texto/Estrutura Houve grande mérito na ideia: apresentar-se o autor como ator também; com isso aumentar a dificuldade imposta pela impossibilidade de ler em off, mas, ao mesmo tempo, poder-se adotar um texto mais poético — e bom —, que se socorre da própria presença do Miguel; focar o texto no assunto’música’, o que permite convocar recursos de som, que, conjuntamente com a citada aproximação teatral, fazem que o microfilme passe bem com um plano único do princípio ao fim. Expressão oral É dos poucos microfilmes em que a expressão oral não deve ser aferida pela leitura exclusivamente (como em quase todos os outros filmes, independentemente se tratar de leitura neutra, expressiva ou mesmo histriónica); neste caso, houve intenção de representar, mesmo se o texto está também a ser lido, e aspetos como gestos e expressão do rosto têm também de ser tidos em conta. Essa representação, incluindo a própria locução, parece-me bastante boa.



Catarina







Catarina (15,8) Texto/Estrutura O microfilme da Catarina tem o título de «Partes da minha vida». Embora faça um resumo da vida desde o nascimento, e reserve também uma sequência especial à família, a maior parte do texto e das imagens remetem para as amizades, para os colegas de escola (do 3.º ciclo, creio). É, portanto, essa a ‘parte da vida’ de que aqui se trata — e, com toda a sinceridade, a autora reconhece que este tempo é para ser aproveitado (é claro que é uma frase feita, um lugar comum, mas a verdade é que não está assim tão presente nos outros filmes). A música, a alegria nas imagens reforçam esta filosofia. O texto não tem incorreções, está bem escrito, mas é talvez demasiado coloquial (quase podia ser o resultado de um depoimento recolhido à primeira). Esta simplicidade tem a vantagem da clareza e de se valorizaram as imagens, mas desperdiça a elaboração característica da escrita formal. Expressão oral Há pequenos trechos em que não se percebe bem o que diz a Catarina (pelo volume baixo, pela sobreposição da música ou por velocidade exagerada): por exemplo, entre «porém» [0.27] e «dia de sol» [0.32] não consigo perceber a frase; e «desses tempos» soou-me «de esses tempos». Em geral, a leitura é boa, embora, de vez em quando, entre demasiado veloz e desleixadamente lisboeta.



Filipa







Filipa (16) Texto/Estrutura É uma autobiografia muito equilibrada, que segue cronologicamente os dezasseis anos de Filipa. Bem escrita, sem erros, consegue fugir aos estereótipos do género (raramente cai nos lugares comuns que critiquei a outras biografias/retratos), dando-nos do narrador homodiegético um retrato vivo, que não é «plano», como tantas vezes sucede nestes textos, mas «redondo» (como se diz das personagens em literatura) — ou seja, verdadeiro e denso. A autora é capaz de distinguir momentos melhores e piores, matizá-los, relativizá-los, analisá-los, no fundo. As imagens documentam coerentemente tudo o que se vai relatando. Notei só esta incorreção linguística: em vez de «amigos entre os quais me dou ainda hoje», diria «amigos com os quais me dou ainda hoje». Expressão oral A leitura foi geralmente boa, numa velocidade apropriada. Houve apenas algumas hesitações, pequenos tropeções («completava a minha família» [1.00]; antes de «Madalena» [1.30]; «foi uma mãe» [1.46]; «a minha primeira melhor amiga» [2.05]; «10.º 3» [2.36]; e não se percebe bem «e do [poder?] do nono ano» [2.27]). «Secundária» e, sobretudo, «secundário» soam um pouco «Se[g]undária/o», o que é uma pronúncia que está bastante instalada nos adolescentes de Lisboa.



João Almendra







João Almendra (15,3) Texto/Estrutura O título é «A minha rotina». O texto dá conta desse dia-a-dia de João, sem grandes invenções discursivas, num estilo económico (talvez demasiado económico), que tem a vantagem de, não sei se involuntariamente, transmitir a ideia de repetição e rotina. Dentro de um tipo de abordagem sintético, o microfilme atinge o seu objetivo, se rasgos especiais mas também sem erros. Expressão oral Foi uma leitura em voz alta também ela limpa, sem erros, mas, de novo, demasiado cuidadosa, no limite da lentidão aceitável. Um único reparo concreto: «Cumprimento» soa demasiado «C[o]mprimento», que, reconheça-se, comneça a ser pronúncia comum destas duas parónimas (ou seja, destas duas novas homófonas).



