Sunday, September 07, 2014

Microfilmes autobiográficos (10.º 7.ª)


Débora

Débora (17) || Texto/Conceção Páginas de diário, formato que poucos escolheram mas que resulta bem. É um filme mesmo: Débora a fingir que escreve (reconheça-se que não houve grandes preocupações com a verosimilhança: percebemos que não há texto a ficar inscrito no papel; alem de que, tratando-se de diário, esperar-se-ia mais um caderno do que simples folhas A4). Texto não tem erros linguísticos, mas tem alguns lugares comuns («não sei se diga, não sei se escreva», «só sei que nada sei», etc.); mas é verdade que o discurso amoroso nunca é muito elaborado em termos da linguagem. Está tudo bem acabado, eficaz e com gosto. Expressão oral Muito boa leitura, expressiva (representada), essa absolutamente verosímil.
Catarina

Catarina (16,5) || Texto/Conceção Catarina optou pelo formato «álbum autobiográfico», que obriga a um texto um pouco condiciondo pela sequência de dados informativos. Apesar das dificuldade que põe este formato, conseguiu-se escrita suficientemente criativa. Boa escolha de fundo musical, bom acabamento de todo o trabalho (articulação das imagens; abertura e fecho). A corrigir: «viagens [de] que eu mais gostei»; «altura [em] que me foi informado»; «durante estes anos aconteceu algumas coisas» [aconteceram]. Expressão oral Boa leitura (ou quase muito boa leitura), tentando momentos de expressividade, bem conseguidos em geral.
Leonor

Leonor (14,8) || Texto/Conceção Texto bom mas aquém do que a Leonor poderia fazer. Consegue-se, em boa medida, transmitir a angústia que se pretendia simular, mas há também alguns passos que soam um tanto artificiais, excessivamente retóricos. Solução encontrada para o filme é eficaz. Captação do som melhorável. A corrigir: «na vã esperança [de] que isso me ajude»; e não percebo o passo aos vinte segundos: «ao qual me inclino» (não é isto, pois não?). Expressão oral Leitura, que é muito aceitável, pareceu-me, porém, pouco ensaiada (logo no início haveria que repetir a data, que saiu hesitante). Talvez se devesse usar estilo mais apenas sussurrado, monologal, menos enfático, exprimindo assim as pausas do discurso interior. Digamos que a representação da angústia perde com uma leitura «altissonante», definida.
Anastasiia

Anastasiia (14) || Texto/Conceção Texto elegante, com procura de uso estilístico da linguagem (logo no início, personificações em torno de memória e tempo), revelando capacidade para encontrar as referências mais evocativas do passado (um pouco à Marcel Proust — ou conforme a «madeleine» embebida em chá que o narrador de À la recherche du temps perdu não esquecerá), recorda-se uma gelatina, um cheiro de casaco de camurça, uns hematomas, um lago com girinos, uma recolha de cogumelos, certas camadas de camisolões. Solução (áudio + imagem fixa) é simples mas mesmo essa foi escolhida com inteligência: é a pintura de um surrealista (Yves Tanguy? Max Ernst?), com metáfora do tempo e da memória. Naturalmente, há alguns erros de escrita: «como se elas não aconteceram ontem» [como se elas não acontecessem (ou tivessem acontecido) ontem]; «tentar de organizar» (tentar organizar); «recusando de conciliar» [recusando conciliar]; «levou marcas na memória» (deixou marcas na memória). Expressão oral Creio que era possível ter feito uma leitura ainda melhor: apesar das dificuldades naturais em quem ainda tem pouco tempo de português, já ouvi em aula a Anastasiia ler com mais perfeição (captação do som também não ajudou). A corrigir: «tren[ó]»; «impe[r]ioso».
Inês

Inês (16) || Texto/Conceção Texto bom, quase sem erros, embora, por vezes, sem conseguir escapar ao estilo já estandartizado do formato «álbum autobiográfico». Música funciona muito bem; imagens bem escolhidas e articuladas. Trabalho cuidadoso, enfim. Uma frase me parece mal construída: «para juntar a música acompanho a dança» [para acompanhar a música, juntei também a dança]? Expressão oral Boa leitura, ainda que, no início, haja momentos de excessiva pontuação (um «e» e um «para» demasiado virgulados; nem toda a pontuação gráfica deve ter reflexo na oralidade).
Sara

