Aula 49
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(3 [1.ª], 4 [3.ª], 5/dez [4.ª]) Vamos ver as partes B e C do Grupo I da prova de exame de 2023 (1.ª fase). A parte A apresentava três itens (1, 2, 3) todos com escrita e sobre dois
textos de José Saramago (um de O ano da morte de Ricardo Reis; e outro
de Memorial do Convento); esses três itens, de interpretação dos textos,
eram para responder por todos os alunos, independentemente de terem estudado
nas suas escolas O ano da morte ou o Memorial.
Parte
B
Leia
o poema e as notas.
Quem
vê, Senhora, claro e manifesto1
o lindo ser de vossos olhos
belos,
se não perder a vista só em
vê-los,
já não paga o que deve a vosso
gesto2.
5 Este
me parecia preço honesto;
mas eu, por de vantagem
merecê-los,
dei mais a vida e alma por
querê-los,
donde já me não fica mais de
resto.
Assi que a vida e
alma e esperança
10 e
tudo quanto tenho, tudo é vosso,
e o proveito disso eu só o levo.
Porque é tamanha
bem-aventurança3
o dar-vos quanto tenho e quanto
posso
que, quanto mais vos pago, mais
vos devo.
Luís
de Camões, Rimas, edição de A. J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina,
1994, p. 125.
Notas
1
claro e manifesto – de forma clara e incontestável. | 2 gesto –
rosto. | 3 bem-aventurança – grande felicidade.
* 4. Explicite,
com base em dois aspetos significativos, o modo como o sujeito poético reage à
figura feminina evocada no poema. Fundamente a sua resposta com transcrições
pertinentes.
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[Solução possível:
O sujeito poético mostra fascínio pela beleza da Senhora,
refletida nos seus olhos, ideia patente em «o lindo ser de vossos olhos belos,
/ se não perder a vista só em vê-los» (vv. 2 e 3).
A veneração pela amada leva o poeta a explicitar
submeter-se-lhe, como fica evidente na entrega total do sujeito poético («tudo
quanto tenho, tudo é vosso» – v. 10).
Note-se ainda a felicidade do sujeito poético, que deriva da
sua entrega plena à amada («é tamanha bem-aventurança / o dar-vos quanto tenho
e quanto posso» – vv. 12 e 13).]
* 5. Considere as afirmações seguintes
sobre o soneto.
(A) O sujeito poético dirige-se à
Senhora através de uma apóstrofe.
(B)
A expressão «perder a vista» (verso 3) é usada com sentido metafórico.
(C)
O sujeito poético arrepende-se de desejar algo cujo preço elevado o impede de
saldar a dívida.
(D) O poema ilustra o estilo engenhoso
do poeta, nomeadamente no último terceto, quando recorre à antítese e ao
paralelismo alcançado através do jogo de palavras.
(E)
Entre a Senhora e o sujeito poético existe uma relação de igualdade.
Identifique as duas afirmações
falsas.
6. Selecione a opção que completa
corretamente a frase seguinte.
Na segunda quadra, o sujeito
poético pretende enfatizar
(A) a sua entrega incondicional, a fim de ser merecedor
de admirar a beleza singular dos olhos da Senhora.
(B) o seu descontentamento por ter de pagar o «preço
honesto» exigido a quem contempla a Senhora.
(C) o contraste entre o preço a pagar para contemplar a
Senhora e a bem-aventurança que alcança.
(D) a ideia de que, ao dar a vida e a alma para ser
merecedor da beleza da Senhora, se iguala aos outros.
PARTE C
Leia a cantiga de amor a seguir
transcrita, tendo em vista o estabelecimento de uma comparação com o soneto
camoniano apresentado na Parte B desta prova.
A
dona que eu am’e tenho por senhor
amostrade-mi-a, Deus, se vos en
prazer for1,
senom dade-mi2
a morte.
A que tenh’eu por lume3
destes olhos meus
5 e
por que choram sempr’, amostrade-mi-a, Deus,
senom dade-mi a
morte.
Essa que vós fezestes melhor
parecer
de quantas sei, ai, Deus!,
fazede-mi-a veer4,
senom dade-mi a
morte.
10 Ai
Deus! que mi a fezestes mais ca mim amar5,
mostrade-mi-a, u6
possa com ela falar,
senom dade-mi a
morte.
Cantigas Medievais
Galego-Portuguesas,
Vol. I, edição de Graça Videira Lopes, Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal,
2016, pp. 151-152.
Notas
1
amostrade-mi-a, Deus, se vos en prazer for – mostrai-ma, Deus, se vos
agradar. | 2 dade-mi – dai-me. | 3 lume – luz. | 4 fazede-mi-a
veer – fazei-me vê-la. | 5 mi a fezestes mais ca mim amar – fizeste
com que eu a amasse mais do que a mim próprio. | 6 u – onde.
* 7. Escreva uma breve exposição na qual
compare os poemas das partes B e C quanto às ideias expressas.
A sua exposição deve incluir:
• uma
introdução;
• um desenvolvimento no qual explicite
um aspeto em que os poemas se aproximam e um aspeto em que os poemas se
distinguem;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do
texto
[ Indicações
do IAVE para os classificadores:
Relativamente a cada aspeto, deve
ser abordado um dos tópicos seguintes, ou outro igualmente relevante.