Sol







Sol (15-14,8) Texto/Estrutura Texto da Sol podia estar mais elaborado e até ter maior extensão. O que se escreveu está correto, mas obedece ao primeiro impulso, corresponde a uma síntese oral, decerto franca, mas não tem a densidade que a escrita mais pensada pode ganhar. Creio que, com mais demora, se poderia chegar a um texto mais sofisticado. Expressão oral Leitura em voz alta cumpre as entoações, não tem erros de pronúncia, mas podia ser ligeiramente menos veloz. Essa pressa, em certos trechos, torna difícil a perceção das exatas frases proferidas (por exemplo, entre «tento [?]» (0.9) e «semana»[0.13], há palavras um pouco «comidas»).



Pedro F.







Pedro F. (15,5) Texto/Estrutura O ponto de partida é engenhoso e tinha condições para resultar muito bem: verificar pelo quarto tudo o que fossem indícios da personalidade e da biografia do autor. A ideia foi aproveitada de um modo económico (as versões mais sofisticadas do mesmo esquema teriam implicado, a propósito de cada «emblema», uma análise detida; e a própria abonação pelas imagens teria sido mais cuidadosa, mais cheia). Como cada objecto (isto é, cada gosto, cada particularidade de vida do Pedro) sugere pouco mais do que a sua menção, o texto — que está correto — segue um registo simples, coloquial, confinado às simples declarações de interesses e gostos. SEgue-se umas considerações linguísticas. Não sei se se pode dizer que «[o meu quarto] transparece a minha personalidade», parece-me preferível «[o meu quarto] deixa transparecer a minha personalidade». Em vez de «tipos literários», «géneros literários». Desconfio ainda de «[o quarto] pode tornar-se um pouco nostálgico» (em rigor, o quarto «torrna-me nostálgico» ou «está virado para o passado»). Expressão oral É bastante boa a leitura em voz alta de Pedro. O segmento «por um cesto que, por vezes, tem a [...]» saiu menos fluente do que o resto da locução. Também «é o local que melhor me acolhe» ficou um pouco entaramelado.



Tiago







Tiago (15,5) Texto/Estrutura O texto de Tiago começa de modo inovador, dirigido a um «tu», mesmo se conserva o cariz autobiográfico. Talvez tivesse valido a pena manter essa estratégia ao longo de todo o filme, mas percebe-se que, passado o primeiro minuto, houve a necessidade de a escrita ir comentando as imagens disponíveis, as do próprio biografado, o que reorientou o texto para a abordagem cronológica e focada na 1.º pessoa. Há depois um regresso esporádico à destinatária inicial e, de novo, a retoma da aproximação biográfica tradicional. O texto está bem escrito, embora num registo simples. Expressão oral Logo no início, a leitura em voz alta era já relativamente rápida. Mas é sobretudo na segunda parte do microfilme, e mais ainda no último minuto, que essa exagerada rapidez se manifesta, havendo um ou outro trecho em que as frases se amalgamam (como se se tivesse pressa — para cumprir o tempo das imagens?), o que cheha a dificultar a comprreensão do texto.



João







João (14,8) Texto/Estrutura Se consideramos a conceção, as ideias, reconhecemos que se trata de microfilme pensado, franco, que não cai tanto como outros na repetição de clichés. É ainda um texto generoso, menos egocêntrico do que terá de ser sempre um texto autobiográfico, na medida em que convoca os outros (familares e amigos) e é sobretudo através desses outros retratos que se traça o retrato do autor. A escrita merecia ter sido mais elaborada. Dou exemplos de problemas de sintaxe: «que deu grandes alegrias» parece exigir um complemento indireto («aos seus pais», «a todos», «a toda a família»); falta a preposição em «alguns deles ainda mantenho contacto» («com alguns deles ainda mantenho contacto»). E o léxico também podia ter sido mais revisto (percebo que «estúpidos», no vocabulário juvenil, significa ‘irreverentes’, ‘cabeças no ar’, ‘estouvados’, mas, num texto formal como era o que se pretendia, teríamos de encontrar o exato termo). Expressão oral À leitura em voz alta de João até mostra que não tem dificuldades de base nessa área (há bastante fluência no ataque das frases). Só que, talvez por não ter havido suficientes ensaios, o texto é muito lido «para si mesmo» (mais do que dito), é apressadamente emitido como se o João já se contentasse com a folha ir avançando. De tal modo, que há zonas em que se percebe mal (ou não se percebe):(0.27: «começaram [?]»; 0.35: «os anos passaram [?]»; 0.40; 0.45; 2.40; etc.). Por vezes, cai-se também no erro de ler demasiado certas vírgulas do texto escrito (por exemplo: «e, como mãe, [...]»; «porém, é [...]»).



Sofia R.







