Aula 69-70
Aula 69-70 (6 [1.ª, 3.ª, 5.ª], 7/fev
[4.ª]) Os dois textos seguintes foram tirados de Célia Cameira, Fernanda Palma,
Rui Palma, Mensagens, 10.º ano, Lisboa, Texto, 2016, pp. 108-109:
Vai
lendo o depoimento de Maria do Rosário Pedreira — «Pôr o dedo na ferida» — e
circundando a melhor alínea de cada item.
O título «Pôr o dedo na ferida» procura fazer uma alusão
a) ao facto de Gil Vicente ter exposto os aspetos negativos da
sociedade do seu tempo.
b) ao ambiente fechado, autoritário, da escola em que a
cronista estudou.
c) ao facto de palavras como «caganeira» (e, decerto, «cocó»)
terem passado a ser ditas em aula.
d) às reações da personagem Inês na Farsa de Inês Pereira.
«era muito diferente da de hoje» (ll. 2-3) é
a) predicativo do sujeito.
b) predicado.
c) frase.
d) período.
O facto a que se reporta «o que, aliás, aconteceu muito mais
depressa do que supúnhamos» (ll. 10-11) foi
a) uma lufada de ar fresco.
b) o castelhano ter surgido misturado com a língua arcaica.
c) a compreensão fácil do português de Gil Vicente.
d) rir à gargalhada.
«Gil Vicente foi mesmo um desbocado» (l. 23) significa que Gil
Vicente
a) era desdentado.
b) não tinha boca.
c) falava muito.
d) criticava muito.
«atual» (l. 33) é
a) predicativo do sujeito.
b) complemento oblíquo.
c) complemento indireto.
d) complemento direto.
O que torna «este texto grande literatura» (ll. 42-43) é
a) a mudança surpreendente da linha de ação e certos aspetos
formais.
b) Gil Vicente transformar a vítima em carrasco.
c) Gil Vicente permitir a Inês emendar o pé, além das palavras
ricas e belíssimas.
d) a forma com que se apresenta o conteúdo (versos, palavras ricas,
rima).
Passa agora ao depoimento de Fernando
Alvim — «Se não estou em erro» — e vai também circundando a melhor alínea de
cada item.
«a vossa idade» (l. 3) indica que o narrador — no fundo, identificável
com Fernando Alvim — toma como narratário (como seu destinatário)
a) os ouvintes do seu programa de rádio.
b) os espetadores do seu programa de televisão.
c) quem o leia.
d) estudantes do 10.º ano.
Em «e, talvez, um sentido estético bem mais sofrível que os
anos 80 não pouparam a ninguém» (ll. 3-5), o narrador
a) brinca com o gosto dos adolescentes atuais.
b) brinca com o gosto dos anos oitenta.
c) considera que, antigamente, havia modas melhores.
d) assume que os anos oitenta foram uma época de gastos.
Pelas linhas 5-9 percebemos que Alvim estudou
a) a Farsa de Inês
Pereira pouco antes de ter lido o Auto
da Barca do Inferno.
b) a Farsa de Inês
Pereira bastante antes de ter lido o Auto
da Barca de Inferno.
c) o Auto da Barca do Inferno
antes de ter lido a Farsa de Inês Pereira.
d) as obras de Gil Vicente pouco depois do exame de condução.
«daquelas que vocês tanto gostam» (l. 13)
a) está mal escrito.
b) reporta-se às peças de Gil Vicente.
c) alude a peças de vestuário.
d) diz respeito a selfies
(l. 16).
«moderno» (l. 20) é um
a) predicativo do sujeito relativo ao próprio narrador.
b) predicativo do sujeito relativo à peça de Gil Vicente.
c) predicativo do sujeito relativo a Gil Vicente.
d) complemento direto.
«É certinho» (l. 24) exprime
a) ironia acerca da duração da vida daqueles a quem se dirige.
b) ceticismo quanto à boa natureza dos comportamentos das
pessoas.
c) a índole atitudinal de Brás da Mata.
d) confiança de que os nomes «Inês», «Pereira», «Brás» e
«Mata» sejam dos mais comuns no futuro.
