Aula 3 da Quarentena (= 116-117)
Aula
116-117
[= Quarentena 3] (19 [9.ª], 20/mar [5.ª, 4.ª, 3.ª]) Começo por umas informações:
1. Não tenho conseguido lançar comentários sobre tarefas de Pessoa.
Espero fazê-lo a partir de hoje, mas vai ser lento o processo;
2. Àqueles, raríssimos, de quem estou ainda à espera dos vídeos de
Pessoa: enviem-mos durante esta ou no início da próxima semana;
3. Atualizei prémios Tia Albertina (faltava o concurso de
poeta/declamação);
4. Além dos trabalhos cujas notas já vos fui dizendo, na sexta,
13, levara para devolver os textos da Ética que ainda tinha comigo (direi as
notas depois, já que não os tenho aqui).
Corrijamos agora
o questionário sobre o texto de Saramago na p. 235. Fizemo-lo na sexta-feira,
13 (3.ª, 4.ª, 5.ª) e na quinta, 12 (9.ª). É talvez mais de gramática do que de
compreensão. Pensara-o para ter, em conjunto com o questionário anterior, sobre a recensão de Clara Ferreira Alves, um mínimo de testagem de gramática e para, ao
mesmo tempo, irmos entrando em Saramago (metonimicamente, é claro).
Como alguns terão
deixado os manuais em quarentena nos cacifos, reproduzo à frente essa página. A
correção podem segui-la pelos slides da apresentação (que, desta vez, fica aqui
mesmo). Mesmo os que não fizeram o questionário em aula — tentem-na ainda, antes
de verem a correção — devem agora ir lendo os slides, seja para os cotejarem
com as soluções que escolheram seja para o verem pela
primeira vez. As notas foram as seguintes (máximo: 20):
12.º 3.ª — Afonso, 9; Ana, 17; Bea, 13; Bernardo, 13; Eduardo, 7;
Francisco, 16; Inês C., 15; Inês S., 16; Mafalda, 12; Tita, 13; Teresa, 19;
Miguel, 15; Pedro, 13;
12.º 4.ª — Adolfo, 10; Afonso, 10; Marta, 15;
12.º 5.ª — Alexandra, 16; Ana, 15; B. Entrezede, 11; Elisa, 13;
Maia, 16; Guilherme, 15; João R., 12; Mafalda, 14; Leonor, 13; Miguel, 14;
Natacha, 18; Rita, 10; Rodrigo, 12; Sara, 14; Vinícius, 10;
12.º 9.ª — Luísa, 8; Beatriz, 10; Carolina, 12; Catarina, 10;
Daniela, 4; Diogo, 10; Francisca, 15; Francisco, 10; Ivânia, 13; Laura, 11; Leonor,
12; Lúcia, 12; Margarida A., 13; Margarida P., 14; Margarida V., 15; Mariana
S., 11; Mariana M., 9; Marta, 11; Pedro G., 13; Raquel, 10; Soraia, 9; Tiago,
8; P. Prata, 10.
Vê então os slides
com a correção. É útil para revisões, sobretudo se fores lendo os slides que apoiam cada solução.
Aqui — mas só
interessa pouco mais do que o minuto inicial, porque o resto é um pouco enviesado (é de partido político) —, podemos ver a cerimónia da
entrega do Nobel:
E um trecho
(não o do texto no manual) do discurso de Saramago:
Vamos continuar
com textos iniciais de O Ano da Morte de Ricardo Reis. Já víramos em aula
o momento da chegada do vapor a Lisboa («A chegada», pp. 249-250) — ainda tenho
para lhes devolver as descrições que fizeram com chegada a uma cidade qualquer.
Vamos ler agora os trechos em que Ricardo Reis percorre o caminho
até ao hotel onde ficará instalado («O viajante na cidade», pp. 251-253) e faz
o seu registo na receção («No hotel Bragança», pp. 254-255).
Lê (espero que
seja «relê»...) esses dois textos. De qualquer modo, ficam reproduzidos a
seguir, porque imagino que muitos manuais estejam agora em cacifos infestados
de vírus na nossa escola deserta.
Já leram? Pergunto eu, depois de me aperceber que já se
despacharam Bea, Francisco, Tita ou Mafalda; Gonçalo, André ou Diana; Sereno ou
Natacha; Ivânia ou Soraia. Então avancem para a tarefa de escrita.
Este texto devem
escrevê-lo a computador, porque vou querer que mo enviem (mas não já! — como é natural que na aula de segunda/terça próxima lhes peça
mais qualquer coisa, gostaria de receber tudo no mesmo ficheiro; esperem,
portanto, até essa aula da próxima semana).
Trata-se de
escrever tendo como modelo (melhor, como pretexto de inspiração) os dois textos
que leram há pouco, mas imaginando que se trata de excerto de um O Ano da Morte
de Alberto Caeiro ou de um O Ano da Morte de Álvaro de Campos.