Sofia R. (16,7) Texto/Estrutura A originalidade do texto vem de se tratar de carta, aparentemente focada na destinatária, e de através dessa missiva se ir descobrindo o retrato da remetente. Texto está muito bem escrito. A construção do filme, se assim podemos chamar-lhe, é minimalista, económica, mas não destituída de gosto e requinte. Neste trabalho, que não é tão ambicioso como o de que a Sofia seria capaz, fica evidente, ainda assim, o cuidado, o bom acabamento. Uma única correção à redação: em «éramos apenas meras crianças» há pleonasmo («apenas» e «meras» contêm a mesma ideia). Expressão oral É uma leitura também muito boa. Noto só: ligeiras hesitações (ou pausas alongadas) após «intervalos» (0.41); depois de «igual» (0.45); um quase-entarelamento em «fisicamente» (0.56); e um «não, mentira» (1,29), que se pretendia expressivo, talvez demasiado rápido.



Daniel







Daniel (13,8-14) Texto/Estrutura É, essencialmente, um autorretrato. Como acontece em muitos outros retratos, o texto fica condicionado à lista de gostos, qualidades e defeitos do autor, pelo que predominam as frases soltas, as enumerações. O é muito oral (por exemplo, «basicamente, é o seguinte», é mais de conversa com amigos do que texto formal; e, no final sobretudo, há uma série de frases coordenadas, ligadas por «e» e por «mas», também características de quem está a relatar num grupo de amigos. Num texto formal, como se pretendia este fosse, era preciso juntar frases, compô-las, dar-lhes uma aparência de sequência mais prevista. Erros de construção de frases: «que são com eles que temos [...]» (seria: «que é com eles que temos»); «felizmente tenho grandes amigos e que foi com eles que...» («felizmente tenho grandes amigos: foi com eles que...»). Exemplo de cuidado que era fácil o Daniel ter tido: no slide incial, vem «micro-filme» (que aliás é grafia aceitável), quando, em todos os textos com que os fui guiando, escrevi sempre «microfilme». Esta atenção exigida ao redigirmos tem ainda de ser desenvolvida. Expressão oral A leitura em voz alta da primeira metade do texto é bastante razoável. Depois, à medida que nos aproximamos do final, começa a haver desleixo e surgem hesitações, más entoações (quase fica a ideia de que o próprio texto nesta segunda parte estava apenas esboçado e ia sendo completado no momento, o que não creio).



Salomé







Salomé (17,4) Texto/Estrutura «A minha história» de Salomé é um autorretrato, com algumas informações biográficas, focado sobretudo na música (incluo aqui, claro, também a patinagem artística). O filme aproveitou imagens em que a autora exerce as actividades artísticas que foi praticando ([flauta], canto, [ballet], patinagem, para além de subida e descida de bancos junto de parapeitos). É uma óbvia vantagem dispor-se de um tal arquivo (e de um tal palmarés). O texto é bastante bom, talvez mais correto e «profissional» do que sofisticado e inventivo. Notei só estes dois lapsos (que até podem não o ser e, simplesmente, ter eu ouvido mal): em «flauta, um instrumento harmonioso e bonito [de] que gosto muito», falta a preposição (ou falhou na redação, ou não se ouve agora); em «e durante três anos [que] pratiquei patinagem artística» não deveria estar o pronome relativo. Expressão oral É muito perfeita a leitura em voz alta de Salomé. Em «vivi, em pequena, muitos sonhos», as vírgulas gráficas levaram a duas pausas excessivas na leitura (o ideal teria sido fugir ao modificador intercalado: bastaria alterar a ordem para «Em pequena, vivi muitos sonhos»). Foi mais bem sucedida a expressividade no alongamento de «muitas vezes», e até de «muito» mais à frente, do que a de «adoro»: aquelas parecem naturais, esta soa um pouco forçada.



Sofia A.







Sofia A. (16,6) Texto/Estrutura É uma autobiografia, com texto bem escrito e que escapa aos lugares comuns típicos do género (mesmo se também não foge completamente a um guião já relativamente normalizado para estes textos). Há bastante equilíbrio nas várias fases abordadas, e houve o cuidado de o texto estar coerentemente documentado em imagens. Quatro lapsos de redação: em «numa escola [de] que finalmente gostava» faltou a preposição; também em «recebi a notícia [de] que ia ter um irmão» foi esquecida a preposição; em «tenho saudades desses tempos onde tudo era tão simples», «onde» deveria dar lugar a «em que» ou a «quando»; em vez de «um mundo diferente do qual já estava habituada» seria «um mundo diferente daquele a que já estava habituada». Expressão oral Sofia fez uma leitura bastante boa. Só notei uma hesitação em «era onde era mesmo eu».



