Microfilmes autobiográficos 10.º 1.ª
Rui
Rui (15,8) Texto/Estrutura O título está bem escolhido. Trata-se de umas «Memórias de um passado recente», mesmo se parece a certa altura ir fazer-se um roteiro de um dia normal do autor. É que os rituais de um dia normal servem ao Rui para falar de si próprio, mais do que para lhes dar especial importância. É um texto económico: já o filme não é dos mais longos; depois, há bastante «espaço» para a locução (esta parece quase não preencher completamente as imagens). Creio que há uma elipse exagerada entre a saída e o regresso a casa (é elegante a solução encontrada, mas assim parecem escassear informações). O texto está bem redigido, não encontrei erros de sintaxe, mas percebi certa tendência para lugares comuns: «amigo do amigo» (interessante é sermos amigos dos inimigos ou inimigos dos amigos), «fiel amigo», «porto de abrigo», «valores morais», «objetivos na vida». Nas legendas finais, «vídeo» e áudio» deviam ter os seus acentos gráficos. Expressão oral A leitura é relativamente boa, mas não devia haver pausa entre «bastante» e «percetível»; entre «penso» e «que nada sei»; nem entre «havia» e «quem dissesse».
Beatriz
Beatriz (16,1) Texto/Estrutura O filme da Beatriz assenta numa alegoria, entre caminhos (metafóricos) e os caminhos que as imagens mostram. A narrativa, bem escrita, ganha um registo de fábula, que vai bem com as filmagens, também um pouco enigmáticas, porque entrecortadas, mas que têm alguns elementosa denotativos (a família, creio). Reparos linguísticos: «todos os que me foram bons» não é gramatical (seria «todos os que foram bons para mim»); e não tenho a certeza de se ouvir o pronome em «um dos caminhos inicio[-o] com uma subida». Expressão oral Boa leitura em voz alta, clara e com boas entoações. Ainda assim, há uma hesitação no ataque ao texto que se segue a «com que» («me receberam»); e pausa também exagerada entre «como os seres» e «me tratavam». Há uma demora para ganhar fôlego talvez demasiado notável antes de: «E junto-me a eles». Outro ligeiro tropeção em «para a nova realidade».
Guilherme
Guilherme (15,8) Texto/Estrutura Foi ideia interessante fazer um autorretrato visto quase só pelo crivo do gosto da música. Essa caracterização está bem articulada (imagens, texto, música), usa um registo ora formal ora mais informal acertado, acompanha-se bem. Notei só este erro de redação: em «Gosto que as composições e os arranjos sejam feitas», deveria ser «sejam feitos». Expressão oral A leitura em voz alta começa bem, parece bastante natural, como se Guilherme connosco conversasse, mas, a partir do primeiro minuto, surgem passagens que se percebe demasiado estarem a ser lidas (e, na verdade, lidas um pouco apressadamente). Creio que teria valido a pena ensaiar mais vezes. No terço final, recupera-se o nível da leitura do início do microfilme, com alguns momentos de boa expressividade.
Inês C.
Inês C. (17,6-17,8) Texto /Estrutura Acompanha-se um dia de Inês, mas vai-se ao mesmo tempo traçando um autorretrato, que percorre os vários interesses da autora, em que as imagens vão abonando o que está ser dito, ou o que está a ser dito comenta as imagens. Esta perfeita coordenação entre texto e imagens (que não é a de mera ilustração mas vem de se completarem os dois planos, com a capacidade de síntese que o cinema exige) faz que tudo pareça espontâneo, ritmado, natural. Sem dúvida, porém, esta aparência de facilidade há de ter implicado muito trabalho e engenho de planificação. Note-se, por exemplo, que o filme termina imediatamente antes do pretexto narrativo principal (o jogo), mas com um gesto que resulta cenicamente (a elevação, o remate, que prenuncia o jogo que não chegaremos a ver e que, dir-se-ia, só admite a vitória). Expressão oral O registo monologal, o texto ligeiro, alegre, aconselhava uma leitura expressiva, quase de representação, que a Inês conseguiu muito bem. O insignificante reparo que poderia fazer tem que com uma pausa para ganhar fôlego que se nota antes de «Tenho catorze anos».
