Friday, August 30, 2019

Aula 10 da Quarentena (= 128)


Aula 128 (= 10 da Quarentena) (21 [5.ª], 22/abr [4.ª, 9.ª, 5.ª])

Como demos duas aulas na semana em que não éramos a isso obrigados, é justo fazermos hoje uma aula mais rápida (como se ficassem dispensados daqueles tempos de apoio, a que, afinal, todos foram sempre comparecendo, o que aliás quero agradecer aqui).

Aproveitem não haver hoje grande trabalho para ir lançando as tarefas das três aulas anteriores (7-8-9 da Quarentena) em Gaveta do 12.º 3.ª/4.ª/5.ª/9.ª. (Terão recebido entretanto convite meu para entrarem nessa Classroom.) Em geral, não vou definir prazos para conclusão das tarefas que coloque no Classroom, mas a minha expetativa é que lancem as tarefas não muito tempo depois das aulas em que estas sejam pedidas. Ainda não me vou ocupar muito com elas porque, antes de lhes dar algum feed-back, queria conhecer melhor o funcionamento da plataforma.

De qualquer modo, repetindo-me, o uso do Classroom será apenas complementar, poiso de algumas das tarefas que se forem pedindo em Gaveta de Nuvens, e é por este blogue que devem seguir as aulas. 

Em Português não haverá aulas síncronas. Só não descarto alguma sessão síncrona para averiguação, em direto, de conhecimentos de gramática, lá mais para a frente, nesse caso dirigida apenas a quem cujo conhecimento gramatical quisesse eu escrutinar em concreto. Mas seria um pouco sinistro, não é? Mas é forma relativamente segura de perceber o aproveitamento nessa área. Quem sabe...

Quanto à aula de hoje, veremos só a p. 260 do manual, mas com o pedido de que olhem também o resto do cap. III de O Ano da Morte de Ricardo Reis, um capítulo bem interessante — passado no último dia do ano de 34 — porque o protagonista vai atravessando lugares de Lisboa reconhecíveis.




Leiam agora pelo próprio livro de Saramago, para perceber o percurso do passeio todo, que começará no quarto parágrafo deste terceiro capítulo: «Deixou de chover, o céu aclarou, pode Ricardo Reis, sem risco de molha incómoda, dar um passeio antes do almoço» (e, depois, diz-se-nos que vai subir a Rua do Alecrim).

Movendo-te pelo Google Maps (passeando ou olhando o mapa desenhado com os nomes de ruas), tenta perceber as ruas por que foi passando Reis até «[ter atravessado] o Bairro Alto, [e] descendo pelo Rua do Norte [ter chegado] ao Camões». Aproximadamente, é claro, porque as ruas não são todas referidas, mas podemos inferir os troços não mencionados.

(Se não tiveres o Ano da Morte de Ricardo Reis em casa, descarrega o livro aqui.)


Na próxima aula, darei uma correção deste desafio de mapeamento ou passeio.

No passo reproduzido no manual, «Lisboa revisitada», alude-se (ll. 16-18) a um poema de João de Deus, célebre por ser um dos últimos textos da Cartilha Maternal, por onde muitos aprenderam a ler (eu, por acaso, também). A edição que copio é mais recente que da da minha época mas ainda me lembro deste poema como angustiante:





A menção dos dois versos de João de Deus (o poeta contemporâneo de Antero, como vimos no filme O Palácio da Ventura) é um dos muitos exemplos de intertextualidade em OAMRR.

No passo referido no item 1 de «Oralidade // Apresentação sobre literatura», o parágrafo que reproduzo a seguir, a intertextualidade estende-se a uma série de obras da literatura universal. São elas:

Os Lusíadas, de Luís de Camões;

Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas;

Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro;

Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes;

A Divina Comédia, de Dante;

A Eneida, de Virgílio.

