Microfilmes autobiográficos (10.º 7.ª)
Débora
Débora (17) || Texto/Conceção
Páginas de diário, formato que poucos escolheram mas que resulta bem. É um
filme mesmo: Débora a fingir que escreve (reconheça-se que não houve grandes
preocupações com a verosimilhança: percebemos que não há texto a ficar inscrito
no papel; alem de que, tratando-se de diário, esperar-se-ia mais um caderno do
que simples folhas A4). Texto não tem erros linguísticos, mas tem alguns
lugares comuns («não sei se diga, não sei se escreva», «só sei que nada sei»,
etc.); mas é verdade que o discurso amoroso nunca é muito elaborado em termos
da linguagem. Está tudo bem acabado, eficaz e com gosto. Expressão oral Muito boa leitura, expressiva (representada), essa
absolutamente verosímil.
Catarina
Catarina (16,5) || Texto/Conceção Catarina optou pelo formato «álbum autobiográfico»,
que obriga a um texto um pouco condiciondo pela sequência de dados
informativos. Apesar das dificuldade que põe este formato, conseguiu-se escrita suficientemente
criativa. Boa escolha de fundo musical, bom acabamento de todo o trabalho
(articulação das imagens; abertura e fecho). A corrigir: «viagens [de] que eu
mais gostei»; «altura [em] que me foi informado»; «durante estes anos aconteceu
algumas coisas» [aconteceram]. Expressão
oral Boa leitura (ou quase muito boa leitura), tentando momentos de
expressividade, bem conseguidos em geral.
Leonor
Leonor (14,8) || Texto/Conceção
Texto bom mas aquém do que a Leonor poderia fazer. Consegue-se, em boa medida,
transmitir a angústia que se pretendia simular, mas há também alguns passos que
soam um tanto artificiais, excessivamente retóricos. Solução encontrada para o
filme é eficaz. Captação do som melhorável. A corrigir: «na vã esperança [de] que
isso me ajude»; e não percebo o passo aos vinte segundos: «ao qual me inclino»
(não é isto, pois não?). Expressão oral
Leitura, que é muito aceitável, pareceu-me, porém, pouco ensaiada (logo no
início haveria que repetir a data, que saiu hesitante). Talvez se devesse usar
estilo mais apenas sussurrado, monologal, menos enfático, exprimindo assim as
pausas do discurso interior. Digamos que a representação da angústia perde com
uma leitura «altissonante», definida.
Anastasiia
Anastasiia (14) || Texto/Conceção
Texto elegante, com procura de uso estilístico da linguagem (logo no início, personificações
em torno de memória e tempo), revelando capacidade para encontrar as referências
mais evocativas do passado (um pouco à Marcel Proust — ou conforme a «madeleine»
embebida em chá que o narrador de À la
recherche du temps perdu não esquecerá), recorda-se uma gelatina, um cheiro
de casaco de camurça, uns hematomas, um lago com girinos, uma recolha de
cogumelos, certas camadas de camisolões. Solução (áudio + imagem fixa) é
simples mas mesmo essa foi escolhida com inteligência: é a pintura de um
surrealista (Yves Tanguy? Max Ernst?), com metáfora do tempo e da memória. Naturalmente,
há alguns erros de escrita: «como se elas não aconteceram ontem» [como se elas
não acontecessem (ou tivessem acontecido) ontem]; «tentar de organizar» (tentar
organizar); «recusando de conciliar» [recusando conciliar]; «levou marcas na
memória» (deixou marcas na memória). Expressão
oral Creio que era possível ter feito uma leitura ainda melhor: apesar das
dificuldades naturais em quem ainda tem pouco tempo de português, já ouvi em
aula a Anastasiia ler com mais perfeição (captação do som também não ajudou). A
corrigir: «tren[ó]»; «impe[r]ioso».
Inês
Inês (16) || Texto/Conceção
Texto bom, quase sem erros, embora, por vezes, sem conseguir escapar ao estilo já
estandartizado do formato «álbum autobiográfico». Música funciona muito bem;
imagens bem escolhidas e articuladas. Trabalho cuidadoso, enfim. Uma frase me
parece mal construída: «para juntar a música acompanho a dança» [para
acompanhar a música, juntei também a dança]? Expressão oral Boa leitura, ainda que, no início, haja momentos de
excessiva pontuação (um «e» e um «para» demasiado virgulados; nem toda a
pontuação gráfica deve ter reflexo na oralidade).
