Tuesday, September 06, 2022

Aula 69-70

Aula 69-70 (6 [1.ª, 3.ª, 5.ª], 7/fev [4.ª]) Os dois textos seguintes foram tirados de Célia Cameira, Fernanda Palma, Rui Palma, Mensagens, 10.º ano, Lisboa, Texto, 2016, pp. 108-109:




Vai lendo o depoimento de Maria do Rosário Pedreira — «Pôr o dedo na ferida» — e circundando a melhor alínea de cada item.

 

O título «Pôr o dedo na ferida» procura fazer uma alusão

a) ao facto de Gil Vicente ter exposto os aspetos negativos da sociedade do seu tempo.

b) ao ambiente fechado, autoritário, da escola em que a cronista estudou.

c) ao facto de palavras como «caganeira» (e, decerto, «cocó») terem passado a ser ditas em aula.

d) às reações da personagem Inês na Farsa de Inês Pereira.

 

«era muito diferente da de hoje» (ll. 2-3) é

a) predicativo do sujeito.

b) predicado.

c) frase.

d) período.

 

O facto a que se reporta «o que, aliás, aconteceu muito mais depressa do que supúnhamos» (ll. 10-11) foi

a) uma lufada de ar fresco.

b) o castelhano ter surgido misturado com a língua arcaica.

c) a compreensão fácil do português de Gil Vicente.

d) rir à gargalhada.

 

«Gil Vicente foi mesmo um desbocado» (l. 23) significa que Gil Vicente

a) era desdentado.

b) não tinha boca.

c) falava muito.

d) criticava muito.

 

«atual» (l. 33) é

a) predicativo do sujeito.

b) complemento oblíquo.

c) complemento indireto.

d) complemento direto.

 

O que torna «este texto grande literatura» (ll. 42-43) é

a) a mudança surpreendente da linha de ação e certos aspetos formais.

b) Gil Vicente transformar a vítima em carrasco.

c) Gil Vicente permitir a Inês emendar o pé, além das palavras ricas e belíssimas.

d) a forma com que se apresenta o conteúdo (versos, palavras ricas, rima).

 

Passa agora ao depoimento de Fernando Alvim — «Se não estou em erro» — e vai também circundando a melhor alínea de cada item.

 

«a vossa idade» (l. 3) indica que o narrador — no fundo, identificável com Fernando Alvim — toma como narratário (como seu destinatário)

a) os ouvintes do seu programa de rádio.

b) os espetadores do seu programa de televisão.

c) quem o leia.

d) estudantes do 10.º ano.

 

Em «e, talvez, um sentido estético bem mais sofrível que os anos 80 não pouparam a ninguém» (ll. 3-5), o narrador

a) brinca com o gosto dos adolescentes atuais.

b) brinca com o gosto dos anos oitenta.

c) considera que, antigamente, havia modas melhores.

d) assume que os anos oitenta foram uma época de gastos.

 

Pelas linhas 5-9 percebemos que Alvim estudou

a) a Farsa de Inês Pereira pouco antes de ter lido o Auto da Barca do Inferno.

b) a Farsa de Inês Pereira bastante antes de ter lido o Auto da Barca de Inferno.

c) o Auto da Barca do Inferno antes de ter lido a Farsa de Inês Pereira.

d) as obras de Gil Vicente pouco depois do exame de condução.

 

«daquelas que vocês tanto gostam» (l. 13)

a) está mal escrito.

b) reporta-se às peças de Gil Vicente.

c) alude a peças de vestuário.

d) diz respeito a selfies (l. 16).

 

«moderno» (l. 20) é um

a) predicativo do sujeito relativo ao próprio narrador.

b) predicativo do sujeito relativo à peça de Gil Vicente.

c) predicativo do sujeito relativo a Gil Vicente.

d) complemento direto.