Atribui a cada obra as alusões que lhes são feitas. As cores assinalam cada citação ou alusão (não contei com as referências à estátua de Camões). Trata-se quase sempre do início da obra em casa (excetua-se Os Três Mosqueteiros, em que alusão é mais abrangente):

Ricardo Reis atravessou o Bairro Alto, descendo pela Rua do Norte chegou ao Camões, era como se estivesse dentro de um labirinto que o conduzisse sempre ao mesmo lugar, a este bronze afidalgado e espadachim, espécie de D'Artagnan premiado com uma coroa de louros por ter subtraído, no último momento, os diamantes da rainha às maquinações do cardeal, a quem, aliás, va­riando os tempos e as políticas, ainda acabará por servir, mas este aqui, se por estar morto não pode voltar a alistar-se, seria bom que soubesse que dele se servem, à vez ou em confusão, os principais, cardeais incluídos, assim lhes aproveite a conveniência. São horas de almoçar, o tempo foi-se passando nestas caminhadas e desco­bertas, parece este homem que não tem mais que fazer, dorme, come, passeia, faz um verso por outro, com grande esforço, penando sobre o pé e a medida, nada que se possa comparar ao contínuo duelo do mosqueteiro D’Artagnan, só os Lusíadas comportam para cima de oito mil versos, e no entanto este também é poeta, não que do título se gabe, como se pode verificar no registo do hotel, mas um dia não será como médico que pensarão nele, nem em Álvaro como engenheiro naval, nem em Fernando como correspondente de línguas estrangeiras, dá-nos o ofício o pão, é verdade, porém não virá daí a fama, sim de ter alguma vez escrito, Nel mezzo del cammin di nostra vita, ou, Menina e moça me leva­ram da casa de meus pais, ou, En un lugar de La Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, para não cair uma vez mais na ten­tação de repetir, ainda que muito a propósito, As armas e os barões assinalados, perdoadas nos sejam as repetições, Arma virumque cano. Há de o homem esforçar-se sempre, para que esse seu nome de homem mereça, mas é menos senhor da sua pessoa e destino do que julga, o tempo, não o seu, o fará crescer ou apagar, por outros merecimentos algumas vezes, ou diferentemente julgados, Que serás quando fores de noite e ao fim da estrada.



cinzento = ___________

amarelo = _________

azul = ___________

verde = ___________

rosa = ___________

vermelho = _________

Vê as soluções na Apresentação.


É claro que não se pode perder a oportunidade de, a propósito dos Três Mosqueteiros, incorporar D’Artacão e os Três Moscãoteiros:




E pronto, deixo-os com uma canção de António Zambujo (sugerida por A. do 12.º 3.ª) e que, infelizmente, não é acerca de elétrico verdadeiramente de Lisboa, é uma alusão ao Porto. Porém, o clip foi rodado em Lisboa e, embora eu não tenha a certeza de ter percebido o trajeto e não me pareça haver aqui cenários muito coincidentes com os da Lisboa de Reis — enfim, creio que é por Santos/Janelas Verdes —, uma canção destas vem a propósito da aula de hoje.




Classifica quanto às funções sintáticas os segmentos sublinhados:

Pica do Sete

(António Zambujo)



De manhã cedinho eu salto do ninho // ____

E vou para a paragem // _____

De bandolete à espera do 7

Mas não pela viagem

Eu bem que não queria

Mas, um certo dia, vi-o passar

E o meu peito céptico

Por um pica de eléctrico voltou a sonhar



A cada repique que soa // ____

Do clique daquele alicate

Num modo frenético

O peito cético toca a rebate // ____



Se o trem descarrila, o povo refila // _____

E eu fico no sino

Pois um mero trajeto no meu caso concreto

É já o destino



Ninguém acredita no estado

Em que fica o meu coração

Quando o 7 me apanha // ______

Até acho que a senha me salta da mão // _____

Pois na carreira desta vida vã

Mais nada me dá a pica que o pica do 7 me dá // ______



Que triste fadário e que itinerário tão infeliz

Cruzar meu horário

Com o de um funcionário de um trem da Carris

Se eu lhe perguntasse

Se tem livre passe para o peito de alguém // _____

Vá-se lá saber, talvez eu lhe oblitere o peito também



Ninguém acredita no estado

Em que fica o meu coração

Quando o 7 me apanha

Até acho que a senha me salta da mão

Pois na carreira, desta vida vã

Mais nada me dá a pica que o pica do 7 me dá // ____



TPC — Lança as tarefas das aulas 7, 8, 9 em Classroom («Gaveta do ...»).






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