Aula 37-38
Aula 37-38 (11 [3.ª], 19 [4.ª], 21/nov [1.ª]) Correção de comentário
sobre Caeiro vs. «Notas sobre Tavira», de Campos.
No Secundário (10.º ano), o estudo dos Lusíadas
centra-se em dois aspetos, para além da revisão da estrutura da obra: (i) mitificação do herói; (ii) reflexões do Poeta. Na aula de hoje
faremos uma síntese das estratégias usadas para a mitificação do herói.
Eis a parte B do Grupo I do exame de 2019, 2.ª fase. O texto era constituído pelas
estâncias 26 a 29 do canto VI de Os
Lusíadas. Resolve só a pergunta 5 e, se tiveres tempo, depois, a 6.
4.
Explicite as estratégias argumentativas utilizadas por Baco (estâncias 27 e 28)
para convencer Neptuno, Oceano e os outros deuses marinhos a serem seus
aliados.
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5.
Apresente dois aspetos distintos que, na estância 29, evidenciem a mitificação
do herói, fundamentando cada um deles com uma transcrição pertinente.
[Resposta a 5 [para ajudar, fica esta
«tradução» da estância 29:
“Vistes que, com extraordinária ousadia, [os
homens, como Ícaro,] já tentaram voar pelo céu.
Vistes a sua tresloucada
audácia, arriscando-se ao mar com velas e com remos.
Vistes, e quotidianamente as estamos vendo
ainda, tais soberbas e insolências dos mortais, que receio venham a ser, dentro
de poucos anos, deuses do mar e do céu, enquanto que nós desceremos à categoria
de simples homens.”]:
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6.
Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando da tabela a opção
adequada a cada espaço. Na folha de respostas, registe apenas as letras e o
número que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.
Nestas estâncias, são utilizados alguns recursos
expressivos frequentes em Os Lusíadas:
na expressão «peito oculto» (v. 3), está presente uma a)
; a apóstrofe ocorre, por
exemplo, em b) .
a) |
b) |
1.
personificação |
1.
«o mar irado» (v. 10) |
2.
anástrofe |
2.
«padre Oceano» (v. 13) |
3.
metáfora |
3.
«fracos e atrevidos» (v. 24) |
4.
comparação |
4.
«humanos» (v. 32) |
https://www.rtp.pt/play/p4460/e808293/1986
Completa depois de vermos partes do episódio 1 da
série 1986, criada por Nuno Markl e realizada por Henrique Oliveira, e
de lermos umas estâncias de Os Lusíadas, de Camões:
Os
Lusíadas |
1986 |
Herói é ______. São os portugueses, incluindo,
no plano da viagem, os navegantes, com destaque para Vasco da Gama, e, no
plano da ______, os reis e outros famosos que praticaram atos gloriosos. |
Herói é individual. É ______, que alterna
entre o plano do sonho, em que se imagina em situações heroicas, e o plano da
______, em que sofre frustrações e é chamado à razão pelas outras
personagens, quando acorda. |
Sujeito e personagens
mitificam o herói |
Protagonista
«automitifica-se» |
Os portugueses vencem, com audácia e destemor,
perigos que o poeta vai superlativando. No canto V, o _____ assinala essa
superação (o gigante diz terem sido os portugueses os únicos que o venceram).
|
Tiago imagina-se um herói à imagem do
protagonista de Amanhecer Violento, capaz de alvejar o seu opositor em
defesa da heroína (que se percebe ser ______, ainda que caracterizada como
nas aventuras do filme a que se alude). |
Logo na Proposição o sujeito poético considerara
os feitos que relataria superiores aos narrados nas ______ antigas. É
frequente a comparação com outros heróis míticos (por exemplo, na Dedicatória
a D. Sebastião — cfr. p. 311, canto I, est. 18 —, os portugueses são
identificados com os _______). |
Além da emulação através de figuras do cinema e
da música, Tiago tem em conta também uma referência de ordem ______
(tendo-lhe sido aconselhados os Contos do Gin Tonic, de Mário-Henrique
Leiria, decide que não se pode comportar passivamente, como fazia, com maus
resultados, a ______ de um dos textos). |
Os discursos de Vasco da Gama ao Rei de ______
(cantos III-IV) e de Paulo da Gama ao Catual (VII) servem para recordar atos
heroicos dos portugueses fora do eixo da viagem, convencendo-nos, e aos
ouvintes indígenas, da excelência dos _______. |
A canção referida ironicamente por Marta, «_______
Boy», saída em 1985, da banda italiana Baltimora, e que estaria na moda à
época em que decorre a ação, leva o protagonista a imaginar-se no centro das
atenções, desta vez enquanto vedeta _______. |
Os deuses reconhecem o valor dos portugueses.
