Aula 10 da Quarentena (= 128)
Aula 128 (= 10 da Quarentena) (21 [5.ª], 22/abr [4.ª, 9.ª, 5.ª])
Como
demos duas aulas na semana em que não éramos a isso obrigados, é justo fazermos
hoje uma aula mais rápida (como se ficassem dispensados daqueles tempos de
apoio, a que, afinal, todos foram sempre comparecendo, o que aliás quero
agradecer aqui).
Aproveitem não haver hoje grande
trabalho para ir lançando as tarefas das três aulas anteriores (7-8-9 da
Quarentena) em Gaveta do 12.º 3.ª/4.ª/5.ª/9.ª. (Terão recebido entretanto convite meu para
entrarem nessa Classroom.) Em geral, não vou definir prazos para conclusão das
tarefas que coloque no Classroom, mas a minha expetativa é que lancem as
tarefas não muito tempo depois das aulas em que estas sejam pedidas. Ainda não
me vou ocupar muito com elas porque, antes de lhes dar algum feed-back, queria conhecer
melhor o funcionamento da plataforma.
De
qualquer modo, repetindo-me, o uso do Classroom será apenas complementar, poiso
de algumas das tarefas que se forem pedindo em Gaveta de Nuvens, e é por este blogue que devem seguir as aulas.
Em
Português não haverá aulas síncronas. Só não descarto alguma sessão síncrona
para averiguação, em direto, de conhecimentos de gramática, lá mais para a
frente, nesse caso dirigida apenas a quem cujo conhecimento gramatical quisesse
eu escrutinar em concreto. Mas seria um pouco sinistro, não é? Mas é forma
relativamente segura de perceber o aproveitamento nessa área. Quem sabe...
Quanto
à aula de hoje, veremos só a p. 260 do manual, mas com o pedido de que olhem
também o resto do cap. III de O Ano da Morte
de Ricardo Reis, um capítulo bem interessante — passado no último dia do
ano de 34 — porque o protagonista vai atravessando lugares de Lisboa
reconhecíveis.
Leiam agora pelo
próprio livro de Saramago, para perceber o percurso do passeio todo, que
começará no quarto parágrafo deste terceiro capítulo:
«Deixou de chover, o céu aclarou, pode Ricardo Reis, sem risco de molha
incómoda, dar um passeio antes do almoço» (e, depois, diz-se-nos que vai subir
a Rua do Alecrim).
Movendo-te
pelo Google Maps (passeando ou olhando o mapa desenhado com os nomes de ruas),
tenta perceber as ruas por que foi passando Reis até «[ter atravessado] o
Bairro Alto, [e] descendo pelo Rua do Norte [ter chegado] ao Camões».
Aproximadamente, é claro, porque as ruas não são todas referidas, mas podemos
inferir os troços não mencionados.
(Se não
tiveres o Ano da Morte de Ricardo Reis
em casa, descarrega o livro aqui.)
Na
próxima aula, darei uma correção deste desafio de mapeamento ou passeio.
No
passo reproduzido no manual, «Lisboa revisitada», alude-se (ll. 16-18) a um
poema de João de Deus, célebre por ser um dos últimos textos da Cartilha Maternal, por onde muitos
aprenderam a ler (eu, por acaso, também). A edição que copio é mais recente que
da da minha época mas ainda me lembro deste poema como angustiante:
A menção
dos dois versos de João de Deus (o poeta contemporâneo de Antero, como vimos no filme O Palácio da Ventura) é
um dos muitos exemplos de intertextualidade em OAMRR.
No
passo referido no item 1 de «Oralidade // Apresentação sobre literatura», o
parágrafo que reproduzo a seguir, a intertextualidade estende-se a uma série de
obras da literatura universal. São elas:
Os
Lusíadas, de Luís de
Camões;
Os
Três Mosqueteiros, de
Alexandre Dumas;
Menina
e Moça, de Bernardim
Ribeiro;
Dom
Quixote de La Mancha, de
Miguel de Cervantes;
A
Divina Comédia, de Dante;
A
Eneida, de Virgílio.
