Sunday, September 07, 2014

Instruções para tepecê de comentário-análise de canção


Este trabalho implica fazer um comentário-análise de uma canção em português (portuguesa, brasileira ou de qualquer país lusófono). Além do comentário, deve constar a referência da canção e um link que conduza a um seu clip no YouTube. Tudo isto deve ser-me enviado num anexo em Word. (Eu imprimirei a folha, farei a correção da redação, pedirei reformulações ou não, e lançarei a vossa análise e o clip da música numa secção própria.)

De seguida, explico cada um dos elementos que realcei a negro. Logo abaixo fica um exemplo meu e links para a mesma tarefa feita por colegas de há três anos.

Link (do YouTube) de clip com a canção em causa — Ao escolherem o clip da canção que vão analisar, prefiram um vídeo «oficial», chancelado pelos autores, ou uma sua atuação ao vivo (e evitem filmes criados por fãs, com legendas, etc.). Convém ter também em conta a qualidade do som.

Referência — Deve incluir o título da canção (entre aspas), autores de letra e de música (que ficam entre parênteses e separados por barra), cantor ou banda, álbum a que pertence (em itálico), data.

Comentário — O vosso texto — que teve ter, no mínimo, trezentas palavras, e, no máximo, quinhentas — aludirá à letra da música, citando-a, mas não se deve contentar com resumir a letra, deve ser analítico, interpretativo. Além disso, deve haver dois momentos: análise da letra + alusão à memória (vossa) que a canção suscita.

Aqui em baixo vai um exemplo meu (entretanto, para comentários feitos por colegas de há quatro anos, pode ver-se: 10.º 1.ª; 10.º 3.ª; 10.º4.ª; 10.º 6.ª; 10.º 9.ª).

 

Homem do leme



«Homem do Leme» (Tim / Xutos & Pontapés), Rio Grande, Dia de concerto, 1997.

Depois de poucas pesquisas, consigo datar com bastante precisão o momento que esta canção me faz recordar, uma aula do 10.º 2.ª de 2007-2008. Dava-se o género epistolar e tinha levado — como este ano, aliás — a faixa «Postal dos Correios», dos Rio Grande. Já depois de preenchida a letra da canção na folha distribuída — sempre tudo muito igual... —, foi a Inês (ou a Joana ou a Carlota ou a Catarina ou a Marta ou a Matilde? — alguém na fila junto das janelas) que pediu que se ficasse a ouvir o resto do CD, enquanto fazíamos uma redação. Foi esta a canção que então mais se gabou, entre, claro, também juízos desfavoráveis (que os nossos alunos são sempre musicalmente sofisticados, ou mesmo sofisticados em tudo). Consultados os sumários desse ano, vejo que a aula terá sido a n.º 55/56 (as aulas eram então numeradas por tempo), de 11 de janeiro de 2008, e da sala lembro-me bem, mesmo sem nada ir consultar: à entrada do bloco A, à esquerda (A8, salvo erro), onde meses depois combinaríamos um encontro de toda a turma passados exatíssimos dez anos, no mesmo local e à mesma hora (e já só faltam três anos para esse encontro de 16 de maio de 2018).

Quanto ao texto da canção, nunca associei este «homem do leme» ao «homem do leme» do «Mostrengo» de Pessoa — ou ao passo do Adamastor, nos Lusíadas — mas é provável que esse intertexto estivesse na lógica dos autores. Tal como no poema de Mensagem, na letra da canção o capitão é conotado com a insubmissão — o verso «Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé» faz supor que não houve sucesso nessa investida do poder —, com a vontade de só obedecer ao destino por si traçado («Sozinho na noite / um barco ruma para onde vai / Uma luz no escuro brilha a direito / ofusca as demais»). No entanto, o «homem do leme» da canção parece mais alguém que luta contra a saudade, ou contra a desilusão ou a derrota, do que contra os perigos do mar («Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade, / vai quem já nada teme, vai o homem do leme»). É, portanto, um vencedor, embora talvez apenas porque sabe já que «a vida é sempre a perder». Com essa sageza a preveni-lo, nada prende o nosso herói ao passado, nem ao presente aliás, o que explica o desprendimento corajoso, ou a coragem desprendida, que o refrão proclama: «E uma vontade de rir nasce do fundo do ser. / E uma vontade de ir, correr o mundo e partir».