Inês P.
Inês P. (16,8-16,9) Texto/Estrutura Está tudo feito com cuidado, com rigor (embora eu deteste esta palavra): a preocupação em reunir imagens (excelente arquivo!), o texto lido (introspetivo e terno, sem ser lamechas ou recorrer muito a frases feitas), as legendas (sem lapsos, o que é relativamento raro neste filmes), a escolha da música (adequada a criar nostalgia e contrastante com a felicidade percetível nas imagens), a montagem (que implicou boa planificação do trabalho). Dois problemas de regências: «comparava ao que eu tinha visto» (melhor: «comparava com»); «não encontro nada que me arrependa» (melhor: «de que me arrependa»). Julgo ter ouvido «odiante» (ou seria «odiento»?); era preferível «odioso». Expressão oral Bastante boa a leitura em voz alta de Inês. Notei só um pequeno «tropeção» em «os livros passaram a ser o meu mundo» (cerca de 1.45) e outro uns poucos segundos antes («para além / do que eu imaginava»).
Pedro C.
Pedro C. (17,5) Texto/Estrutura Destaco o engenho (que é tanto da ordem da publicidade como dos filmes holiodescos) para valorizar a forma e o ritmo, mesmo, aqui e ali, em detrimento da substância. Veja-se, por exemplo, o final, que música e caminho da câmara dramatizam, sem que, na verdade, houvesse grande enredo para se chegar a um tal auge. O recurso à metáfora («os passos») permite um texto que é relativamente fácil, cuja preocupação, também aqui, é mais servir as imagens do que ser o fulcro do microfilme. Digamos que o Pedro mostrou como se trabalha em cinema, em televisão, com a escrita a ser moldada às outras artes (a música, o filme). Nem por isso o texto deixa de estar bem escrito. Notei-lhe só duas incorreções: «E, cada passo que damos, [...]» (preferível: «E, a cada passo que damos, [...]»; parece-me ouvir «observava e retia» (terá de ser «retinha», já que «reter», derivado de «ter», se conjuga como a sua palavra primitiva). Expressão oral Boa leitura, em registo neutro, que é adequado à progressiva ênfase conseguida por imagens e som. Dois reparos: «a maneira de aprender» soa como «[á] maneira de aprender»; e houve ligeira hesitação em «E num novo lugar» (1.32).
Mónica
Mónica (16,4) Texto/Estrutura É um autorretrato, num texto muito organizado, dividido em família, escola-estudo, amigos (enquanto vamos vendo imagens com a autora em cada um destes contextos). A escrita é sempre correta, embora talvez excessivamente disciplinada (num texto de cariz autobiográfico esperaríamos marcas de certa emotividade, subjetividade, que este escrito da Mónica de certo modo racionaliza, evitando-as portanto). Notei só estes ligeiros lapsos de sintaxe: «Com a ajuda daqueles que gostamos» (melhor: «Com a ajuda daqueles de que(m) gostamos»), «Gosto e sei que é importante abrir os livros» (talvez um pouco melhor: «Gosto de, e sei que é importante, abrir os livros»). Expressão oral Leitura em voz alta quase perfeita, ainda que sem arriscar um registo mais expressivo. Apenas no final houve duas hesitações (em «Não gosto de ver ninguém / de costas voltadas»; e, quase impercetível, em «e procuro sempre / ser o elo de ligação entre as pessoas»).
Miguel P.
