Sunday, September 08, 2024

Aula 37-38

Aula 37-38 (11 [3.ª], 19 [4.ª], 21/nov [1.ª]) Correção de comentário sobre Caeiro vs. «Notas sobre Tavira», de Campos.

No Secundário (10.º ano), o estudo dos Lusíadas centra-se em dois aspetos, para além da revisão da estrutura da obra: (i) mitificação do herói; (ii) reflexões do Poeta. Na aula de hoje faremos uma síntese das estratégias usadas para a mitificação do herói.

Eis a parte B do Grupo I do exame de 2019, 2.ª fase. O texto era constituído pelas estâncias 26 a 29 do canto VI de Os Lusíadas. Resolve só a pergunta 5 e, se tiveres tempo, depois, a 6.



4. Explicite as estratégias argumentativas utilizadas por Baco (estâncias 27 e 28) para convencer Neptuno, Oceano e os outros deuses marinhos a serem seus aliados.

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5. Apresente dois aspetos distintos que, na estância 29, evidenciem a mitificação do herói, fundamentando cada um deles com uma transcrição pertinente.

[Resposta a 5 [para ajudar, fica esta «tradução» da estância 29:

“Vistes que, com extraordinária ousadia, [os homens, como Ícaro,] já tentaram voar pelo céu.

Vistes a sua tresloucada audácia, arriscando-se ao mar com velas e com remos.

Vistes, e quotidianamente as estamos vendo ainda, tais soberbas e insolências dos mortais, que receio venham a ser, dentro de poucos anos, deuses do mar e do céu, enquanto que nós desceremos à categoria de simples homens.”]:

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6. Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando da tabela a opção adequada a cada espaço. Na folha de respostas, registe apenas as letras e o número que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.

Nestas estâncias, são utilizados alguns recursos expressivos frequentes em Os Lusíadas: na expressão «peito oculto» (v. 3), está presente uma      a)     ; a apóstrofe ocorre, por exemplo, em        b)       .

a)

b)

1. personificação

1. «o mar irado» (v. 10)

2. anástrofe

2. «padre Oceano» (v. 13)

3. metáfora

3. «fracos e atrevidos» (v. 24)

4. comparação

4. «humanos» (v. 32)

https://www.rtp.pt/play/p4460/e808293/1986

Completa depois de vermos partes do episódio 1 da série 1986, criada por Nuno Markl e realizada por Henrique Oliveira, e de lermos umas estâncias de Os Lusíadas, de Camões:

Os Lusíadas

1986

Herói é ______. São os portugueses, incluindo, no plano da viagem, os navegantes, com destaque para Vasco da Gama, e, no plano da ______, os reis e outros famosos que praticaram atos gloriosos.

Herói é individual. É ______, que alterna entre o plano do sonho, em que se imagina em situações heroicas, e o plano da ______, em que sofre frustrações e é chamado à razão pelas outras personagens, quando acorda.

Sujeito e personagens mitificam o herói

Protagonista «automitifica-se»

Os portugueses vencem, com audácia e destemor, perigos que o poeta vai superlativando. No canto V, o _____ assinala essa superação (o gigante diz terem sido os portugueses os únicos que o venceram).

Tiago imagina-se um herói à imagem do protagonista de Amanhecer Violento, capaz de alvejar o seu opositor em defesa da heroína (que se percebe ser ______, ainda que caracterizada como nas aventuras do filme a que se alude).

Logo na Proposição o sujeito poético considerara os feitos que relataria superiores aos narrados nas ______ antigas. É frequente a comparação com outros heróis míticos (por exemplo, na Dedicatória a D. Sebastião — cfr. p. 311, canto I, est. 18 —, os portugueses são identificados com os _______).

Além da emulação através de figuras do cinema e da música, Tiago tem em conta também uma referência de ordem ______ (tendo-lhe sido aconselhados os Contos do Gin Tonic, de Mário-Henrique Leiria, decide que não se pode comportar passivamente, como fazia, com maus resultados, a ______ de um dos textos).

Os discursos de Vasco da Gama ao Rei de ______ (cantos III-IV) e de Paulo da Gama ao Catual (VII) servem para recordar atos heroicos dos portugueses fora do eixo da viagem, convencendo-nos, e aos ouvintes indígenas, da excelência dos _______.