O ano da chegada será
do século XXI (pode ser 2020, ainda antes de março; pode ser atual; ou até
posterior ao estado de emergência, num exercício de ficção não sei se
apocalítico). Percurso que tomarão Caeiro ou Campos será como queiram, mas
dentro do distrito de Lisboa. Como acontece nos dois textos-modelo,
acompanharemos o percurso do nosso herói até à entrada no espaço que lhe
servirá de residência. (Há nisto uma pequena incongruência, de que nos vamos
abstrair: Caeiro morrera, segundo Pessoa, logo em 1915.)
Devem aproveitar
para assumirem uma perspetiva, uma focalização, através do heterónimo que
escolherem, o que pode exigir reverem, recordarem agora, a sua biografia e
textos. O narrador, porém, será de 3.ª pessoa.
Outra
condicionante da vossa redação: será em três parágrafos. Cada um deles, terá
cada período iniciado pelas iniciais de um nome vosso (podem ser os três nomes de que mais gostem,
mas incluam aquele por que os trato — quanto a Tita, Bea ou Botea, acrescentarão aos seus dois nomes, o de batismo e o apelido, talvez os próprios hipocorísticos «Tita», «Bea», «Dani?»; os is gregos da Emilly, da Tita, da Leonor (9.ª), já não sei se de mais alguém, podem dar lugar a um I; descartem os «de», «dos», «e»). Notem que a
extensão de cada parágrafo não depende assim tanto do vosso nome, já que a
dimensão de cada período é determinante (as Anas escreverão três períodos
um pouco mais longos; as Côrtes-Reais e as Pshenichnayas usarão estilo mais segmentado).
Deixo exemplo meu
(os períodos seguem as letras de LUIS ANTONIO PRISTA — acentos não
interessam). No entanto, em vez de Caeiro ou de Campos, socorro-me de Cesário
Verde, para não lhes roubar ideias. O meu texto tem 450 palavras; o vosso não
poderá exceder as 500 nem convém que tenha menos do que 400.
O ano da morte de Cesário Verde
«Lumiar,
por favor; aliás, Paço do Lumiar», pediu ao taxista, que teria preferido levar
um estrangeiro, o já trintão com resquícios de adolescente frágil (coisas da
tuberculose e da genética genovesa dos Verde), sem deixar de resguardar a tosse mas não os ouvidos de tísico e, muito menos, os olhos de quem tudo quer registar. Uma razão o levara
a escolher aquele lugar, onde chegara a viver (e, desvende-se, a morrer), a conselho médico: ser um
lugarejo com bons ares, no campo. Isso era bom para a sua maleita,
diziam-lhe. Só lamentava ir ficar tão longe do centro da cidade, ainda
que houvesse decerto novos bairros no que julgava ser ainda um arrabalde de
Lisboa e, se assim fosse, poderia calcorreá-los (tanto o fascinavam os cheiros proletários e
cores burguesas da capital como a alegria dos saloios sãos ou as moradias de
novos-ricos).
A velocidade profissional a que iam pela via rápida que
ligava a Praça de Espanha ao Lumiar agoniava-o, entontecia-o. Nada a que
não estivesse habituado. Toda a sua curta vida no século XIX fora
pontuada por essa fronteira permeada entre a indisposição e a fruição dos
ruídos, dos aromas, dos matizes de cor. O motorista chamava-lhe a
atenção para o colorido de um edifício enorme à sua esquerda, todo revestido de
azulejos verdes e amarelos, tão garrido que, numa transfiguração digna das couves tornadas corpos, apesar de ser afinal de estádio em flores, lhe lembrava os girassóis de Van
Gogh, pintor mais impressionista do que ele próprio. Não conhecia, é
claro, estádios de futebol, embora lhe interessasse o estrangeirismo football,
nem percebia as ironias maledicentes daquele benfiquista pré-Uber. Ignorava
quem fossem o Varandas (mesmo se no «Sentimento» pusera uns «querubins nas varandas»), o Rúben, o Bruno ou o JJ do Covid-19 inconclusivo. O seu mundo, porém, era também
esse, o dos quotidianos de chauffeurs, da energia dos desportistas ou
dos operários, a náusea frenética das ruas de Lisboa, enfim.
Passaram em frente ao Paço do Lumiar. Repentinamente,
o Mercedes parou, tinham chegado ao destino. Isabel, a jornalista freelancer
em cujo apartamento de três assoalhadas se instalaria (o quarto, carote, era ainda
assim comportável para quem pusera de lado os dinheiros herdados do trespasse da
casa de ferragens da rua do Ouro), foi recebê-lo. Subitamente, Cesário reganhou
vigor perante a jovialidade da licenciada pela Escola Superior de Comunicação
Social, a Benfica. Tirou uma nota de vinte euros, que estendeu a um Senhor
Alberto admirado com tanta generosidade da parte daquele quase rapazola informal.
Agarrou-lhe na mala e, pressuroso, levou-a até ao elevador que conduziria
o nosso poeta até um quarto minúsculo de um quarto andar com uma nesga de vista para o Museu do Teatro.
(Repito. Escrevam o vosso texto a computador,
mas não mo enviem ainda. Na próxima aula, direi como farão; juntar-lhe-ão outro
pequeno escrito provavelmente.).
TPC — Dá um relance a esta ficha, já corrigida, do Caderno de atividades,
sobre «Dêixis».
#
<< Home