Miguel P. (16,6) Texto/Estrutura As «Memórias de um sapo» são, como é óbvio, um texto de cariz biográfico ficcionado, com um sapo, Bombina, como narrador homodiegético. O texto, que tem logo o mérito da criatividade, talvez não aproveite todas as possibilidades que o ponto de vista de um narrador destes permitiria (não faltam aliás exemplos na literatura de testemunhos de animais narradores-observadores: ocorrem-me as «Mémorias de um piolho viajante»), mas aproveita bastantes delas. É agradável a doseada ironia e todo o conjunto está bem «produzido», bem acabado. Não ficou correto o trecho «faço tudo o que um sapo normal faz, à exceção do espaço» (seria « faço tudo o que um sapo normal faz, à exceção do que exige espaço». Creio que é «Rua Sésamo» e não «Rua de Sésamo». Expressão oral A leitura em voz alta não será o ponto mais forte do microfilme. Não há erros, mas o ritmo escolhido por Miguel é talvez lento, como se não se quisesse arriscar outra velocidade. Pausa exagerada em «um rapaz entrou / na loja». Hesitação em «e outras coisas que não tinha na loja».
João S.
João S. (15,8) Texto/Estrutura O João escolheu um dispositivo original: um direto, se assim se pode dizer, e com o protagonista em contraluz, portanto quase invisível se excetuarmos os contornos, como sombra. Graficamente, o resultado é bastante interessante. O estilo coloquial também era, e foi, boa ideia, embora creia que o texto talvez devesse ter sido mais elaborado (ainda que mantendo um estilo de entrevista improvisada). Evitar-se-iam as repetições próximas («comecei a frequentar» duas vezes), as agramaticalidades («conheci novos colegas que com relativa facilidade [os] mantive» — não devia haver «os» —; «na qual tive dificuldade em adaptar-me» — era «à qual [a que] tive dificuldade em adaptar-me» —; «não posso dizer que foi» — «não posso dizer que fosse» —; «metas de vida que ainda não cheguei» — «metas de vida a que ainda não cheguei» [«que ainda não alcancei»]). Expressão oral Não é fácil avaliar a leitura em voz alta, dado que parece assumir-se um oral espontâneo (ainda que, certamente, na verdade lido). Essa tentativa de simular o improviso natural de uma entrevista começa bem mas, em alguns momentos, perde verosimilhança, decerto porque a leitura não foi tão ensaiada como seria necessário (enfim, é preciso ensaiar bem mesmo para fingir um improviso...).
Duarte
Duarte (15,8) Texto/Estrutura É um dia típico do autor, contado informativamente, com poucos comentários fora do simples relato. Essa será uma das suas virtudes, a linearidade, a lhaneza, da narrativa, coerentemente ilustrada. Esta abordagem, porém, tem as suas contrapartidas desvantajosas: o texto, que aliás não é extenso, parece demasiado confinado à cronologia diária, sem que se arrisque muito em termos de linguagem. Notei uma única imprecisão linguística: «preparo-me para a seguinte atividade do dia» (que mostra como a posição do adjetivo não é inconsequente: «seguinte», antes do nome, fica com sentido de deítico textual [= esta atividade que relatarei a seguir], quando o que se queria dizer era «a atividade seguinte do dia»). Expressão oral O texto de Duarte não punha grandes dificuldades à leitura em voz alta. Mas houve ainda algumas hesitações: «às oito e quinze / da manhã»; um pouco menos, em «preparo-me então / para me ir deitar», «hora /do dia» e em «a minha adorada /dormida».