A canção referida ironicamente por Marta, «_______ Boy», saída em 1985, da banda italiana Baltimora, e que estaria na moda à época em que decorre a ação, leva o protagonista a imaginar-se no centro das atenções, desta vez enquanto vedeta _______.

Os deuses reconhecem o valor dos portugueses. _______ interessa-se por eles, protege-os, defende-os perante Júpiter e há de recompensar a sua bravura com a Ilha dos Amores. Já _____ receia ver-se vencido pelos portugueses.

Na sua vontade de corresponder a um perfil heroico (aliás, «cool»), Tiago gaba-se de ser ____. Marta acabará por aceitar o oferecimento de Tiago para essas funções, o que será a única _______ recebida pelo herói.

A Ilha dos Amores (IX-X) é o prémio que simboliza a imortalidade do herói épico. Os marinheiros são aí elevados à condição de deuses, convivendo com as ______, que os procuram _______, ainda que fingindo fugir-lhes.

Em sonho, Tiago imagina que _______, num cenário que lembra o que se diria adequado à Ilha dos Amores (ou a anúncio de champôs), o procura _______, embora, na situação real, se limite a passar por ele no bloco B.

Vai até à p. 134 do manual. Usando, a certa altura, o termo «mitificação do herói», escreve um comentário em que te reportes quer às estâncias 145-146 do canto X dos Lusíadas quer à letra de «Os Lusíadas» dos Anaquim. Faz, pelo menos, uma citação de cada um dos textos. A caneta.

Os Lusíadas (Anaquim)

Este é o nosso triste fado
Do vamos andando e do pobre coitado
Velha canção em que a culpa é do estado
Por ser o espelho do reinado

 

E a história por mais do que uma vez
Foi mais cruel que a de Pedro e Inês
Levou-nos o que tanta falta nos fez
Sem deixar razões ou porquês

 

Temos fuga ao fisco, estradas de alto risco
Temos valiosos costumes e tradições
Que eu não percebo se nos maldizemos
Quais as razões

 

Temos chico-espertos, burlas e protestos
Temos tantos motivos para sorrir
Que eu nem imagino qual será a desculpa
Que vem a seguir

 

Gosto tanto deste país
Só não entendo o que o faz feliz
Se é rir da miséria de outros quando a vemos
Ou chorar da nossa própria quando a temos

 

Gosto tanto deste país
Só não entendo quando ele se diz
Senhor do futuro maduro, duro mas seguro
E eu juro que ainda não o vi

 

Os queixumes, sei-os de cor
Endereçados a nosso senhor
Intercalados com suspiro ou dor
De um bom sofredor

 

Dentro de momentos seguem-se os lamentos
Não há dinheiro para os medicamentos
Não há dinheiro para tanto sustento
Tão longe vão outros tempos

 

Gosto tanto deste país
Só não entendo o que o faz feliz
Se é rir da miséria de outros quando a vemos
Ou chorar da nossa própria quando a temos

 

Gosto tanto deste país
Só não entendo quando ele se diz
Senhor do futuro maduro duro mas seguro
Eu juro que ainda não o vi

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

[Solução para comentário em torno de Anaquim, «Os Lusíadas» & Luís de Camões, Os Lusíadas, canto X, 145-146:]

Quer as estâncias dos Lusíadas (canto X, ests. 145-146) quer a letra da canção dos Anaquim transmitem a deceção dos respetivos sujeitos poéticos, desiludidos com o estado da sociedade portuguesa, numa decadência ilustrada com «fuga ao fisco, estradas de alto risco», «chico-espertos, burlas», «não [haver] dinheiro para medicamentos», etc. (na canção) e sintetizada na afirmação de que a pátria «está metida / No gosto da cobiça e na rudeza / Dhũa austera, apagada e vil tristeza» (145, vv. 6-8).

Não se esquecem os poetas, porém, de mitificar os seus heróis e Portugal, o que se nota particularmente no elogio dos portugueses dirigido a D. Sebastião no dístico final da estrofe 146 («Olhai que sois [...] / Senhor só de vassalos excelentes») e, na canção, ainda que em clave talvez irónica, na repetição do verso «Gosto tanto deste país».

Aliás, o título da canção, «Os Lusíadas», também tem de ser lido como ironia, uma vez que toda a letra é antiépica, recusa a glória que os verdadeiros Lusíadas tiveram como meta enaltecer.

 

 

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