Texto
Sobre
tepecê (para uma semana ou pouco mais) de análise de letra de canção
Este trabalho implica dar-me, ou
enviar-me, «desmaterializadamente»:
localização no YouTube de clip com a
canção em causa, para eu
copiar depois o seu código de incorporação (basta-me o endereço, do código
específico para incorporação no blogue tratarei eu).
[preferir um vídeo «oficial»,
chancelado pelos autores, ou um direto de uma exibição dos próprios, àqueles
filmes criados por fãs — mas ter também em conta a qualidade do som]
referência com título da canção, autores de letra
e de música, cantor ou banda, álbum a que pertence, data.
comentário — isto é, um texto que aludirá à letra
da música, citando-a em detalhe ou não, mas que deve ser analítico também (não
se deve contentar com resumir a letra). Deverá haver estes dois momentos:
análise da letra + alusão à memória que a canção suscita a quem a escolheu.
Depois
de corrigir as análises, entregarei correcção em papel aos autores. Ficará em Gaveta de Nuvens, numa secção de cada turma,
o rol das canções e suas análises.
Segue-se
exemplo meu:
«Homem
do Leme» (Tim / Xutos & Pontapés), Rio Grande, Dia de concerto, 1997.
Depois de poucas
pesquisas, consigo datar com bastante precisão o momento que esta canção me faz
recordar, uma aula do 10.º 2.ª de 2007-2008. Dava-se o género epistolar e tinha
levado — como este ano, aliás — a faixa «Postal dos Correios», dos Rio Grande.
Já depois de preenchida a letra da canção na folha distribuída — sempre tudo
muito igual... —, foi a Inês (ou a Joana ou a Carlota ou a Catarina ou a Marta
ou a Matilde? — alguém na fila junto das janelas) que pediu que se ficasse a
ouvir o resto do CD, enquanto fazíamos uma redação. Foi esta a canção que então
mais se gabou, entre, claro, também juízos desfavoráveis (que os nossos alunos
são sempre musicalmente sofisticados, ou mesmo sofisticados em tudo). Consultados
os sumários desse ano, vejo que a aula terá sido a n.º 55/56 (as aulas eram
então numeradas por tempo), de 11 de janeiro de 2008, e da sala lembro-me bem,
mesmo sem nada ir consultar: à entrada do bloco A, à esquerda (A8, salvo erro),
onde meses depois combinaríamos um encontro de toda a turma passados
exatíssimos dez anos, no mesmo local e à mesma hora (e já só faltam seis anos
para esse encontro de 16 de maio de 2018).
Quanto ao texto da canção, nunca
associei este «homem do leme» ao «homem do leme» do «Mostrengo» de Pessoa — ou
ao passo do Adamastor, nos Lusíadas —
mas é provável que esse intertexto estivesse na lógica dos autores. Tal como no
poema de Mensagem, na letra da canção
o capitão é conotado com a insubmissão — o verso «Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé» faz supor que
não houve sucesso nessa investida do poder —, com a vontade de só obedecer ao destino por
si traçado («Sozinho na noite / um barco ruma para onde vai
/ Uma luz no escuro brilha a direito / ofusca as demais»). No entanto, o «homem do leme» da canção parece mais
alguém que luta contra a saudade, ou contra a desilusão ou a derrota, do que
contra os perigos do mar («Mas, vogando à vontade,
rompendo a saudade, / vai quem já nada teme, vai o homem do leme»). É,
portanto, um vencedor, embora talvez apenas porque sabe já que «a vida é sempre
a perder». Com essa sageza a preveni-lo, nada prende o nosso herói ao passado,
nem ao presente aliás, o que explica o desprendimento corajoso, ou a coragem
desprendida, que o refrão proclama: «E uma vontade de rir nasce do fundo do
ser. / E uma vontade de ir, correr o mundo e partir».
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