Sunday, September 16, 2007

Plano

Escola Secundária José Gomes Ferreira
Português / 10.º ano / 2007-2008
Plano
Leitura e escrita
Considera-se que as duas competências que envolvem o meio escrito devem ser privilegiadas na planificação relativamente às de oralidade. Esta assunção acaba aliás de ganhar respaldo instititucional, já que a Portaria n.º 1322/2007, de 4 de Outubro, estipula que o conjunto das duas modalidades orais deve corresponder a um quarto da classificação períodica. Aceitando que entre incidência do ensino nas diversas competências e ponderação em termos avaliativos das várias modalidades não pode haver grande desfasamento, fica subentendido que ao conjunto das modalidades escritas e ao funcionamento da língua não caberá menos de 75% do ensino na disciplina de Português.
No que se refere à leitura, resumimos aqui os géneros a que pertencem os textos, a ler em aula ou no âmbito da chamada «leitura em regime contratual» — ‘leituras combinadas com os alunos’ foi a fórmula que preferiram os subscritores deste plano —, mas também os autores e épocas que o programa explicita:

Textos informativos (declaração, requerimento, contrato, regulamento, relatório, verbetes, artigos científicos e técnicos)
Textos de carácter autobiográfico (memórias, diários, cartas)
Poesia lírica de Camões
Textos expressivos e criativos
Poesia do século XX portuguesa e de países lusófonos
Textos dos media (artigos de apreciação crítica, crónicas)
Textos narrativos e descritivos
Contos/novelas do século XX (em português/da literatura universal)

Em geral, seguir-se-ão as sequências propostas no manual, o que não significa que não haja, da parte de cada professor, afastamentos esporádicos dessa navegação costeira.
No programa, a expressão escrita aparece desdobrada nos vários tipos de texto a redigir (note-se que os seus dois últimos tópicos referem actividades que implicam igualmente a leitura):

Declaração
Requerimento
Carta
Relatório
Reconto
Relato de vivências/experiências
Descrição/retrato
Textos expressivos e criativos
Resumo de textos informativos-expositivos
Síntese de textos informativo-expositivos

As tarefas de escrita que aproveitam o modelo de textos lidos ou que os alteram têm sido da predilecção do grupo. Esta conjunção de leitura e escrita quase poderia servir de emblema desta parte do plano. Outro lema com que os professores do décimo ano se comprometem é o de, em função do percurso de cada turma, ir procurando as âncoras que constituem as iniciativas do CRE/Biblioteca.

Compreensão e expressão orais
Alguns conteúdos mencionados em ‘Funcionamento da língua’ aparecem igualmente neste domínio. Por exemplo, a propósito de «Entrevista», na secção ‘expressão oral’, referem os programas os ‘princípios reguladores da interacção discursiva’; na compreensão oral, ocorrem as noções de ‘adequação discursiva’, de ‘contexto’, de ‘interlocutor’, etc. Com efeito, o texto oral parece ser suporte ideal para a observação de vários conceitos que surgem na parte gramatical do programa do 10.º ano. Entretanto, não deve supor-se que nesses casos a oralidade seja convocada apenas como meio em que, instrumentalmente, operasse o ensino do funcionamento da língua. É que as actividades de análise do discurso oral constituem já parte dos objectivos das secções que no programa se ocupam da compreensão e produção orais.
A seu lado estarão as actividades que impliquem o próprio exercício da fala ou da escuta. Os tipos de texto destacados no programa são, no que respeita à compreensão, a Entrevista (radiofónica e televisiva) e a Crónica radiofónica; quanto à expressão, ainda a Entrevista, o Reconto, o Relato de vivências/experiências, a Descrição/Retrato.
Tenha-se presente que certas actividades recorrentes nas aulas de Português correspondem ao que se tem designado como ‘intermodalidades’, incluindo uma componente importante de produção ou recepção orais. A leitura em voz alta (ler + falar), o registo de notas (ouvir + escrever), o relatório (ouvir + escrever), o resumo oral (ouvir ou ler + falar), a recitação (ler + falar), a dramatização (ler ou ouvir + falar), a transcrição de gravações (ouvir + escrever), entre outras, são tarefas que também podem ser objecto da avaliação formal a que alude a citada portaria n.º 1322/2007.
Não valerá a pena defender a prioridade de uma das competências de oralidade relativamente à outra. Note-se que o ensino da produção oral apresenta uma dificuldade que o ensino do ouvir pode contornar: até em termos logísticos, são mais fáceis de reunir as condições para o treino (ou avaliação) da compreensão do que as que impõe a produção oral (em que o exercício em simultâneo é impossível, excepto em laboratório).
Nesta reflexão sobre o equilíbrio entre as duas modalidades, cabe notar o caso peculiar da chamada ‘conversação’ (em que as duas modalidades se entretecem, e em que têm relevância os aspectos gestuais e proxémicos). A conversação será decerto de difícil abordagem processual em termos de ensino, mas a análise de trechos de conversa (videogravados) pode constituir um dos casos de interface entre matérias de funcionamento da língua e de oralidade.

