Sunday, August 20, 2017

«Un Soir à Lima» (de Fernando Pessoa)



De 17 de setembro de 1935 (dois meses e treze dias antes de morrer) datou Pessoa um texto que não escreveu de uma só vez, o que se deduz de serem muitos e diferentes, e também quanto a instrumento de escrita, os fragmentos de papel por que se reparte este longuíssimo poema. De resto, a exata ordem dos fragmentos não é clara.
O poema é sobretudo uma memória da infância em Durban, dos serões e da mãe, espoletada pela audição de uma composição musical transmitida na «radiophonia». Ouvida na rádio — em Portugal, recém-nascida por esses anos da década de trinta —, a «sérénade» «Un Soir à Lima», do belga Félix Godefroid, o poeta lembra-se dos serões em que a mãe tocava ao piano a mesma música.
No vídeo, usa-se como fundo sonoro precisamente «Un Soir à Lima», tocada ao piano por Phillip Sear. O texto lido em voz alta são os vv. 1-100, iniciais, e os vv. 288-328, os finais (omitem-se, portanto, os cento e oitenta e sete versos do meio, mais de metade do poema). A leitura em voz alta devia ter sido mais ensaiada. Os slides são imagens dos manuscritos correspondentes à parte que está a ser lida. O ouvinte pode assim ir experimentando decifrar o cursivo de Pessoa, o que, dada a ajuda do que se vai ouvindo, até é bastante exequível.