Atribui a cada obra as alusões que lhes são feitas. As cores
assinalam cada citação ou alusão (não contei com as referências à estátua de
Camões). Trata-se quase sempre do início da obra em casa (excetua-se Os Três Mosqueteiros, em que alusão é
mais abrangente):
Ricardo Reis
atravessou o Bairro Alto, descendo pela Rua do Norte chegou ao Camões, era como
se estivesse dentro de um labirinto que o conduzisse sempre ao mesmo lugar, a
este bronze afidalgado e espadachim, espécie de D'Artagnan premiado com uma coroa de
louros por ter
subtraído, no último momento, os diamantes da rainha às maquinações do cardeal,
a quem, aliás, variando os tempos e as políticas, ainda acabará por servir,
mas este aqui, se por estar morto não pode voltar a alistar-se, seria bom que
soubesse que dele se servem, à vez ou em confusão, os principais, cardeais
incluídos, assim lhes aproveite a conveniência. São horas de almoçar, o tempo
foi-se passando nestas caminhadas e descobertas, parece este homem que não tem
mais que fazer, dorme, come, passeia, faz um verso por outro, com grande
esforço, penando sobre o pé e a medida, nada que se possa comparar ao contínuo duelo do
mosqueteiro D’Artagnan, só os Lusíadas comportam para cima de oito mil versos, e no
entanto este também é poeta, não que do título se gabe, como se pode verificar
no registo do hotel, mas um dia não será como médico que pensarão nele, nem em
Álvaro como engenheiro naval, nem em Fernando como correspondente de línguas
estrangeiras, dá-nos o ofício o pão, é verdade, porém não virá daí a fama, sim
de ter alguma vez escrito, Nel mezzo del cammin di nostra vita, ou, Menina e moça me levaram da casa de meus pais, ou, En un lugar de La Mancha, de
cuyo nombre no quiero acordarme, para não cair uma vez mais na tentação
de repetir, ainda que muito a propósito, As armas e os barões assinalados, perdoadas nos
sejam as repetições, Arma
virumque cano. Há de o homem esforçar-se sempre, para que esse seu nome
de homem mereça, mas é menos senhor da sua pessoa e destino do que julga, o
tempo, não o seu, o fará crescer ou apagar, por outros merecimentos algumas
vezes, ou diferentemente julgados, Que serás quando fores de noite e ao fim da
estrada.
cinzento =
___________
amarelo =
_________
azul = ___________
verde = ___________
rosa = ___________
vermelho =
_________
Vê as soluções na Apresentação.
É claro que não se pode perder a oportunidade de, a propósito
dos Três Mosqueteiros, incorporar D’Artacão e os Três Moscãoteiros:
E pronto, deixo-os com uma canção de António Zambujo (sugerida
por A. do 12.º 3.ª) e que, infelizmente, não é acerca de elétrico
verdadeiramente de Lisboa, é uma alusão ao Porto. Porém, o clip foi rodado em
Lisboa e, embora eu não tenha a certeza de ter percebido o trajeto e não me
pareça haver aqui cenários muito coincidentes com os da Lisboa de Reis — enfim,
creio que é por Santos/Janelas Verdes —, uma canção destas vem a propósito da
aula de hoje.
Classifica
quanto às funções sintáticas os segmentos sublinhados:
Pica do Sete
(António Zambujo)
De manhã cedinho eu salto do ninho // ____
E vou para a paragem // _____
De bandolete à espera do 7
Mas não pela viagem
Eu bem que não queria
Mas, um certo dia, vi-o passar
E o meu peito céptico
Por um pica de eléctrico voltou a sonhar
A cada repique que soa // ____
Do clique daquele alicate
Num modo frenético
O peito cético toca a rebate // ____
Se o trem descarrila, o povo refila // _____
E eu fico no sino
Pois um mero trajeto no meu caso concreto
É já o destino
Ninguém acredita no estado
Em que fica o meu coração
Quando o 7 me apanha // ______
Até acho que a senha me salta da mão // _____
Pois na carreira desta vida vã
Mais nada me dá a pica que o pica do 7 me dá //
______
Que triste fadário e que itinerário tão infeliz
Cruzar meu horário
Com o de um funcionário de um trem da Carris
Se eu lhe perguntasse
Se tem livre passe para
o peito de alguém // _____
Vá-se lá saber, talvez eu lhe oblitere o peito também
Ninguém acredita no estado
Em que fica o meu coração
Quando o 7 me apanha
Até acho que a senha me salta da mão
Pois na carreira, desta vida vã
Mais nada me dá a pica que o pica do 7 me dá //
____
TPC — Lança as tarefas das
aulas 7, 8, 9 em Classroom («Gaveta do ...»).
#
<< Home