Sara
Sara (14,5) || Texto/Conceção
É interessante o tópico escolhido, o irmão, que serve assim de foco do relato
das vivências da autora. Texto parece-me curto (nas instruções, pedira que se
chegasse pelo menos aos dois minutos); é seguro e impressivo, mas pouco
complexo. Creio que esta pouca extensão terá que ver com o facto de a Sara ter apresentado
antes um outro microfilme, mais rico em termos de imagens, criativo, mas que
não tinha texto lido em voz alta e assentava sobretudo em legendas (talvez o
possa pôr também aqui mais tarde). Final, com o slide a mostrar finalmente o
«assunto» do texto e a narradora, funciona muito bem; resto do filme também revela
bom gosto. Melhorável: «Mas esses poucos momentos nunca irei esquecer» [Mas
esses poucos momentos nunca [os] irei esquecer»; «algo que nunca me irei
esquecer» [algo [de] que nunca me irei esquecer]. Expressão oral Leitura pausada, o que foi boa estratégia, e
correta, em geral. Porém, por vezes,
parece ter havido pouco ensaio (hesitação em «ou de ambos»).
Sebastião
Sebastião (14) || Texto/Conceção Opção foi, digamos, minimal, mas reveladora de bom gosto e criatividade. Creio é que o texto — que está bem escrito — foi depois pouco desenvolvido (nas instruções, dissera que o tempo mínimo era de dois minutos). Escrita está toda correta, mas, dado até o estilo de filme, mais monologal que ilustrativo, deveria ter havido mais investimento na redação, mesmo em termos de quantidade. Expressão oral Não há erros, a leitura é bastante razoável (aqui e ali porventura demasiado pontuada). Mesmo assim, quase no final, uma «sociedade saturada» (por ser aliteração talvez) implicou alguma hesitação. Enfim, julgo que também na leitura podia ter havido mais ensaios. Sebastião é capaz de bastante melhor.
Tomás
Danny
Danny (17) || Texto/Conceção
É um texto do «eu», apesar de estar também na 2.ª pessoa, a do destinatário
desta carta (que é mais página de diário do que para ser enviada efetivamente).
Estratégia para imagens é simples mas resulta bem (o movimento conferido pela
passagem do comboio conjuga-se com música e sentido do texto). Texto está bem
escrito, sem erros (só notei: «no Oriente, onde iria» [no Oriente, donde
partiria]). Expressão oral Leitura
bastante boa, se falhas (há um pequeno trecho em que parece tender a ir um pouco rápida talvez, mas, salvo
erro, é o contraponto da música que nos transmite essa ideia).
Ariana
Ariana (14,8) Texto/Conceção
É uma autobiografia que escolhe destacar apenas aspetos marcantes (vitais), sem
se dispersar por percurso escolar ou outras circunstâncias menos decisivas.
Isso permite que haja espaço para alguma reflexão, apresentada com
sensibilidade. As imagens, que não são muitas, vão-se repetindo, o que acaba
por não funcionar mal (é solução claramente preferível às colagens de imagens
da net). Talvez a música pudesse estar mais baixa, para ficar realçada a voz da
narradora. A corrigir: «o que originou a que tivesse» [o que originou que
tivesse / o que levou a que tivesse]; «foi como que se estivessem» [foi como se
estivessem]; «a [?] vida não se trata de meros acasos» (este «não se trata» não
pode ter antes o que o que me parece querer ser o sujeito). No resto, a escrita
é correta. Expressão oral Leitura em
voz alta mostra-se segura, na velocidade adequada (ou seja, com o estilo pausado
que é conveniente), embora se deva dizer que o registo adotado — sem se
arriscar expressividade — facilita o resultado. Evitaria um«tava» [estava] e
duas pequenas hesitações (0.23; 1.46).