Sara (14,5) || Texto/Conceção É interessante o tópico escolhido, o irmão, que serve assim de foco do relato das vivências da autora. Texto parece-me curto (nas instruções, pedira que se chegasse pelo menos aos dois minutos); é seguro e impressivo, mas pouco complexo. Creio que esta pouca extensão terá que ver com o facto de a Sara ter apresentado antes um outro microfilme, mais rico em termos de imagens, criativo, mas que não tinha texto lido em voz alta e assentava sobretudo em legendas (talvez o possa pôr também aqui mais tarde). Final, com o slide a mostrar finalmente o «assunto» do texto e a narradora, funciona muito bem; resto do filme também revela bom gosto. Melhorável: «Mas esses poucos momentos nunca irei esquecer» [Mas esses poucos momentos nunca [os] irei esquecer»; «algo que nunca me irei esquecer» [algo [de] que nunca me irei esquecer]. Expressão oral Leitura pausada, o que foi boa estratégia, e correta, em geral. Porém,  por vezes, parece ter havido pouco ensaio (hesitação em «ou de ambos»).
Sebastião


Sebastião (14) || Texto/Conceção Opção foi, digamos, minimal, mas reveladora de bom gosto e criatividade. Creio é que o texto — que está bem escrito — foi depois pouco desenvolvido (nas instruções, dissera que o tempo mínimo era de dois minutos). Escrita está toda correta, mas, dado até o estilo de filme, mais monologal que ilustrativo, deveria ter havido mais investimento na redação, mesmo em termos de quantidade. Expressão oral Não há erros, a leitura é bastante razoável (aqui e ali porventura demasiado pontuada). Mesmo assim, quase no final, uma «sociedade saturada» (por ser aliteração talvez) implicou alguma hesitação. Enfim, julgo que também na leitura podia ter havido mais ensaios. Sebastião é capaz de bastante melhor.




Tomás



Tomás (15) || Texto/Conceção Filme revela bom sentido do ritmo (de imagens e de som), é criativo também no que concerne às legendas, mostra muito boa técnica, montagem está bem feita. A parte de texto é relativamente pequena (são as legendas, reproduzidas também oralmente) — ora eu pedira, nas instruções, que houvesse texto ao longo de quase todo o filme e que o filme tivesse pelo menos dois minutos. Nestas legendas, faltam vírgulas a abrir «, por isso,» e «, é claro,». Expressão oral Como fui dizendo, não é muito o texto que é dito em voz alta e, tratando-se de frases soltas, não põem muitas dificuldades à expressão oral. De qualquer modo, foram efetivamente bem lidas.




Danny





Danny  (17) || Texto/Conceção É um texto do «eu», apesar de estar também na 2.ª pessoa, a do destinatário desta carta (que é mais página de diário do que para ser enviada efetivamente). Estratégia para imagens é simples mas resulta bem (o movimento conferido pela passagem do comboio conjuga-se com música e sentido do texto). Texto está bem escrito, sem erros (só notei: «no Oriente, onde iria» [no Oriente, donde partiria]). Expressão oral Leitura bastante boa, se falhas (há um pequeno trecho em que parece  tender a ir um pouco rápida talvez, mas, salvo erro, é o contraponto da música que nos transmite essa ideia).





Ariana





Ariana (14,8) Texto/Conceção É uma autobiografia que escolhe destacar apenas aspetos marcantes (vitais), sem se dispersar por percurso escolar ou outras circunstâncias menos decisivas. Isso permite que haja espaço para alguma reflexão, apresentada com sensibilidade. As imagens, que não são muitas, vão-se repetindo, o que acaba por não funcionar mal (é solução claramente preferível às colagens de imagens da net). Talvez a música pudesse estar mais baixa, para ficar realçada a voz da narradora. A corrigir: «o que originou a que tivesse» [o que originou que tivesse / o que levou a que tivesse]; «foi como que se estivessem» [foi como se estivessem]; «a [?] vida não se trata de meros acasos» (este «não se trata» não pode ter antes o que o que me parece querer ser o sujeito). No resto, a escrita é correta. Expressão oral Leitura em voz alta mostra-se segura, na velocidade adequada (ou seja, com o estilo pausado que é conveniente), embora se deva dizer que o registo adotado — sem se arriscar expressividade — facilita o resultado. Evitaria um«tava» [estava] e duas pequenas hesitações (0.23; 1.46).