_______ interessa-se por eles, protege-os, defende-os perante Júpiter e há de
recompensar a sua bravura com a Ilha dos Amores. Já _____ receia ver-se
vencido pelos portugueses. |
Na sua vontade de corresponder a um perfil
heroico (aliás, «cool»), Tiago gaba-se de ser ____. Marta acabará por aceitar
o oferecimento de Tiago para essas funções, o que será a única _______
recebida pelo herói. |
A Ilha dos Amores (IX-X) é o prémio que
simboliza a imortalidade do herói épico. Os marinheiros são aí elevados à
condição de deuses, convivendo com as ______, que os procuram _______, ainda
que fingindo fugir-lhes. |
Em sonho, Tiago imagina que _______, num cenário
que lembra o que se diria adequado à Ilha dos Amores (ou a anúncio de
champôs), o procura _______, embora, na situação real, se limite a passar por
ele no bloco B. |
Vai até à p. 134 do manual. Usando, a certa
altura, o termo «mitificação do herói», escreve um comentário em que te
reportes quer às estâncias 145-146 do canto X dos Lusíadas quer à letra
de «Os Lusíadas» dos Anaquim. Faz, pelo menos, uma citação de cada um dos
textos. A caneta.
Os Lusíadas (Anaquim)
Este
é o nosso triste fado
Do vamos andando e do pobre coitado
Velha canção em que a culpa é do estado
Por ser o espelho do reinado
E
a história por mais do que uma vez
Foi mais cruel que a de Pedro e Inês
Levou-nos o que tanta falta nos fez
Sem deixar razões ou porquês
Temos
fuga ao fisco, estradas de alto risco
Temos valiosos costumes e tradições
Que eu não percebo se nos maldizemos
Quais as razões
Temos
chico-espertos, burlas e protestos
Temos tantos motivos para sorrir
Que eu nem imagino qual será a desculpa
Que vem a seguir
Gosto
tanto deste país
Só não entendo o que o faz feliz
Se é rir da miséria de outros quando a vemos
Ou chorar da nossa própria quando a temos
Gosto
tanto deste país
Só não entendo quando ele se diz
Senhor do futuro maduro, duro mas seguro
E eu juro que ainda não o vi
Os
queixumes, sei-os de cor
Endereçados a nosso senhor
Intercalados com suspiro ou dor
De um bom sofredor
Dentro
de momentos seguem-se os lamentos
Não há dinheiro para os medicamentos
Não há dinheiro para tanto sustento
Tão longe vão outros tempos
Gosto
tanto deste país
Só não entendo o que o faz feliz
Se é rir da miséria de outros quando a vemos
Ou chorar da nossa própria quando a temos
Gosto
tanto deste país
Só não entendo quando ele se diz
Senhor do futuro maduro duro mas seguro
Eu juro que ainda não o vi
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[Solução para comentário
em torno de Anaquim, «Os Lusíadas» & Luís de Camões, Os Lusíadas,
canto X, 145-146:]
Quer as estâncias dos Lusíadas
(canto X, ests. 145-146) quer a letra da canção dos Anaquim transmitem a
deceção dos respetivos sujeitos poéticos, desiludidos com o estado da sociedade
portuguesa, numa decadência ilustrada com «fuga ao fisco, estradas de alto
risco», «chico-espertos, burlas», «não [haver] dinheiro para medicamentos»,
etc. (na canção) e sintetizada na afirmação de que a pátria «está metida / No
gosto da cobiça e na rudeza / Dhũa austera, apagada e vil tristeza» (145, vv.
6-8).
Não se esquecem os poetas,
porém, de mitificar os seus heróis e Portugal, o que se nota particularmente no
elogio dos portugueses dirigido a D. Sebastião no dístico final da estrofe 146
(«Olhai que sois [...] / Senhor só de vassalos excelentes») e, na canção, ainda
que em clave talvez irónica, na repetição do verso «Gosto tanto deste país».
Aliás, o título da canção, «Os Lusíadas», também tem de ser lido como ironia, uma vez que toda a letra é antiépica, recusa a glória que os verdadeiros Lusíadas tiveram como meta enaltecer.
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