Solomiya
Solomiya (15,5) || Texto/Conceção
É uma autobiografia que consegue ser sintética (breve mas salientando os pontos
essenciais), apresentada com vivacidade e clareza. Sem cair na exaustividade de
abordagem por slides, a história vai sendo documentada (a filmagem do álbum de
fotografias resulta bem: temos um relance por várias imagens mas não nos
detemos muito em nenhuma em particular, o que nos aproxima das memórias difusas
que podemos ter do passado); também a música é a adequada. A corrigir: «Foi até
Portugal» [Veio até Portugal]; «Quando já nos habituámos ao novo país, os meus pais
decidiram» [Quando já nos habituáramos ao novo país, os meus pais decidiram];
«já tava» [já estava]. Expressão oral
A leitura em voz alta de Solomiya é nítida, sem atrapalhações (não há paragens
indevidas nem repetições), na velocidade apropriada.
Matilde
Matilde (12) || Texto/Conceção
O texto (redação) em si é aceitável. Porém, enquanto trabalho em que se
pretendia fosse mobilizado o possível em termos de imagem e som, o resultado
fica muito aquém do que a Matilde poderia ter feito. A corrigir: «e será algo
de que nunca abdicarei» [e é algo de que nunca abdicarei]; «e por isso que sou
feliz» [e é por isso que sou feliz]; «a qualidade que mais gosto em mim» [a
qualidade de que mais gosto em mim]; evitaria abusar dos «algo» (é sempre
indício de que não se encontrou a expressão exata). Expressão oral Não há erros de entoação ou hesitações evidentes (só
a seguir a um «e», em «e [é] por isso», parece haver pausa excessiva), mas a leitura
não perderia em ser ligeiramente mais lenta (pelo menos, fazendo mais paragens
nos fins dos «parágrafos»). Não se percebe bem o passo «tenho tudo o que sempre
[?]».
Mário
Mário (13) || Texto/Conceção
Há originalidade no modo como o Mário resolveu a tarefa. Escolheu escrever um
texto que não fica claro seja fictício ou verídico, mas que segue uma abordagem
entre as formas narrativa e quase lírica, a que a música escolhida se adequa.
Foi pena que o tempo mínimo aconselhado (dois minutos) não tivesse sido
cumprido, mas o trabalho revela algum investimento, domínio técnico e boas
ideias (no futuro, é só uma questão de fazer tudo mais a tempo e estar atento ao
que é dito nas instruções da tarefa). A corrigir: «Os teus lábios doces se
derreteram» [Os seus lábios doces derreteram-se]. Há um momento em que se mistura
3.ª e 2.ª pessoa (se for uso estilístico é bastante interessante — mas não terá
sido apenas uma distração?). Expressão
oral A leitura em voz alta foi bastante razoável, na velocidade apropriada.
Hesitações nestes momentos: 0.23; 1.00. «Levei-a a um jardim» soa «Levei-a um
jardim» (com [a] contraído, o que, na oralidade formal, se poderia ter evitado).
Carlos
Carlos (16,5) || Texto/Conceção Quer na parte de texto quer na parte fílmica, o
Carlos revela habilidade para narrar, para contar, em estilo sintético, uma
vida. Em termos de texto, consegue fugir à simples sequência cronológica em que
caem às vezes estas autobiografias e socorre-se de fórmulas de narração («ok,
esta foto não é das melhores»; «mas vamos recuar no tempo, até ao dia...»; «[sou
uma pessoa] valente, como o meu sobrenome [aliás, apelido]»; etc.) que tornam o
discurso agradável de seguir. A escrita é depurada (quase não há os lugares
comuns que costumam aparecer neste género de biografias, e escolhem-se bem as
frases de síntese, de transição entre épocas); só «estava a começar um novo
início» é que não é famoso, a não ser que fosse propositado, enquanto figura de
estilo. Quanto ao filme, não se nota que se trata, no fundo, de percorrer
fotos, já que a montagem, que parece indiciar bom domínio destes meios, e o
truque de se ir filmando o próprio iPod — é, não é? — tornaram tudo bastante
dinâmico. Também a música está bem coordenada, em função dos momentos felizes e
de tristeza. Houve planificação feita com gosto (veja-se o final, em que se
misturam o plano da enunciação e do enunciado: a assinatura do realizador é
também a expressão que fecha a narrativa). Expressão
oral Não houve erros na leitura em voz alta, embora devamos reconhecer que
não se arriscaram entoações difíceis. O facto de se ler com calma (quase com
certa lentidão) é uma vantagem, tanto para quem ouve, porque pode seguir o
texto sem grande esforço, como para quem está a ler, porque é menor o grau de
dificuldade.