Funcionamento da língua
O programa do décimo ano, como tantas vezes acontece no ensino da gramática, elenca conteúdos que já tinham aparecido, e com idêntica formulação, em anos anteriores. É o caso das noções de ‘hiperónimo’/’hipónimo’; do ‘discurso directo, indirecto, indirecto livre’. Também repetidos, embora supondo agora talvez ligeira sofisticação, aparecem os conteúdos ‘português do Brasil’, ‘campo lexical’, ‘protótipo textual descritivo’ (e ‘protótipo textual narrativo’).
Mesmo assim, a novidade da matéria de funcionamento da língua é significativa. Dá-se relevo a áreas quase ausentes em anos anteriores: a pragmática linguística, a linguística textual, a semântica e a fonologia têm peso maior (em detrimento da sintaxe, da identificação de classes de palavras — aka «classificação morfológica» —, da morfologia — a «formação de palavras»). Quanto à área que corresponde à variação linguística (história, geografia, sociolinguística do português), retoma conceitos insinuados já no 9.º ano mas que surgirão mais integrados numa abordagem de cultura linguística (language awareness, consciencialização linguística), enquanto no ano anterior decorriam da análise do sistema da língua. Esta linha também é incentivada pela presença de temas de aproximação quase sociológica, como acontece com a análise da conversação ou as formas de tratamento.
Para que do aparente predomínio das áreas da linguística menos habitualmente convocadas não resulte o esquecimento dos conteúdos das áreas fortes no 3.º ciclo, convém que as reflexões a fazer no 10.º ano possam por vezes retomar os conteúdos, por assim dizer, tradicionais. São esses conteúdos — «pré-requisitos», termos para contraste das noções novas, ou simples objecto de revisão — que na tabela seguinte aparecem na coluna da direita [no blogue, a vermelho].

Conteúdos do 10.º ano // Conteúdos de anos anteriores relacionáveis
Variação e normalização linguística; Variedades do português //
características do português do Brasil; registos, níveis de língua; variedades; sincronia/diacronia; fenómenos fonéticos
Propriedades prosódicas (altura, duração, intensidade); Constituintes prosódicos (entoação, pausa) //
tipos de frase; formas de frase
Estruturas lexicais (campos lexical [e semântico]) // campo lexical; família de palavras
Relações semânticas entre palavras (hiperonímia, hiponímia; holonímia, meronímia) // hiperónimo, hipónimo
Deícticos (pessoais, espaciais, temporais) //
pronomes, flexão verbal, advérbios
Discurso; Actos ilocutórios (directos e indirectos; assertivos, directivos, compromissivos, expressivos, declarações, declarações assertivas); Princípios reguladores da interacção discursiva (de cooperação; de cortesia) //
tipos de frase
Adequação discursiva; Oral e escrito; Registos formal e informal // registos, níveis de língua
Formas de tratamento // vocativo; flexão verbal
Modos de relato do discurso (directo, indirecto, indirecto livre); Verbos introdutores //
discurso directo, indirecto, indirecto livre
Coesão textual; Anáfora e catáfora; Co-referência //
pronominalização; sinónimos, antónimos; sujeito subentendido; orações e conectores
Coerência // ...
Protótipos textuais (descritivo, narrativo) //
descrição, narração
Paratextos (título, índice, prefácio, posfácio, rodapé, bibliografia) //
referência bibliográfica
Dicionário, glossário, enciclopédia, terminologia, thesaurus //
étimo, topónimo, antropónimo; sinónimo, antónimo; classes de palavras; alfabeto; afixos; homonímia; homografia; polissemia; conotação e denotação

Avaliação
Porque avaliação e preparação do ensino estão imbricadas (cada uma, em cada momento, informando a outra), não parece desejável estabelecer de imediato alguma grelha orientadora da classificação no final do período.
De qualquer modo, as características da disciplina — em que predominam os conteúdos processuais, de aferição contingente; que trabalha competências cujo desenvolvimento, em larga medida, independe da mobilização do aluno num prazo curto; em que as próprias tarefas de ensino servem como manifestações bastante seguras da proficiência em cada modalidade — quase aconselham que a classificação periódica não decorra de soma estrita de cotações parcelares. Quer se siga essa abordagem, mais holística, quer se prefira convencionar parâmetros fixos, para a classificação devem concorrer variados instrumentos, aplicados com regularidade. O processo de avaliação exige também que os alunos vão dispondo de informação, mais ou menos descritiva, acerca da sua evolução nos vários domínios, a qual se pode deter prioritariamente nos aspectos que convenha remediar.
Caberá a cada professor explicitar nas suas turmas as soluções por que venha a decidir-se, mas estas não contenderão com o que sobre o assunto os programas estipulam (
programas, pp. 29-32), o que implica que qualquer ponderação que se faça «terá de ser organizada em torno das competências nucleares» (compreensão e expressão oral, expressão escrita, leitura; funcionamento da língua). Em função de opções assinaladas no plano anual da disciplina, entre as modalidades de recepção e de produção valorizar-se-ão especialmente as do meio escrito (ler e escrever), de acordo com a portaria n.º 1322/2007, de 4 de Outubro.
Quanto às atitudes (assiduidade, pontualidade, empenhamento no estudo, cooperação activa, intervenção), ainda que atentamente observadas e consideradas de forma integrada no processo, não serão objecto de avaliação isolada.