 

«É certinho» (l. 24) exprime

a) ironia acerca da duração da vida daqueles a quem se dirige.

b) ceticismo quanto à boa natureza dos comportamentos das pessoas.

c) a índole atitudinal de Brás da Mata.

d) confiança de que os nomes «Inês», «Pereira», «Brás» e «Mata» sejam dos mais comuns no futuro.

 

Nas primeiras linhas do terceiro parágrafo (l. 25-...), assume-se que a Farsa de Inês Pereira

a) critica clero e casamento.

b) luta contra a discriminação entre géneros e o casamento tradicional.

c) aborda muitos locais.

d) caricatura mais os homens do que as mulheres.

 

«A sério, ele não se importa» (l. 36) significa que Gil Vicente

a) merece ser lido.

b) não se importa que o digiram.

c) não se importa de levar pancada.

d) não tinha medo de ridicularizar com quem se cruzava.

 

Em «O meu fascínio por Gil Vicente sofreu um rombo de que julguei ser impossível recuperar» (ll. 44-45), «Gil Vicente» refere

a) uma equipa de futebol.

b) Makpoloka Mangonga.

c) o narrador.

d) o importante dramaturgo.

 

«Ela mesma» (l. 50) é uma

a) catáfora, tendo como referente «a Farsa de Inês Pereira».

b) anáfora, tendo como antecedente «a sua vez».

c) anáfora, tendo como referente «leitura para os pacientes que aguardam a sua vez».

d) catáfora, tendo como referente «leitura para os pacientes que aguardam a sua vez».

 

Critérios para distinguir funções sintáticas

funções ao nível da frase

O sujeito concorda com o verbo. Se experimentarmos alterar o número ou pessoa do sujeito, isso refletir-se-á no verbo que é núcleo do predicado:

Caiu a cadeira. Caíram as cadeiras (Para se confirmar que «a cadeira» não é aqui o complemento direto: *Caiu-a.)

O predicado pode ser identificado se se acrescentar «e» + grupo nominal + «também» (ou «também não») à oração:

O Egas partiu para o Dubai. O Egas partiu para o Dubai e o Ivo também (também partiu para o Dubai).

O vocativo distingue-se do sujeito porque fica isolado por vírgulas e não é com ele que o verbo concorda. Antepor-lhe um «ó» pode confirmar que se trata de vocativo.

Tu, Teresa, não percebes nada disto! Tu, ó Teresa, não percebes nada disto!

Para distinguir o modificador de frase do modificador do grupo verbal, pode ver-se que as construções que ponho à direita (a interrogar ou a negar) são possíveis com o modificador do grupo verbal mas não com o advérbio que incide sobre toda a frase.

Evidentemente, o povo tem razão. *É evidentemente que o povo tem razão?

Talvez Portugal ganhe. *Não talvez Portugal ganhe.

Com um modificador de grupo verbal o resultado seria gramatical:

Ele come alarvemente. É alarvemente que ele come?

 

funções internas ao grupo verbal

O complemento direto é substituível pelo pronome «o» («a», «os», «as»):

Dei mil doces ao diabético. Dei-os ao diabético.

O complemento indireto, introduzido pela preposição «a», é substituível por «lhe»:

Ofereci uma sopa de nabiças ao arrumador. Ofereci-lhe uma sopa de nabiças.

O complemento oblíquo, e mesmo quando usa a preposição «a» (uma das várias que o podem acompanhar), nunca é substituível por «lhe»:

Assistiu ao jogo contra as Ilhas Faroé. *Assistiu-lhe.

Para identificarmos um modificador do grupo verbal, podemos fazer a pergunta «O que fez [sujeito] + [modificador]?» e tudo soará gramatical:

Marcelo fez um discurso na segunda-feira.

Que fez Marcelo na segunda-feira? Fez um discurso.

Se se tratar de um complemento oblíquo, o resultado já será agramatical:

Dona Dolores foi à Madeira.

*Que fez Dona Dolores à Madeira? Foi.

