Saturday, September 07, 2024

Aula 59

Aula 59 (18/dez [3.ª]) Preparação dos envios para o Correntes d’escritas.

Lê o poema «Liberdade», de Fernando Pessoa, na p. 36 do manual. Responde (ou escolhe a alínea certa).

O poema defende

a) que há coisas mais importantes do que o trabalho intelectual.

b) a natureza, a ingenuidade, a vida simples.

c) que o trabalho dos intelectuais é importante.

d) a preguiça.

 

Percebe-se que os autores do manual, ao porem este texto de Pessoa a seguir a «Andorinhas», acharam que o poema

a) defendia que não se deve ler com sacrifício.

b) se opunha ao sentido da canção.

c) falava da importância de se ler.

d) falava da natureza, como a canção.

 

«Livros são papéis pintados com tinta» (v. 14) pretende significar que

a) os livros não são assim tão importantes.

b) os livros são fundamentais para o espírito.

c) os livros são baratos.

d) os livros são obras de arte.

No entanto, a intenção de Fernando Pessoa não era bem a que julgam os autores de Letras em dia. Vejamos como tudo se passou.

Este poema foi escrito a 16 de março de 1935. Em finais de fevereiro, Salazar — que começara por ser ministro das Finanças e era já então o chefe do governo — fizera um discurso em que dizia como os escritores se deviam comportar relativamente à política. Salazar desvalorizava a escrita e a leitura, concluindo com uma citação do escritor latino Séneca: «Mas virá algum mal ao Mundo de se escrever menos, se se escrever e, sobretudo, se se ler melhor? Relembro a frase de Séneca: “em estantes altas até ao teto, adornam o aposento do preguiçoso todos os arrazoados e crónicas”».

Ora, a frase «em estantes altas até ao teto, adornam o aposento do preguiçoso todos os arrazoados [discursos] e crónicas» quer dizer que

a) os livros são importantes.

b) os aposentos dos preguiçosos estão bem decorados.

c) deve ter-se muitos livros em casa.

d) os livros são coisa de preguiçosos.

Pessoa tencionava pôr no poema a mesma frase de Séneca (vê aqui o que estava no texto que Pessoa escreveu à máquina). Não o chegou a fazer, porque o poema não foi logo publicado, já que a censura não deixou, e porque o próprio poeta morreria nesse ano de 1935:



Sabendo isto — que era para aparecer no início do poema a frase de Séneca — e que Pessoa estava contra Salazar, percebemos que a verdadeira a intenção do poema «Liberdade» era afinal

a) defender que há coisas mais importantes do que o trabalho intelectual.

b) defender a natureza, a ingenuidade, a vida simples.

c) troçar da posição de Salazar e defender que o trabalho dos intelectuais é importante.

d) defender a preguiça.

Na última estrofe está o que permitiu ao censor perceber que o poema era anti-salazarista e, por isso, impedir a sua publicação. A palavra dessa última estrofe que o censor identificou como alusão a Salazar terá sido _______.

Repara agora no verso 21. É um verso que ficou célebre e que hoje todos repetimos sem nos lembrarmos de que veio deste texto. No entanto, o que Fernando Pessoa escreveu não foi exatamente o que as pessoas repetem, que costuma ser

«O melhor do mundo são as crianças.»,

mas

«Mas o melhor do mundo são crianças, / Flores, música, o luar, e o sol [...]»

A diferença de sentido das duas versões é que na verdadeira, a que Pessoa escreveu mesmo,

a) «crianças» tem menos importância, por faltar o determinante «as» e, assim, ficarem as crianças no mesmo plano que «flores» e «música».

b) «crianças» tem mais importância.

 

 

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