Thursday, September 14, 2006

25 anos da ESJGF


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Quando a Secundária de Benfica abriu tinha eu dezanove anos (faria os vinte dez dias depois). Foi também nesse ano lectivo de 1980-81 que comecei a dar aulas. Bastante más. Não foi porém na Secundária de Benfica, mas no D. Pedro V, que aliás era o liceu para onde então ia quem morasse nesta zona. No D. Pedro V lembro-me de estarem colegas que depois encontraria em Benfica (por exemplo, a Arlete, que então muito me ajudou, e o Esperança).
Só dei aulas em Benfica pela primeira vez em 1983, mas acompanhara, de fora, o começo da escola. Os primeiros alunos da Secundária tinham sido ainda meus companheiros de rua ou eram os seus irmãos mais novos. Vira a escola a construir-se e conhecia alguns dos que a tinham reivindicado.
Vivia na praceta que confinava com a quinta onde se ergueu a escola. O muro que separava o final da praceta e o monte-quinta era o limite dos passeios e terrenos das nossas futeboladas. (Excepto pela estrada de Benfica, a praceta ficava fechada entre quintas: até ao Califa, onde hoje está o Fonte Nova, era a Quinta das Flores, com um daqueles moinhos que hoje só vejo nos filmes australianos.)
Nesse tempo, os rapazes passavam as tardes na rua e por isso foi uma sorte não haver ainda a Secundária. Assim, não só tínhamos os campos-passeios para os jogos da rua, como, saltado o muro, evitadas as alegadas cobras do monte onde está agora a Secundária, subíamos até ao terreno para os jogos mais importantes, contra as outras ruas (esse terreno serve hoje de estacionamento e chegou a ser um campo com balizas e pista).
Ainda por outra razão foi uma sorte a Secundária de Benfica só ter surgido em 1980. Enquanto aluno, pude frequentar um liceu longe da minha zona e com os outros rapazes todos os dias ocupar adolescentemente os segundos andares dos autocarros que então ligavam Benfica à Avenida de Roma e ao Dona Leonor (tive aí o gosto de ter como professora de Filosofia a Dulce, que reencontraria na Secundária de Benfica).
Em 1983-84 é que já dei aulas em Benfica, sempre muito mazinhas — naquela altura podíamos estar anos a fio a leccionar antes da profissionalização. Estive vários anos na escola mas com intermitências. Mesmo depois de me ter efectivado, só cá vinha uma vez por ano, tratar dos papéis que autorizavam a requisição.
Não sei se não terei sido o único professor a namorar e a casar-se na escola. Explicando: em 1989, a Isabel era cá professora estagiária e eu seu orientador. Nos anos imediatos, requisitado fora da escola, era por ela que ia tendo notícias (como já antes fora pelos colegas de rua; como depois por alunos na faculdade; portanto, visão filtrada sempre, apesar de, de minha casa, mesmo em frente, ver a ESJGF todos os minutos). Até que a Isabel saiu da escola.
Foi já pela voz de outra Isabel, a Isabel Costa Marques, que eu saberia do falecimento da Salette, a cuja memória quero dedicar este depoimento de testemunha tantas vezes distante. A Salette é que, entre gargalhadas, seria capaz de nos contar episódios engraçados (ou escrevê-los na sua letra desmedida). E todos a ouviríamos bem dispostos.
[LP]