Aula 59
Aula 59 (18/dez [3.ª]) Preparação dos envios para o
Correntes d’escritas.
Lê o poema «Liberdade», de Fernando Pessoa, na p. 36 do manual. Responde (ou
escolhe a alínea certa).
O poema defende
a) que há coisas mais
importantes do que o trabalho intelectual.
b) a natureza, a ingenuidade, a vida simples.
c) que o trabalho dos intelectuais é importante.
d) a preguiça.
Percebe-se que os autores do manual, ao porem este texto de Pessoa
a seguir a «Andorinhas», acharam que o poema
a) defendia que não se
deve ler com sacrifício.
b) se opunha ao sentido da canção.
c) falava da importância de se ler.
d) falava da natureza, como a canção.
«Livros são papéis pintados com tinta» (v. 14) pretende significar
que
a) os livros não são
assim tão importantes.
b) os livros são fundamentais para o espírito.
c) os livros são baratos.
d) os livros são obras de arte.
No entanto, a intenção de Fernando Pessoa não era bem a que julgam
os autores de Letras em dia. Vejamos como tudo se passou.
Este poema foi escrito a 16 de março de 1935. Em finais de fevereiro,
Salazar — que começara por ser ministro das Finanças e era já então o chefe do
governo — fizera um discurso em que dizia como os escritores se deviam
comportar relativamente à política. Salazar desvalorizava a escrita e a
leitura, concluindo com uma citação do escritor latino Séneca: «Mas virá algum
mal ao Mundo de se escrever menos, se se escrever e, sobretudo, se se ler
melhor? Relembro a frase de Séneca: “em estantes altas até ao teto, adornam o
aposento do preguiçoso todos os arrazoados e crónicas”».
Ora, a frase «em estantes altas até ao teto, adornam o aposento do
preguiçoso todos os arrazoados [discursos] e crónicas» quer dizer que
a) os livros são
importantes.
b) os aposentos dos preguiçosos estão bem decorados.
c) deve ter-se muitos livros em casa.
d) os livros são coisa de preguiçosos.
Pessoa tencionava pôr no poema a mesma frase de Séneca (vê aqui o
que estava no texto que Pessoa escreveu à máquina). Não o chegou a fazer,
porque o poema não foi logo publicado, já que a censura não deixou, e porque o
próprio poeta morreria nesse ano de 1935:
Sabendo isto — que era para aparecer no início do poema a frase de
Séneca — e que Pessoa estava contra Salazar, percebemos que a verdadeira a
intenção do poema «Liberdade» era afinal
a) defender que há coisas
mais importantes do que o trabalho intelectual.
b) defender a natureza, a ingenuidade, a vida simples.
c) troçar da posição de Salazar e defender que o trabalho dos
intelectuais é importante.
d) defender a preguiça.
Na última estrofe está o que permitiu ao censor perceber que o
poema era anti-salazarista e, por isso, impedir a sua publicação. A palavra
dessa última estrofe que o censor identificou como alusão a Salazar terá sido
_______.
Repara agora no verso 21. É um verso que ficou célebre e que hoje
todos repetimos sem nos lembrarmos de que veio deste texto. No entanto, o que
Fernando Pessoa escreveu não foi exatamente o que as pessoas repetem, que
costuma ser
«O
melhor do mundo são as crianças.»,
mas
«Mas o
melhor do mundo são crianças, / Flores, música, o luar, e o sol [...]»
A diferença de sentido das duas versões é que na verdadeira, a que
Pessoa escreveu mesmo,
a) «crianças» tem menos
importância, por faltar o determinante «as» e, assim, ficarem as crianças no
mesmo plano que «flores» e «música».
b) «crianças» tem mais importância.
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