Noorani
Noorani (16,8) Texto/Estrutura «Esta é a história da minha vida...» começa por ser autobiografia e, à medida que avançamos, torna-se também num autorretrato. É um texto bem escrito (que consegue encontrar fórmulas inovadoras — por exemplo: «tempo de bonecas e do meu ursinho de estimação»; «brincar e dormir eram os meus dois nomes do meio» —, embora também não escape aos lugares comuns da ausência de stress, dos amigos que estão lá sempre que é preciso), documentado com imagens bem escolhidas. É problemática a sintaxe de «Acho que este último vício se deve ao meu irmão, uma das pessoas mais importantes para mim, e que, apesar de todas as discussões e conflitos, é com ele que partilho os melhores momentos» (seria melhor: «Acho que este último vício se deve ao meu irmão, uma das pessoas mais importantes para mim, com quem, apesar de todas as discussões e conflitos, partilho os melhores momentos»). Expressão oral Muito boa a leitura em voz alta de Noorani. Não leria talvez os subtítulos (como sucedeu em «A minha infância»), preferindo usar legendas (como aliás fez bem a autora em outros momentos). Em «agora, sei que é difícil», o predicativo do sujeito quase resvalou para «difíc[ε]l».
Tomi
Tomi [ver, em baixo, o comentário ao segundo filme do mesmo autor]
Pedro D.
Pedro D. (16,5-16,6) Texto/Estrutura «A máquina do tempo» está bem escrito e bem planificado. O microfilme de Pedro aproveita um excelente arquivo vídeo e fotográfico e, de certo modo, o texto acaba mais por «legendar» as imagens do que, propriamente, ser por estas ilustrado, como aliás costuma acontecer em televisão. O texto depende muito, portanto, do que vamos vendo, comentando-o com graça, com ironia. Em termos de linguagem, notei estes pontos melhoráveis: «um dos meus grandes princípios sempre foi a persistência, como, por exemplo, subir a escorregas ao contrário» (melhor: «um dos meus grandes princípios sempre foi a persistência, evidenciada, por exemplo, na subida de escorregas ao contrário»); e a ligação deste período com o seguinte («onde eu me esforçava durante horas e horas [..]») não poderia ser feita com «onde» mas talvez com «quando»; «o desafio dos carros sempre me fascinaram» deveria ficar «O desafio dos carros sempre me fascinou» (mas devo dizer que não tenho a certeza de ser «desafio» a primeira palavra, já que é um trecho muito rápido). Expressão oral Trata-se de uma boa leitura em voz alta, em que só falhará a «pouca respiração» (isto é, a falta de mais pausas entre períodos) e ligeiríssima velocidade a mais, sobretudo nos trechos da segunda metade do filme, o que sucedeu, creio, por haver muito a mostrar e se ter de acompanhar essa sucessão de peripécias sem desperdício de tempo.
João R.
João R. (16,3-16,4) Texto/Estrutura Como o título («A infância) indicia, trata-se de memórias. João percorre sobretudo as peripécias da formação, das aprendizagens (do karaté, da natação). É curioso este foco nas iniciações, que na literatura corresponde a um género específico (cfr. romances da formação, memórias dos tempos de formação). Não esquece, nessa rememoração, os formadores (pai; professor de karaté). Também é interessante a reflexão sobre o trecho de filme que se exibe (o enunciado), recuperando o momento em que fora realizado (a enunciação): «lembro-me que estava numa pilha de nervos por o meu pai estar a filmar, com medo de falhar alguma coisa — vejo agora que falhei bastantes». Notei as seguintes falhas de redação: «é aquela altura onde somos ingénuos» (seria: «é aquela altura em que somos ingénuos»); «outra parte marcante da minha infância é nas férias que passava, e passo, no Algarve» (ficaria melhor: «são as férias»); na legenda-título inicial, os nomes do autor deveriam começar por maiúscula. Expressão oral A leitura em voz alta de João é bastante razoável, mas, em geral, acaba por se perceber que está a ser lido um texto (quando, se houvesse mais calma — mais ensaios também —, parecer-nos-ia que o discurso era o de quem conversa naturalmente). O texto tem algumas observações coloquiais que convidavam a momentos de expressividade (atingida apenas parcialmente).
Francisco R.