Solomiya





Solomiya (15,5) || Texto/Conceção É uma autobiografia que consegue ser sintética (breve mas salientando os pontos essenciais), apresentada com vivacidade e clareza. Sem cair na exaustividade de abordagem por slides, a história vai sendo documentada (a filmagem do álbum de fotografias resulta bem: temos um relance por várias imagens mas não nos detemos muito em nenhuma em particular, o que nos aproxima das memórias difusas que podemos ter do passado); também a música é a adequada. A corrigir: «Foi até Portugal» [Veio até Portugal]; «Quando já nos habituámos ao novo país, os meus pais decidiram» [Quando já nos habituáramos ao novo país, os meus pais decidiram]; «já tava» [já estava]. Expressão oral A leitura em voz alta de Solomiya é nítida, sem atrapalhações (não há paragens indevidas nem repetições), na velocidade apropriada.





Matilde





Matilde (12) || Texto/Conceção O texto (redação) em si é aceitável. Porém, enquanto trabalho em que se pretendia fosse mobilizado o possível em termos de imagem e som, o resultado fica muito aquém do que a Matilde poderia ter feito. A corrigir: «e será algo de que nunca abdicarei» [e é algo de que nunca abdicarei]; «e por isso que sou feliz» [e é por isso que sou feliz]; «a qualidade que mais gosto em mim» [a qualidade de que mais gosto em mim]; evitaria abusar dos «algo» (é sempre indício de que não se encontrou a expressão exata). Expressão oral Não há erros de entoação ou hesitações evidentes (só a seguir a um «e», em «e [é] por isso», parece haver pausa excessiva), mas a leitura não perderia em ser ligeiramente mais lenta (pelo menos, fazendo mais paragens nos fins dos «parágrafos»). Não se percebe bem o passo «tenho tudo o que sempre [?]».





Mário





Mário (13) || Texto/Conceção Há originalidade no modo como o Mário resolveu a tarefa. Escolheu escrever um texto que não fica claro seja fictício ou verídico, mas que segue uma abordagem entre as formas narrativa e quase lírica, a que a música escolhida se adequa. Foi pena que o tempo mínimo aconselhado (dois minutos) não tivesse sido cumprido, mas o trabalho revela algum investimento, domínio técnico e boas ideias (no futuro, é só uma questão de fazer tudo mais a tempo e estar atento ao que é dito nas instruções da tarefa). A corrigir: «Os teus lábios doces se derreteram» [Os seus lábios doces derreteram-se]. Há um momento em que se mistura 3.ª e 2.ª pessoa (se for uso estilístico é bastante interessante — mas não terá sido apenas uma distração?). Expressão oral A leitura em voz alta foi bastante razoável, na velocidade apropriada. Hesitações nestes momentos: 0.23; 1.00. «Levei-a a um jardim» soa «Levei-a um jardim» (com [a] contraído, o que, na oralidade formal, se poderia ter evitado).







Carlos





Carlos (16,5) || Texto/Conceção Quer na parte de texto quer na parte fílmica, o Carlos revela habilidade para narrar, para contar, em estilo sintético, uma vida. Em termos de texto, consegue fugir à simples sequência cronológica em que caem às vezes estas autobiografias e socorre-se de fórmulas de narração («ok, esta foto não é das melhores»; «mas vamos recuar no tempo, até ao dia...»; «[sou uma pessoa] valente, como o meu sobrenome [aliás, apelido]»; etc.) que tornam o discurso agradável de seguir. A escrita é depurada (quase não há os lugares comuns que costumam aparecer neste género de biografias, e escolhem-se bem as frases de síntese, de transição entre épocas); só «estava a começar um novo início» é que não é famoso, a não ser que fosse propositado, enquanto figura de estilo. Quanto ao filme, não se nota que se trata, no fundo, de percorrer fotos, já que a montagem, que parece indiciar bom domínio destes meios, e o truque de se ir filmando o próprio iPod — é, não é? — tornaram tudo bastante dinâmico. Também a música está bem coordenada, em função dos momentos felizes e de tristeza. Houve planificação feita com gosto (veja-se o final, em que se misturam o plano da enunciação e do enunciado: a assinatura do realizador é também a expressão que fecha a narrativa). Expressão oral Não houve erros na leitura em voz alta, embora devamos reconhecer que não se arriscaram entoações difíceis. O facto de se ler com calma (quase com certa lentidão) é uma vantagem, tanto para quem ouve, porque pode seguir o texto sem grande esforço, como para quem está a ler, porque é menor o grau de dificuldade.