Nas primeiras linhas do terceiro parágrafo (l. 25-...),
assume-se que a Farsa de Inês Pereira
a) critica clero e casamento.
b) luta contra a discriminação entre géneros e o casamento
tradicional.
c) aborda muitos locais.
d) caricatura mais os homens do que as mulheres.
«A sério, ele não se importa» (l. 36) significa que Gil
Vicente
a) merece ser lido.
b) não se importa que o digiram.
c) não se importa de levar pancada.
d) não tinha medo de ridicularizar com quem se cruzava.
Em «O meu fascínio por Gil Vicente sofreu um rombo de que
julguei ser impossível recuperar» (ll. 44-45), «Gil Vicente» refere
a) uma equipa de futebol.
b) Makpoloka Mangonga.
c) o narrador.
d) o importante dramaturgo.
«Ela mesma» (l. 50) é uma
a) catáfora, tendo como referente «a Farsa de Inês Pereira».
b) anáfora, tendo como antecedente «a sua vez».
c) anáfora, tendo como referente «leitura para os pacientes
que aguardam a sua vez».
d) catáfora, tendo como referente «leitura para os pacientes
que aguardam a sua vez».
Critérios
para distinguir funções sintáticas
funções
ao nível da frase
O
sujeito concorda com o verbo.
Se experimentarmos alterar o número ou pessoa do sujeito, isso refletir-se-á no
verbo que é núcleo do predicado:
Caiu
a cadeira. → Caíram as cadeiras (Para se confirmar
que «a cadeira» não é aqui o complemento direto: →
*Caiu-a.)
O predicado pode ser identificado se
se acrescentar «e» + grupo nominal +
«também» (ou «também não») à oração:
O Egas partiu para o
Dubai. → O Egas partiu para o Dubai e o Ivo também (também partiu para o Dubai).
O vocativo distingue-se
do sujeito porque fica isolado por vírgulas e não é com ele que o verbo
concorda. Antepor-lhe um «ó» pode confirmar que se trata de vocativo.
Tu, Teresa, não percebes
nada disto! → Tu, ó Teresa, não
percebes nada disto!
Para distinguir o modificador de frase do modificador
do grupo verbal, pode ver-se que as construções que ponho à direita (a
interrogar ou a negar) são possíveis com o modificador do grupo verbal mas não com
o advérbio que incide sobre toda a frase.
Evidentemente, o povo tem razão. → *É evidentemente que o povo tem razão?
Talvez Portugal ganhe. → *Não talvez Portugal ganhe.
Com um modificador de grupo
verbal o resultado seria gramatical:
Ele come alarvemente.
→ É alarvemente que
ele come?
funções
internas ao grupo verbal
O complemento direto é
substituível pelo pronome «o» («a», «os», «as»):
Dei mil doces ao diabético.
→ Dei-os ao diabético.
O complemento indireto, introduzido
pela preposição «a», é substituível por «lhe»:
Ofereci uma sopa de
nabiças ao arrumador. → Ofereci-lhe uma sopa de nabiças.
O complemento oblíquo, e mesmo quando
usa a preposição «a» (uma das várias que o podem acompanhar), nunca é substituível
por «lhe»:
Assistiu ao jogo contra
as Ilhas Faroé. → *Assistiu-lhe.
Para identificarmos um modificador do grupo verbal, podemos
fazer a pergunta «O que fez [sujeito] + [modificador]?» e tudo soará gramatical:
Marcelo fez um discurso na
segunda-feira.
Que fez Marcelo na segunda-feira?
Fez um discurso.
Se se tratar de um complemento
oblíquo, o resultado já será agramatical:
Dona Dolores foi à Madeira.
*Que fez Dona Dolores à
Madeira? Foi.
O complemento agente da passiva começa
com a preposição «por», precedida por verbo na passiva, e podemos adotá-lo como
sujeito da mesma frase na voz ativa:
A casa foi comprada por
Monica Bellucci. → Monica Bellucci comprou
a casa.