Francisco R. (15-14,8) Texto/Estrutura Texto não é estritamente autobiográfico, é mais uma reflexão sobre como se pode encarar a vida. Todo o microfilme se baseia numa comparação (entre escada e vida, com os andares a serem, no fundo, os objetivos, as metas, de cada pessoa). Para ser franco, esta analogia não me parece irrecusável, embora a alegoria da torre, das escalas a cumprir, dos céus a alcançar, tenha respeitável tradição literária. De qualquer modo, o efeito visual da subida por escadas de prédio é interessante — e, provavelmente, foi até esse efeito que obrigou à citada alegoria na escrita —, tanto mais que culmina com uma espécie de desvendar do espaço do enunciador. O texto é talvez excessivamente curto, mas está bem escrito, não lhe encontrando eu incorreções de linguagem. Expressão oral Ainda houve uns tropeções («um andar no qual» [0.25]; «um futuro» [1.00]; a entoação da frase final). À medida que se avança para o final, a velocidade da leitura em voz alta aumenta, o que, naturalmente, a prejudica.
Francisco S.
Francisco S. (16,8) Texto/Estrutura Género está entre a autobiografia e as memórias de infância (enfim, para alguém com quinze anos, umas memórias de infância nunca serão muito diferentes da autobiografia). Texto está escrito com saudável humor, sem cair nas repetições que se encontram em muitos dos textos similares, e está também muito bem documentado pelas imagens. Só me apercebi de um erro linguístico: «não haviam preocupações» [2.50] (por «havia»; «haver» só aparece no plural quando serve de auxiliar — «eles haviam de singrar na vida»; de resto, o seu estatuto de verbo impessoal faz que só seja usado na 3.ª pessoa — o que nos parece ser sujeito, «preocupações», é o complemento direto). E de um erro ortográfico nas legendas: «parvoíce» tem acento. Expressão oral O texto tinha as tais observações leves e irónicas, que exigiam alguma ginástica na leitura em voz alta (as entoações nesses momentos ligeiros nunca são fáceis de fazer, mas o Francisco sai-se bem desse desafio). Pausa excessiva em «É impossível / de fazê-lo». Não se percebe bem o trecho anterior «Mas, sendo [?] nesta apresntação, [...]» e um passo a seguir («Mas o trabalho que tenho é [?] e sério»).
Luís
Luís (16,5-16,4) Texto/Estrutura «Um dia como os outros» está muito bem escrito; é um microfilme construído pensadamente, decerto com boa planificação, e que resultou num objeto bastante completo. Expressão oral O Luís procurou fazer uma leitura expressiva que acentuasse o cansaço, em resultado de um dia cheio de obrigações, e transmitisse a ideia de monotonia, de rotina (e, creio, aqui e ali, também de ironia). Essa intenção era válida, mas implicou que, muitas vezes, se perdesse a naturalidade que uma leitura mais neutra mais facilmente atingiria. No entanto, em termos de cumprimento das entoações essenciais e de rigor na pronúncia, não há erros a apontar. Talvez apenas umas duas pausas excessivas (induzidas pela pontuação gráfica?): «em que / naturalmente toda a gente se conhece»; «lá / não há fronteiras». (Há zonas em que volume alto da canção de fundo dificulta a compreensão: entre 1.00 e 1.08, não consigo perceber parte do texto.)
Tiago
Tiago (16) Texto/Estrutura O microfilme do Tiago contorna uma das regras estipuladas, a necessidade de um discurso formal. Porém, isso é compensado pela originalidade e pela perícia revelada na preparação do filme (ritmo, diversidade das imagens, som, articulação entre comentários e o que se vai vendo). Há uma base de imagens (filmadas espontaneamente, quase sempre), sobre que o autor vai fazendo considerações também em registo bastante natural. Resulta assim um retrato do autor até talvez mais fiável do que o que formaria uma lista de gostos e caracterizações convencional. Um erro ortográfico perfeitamente evitável: no final, «felicidade» (já emendei o «e» que surge na segunda sílaba). E «português» surge sem acento no slide inicial. Independentemente da opção por registo informal, há léxico que podia bem ter sido mais vigiado: evitaria o «fazer porcaria»; trocaria o «já me mete um sorriso na cara» por «já me põe um sorriso na cara»; «adoro muito água» ficaria «adoro água». Expressão oral A leitura em voz alta — ou um misto de leitura e discurso quase improvisado? — tem o grande mérito de parecer perfeitamente natural, coloquial, embora se deva dizer que isso também é possível porque, na verdade, o texto a dizer é bastante fragmentado e simples.