O complemento agente da passiva começa com a preposição «por», precedida por verbo na passiva, e podemos adotá-lo como sujeito da mesma frase na voz ativa:

A casa foi comprada por Monica Bellucci. Monica Bellucci comprou a casa.

As joias de Kim foram roubadas pelos ladrões. Os ladrões roubaram as joias de Kim.

O predicativo do sujeito é uma função sintática associada a verbos copulativos (como «ser», «estar», «parecer», «ficar», «permanecer», «continuar», mas também «tornar-se», «revelar-se», «manter-se», etc.). Atribui uma qualidade ao sujeito ou localiza-o no tempo ou no espaço.

Os taxistas andam revoltados.

A Violeta está em casa.

O predicativo do complemento direto é uma função sintática associada a verbos transitivos-predicativos (como «achar», «considerar», «eleger», «nomear», «designar» e poucos mais), os que selecionam um complemento direto e, ao mesmo tempo, lhe atribuem uma qualidade/característica.

A ONU elegeu Guterres secretário-geral. (Para confirmar que «Guterres» é o complemento direto e «secretário-geral», o predicativo do complemento direto: A ONU elegeu-o secretário-geral.)

Eles deixaram a porta aberta. ( Eles deixaram-na aberta.)

Cfr., porém, «Comprei o bolo podre», que pode ter duas interpretações: uma em que todo o segmento «o bolo podre» é o complemento direto (‘Comprei-o’); e outra em que «o bolo» é o complemento direto e «podre» é o predicativo do complemento direto (‘Comprei-o podre’).

 

funções internas ao grupo nominal

O complemento do nome, quando tem a forma de grupo preposicional, é selecionado pelo nome (ou seja, é obrigatório, mesmo se, em alguns casos, possa ficar apenas implícito). Os nomes que selecionam complemento são muitas vezes derivados de verbos.

A absolvição do réu desagradou-me. (Seria aceitável «A absolvição desagradou-me» num contexto em que a referência ao absolvido ficasse implícita.)

A necessidade de estudar gramática é uma balela. (*A necessidade é uma balela.)

Quando tem a forma de grupo adjetival, o complemento do nome constitui uma unidade com o nome, ficando tão intimamente ligado a ele, que, na sua ausência, aquele parece ter já outro sentido. (Reconheça-se que estes casos não são fáceis de distinguir de certos modificadores restritivos do nome.)

A previsão meteorológica falhou.

Os conhecimentos informáticos são úteis.

O modificador restritivo do nome restringe a realidade que refere, mas não é selecionado pelo nome (não é «obrigatório»).

Comprei o casaco azul.

Cão que ladra não morde.

O modificador apositivo do nome, sempre isolado por vírgulas, travessões ou parênteses, não restringe a realidade a que se refere nem é selecionado pelo nome (a sua falta não prejudicaria o sentido da frase).

O filme de que te falei, Cinema Paraíso, já foi objeto de paródias.

O Renato Alexandre, que é amigo do seu amigo, conhece o Busto.

 

função interna ao grupo adjetival

O complemento do adjetivo é selecionado por um adjetivo (embora seja, frequentemente, opcional).

Ela ficou radiante com os presentes. (Ela ficou radiante.)

Isso é passível de pena máxima. (*Isso é passível.)

Os itens seguintes — sobre funções sintáticas — são retirados da Nova Gramática didática de português (Carnaxide, Santillana, 2011), com quase nenhumas adaptações:

Seleciona, em cada conjunto de frases apresentadas nas alíneas abaixo, aquela cujo constituinte destacado não desempenha a função sintática indicada.

Complemento direto

A Marlene vendeu o barco na semana passada.

Os velejadores perderam a regata.

O nadador-salvador atirou a boia ao náufrago.

As focas comem peixe.

Complemento oblíquo

Não te aconselho a fugir.

Ele bateu ao irmão.

Gosto de passear.

Duvido disso.

Complemento agente da passiva

O Brasil foi descoberto por Pedro Álvares Cabral.