Beatriz R.





Beatriz R. (15) || Texto/Conceção É um relato, uma memória, de infância (fictício). Texto está bem escrito, mesmo muito bem escrito. Imagens (em filme, mas, no fundo, estáticas) socorrem-se de solução minimal (não sei se não resultaria melhor uma fotografia). Corrigir: «pusemos a hipótese de que algo sério se passava» (seria: «pusemos a hipótese de que algo sério se passasse»); «aquilo que chamávamos casa» («aquilo a que chamávamos casa»). Expressão oral Leitura em voz alta segura, sempre correta (em bom ritmo e com entoações certas, embora em estilo neutro, sem arriscar expressividade), mostrando capacidades e ensaio adequado.




Carolina



Carolina (11) || Texto/Conceção É um depoimento-relato de vivências (sobre as férias). O texto não tem erros (apenas no final a repetição de «adoro» em poucos segundos é questionável), mas está pouco elaborado, quer quanto a extensão (dura um minuto, quando eu pedira no mínimo dois) quer quanto a estilo (que me parece demasiado coloquial, como se se tratasse de depoimento oral o mais simples possível). Enfim, acho que a ideia foi boa mas está um pouco desaproveitada (decerto porque não pôde a Carolina desenvolvê-la como convinha). Expressão oral Não havendo erros significativos, há duas ou três hesitações («e não # há praia»; «eu adoro # as férias») que mostram que seria útil ter-se feito mais ensaios.


Beatriz Belo



Beatriz Belo (12,5) || Texto/Conceção Ideia inteligente e escrita também interessante, embora a duração do texto não cumpra o que era pedido (mínimo de dois minutos) Solução de imagem é bastante económica. Digamos que faltou um pouco mais de esforço, de investimento: houve mais inspiração do que transpiração. Corrigir: «e acabaste-me por me chamar» (seria: «e acabaste por me chamar»). Expressão oral Som está pouco audível. Aliás, neste trabalho, houve alguma negligência técnica, o que era evitável se tivermos em conta que se dispôs de meses e meses. Boa leitura em voz alta (uma só hesitação, depois de «cheio [de peixes]»), embora se pudesse ter arriscado um estilo mais expressivo (a situação ia bem com ainda maior dramaticidade).



Maria





Maria (14,5-15) || Texto/Conceção Embora tenha feito uma autobiografa (resumida) com uma estrutura semelhante à de muitos outros microfilmes, o texto da Maria é mais interessante porque, primeiro, a sua história de vida já tem ela mesma aspetos originais (saída dos pais para trabalharem noutro país, ficando a autora com a avó, inscrição por iniciativa própria na escola, vinda para Portugal e reencontro com os pais, etc.) e, depois, porque o texto consegue, por vezes, chegar a uma análise que não é a do simples lugar comum. As imagens foram bem escolhidas e, como não tentam seguir a cronologia (exceto quando há alusão ao nascimento da irmã), favorecem que nos centremos na tal abordagem mais psicológica. Também é original que o filme termine com um segmento que não é imagem fixa mas mesmo filme (com a Maria a sorrir). Expressão oral Nem na redação nem na leitura em voz alta há erros significativos. A leitura usa a velocidade adequada e a entoação está certa. Só com algum esforço se percebe esta parte: «futuro que, neste dado [preciso] momento, é o presente». E «Integrei-me muito fácil» deveria ser «Integrei-me muito facilmente». «Vim viver para Portugal junto com os meus pais» creio que seria «Vim viver para Portugal para junto dos meus pais».

 


Iolanda


Iolanda

 

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