As joias de Kim foram
roubadas pelos ladrões. → Os ladrões
roubaram as joias de Kim.
O predicativo do sujeito é uma função
sintática associada a verbos copulativos (como «ser», «estar», «parecer»,
«ficar», «permanecer», «continuar», mas também «tornar-se», «revelar-se»,
«manter-se», etc.). Atribui uma qualidade ao sujeito ou localiza-o no tempo ou
no espaço.
Os taxistas andam revoltados.
A Violeta está em casa.
O predicativo do complemento direto é uma função sintática associada a
verbos transitivos-predicativos (como «achar», «considerar», «eleger»,
«nomear», «designar» e poucos mais), os que selecionam um complemento direto e,
ao mesmo tempo, lhe atribuem uma qualidade/característica.
A ONU elegeu Guterres secretário-geral.
(Para confirmar que «Guterres» é o complemento direto e «secretário-geral», o
predicativo do complemento direto: → A ONU elegeu-o secretário-geral.)
Eles deixaram a porta aberta.
(→ Eles deixaram-na aberta.)
Cfr., porém, «Comprei o bolo
podre», que pode ter duas interpretações: uma em que todo o segmento «o bolo
podre» é o complemento direto (‘Comprei-o’); e outra em que «o bolo» é o
complemento direto e «podre» é o predicativo do complemento direto (‘Comprei-o podre’).
funções
internas ao grupo nominal
O complemento do nome,
quando tem a forma de grupo preposicional, é selecionado pelo nome (ou seja, é
obrigatório, mesmo se, em alguns casos, possa ficar apenas implícito). Os nomes
que selecionam complemento são muitas vezes derivados de verbos.
A absolvição do réu
desagradou-me. (Seria aceitável «A absolvição desagradou-me» num contexto em
que a referência ao absolvido ficasse implícita.)
A necessidade de
estudar gramática é uma balela. (*A necessidade é uma balela.)
Quando tem a forma de grupo adjetival, o complemento do nome constitui uma unidade com o nome, ficando tão
intimamente ligado a ele, que, na sua ausência, aquele parece ter já outro
sentido. (Reconheça-se que estes casos não são fáceis de distinguir de certos modificadores
restritivos do nome.)
A previsão meteorológica
falhou.
Os conhecimentos informáticos
são úteis.
O modificador restritivo do nome
restringe a realidade que refere, mas não é selecionado pelo nome (não é
«obrigatório»).
Comprei o casaco azul.
Cão que ladra não morde.
O modificador apositivo do nome,
sempre isolado por vírgulas, travessões ou parênteses, não restringe a
realidade a que se refere nem é selecionado pelo nome (a sua falta não
prejudicaria o sentido da frase).
O filme de que te falei, Cinema Paraíso, já foi objeto de
paródias.
O Renato Alexandre, que
é amigo do seu amigo, conhece o Busto.
função
interna ao grupo adjetival
O complemento do adjetivo
é selecionado por um adjetivo (embora seja, frequentemente, opcional).
Ela ficou radiante com
os presentes. (Ela ficou radiante.)
Isso é passível de pena
máxima. (*Isso é passível.)
Seleciona, em cada
conjunto de frases apresentadas nas alíneas abaixo, aquela cujo constituinte
destacado não desempenha a função sintática indicada.
Complemento direto
A Marlene vendeu o barco
na semana passada.
Os velejadores perderam a
regata.
O nadador-salvador atirou a boia ao náufrago.
As focas comem peixe.
Complemento oblíquo
Não te aconselho a fugir.
Ele bateu ao irmão.
Gosto de passear.
Duvido disso.
Complemento agente da
passiva
O Brasil foi descoberto por
Pedro Álvares Cabral.
O Porfírio anseia pelo
teu regresso.
O barco foi desviado da rota pelo vento.
Os papéis foram organizados pela secretária.
