Saturday, September 07, 2024

Aula LIV

Aula LIV (11/dez [3.ª]) [a 1.ª parte da aula corresponde a boa parte da aula 41 das outras duas turmas]

A parte B do Grupo I da prova de exame de Português mais recente (2024, 2.ª fase) aproveitava uma ode de Ricardo Reis. (A parte A do mesmo Grupo I usava um texto de A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós; a parte C — ou item 7 — pedia uma «breve exposição» em que se compararia uma pintura de René Magritte e o texto da parte A.)

PARTE B

Leia o poema e as notas.

 

As rosas amo dos jardins de Adónis1,

Essas volucres2 amo, Lídia, rosas,

               Que em o dia em que nascem,

               Em esse dia morrem.

5             A luz para elas é eterna, porque

Nascem nascido já o sol, e acabam

               Antes que Apolo3 deixe

               O seu curso visível.

Assim façamos nossa vida um dia,

10           Inscientes4, Lídia, voluntariamente

               Que há noite antes e após

               O pouco que duramos.

Ricardo Reis, Poesia, edição de Manuela Parreira da Silva, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, pp. 13-14.

NOTAS

1 Adónis – jovem da mitologia grega, símbolo de beleza masculina.

2 volucres – efémeras.

3 Apolo – deus grego do sol.

4 Inscientes – ignorantes.

* 4. Explicite a importância da referência aos elementos da natureza para o desenvolvimento do pensamento do sujeito poético.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

[Solução possível:

As rosas representam a efemeridade da vida. São «volucres» (v. 2), pois, «em o dia em que nascem» (v. 3), morrem, pelo que ilustram o carácter transitório da existência. Por outro lado, uma vez que «nascem nascido já o Sol» (v. 6) e perecem antes que ele se ponha, «a luz para elas é eterna» (v. 5), o que deve inspirar os humanos a aproveitarem moderadamente a vida, conscientes da sua finitude, semelhante à de «um dia» (v. 9) das rosas.

O curso diurno do sol representa a duração da vida: para a rosa, um dia; para o ser humano, uma passagem efémera («O pouco que duramos» v. 12).]

* 5. Explique os quatro últimos versos do poema, tendo em conta o ideal de vida defendido pelo sujeito poético.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

[Solução possível:

Face à constatação da efemeridade da vida, o sujeito poético aconselha Lídia a que viva o momento presente («Assim façamos nossa vida um dia» v. 9), de acordo com o princípio epicurista do carpe diem, único caminho para a felicidade e para a ausência de dor, assumindo uma atitude de indiferença face à passagem do tempo, num esforço de autodisciplina. Exorta-a a assumir uma atitude deliberada de aceitação da efemeridade da vida e da inevitabilidade da morte («há noite antes e após / O pouco que duramos» vv. 11-12).]

6. Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço. Na folha de respostas, registe apenas as letras – a) e b) – e, para cada uma delas, o número que corresponde à opção selecionada.

No poema apresentado, constata-se o classicismo da poesia de Ricardo Reis, nomeadamente através do recurso à _______ [a)], nos versos 7 e 8. O carácter moralista da poesia deste heterónimo pessoano é indiciado pelo uso de verbos conjugados na primeira pessoa do modo conjuntivo, como ocorre _______ [b)]

a)

b)

1. perífrase

2. hipérbole

3. metonímia

1. no verso 12

2. no verso 1

3. no verso 9


Podendo socorrer-te dos valores modais (modalidade) apontados na p. 328, preenche a coluna à direita. De qualquer modo, os termos a usar serão:

epistémica (valor de certeza);

epistémica (valor de probabilidade);

deôntica (valor de obrigação);

deôntica (valor de permissão);

apreciativa.

Frase de Último a sair, passo de traição de Débora

Modalidade (valor de ...)

Pões-me creme? [Débora para Bruno]

deôntica (valor de obrigação)

Podes pôr-me creme, faz favor. [Débora para Bruno]

 

Posso. [Bruno para Débora]

 

Então não posso. [Bruno para Débora]

 

As tuas mãos são uma coisa, Bruno! [Débora para Bruno]

 

São super-fortes! [Débora para Bruno]

 

Eu até me estou a sentir mal. [Bruno para Débora]

 

O Unas é que devia estar a fazer isto... [Bruno]

 

Não te preocupes. [Débora para Bruno]

 

O quintal ainda não é aí. [Débora para Bruno]

 

E o vizinho não tem de saber de nada. [Débora para Bruno]

 

Se calhar, posso espalhar por mais sítios? [Bruno para Débora]

 

Claro. [Débora para Bruno]

 

É isso. [Débora para Bruno]

 

Está ótimo! [Débora para Bruno]

 

Tens uma melga aqui. [Unas para Débora]

 

Posso matá-la? [Unas para Débora]

 

Granda melga! Bem! [Bruno para Unas]

 

[...] quando podes ter o original [Bruno para Débora]

 

Se calhar, até quero o original. [Débora para Bruno]

 

Tipo duas melgas que voavam mais ou menos assim. [Bruno]

 

Unas, isso é aquela conversa que não interessa a ninguém. [Débora]

 

Os poemas de Adília Lopes (nasc. 1960) que copiei em baixo supõem o conhecimento de textos de Ricardo Reis (com a figura horaciana de «Lídia»). A alusão a Reis está explícita no título do primeiro poema de Adília Lopes e na epígrafe (cfr. v. 21 de «Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio», p. 68) e no último verso do segundo poema (além de que, neste texto, o segundo verso repete o primeiro verso da ode de Reis «As rosas amo do jardim de Adónis», p. 139).

Escreve um comentário sobre estes poemas de Adília Lopes, procurando salientar a relação que eles estabelecem com a ideologia de Ricardo Reis, citando, se for caso disso, qualquer uma das suas odes lidianas.

(anti-Ricardo Reis)

O rio

é bom

para nadar

e as flores

para dar

o resto

são cantigas

casa-te com Lídia

tem bebés

passa a lua de mel

na Grécia

Adília Lopes, Sete rios entre campos

 

«pega tu nelas»

Ricardo Reis

Mão morta vai bater àquela porta

as rosas amo dos jardins de Adónis

ao escrever

é preciso reconciliar uma lebre

com uma tartaruga

oh como era lebre a tartaruga!

 

Mas porque será sempre Lídia

a pegar nas rosas

Dr. Ricardo Reis?

Adília Lopes, Os 5 livros de versos salvaram o tio

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

 

 

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