Aula 11 da Quarentena (= 129-130)
Aula 129-130 (= 11 da
Quarentena) (23
[9.ª], 24/abr [5.ª, 4.ª, 3.ª]) Fazendo um ponto
da situação, direi que quase todos os alunos já responderam ao amável convite
para entrarem nas Gavetas da sua
turma — convite interesseiro porque o que quero é que vão lá deixando
trabalhos. Prometo não abusar.
Prometam também vocês continuar a seguir as aulas por aqui, e lendo mesmo
tudo. Esta quarentena pode ter a vantagem de nos obrigar a termos um ensino
menos conduzido pela necessidade de concretizar tarefas e que implique mais a
receção: ler, ver, ouvir, sem necessidade de estar sempre a produzir resultados,
a preencher fichas. É muito bom podermos ler, ou ver filmes, ou ouvir música ou
debates, sem que tenhamos um objetivo escolar imediato.
Provavelmente, no caso de parte das
turmas de ciências (3.ª, 4.ª, 5.ª), em que os exames de Português já não serão feitos pela maioria dos alunos
(embora haja decerto, residualmente, alguns alunos que dele necessitem porque
concorram a cursos que já não são de ciências), ainda mais se aconselharia que
começássemos a abrir os assuntos, fugindo ao estilo tacanho de sebenta de
exame. Tentarei ir cumprindo os dois estilos: (i) mais aberto, mais útil para
sempre; (ii) atento às particularidades dos exames de Português e à necessidade
de contemplar os truques baixos da sua preparação (no 12.º 9.ª, que é de
Humanidades, predominará quem a este perfil interesse mais).
Vou esperar mais um pouco para ver
se é útil enviar já os PDF dos trabalhos corrigidos que tenho cá. Pode ser que
o regresso não demore assim tanto; e mesmo aos que não tivessem já Português seria
fácil fazer chegar então os papéis.
Não se admirem de não estar a dar
ainda a dar o retorno de todos os trabalhos que vão inserindo na plataforma (e
que já deveriam ter sido feitos durante as aulas lidas em Gaveta de Nuvens, o que nem sempre parece
ter acontecido...). Para já, estou mesmo a acabar de comentar os trabalhos da aula
7 que me chegaram até ontem. Irei vendo agora os de quem se atrasou e os das
aulas 8 e 9. Irei pondo uma classificação qualitativa ou um breve comentário.
Esta aula de hoje começará com a
correção de uma tarefa que lhes pedira na aula anterior. Lembram-se: era para
tentarem perceber num mapa de Lisboa o percurso do passeio que Ricardo Reis
empreendia no último dia do ano (a
partir do quarto parágrafo do capítulo III: «Deixou de chover, o céu
aclarou, pode Ricardo Reis, sem risco de molha incómoda, dar um passeio antes
do almoço»).
A correção vou apresentá-la em
forma de vídeo (em captura da imagem do computador comigo a usar o GoogleMaps e a comentar o passeio). Tenham piedade da minha falta de jeito, nunca usara o processo. Tive de
dividir o percurso em dois filmes (um de cerca de doze minutos; o outro, de
três), porque não conseguia acertar com a Rua do Século. Até a conheço
relativamente bem, mas sempre tive esta dificuldade em escolher a entrada a partir do Príncipe Real.
Depois, devem responder a um
questionário de escolha múltipla na plataforma de Classroom sobre este Percurso comentado toscamente (é uma tarefa que identifico como da aula 10 mas que é também desta presente aula
11, no fundo). No final, não deixem de ver a pontuação no próprio formulário, depois de submetida. Depois, não é preciso anexar a tarefa, mas devem clicar em «tarefa concluída». Darei prémios Tia Albertina a quem tenha o melhor resultado. Mas temos de ter cuidado: os prémios Tia Albertina foram adquiridos maioritariamente em lojas chinesas, estão infetadíssimos. Até os ouço tossir. (Sim, toda esta pandemia foi pensada para eu ter pretexto para já não lhes dar os prémios Tia Albertina.)
Ainda
a propósito da aula passada e das menções intertextuais (à Divina Comédia, aos Três
Mosqueteiros, à Eneida — lembremos sempre que é modelo preferencial, embora não único,
dos Lusíadas —, ao Dom Quixote), ficam a seguir uns vídeos
educativos.