Predicativo do complemento
direto
A Luana continua na
mesma empresa.
Os padrinhos estimavam-no como
filho.
O juiz considerou-o inocente.
Os vizinhos tinham-no por
caloteiro.
Os itens
seguintes — sobre funções sintáticas — retirei-os de Desafios. Português. 11.º ano. Caderno de
Atividades (de Alexandre Dias Pinto, Carlota Miranda, Patrícia Nunes;
Carnaxide, Santillana, 2011), alterando apenas alguns nomes próprios.
Identifica a função sintática desempenhada pelo constituinte
destacado nas frases:
a) O Adão e a Eva chegaram agora. ____________
b) O filme era muito emocionante. ____________
c) Ofereceram-me um livro muito interessante. ___________
d) O juiz declarou-o culpado. _________
e) O texto foi entregue pela minha aluna. __________
f) A venda das camisolas foi um sucesso. __________
g) O Marciano, que é um excelente dançarino, venceu o concurso. __________
h) Prometemos que regressaríamos daí a dois
anos. ___________
i) É fantástico que venhas connosco. __________
Indica
a função
sintática das expressões sublinhadas, em frases do episódio «Débora vs.
Luciana», de Último a sair. Só tens de preencher a coluna da direita (a
do meio serve apenas para lembrar elementos úteis ao teu raciocínio).
Frase
(em geral de Último a sair) |
A
ter em atenção |
Função
sintática |
Ó pessoal,
podem vir até aqui? |
|
|
Ó pessoal, podem vir até
aqui? |
* que fazem eles até aqui? |
|
Antes que expluda,
é melhor falarmos entre todos. |
oração adverbial temporal |
|
Antes que expluda, é melhor falarmos
entre todos. |
|
|
Basicamente,
é isto. |
* É basicamente que é isto |
|
Vocês acham normal terem-me
nomeado? |
acham normal isso |
|
Vocês acham normal
terem-me nomeado? |
cfr.
verbo transitivo-predicativo |
|
terem-me nomeado |
terem-na /* terem-lhe |
|
Limpo esta merda todas
as semanas. |
Limpo-a |
|
Limpo esta merda todas as
semanas. |
Que faço todas as semanas? |
|
Limpo a merda que vocês
deixam espalhada na cozinha. |
«que» = ‘a merda’, ‘a qual’ |
|
Trato das plantas. |
e a Luciana também |
|
Estou-te a perguntar se és
tu que vais limpar tudo isto. |
|
|
Vê se te acalmas. |
se o acalmas / * se lhe
acalmas |
|
Deixa o Bruno em paz. |
|
|
Olha a gaja que fala com as
árvores. |
oração adjetiva relativa
restritiva |
|
Olha a gaja que fala
com as árvores. |
|
|
Ai, coitadinha, que eu sou tão
especial. |
cfr.
verbo copulativo |
|
Vou mostrar ao mundo a
verdadeira Luciana. |
Vou mostrar-lhe |
|
Olha, filha, verdadeiro é isto. |
cfr.
«verdadeiras são estas» |
|
Pensas que vens aqui falar
assim para as pessoas. |
= isso / substantiva completiva |
|
Sónia, gostas de partir
pratos? |
* Que faz ela de partir pratos?
Gosta |
|
Débora e Luciana, que são
ambas tripeiras, discutem. |
|
|
Por causa da nomeação de
Débora gerou-se grande discussão. |
|
|
Por causa da nomeação de
Débora gerou-se grande discussão. |
|
|
— O Roberto uniu-nos —
disseram Débora e Rui. |
|
|
— Os quartos e a casa de banho
foram limpos por mim. |
|
|
A Susana também é capaz de
partir de pratos. |
|
|
A mãe da Luciana não a
educou assim. |
|
|
Débora não fez sequer uma queixa
dos colegas. |
|
|
TPC — Sobre funções sintáticas
podes consultar em Gaveta de Nuvens ‘Funções sintáticas’. De qualquer
modo, o manual trata este assunto nas pp. 321-325.
#
<< Home