Pedro P.
Pedro P. (17,4-17,6) Texto/Estrutura O formato é muito diferente do dos outros microfilmes. O discurso coincide com as imagens (é um «direto») e não há leitura (ou leitura assumida, pelo menos; haverá cábula relanceada, talvez), mas texto memorizado (ou parcialmente memorizado, pelo menos). Elemento essencial neste dispositivo é a música, tocada, criada, pelo autor ao mesmo tempo que vai desfiando a sua biografia. É a música que organiza o relato (marcando as mudanças de anos); é o facto de estar a tocar que facilita a presença em primeiro plano (alternando o dedilhar da guitarra e a conversa connosco). Note-se que o texto, se não é longo nem muito redigido, é um bom texto: nas curtas frases descritivas de cada ano, o Pedro consegue escolher a informação essencial e dá-la, muitas vezes, com graça. Expressão oral Não se pode aferir esta oralidade pela leitura em voz alta. Nesta expressão oral (de locução memorizada, salvo erro, e apoiada no ritmo marcado pela guitarra) não houve falhas. Notei apenas uma hesitação em «mudei da / da ama para o infantário».
Miguel F.
Miguel F. (14,5) Texto/Estrutura A redação de um autorretrato muito direto, por frases declarativas, tem a desvantagem de impedir um texto mais denso, que fuja a certos lugares comuns. Como não é fácil caracterizarmo-nos, a solução acaba por ser refugiarmo-nos em lugares comuns, quase bordões do discurso («sou amigo dos meus amigos»; «amigos que me dão a mão»; «dar o meu máximo»; «a seguir em frente» [e a levantar a cabeça, como dizem os futebolistas quando perdem]). Há ainda alguma tendência para repetições próximas, o que, podendo até ser estilístico, talvez mostre também pouca revisão do texto: «por vezes», «novos», «gosto». No entanto, o texto do Miguel não tem agramaticalidades e revela capacidades de redação. Um reparo apenas: em «entre outras» [2.12], ‘outras’ tem como antecedente o quê? Nada, não é? Terá de ficar, «outras coisas». Expressão oral Nota-se que o autor teria facilidade em conseguir uma leitura mais perfeita, mas que houve o investimento suficiente em termos de tempo consagrado ao filme. «Sim, porque o que seria de mim neste momento sem o apoio incondicional da minha família?» é o exemplo de uma entoação que o Miguel fez bem em tentar expressivamente mas que merecia ser mais ensaiada. Em outro momento do mesmo tipo — «Enfim... Que me tem aturado...» — já se esteve melhor. Hesitações na abordagem de «preciosa», «que me dão espaço», «a ver sempre o lado positivo».