Os poemas aproximam-se, na medida em que:
− ambos os sujeitos poéticos revelam
uma profunda devoção pelas suas senhoras, o que se evidencia no facto de o
sujeito poético do soneto de Camões descrever a amada como aquela a quem deu «a
vida e alma e esperança / e tudo quanto tenho, tudo é vosso» (vv. 9 e 10),
enquanto o sujeito poético da cantiga de amor descreve a amada como a luz dos
seus olhos (v. 4) / aquela que ama mais do que a si mesmo (v. 10) / aquela a
quem serve / presta vassalagem (v. 1);
− ambos os sujeitos poéticos
enaltecem as damas por quem estão apaixonados, destacando a sua beleza, o que
está patente no facto de o sujeito poético do soneto de Camões descrever a
«Senhora» como alguém cujos olhos belos fascinam quem a vê («o lindo ser de
vossos olhos belos, / se não perder a vista só em vê-los» – vv. 2 e 3),
enquanto o sujeito poético da cantiga de amor descreve a amada como um ser
criado por Deus, que a fez a mais bela de todas as mulheres (vv. 7 e 8).
Os poemas distinguem-se, na medida em que:
− no soneto, o sujeito poético
exprime comprazimento na entrega total de si à dama, o que se evidencia, por
exemplo, nos versos 7 e 8 («dei mais a vida e alma por querê-los, / donde já me
não fica mais de resto.») e nos versos 12 e 13 («é tamanha bem-aventurança / o
dar-vos quanto tenho e quanto posso»), enquanto, na cantiga de amor, o sujeito
poético expressa o seu sofrimento amoroso (coita d’amor), pedindo a Deus que
lhe dê a morte, se não puder ver a amada (vv. 2 e 3, 5 e 6, 8 e 9) ou com ela
falar (vv. 11 e 12);
− no soneto, o sujeito poético faz
referência aos olhos femininos para enfatizar a beleza da «Senhora», como se
constata em «Quem vê, Senhora, claro e manifesto / o lindo ser de vossos olhos
belos» (vv. 1 e 2), enquanto, na cantiga de amor, o sujeito poético se refere
aos seus próprios olhos para evidenciar o seu sofrimento devido à ausência da
amada, como se verifica em «destes olhos meus / e por que choram sempr’» (vv. 4
e 5) ]
Escreve a introdução:
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[cópia de um modelo de solução:]
A lírica camoniana de escola clássica, em que se incluem os
sonetos, revela uma atitude de adoração do sujeito poético pela mulher amada
que nos recorda a que, talvez ainda mais hiperbolicamente, exibiam os trovadores medievais nas suas cantigas de
amor. (Ao contrário, muitas composições do Camões mais tradicional parecem
pertencer à linhagem das cantigas de amigo, com o seu ambiente de maior
proximidade entre apaixonados.)
Depois de vermos o trecho de Último a sair, em que as ações de Bruno Nogueira ficam nos
antípodas do código do amor cortês na lírica medieval, completa a tabela
com as seguintes palavras (aqui desordenadas):
ator / trovador /
sussurrar / Bruno / desejo / religiosa / proximidade / voyeurismo / regra /
elogia / assediar / honestidade / intervêm / intervém / nobres / inacessível
Cantigas de amor |
Último a sair, episódio Bruno-Sónia |
O sujeito poético é um trovador, que se dirige à sua
«senhor», que não ______ e é um ser sobretudo idealizado, incorpóreo. |
Bruno Nogueira é quem
inicia o diálogo, mas tanto o homem (Bruno) como a mulher (Sónia Balacó)
______. |
Ambiente é palaciano, o «eu» (trovador) e a dama
são _____. Origem das cantigas de amor é provençal (lembre-se que a primeira
dinastia portuguesa tinha ascendentes franceses), ao contrário das cantigas
de amigo, provavelmente autóctones. |
Contexto imita o de um reality
show, supondo-se que as personagens em causa se comportam como jovens
______ e modelo-atriz. |
Amor é mais aspiração do que experiência
sentimental; tudo está sujeito a convenções; ______ respeita a senhor[a] a
quem presta vassalagem amorosa, à maneira cavaleiresca. |
______ não se coíbe de
fazer propostas bastantes explícitas, mais físicas do que espirituais, e
trata a sua colega sem qualquer reserva ou delicadeza. |
Pretende-se prolongar o estado de tensão, sem
chegar ao fim do ______. |
Bruno não resiste a
seduzir Sónia sob os lençóis, mesmo quando se supunha ficarem apenas a
______. |
_______ da senhor[a] não
poderia ser posta em causa, não havendo quaisquer alusões impróprias, sem se
sair nunca da esfera espiritual; a «mesura»
implicava que não se poderia suspeitar da identificação da amada. |
Bruno não se preocupa em
preservar a imagem de Sónia, o seu estratagema passa mesmo por aproveitar o
______ do público, o que implicava expor ao máximo a sua relação com a amada. |
O sujeito poético, o
trovador, superlativa a senhor[a],
que elogia com devoção quase _______. |
Sem grande sentido do
charme, Bruno é várias vezes desagradável com Sónia, que deprecia mais do que
_______. |
Há distância entre trovador e a senhor[a], que lhe é _______. |
Haveria ________ máxima
entre amante e amada, se dependesse apenas de Bruno. |
Fidelidade é outra ______ imposta
ao trovador. |
Bruno, assim que Sónia se
lhe esquiva, vai _______ Luciana e Débora. |
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