Beatriz R.
Beatriz R. (15) || Texto/Conceção
É um relato, uma memória, de infância (fictício). Texto está bem escrito, mesmo
muito bem escrito. Imagens (em filme, mas, no fundo, estáticas) socorrem-se de solução
minimal (não sei se não resultaria melhor uma fotografia). Corrigir: «pusemos a
hipótese de que algo sério se passava» (seria: «pusemos a hipótese de que algo
sério se passasse»); «aquilo que chamávamos casa» («aquilo a que chamávamos
casa»). Expressão oral Leitura em
voz alta segura, sempre correta (em bom ritmo e com entoações certas, embora em
estilo neutro, sem arriscar expressividade), mostrando capacidades e ensaio
adequado.
Carolina
Carolina (11) || Texto/Conceção É um depoimento-relato de vivências (sobre as férias). O texto não tem erros (apenas
no final a repetição de «adoro» em poucos segundos é questionável), mas está
pouco elaborado, quer quanto a extensão (dura um minuto, quando eu pedira no
mínimo dois) quer quanto a estilo (que me parece demasiado coloquial, como se
se tratasse de depoimento oral o mais simples possível). Enfim, acho que a
ideia foi boa mas está um pouco desaproveitada (decerto porque não pôde a
Carolina desenvolvê-la como convinha). Expressão
oral Não havendo erros significativos, há duas ou três hesitações («e não #
há praia»; «eu adoro # as férias») que mostram que seria útil ter-se feito mais
ensaios.
Beatriz
Belo
Beatriz Belo (12,5) || Texto/Conceção Ideia inteligente e escrita também interessante,
embora a duração do texto não cumpra o que era pedido (mínimo de dois minutos)
Solução de imagem é bastante económica. Digamos que faltou um pouco mais de
esforço, de investimento: houve mais inspiração do que transpiração. Corrigir:
«e acabaste-me por me chamar» (seria: «e acabaste por me chamar»). Expressão oral Som está pouco audível.
Aliás, neste trabalho, houve alguma negligência técnica, o que era evitável se
tivermos em conta que se dispôs de meses e meses. Boa leitura em voz alta (uma
só hesitação, depois de «cheio [de peixes]»), embora se pudesse ter arriscado
um estilo mais expressivo (a situação ia bem com ainda maior dramaticidade).
Maria
Maria (14,5-15) || Texto/Conceção
Embora tenha feito uma autobiografa (resumida) com uma estrutura semelhante à de
muitos outros microfilmes, o texto da Maria é mais interessante porque,
primeiro, a sua história de vida já tem ela mesma aspetos originais (saída dos
pais para trabalharem noutro país, ficando a autora com a avó, inscrição por
iniciativa própria na escola, vinda para Portugal e reencontro com os pais, etc.)
e, depois, porque o texto consegue, por vezes, chegar a uma análise que não é a
do simples lugar comum. As imagens foram bem escolhidas e, como não tentam
seguir a cronologia (exceto quando há alusão ao nascimento da irmã), favorecem
que nos centremos na tal abordagem mais psicológica. Também é original que o
filme termine com um segmento que não é imagem fixa mas mesmo filme (com a
Maria a sorrir). Expressão oral Nem
na redação nem na leitura em voz alta há erros significativos. A leitura usa a
velocidade adequada e a entoação está certa. Só com algum esforço se percebe
esta parte: «futuro que, neste dado [preciso] momento, é o presente». E «Integrei-me
muito fácil» deveria ser «Integrei-me muito facilmente». «Vim viver para
Portugal junto com os meus pais»
creio que seria «Vim viver para Portugal para
junto dos meus pais».
Iolanda
Iolanda
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