Tomi
Tomi (16,4) Texto/Estrutura Neste segundo microfilme — o Tomi considerou que o primeiro que fizera [ver em cima] se afastava do género pedido e por isso quis entregar estoutro —, faz-se um autorretrato, mesclado de memórias familiares, reincidindo-se aliás em duas características do primeiro trabalho: clara ultrapassagem do tempo pedido (mais do dobro dos três minutos combinados); reunião, por encaixe ou justaposição, de, no fundo, mais do que um filme no mesmo filme. Na primeira tentativa, recorria-se a um longa narrativa (a da noz) que o autor encaixava numa narrativa principal (embora posterior em termos de localização no filme), a sua, em que surgia como apresentador engravatado (dois reparos a essa parte: não é verdade que todas as máximas populares constituam bons conselhos, e o que não falta é provérbios que contradigam outros; nas estruturas do tipo de «quem trabalha muito[,] erra muito», não deve haver vírgula, que se separaria sujeito e predicado). Também agora se foi no engodo de juntar dois géneros diferentes: a história de uma família — abastecida num baú de imagens prévio (interessante, quase camiliano, e que bastaria para o desenvolvimento de um microfilme) — e o retrato do autor. Esta ânsia de totalidade é que justifica a desmesura da extensão, mas também há de ter contribuído para que a elaboração do texto e a construção do filme pareçam pouco planificadas. Com as capacidades técnicas e a intuição estática que o autor revela teria sido fácil condensar certas passagens (há zonas em que escasseiam imagens e outras em que sobra filme e o texto é curto), equilibrar a redação. Esta é sofisticada na parte inicial, depois mais coloquial e não isenta de lugares comuns, que contrastam com alguns bons achados em registo irónico. Expressão oral A leitura é boa. Nos tais momentos de brincadeira mais coloquial, tenta-se um estilo expressivo, que considero conseguido embora com ligeiro prejuízo da naturalidade. Pausa demasiado conduzida pela pontuação gráfica em «feitio que, como disse no início, [...]».
Miguel M.
Miguel M. (16,7) Texto/Estrutura O autor funciona como ator (que representa o seu próprio papel) mas também como comentador do que vai fazendo (em monólogos irónicos). Assim acontece, por exemplo, quando, chegado à mesa para pequenalmoçar, comenta «Hum! Chocapic!» (sentimos que é mais um comentário brincalhão do que a reprodução do que acontecerá, ou aconteceria, todos os dias). O que nos é apresentado é um dia típico de aulas (mas antes da ESJGF — agora o Miguel é muito diferente, claro, aplicadíssimo), em que afinal há tudo menos aulas. Ao longo do dia o protagonista vai assumindo cada vez mais esse papel de narrador, mas só no final é que, frente ao computador, nos esclarece de que se tratou: um dia de aulas, como o eram até ao ano passado. Resulta bem a perspectiva auto-crítica (olhem como, no meu dia de trabalho, o mais importante é o futebol e o regresso ao computador). O texto não é muito — e essa é uma crítica a fazer —, e será mais improvisado do que escrito, mas é adequado ao estilo que se quis adotar. O filme revela intuição de como se conta uma história em cinema. Ultrapassou-se muito o tempo combinado (e até creio que teria sido fácil cortar trechos na parte dos percursos). Na legenda final, «Aulas» devia estar com minúscula. Expressão oral Não se pode fazer uma crítica à leitura em voz alta, porque se trata sempre de expressão oral decerto espontânea; mas essas falas são, quase sempre, ditas com naturalidade e graça (mas, por exemplo, mesmo no final, há uma hesitação antes de «do meu vídeo»).
Cláudia
Cláudia (15,7) Texto/Estrutura A autora escolheu desenvolver o seu retrato/mini-biografia a partir de uma característica que vai sempre repetindo (ser «a pequenina», ou a «pequenita», dos grupos em que se integra, o que é contrastado com a criatividade, «do tamanho do universo»). Este recurso foi inteligente, porque se consegue assim escapar à fórmula típica dos autorretratos assentes em definições («eu sou assim e assado»), que nos parecem sempre um pouco estereotipados. Outra boa solução foi a menção da importância das artes (agora em contraste com a escolha da área do curso), já que se pôde aproveitar para mostrar imagens desenhadas pela Cláudia, tornando mais original a ilustração do texto. Pode talvez criticar-se a extensão do filme (relativamente curto), mas deve reconhecer-se que se trata de trabalho simples, eficiente, equilibrado. Uma correção: logo no início, «entre muitos outros» (a mais pequena do grupo de amigos, da turma, entre muitos outros) podia dar lugar a «entre muitos outros grupos [que pudesse citar]». Expressão oral (O som podia estar mais alto, ainda que, com um pouco de esforço, se consiga seguir todo o texto.) A Cláudia lê com velocidade adequada e sem falhas (de pronúncia ou de «pontuação»). A entoação é também, em geral, a apropriada. Talvez que, em algumas frases, se devesse evitar fazer ênfase (se destacamos tudo, acabamos por desgastar o tom exclamativo, não acentuando os momentos verdadeiramente importantes).