O Porfírio anseia pelo teu regresso.

O barco foi desviado da rota pelo vento.

Os papéis foram organizados pela secretária.

Predicativo do complemento direto

A Luana continua na mesma empresa.

Os padrinhos estimavam-no como filho.

O juiz considerou-o inocente.

Os vizinhos tinham-no por caloteiro.

Os itens seguintes — sobre funções sintáticas — retirei-os de Desafios. Português. 11.º ano. Caderno de Atividades (de Alexandre Dias Pinto, Carlota Miranda, Patrícia Nunes; Carnaxide, Santillana, 2011), alterando apenas alguns nomes próprios.

 

Identifica a função sintática desempenhada pelo constituinte destacado nas frases:

a) O Adão e a Eva chegaram agora. ____________

b) O filme era muito emocionante. ____________

c) Ofereceram-me um livro muito interessante. ___________

d) O juiz declarou-o culpado. _________

e) O texto foi entregue pela minha aluna. __________

f) A venda das camisolas foi um sucesso. __________

g) O Marciano, que é um excelente dançarino, venceu o concurso. __________

h) Prometemos que regressaríamos daí a dois anos. ___________

i) É fantástico que venhas connosco. __________

Indica a função sintática das expressões sublinhadas, em frases do episódio «Débora vs. Luciana», de Último a sair. Só tens de preencher a coluna da direita (a do meio serve apenas para lembrar elementos úteis ao teu raciocínio).

Frase (em geral de Último a sair)

A ter em atenção

Função sintática

Ó pessoal, podem vir até aqui?

 

 

Ó pessoal, podem vir até aqui?

* que fazem eles até aqui?

 

Antes que expluda, é melhor falarmos entre todos.

oração adverbial temporal

 

Antes que expluda, é melhor falarmos entre todos.

 

 

Basicamente, é isto.

* É basicamente que é isto

 

Vocês acham normal terem-me nomeado?

acham normal isso

 

Vocês acham normal terem-me nomeado?

cfr. verbo transitivo-predicativo

 

terem-me nomeado

terem-na /* terem-lhe

 

Limpo esta merda todas as semanas.

Limpo-a

 

Limpo esta merda todas as semanas.

Que faço todas as semanas?

 

Limpo a merda que vocês deixam espalhada na cozinha.

«que» = ‘a merda’, ‘a qual’

 

Trato das plantas.

e a Luciana também

 

Estou-te a perguntar se és tu que vais limpar tudo isto.

 

 

Vê se te acalmas.

se o acalmas / * se lhe acalmas

 

Deixa o Bruno em paz.

 

 

Olha a gaja que fala com as árvores.

oração adjetiva relativa restritiva

 

Olha a gaja que fala com as árvores.

 

 

Ai, coitadinha, que eu sou tão especial.

cfr. verbo copulativo

 

Vou mostrar ao mundo a verdadeira Luciana.

Vou mostrar-lhe

 

Olha, filha, verdadeiro é isto.

cfr. «verdadeiras são estas»

 

Pensas que vens aqui falar assim para as pessoas.

= isso / substantiva completiva

 

Sónia, gostas de partir pratos?

* Que faz ela de partir pratos? Gosta

 

Débora e Luciana, que são ambas tripeiras, discutem.

 

 

Por causa da nomeação de Débora gerou-se grande discussão.

 

 

Por causa da nomeação de Débora gerou-se grande discussão.

 

 

— O Roberto uniu-nos — disseram Débora e Rui.

 

 

— Os quartos e a casa de banho foram limpos por mim.

 

 

A Susana também é capaz de partir de pratos.

 

 

A mãe da Luciana não a educou assim.

 

 

Débora não fez sequer uma queixa dos colegas.

 

 

TPC — Sobre funções sintáticas podes consultar em Gaveta de Nuvens ‘Funções sintáticas’. De qualquer modo, o manual trata este assunto nas pp. 321-325.

 

 

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