Maria







Maria (15,7-15,8) Texto/Estrutura Há dois momentos no microfilme de Maria: um primeiro mais focado na amizade, em que o tipo textual é frequentemente descritivo (e as frases declarativas); um segundo momento, em que se traça um autorretrato e em que o tipo textual predominante talvez seja o instrucional, havendo não poucas frases imperativas. O texto tem originalidade, mas é relativamente coloquial (a sua escrita não é tão elaborada quanto se suporia num texto que se pretendia formal). Quanto a falhas linguísticas, notei as seguintes: em «encontro a calma [de] que preciso», faltou a preposição; «encontrei pessoas que se demonstraram excelentes amigos» deveria ser substituído por «encontrei pessoas que se mostraram excelentes amigos» (ou por «encontrei pessoas que demonstraram ser excelentes amigos»); «só iremos entender o valor dos pequenos momentos até que começam a virar grandes lembranças» (melhor: «só iremos entender o valor dos pequenos momentos quando eles comecem [começarem] a tornar-se grandes lembranças»; «nunca irei desistir nem de acreditar» («nunca irei desistir nem deixar de acreditar»). Expressão oral É uma boa leitura em voz alta.



Rita







Rita (16-15,8) Texto/Estrutura Texto é original, porque não se limita a um percurso autobiográfico cronológico. É um autorretrato que, mais do que apresentado explicitamente, temos nós de inferir. Interessante também o recurso a um «tu» (que, pelo menos a dada altura, parece corresponder aos próprios destinatários do filme, «especados a observá-lo», mas que deve ser interpretrado extensivamente). As imagens, mais objetivas do que as palavras, estabelecem um diálogo curioso, porque contrastante com o texto quase literário. Haverá alguma falta de acabamento técnico no início do filme (repentino) e no final (numa zona com menos texto; propositadamente?). Um erro de redação: «este cofre onde só eu sei onde se encontra a chave» (seria: «este cofre cuja chave só eu sei onde se encontra»). Expressão oral Rita adotou um registo de declamação, de quem lê teatralmente, que vai bem com o texto, porque lhe acentua o cariz conotativo, poético. Dentro desse estilo (que, em parte, se torna mais fácil porque assume a não naturalidade, mas que também é mais exigente no escrutínio da expressividade e na velocidade que imprime), a sua leitura em voz alta é bastante boa, ainda que tivesse havido «tropeções» em «uma mínima migalha de história»; em «um mero resumo»; «ao vento tudo o que», e, mais nitidamente, em «do imperfeito para o perfeito». Não percebo bem o segmento «são as saudades de que sinto tantos [?]» (1.40).



Mariana L.







Mariana L. (16,6) Texto/Estrutura É uma autobiografia que, sendo informativa e cronológica, em geral não cai nos bordões (nas frases feitas) de outros filmes. E está ilustrada com gosto e equilibradamente. Também está bem escrito o texto, embora ainda lhe encontre algumas falhas: agramaticalidade (forte!) em «alguém que nunca lhe abandonara», «que nunca lhe julgara» (teria de ser: «que nunca a abandonara», «que nunca a julgara»); em vez de «os melhores momentos da vida dela», poria «os melhores momentos da sua vida»; a «não seria tão forte como agora o é», preferiria «como agora é»; onde está «com incontáveis consequências, nas quais, muitas das vezes, dá-nos aquela vontade de desistência» devia ficar qualquer coisa como «com incontáveis consequências, que suscitam, muitas das vezes, vontade de desistência»; no slide final, não se justifica pôr maiúscula em «realizado». Expressão oral A Mariana fez uma boa leitura. Na segunda metade do filme, aqui e ali, há passos em que não faria mal ter sido mais lenta. Percebe-se mal o discurso em «no final, ela merecerá sorrir [?]» (1.32); e houve hesitação em «sofreu» (2.09).


Gonçalo




Gonçalo (14) Texto/Estrutura A ideia inicial parece ter sido a de adotar um estilo mais de representação (com o texto a ser dito — decorado ou lido escondidamente — de forma a simular oral espontâneo) do que de leitura em voz alta. Era uma boa ideia, mas que implicava que o Gonçalo enfrentasse a câmara com o texto bastante mais memorizado, para poder ser depois o mais natural possível. Ficou-se por um ponto intermédio (entre leitura e representação) que funciona bem, embora não se evitem certas hesitações. A história contada é agradável, embora talvez com redação mais apropriada à tal oralização informal do que ao relato lido que acabou por acontecer. «Não é uma coisa que se faz todos os dias» deveria dar lugar a um conjuntivo: «Não é uma coisa que se faça todos os dias». Expressão oral Como não terá sido suficientemente treinado o trabalho «de ator», o texto acabou por ser sobretudo lido e em difíceis condições (porque se tinha de encarar a câmara e não se podia assumir a leitura em voz alta). Também por isso a leitura não saiu tão boa como o Gonçalo seria capaz de fazer, parecendo-me pouco ensaiada.