Inês O.
Inês O. (14,8) Texto/Estrutura Segue-se o estilo mais comum das biografias que foram apresentadas nestes filmes. De certo modo, chegando o filme da Inês já tão tarde,tinha mais obrigação de tentar fugir a um formato que, entretanto, vistas já as dezenas de autobiografias, se gastara um tanto. Sobretudo, creio que o acabamento podia ser mais rigoroso (exemplo: era decerto fácil, para o período já mais recente da sua vida, ter evitado usar como imagem de uns largos segundos a perspetiva da ESJGF que já está em tantos trabalhos). O texto tem o cuidado de percorrer as várias da vida da Inês e não apresenta falhas (apenas «Aqui sempre fui acolhida» seria «Aqui sempre fui bem acolhida»), mas sei que a autora é capaz de redigir com mais complexidade. Expressão oral Terá sido pouco preparada (cfr. «Fernando Pessoa» por «Fernando Fonseca»; hesitação antes de «aos três anos de vida» [0.35], etc.). Há demasiada velocidade na leitura em voz alta (por se querer acompanhar as imagens?). Tendo em conta que Inês tem boa capacidade de leitura, não terá havido muitos ensaios, com certeza.
Marta
Marta (15,8) Texto/Estrutura
«Um resumo da minha vida» está construído a partir sobretudo das fotografias
que nos vão sendo mostradas. É como se estivéssemos perante um álbum, com cada foto
brevemente comentada por quem nos guiasse. Essa sucessão de imagens — aliás,
tecnicamente, elaborada — condiciona o texto lido, que é um conjunto de
legendas curtas mais do que uma narrativa ambiciosa. Mas o estilo resulta bem,
embora a linguagem devesse ser mais trabalhada (por exemplo, há vários
«bastante», «adoro», «imenso», «coisas fantásticas», «maluqueiras», que são
típicos da linguagem informal e que poderiam dar lugar a expressões mais
específicas de cada situação). O tempo combinado — cerca de três minutos — foi
largamente excedido — cinco minutos e dezanove. Expressão oral A leitura da Marta é clara, pausada, natural (parece
que está a conversar, embora sem as hesitações de quem está a conversar). Não
notei nenhum erro de pronúncia ou má entoação. É verdade que o tipo de trechos
(os tais curtos comentários, «legendas») punha menos dificuldades do que as que
poria um texto corrido.
Joana
Joana (14,8) Texto/Estrutura
O texto organiza-se em torno de três ou quatro espaços: a casa até aos seis
anos (com irmão, sobretudo; também os primos e resto da família); o Instituto
de Odivelas; a dança e a Secundária de Benfica (e Marta). Não é um texto muito
exigente, mas é bastante claro, resume bem a vida de Joana e segue-se com
facilidade. Imagens foram bem escolhidas. (Há ligeiro problema técnico na parte
que encaixa um curto filme com exercício de ginástica.) Cerca dos dois minutos
(1,53) creio que a sintaxe não está perfeita: «e perceber» deverias ser «e
percebo», se entendi bem o início da frase. Expressão oral Em geral, a velocidade de leitura é adequada, e as
entoações são corretas, mas houve três ou quatro pequenos «tropeções» — que
mostram que ainda se poderia ter ensaiado mais. Essas hesitações são as
seguintes: «para mudar / de escola», «para ter outra perspetiva / de vida», «e
para termos as /conversas noturnas», «[eu sou], eu devo-lhe tudo que sou».
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