A Eneida está imitada nos Lusíadas logo no verso inicial,
precisamente o citado em O Ano da Morte
de Ricardo Reis e escandido (dividido na métrica) no vídeo.
E,
depois, a Divina Comédia, de Dante. (À margem: o vocábulo «dantesco» está a ser por estes dias tão mal usado. «Dantesco» = 'que lembra o horror das descrições de Dante na sua Divina Comédia'.)
Mas
regressemos a O Ano da Morte de Ricardo
Reis. É ainda no terceiro capítulo que, regressado ao hotel, nessa última
noite do ano, Reis recebe a visita de Pessoa (que estava morto — lembro, desde
30 de novembro de 1935 — mas dentro dos nove meses que seriam permitidos para a
transição vida-morte, simétrica da gestação na barriga da mãe).
A
propósito, tenho de lhes aconselhar Numa
Casca de Noz, de Ian McEwan, um livro de género híbrido, entre o policial, o
drama leve, com ironia, de autor que já conhecemos (no 10.º ano vimos Expiação, uma adaptação a filme que respeita muito o livro de
McEwan).
Em Numa Casca de Noz temos a preparação de um
crime na perspetiva do bebé na barriga da mãe que pensa cometer esse crime (em
colaboração com o amante). O narrador é o ser em gestação, que se vai
apercebendo, inferindo, nem sempre bem, dos passos da execução dessa tramoia
(cuja vítima deverá ser o seu pai). Ou seja, os nove meses, neste caso, são
concedidos ao narrador, que, tal como Pessoa em OAMRR, também não é a personagem principal (em OAMRR é Reis; na novela de
McEwan será a mãe). Ao contrário da maior parte da obra de Ian McEwan, Numa Casca de Noz ainda não foi
transposto para filme.
Lê, ou
relê, «O reencontro com Fernando Pessoa» (pp. 264-266 do manual), o final do cap.
III, cuja primeira metade vimos bastante anteontem.
Responde
à pergunta 4 da p. 267 (à mão).
Lê as
respostas a esses itens na Apresentação. (E, imediatamente, ficam as respostas
a 5.1, 5.2 e 6, que escusas de fazer mas lerás.)
4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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5.1 Quanto à caracterização física, o texto
refere apenas o vestuário de Fernando Pessoa. Psicologicamente, as suas
atitudes e linguagem revelam sobretudo a contenção e o gosto pela análise
racional, por exemplo nas passagens «acho que é por uma questão de equilíbrio
[...] nove meses é quanto basta para o total olvido,» (ll. 37-41); «É muito
interessante o tom da comunicação [...] o Álvaro é assim» (li. 46-49).
5.2 No primeiro diálogo entre as duas personagens
do romance, recriações de um poeta e de uma das suas personalidades literárias,
evidencia-se a simpatia mútua e a cumplicidade. É notório, no entanto, o
conhecimento que Pessoa tem de Ricardo Reis («Querer pelo desejo o que sabe não
poder querer pela vontade, Precisamente, Ainda me lembro de quem você é, É
natural.», ll. 63-64; «Bem dito, com essa faria você uma daquelas odes.», l.
75), ficando ainda implícita a sua condição de criador perante a o que criou
(«e, além disso, se refletirmos bem, quem é você» — ll. 85-86).
6. A
ironia resulta, claramente, da circunstância de os votos serem formulados para
um tempo que é o da morte de ambos.
Resolve agora o exercício de V/F de «Gramática
no texto» (p. 267), 1.1., e,
depois, vê as soluções na Apresentação. As frases I, J, K são de história da língua, uma matéria que reveremos proximamente. É natural que as achem difíceis.
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Como
queria dar-lhes tempo para lançarem as tarefas em «Gaveta do...» (Classroom) e
eu próprio tenho de recuperar o atraso nas correções antes de lhe pedir novos escritos,
não haverá hoje redação grande. Vê os trailers de vários filmes que são adaptações
de livros de Ian McEwan. Escreve poucas linhas, à mão, sobre o filme que lhes
pareça mais apetecível (umas dez linhas; umas cem palavras), justificando essa
intuição (um trailer só ajuda a intuições). Guarda o texto contigo, para já.
Na praia de
Chesil
Expiação
A criança no tempo
O Jardim de Cimento
O fardo do amor
A Balada de Adam Henry
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