Tuesday, September 13, 2011

Texto

Sobre tepecê (para uma semana ou pouco mais) de análise de letra de canção


            Este trabalho implica dar-me, ou enviar-me, «desmaterializadamente»:
localização no YouTube de clip com a canção em causa, para eu copiar depois o seu código de incorporação (basta-me o endereço, do código específico para incorporação no blogue tratarei eu).
[preferir um vídeo «oficial», chancelado pelos autores, ou um direto de uma exibição dos próprios, àqueles filmes criados por fãs — mas ter também em conta a qualidade do som]
referência com título da canção, autores de letra e de música, cantor ou banda, álbum a que pertence, data.
comentário — isto é, um texto que aludirá à letra da música, citando-a em detalhe ou não, mas que deve ser analítico também (não se deve contentar com resumir a letra). Deverá haver estes dois momentos: análise da letra + alusão à memória que a canção suscita a quem a escolheu.

Depois de corrigir as análises, entregarei correcção em papel aos autores. Ficará em Gaveta de Nuvens, numa secção de cada turma, o rol das canções e suas análises.

            Segue-se exemplo meu:


«Homem do Leme» (Tim / Xutos & Pontapés), Rio Grande, Dia de concerto, 1997.

Depois de poucas pesquisas, consigo datar com bastante precisão o momento que esta canção me faz recordar, uma aula do 10.º 2.ª de 2007-2008. Dava-se o género epistolar e tinha levado — como este ano, aliás — a faixa «Postal dos Correios», dos Rio Grande. Já depois de preenchida a letra da canção na folha distribuída — sempre tudo muito igual... —, foi a Inês (ou a Joana ou a Carlota ou a Catarina ou a Marta ou a Matilde? — alguém na fila junto das janelas) que pediu que se ficasse a ouvir o resto do CD, enquanto fazíamos uma redação. Foi esta a canção que então mais se gabou, entre, claro, também juízos desfavoráveis (que os nossos alunos são sempre musicalmente sofisticados, ou mesmo sofisticados em tudo). Consultados os sumários desse ano, vejo que a aula terá sido a n.º 55/56 (as aulas eram então numeradas por tempo), de 11 de janeiro de 2008, e da sala lembro-me bem, mesmo sem nada ir consultar: à entrada do bloco A, à esquerda (A8, salvo erro), onde meses depois combinaríamos um encontro de toda a turma passados exatíssimos dez anos, no mesmo local e à mesma hora (e já só faltam seis anos para esse encontro de 16 de maio de 2018).
Quanto ao texto da canção, nunca associei este «homem do leme» ao «homem do leme» do «Mostrengo» de Pessoa — ou ao passo do Adamastor, nos Lusíadas — mas é provável que esse intertexto estivesse na lógica dos autores. Tal como no poema de Mensagem, na letra da canção o capitão é conotado com a insubmissão — o verso «Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé» faz supor que não houve sucesso nessa investida do poder —, com a vontade de só obedecer ao destino por si traçado («Sozinho na noite / um barco ruma para onde vai / Uma luz no escuro brilha a direito / ofusca as demais»). No entanto, o «homem do leme» da canção parece mais alguém que luta contra a saudade, ou contra a desilusão ou a derrota, do que contra os perigos do mar («Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade, / vai quem já nada teme, vai o homem do leme»). É, portanto, um vencedor, embora talvez apenas porque sabe já que «a vida é sempre a perder». Com essa sageza a preveni-lo, nada prende o nosso herói ao passado, nem ao presente aliás, o que explica o desprendimento corajoso, ou a coragem desprendida, que o refrão proclama: «E uma vontade de rir nasce do fundo do ser. / E uma vontade de ir, correr o mundo e partir».