«Un Soir à Lima» (de Fernando Pessoa)
De 17 de setembro de 1935 (dois meses e treze dias antes de morrer) datou
Pessoa um texto que não escreveu de uma só vez, o que se deduz de serem muitos e
diferentes, e também quanto a instrumento de escrita, os fragmentos de papel
por que se reparte este longuíssimo poema. De resto, a exata ordem dos
fragmentos não é clara.
O poema é sobretudo uma memória da infância em Durban, dos serões e da
mãe, espoletada pela audição de uma composição musical transmitida na «radiophonia».
Ouvida na rádio — em Portugal, recém-nascida por esses anos da década de trinta
—, a «sérénade» «Un Soir à Lima», do belga Félix Godefroid, o poeta lembra-se
dos serões em que a mãe tocava ao piano a mesma música.
No vídeo, usa-se como fundo sonoro precisamente «Un Soir à Lima», tocada
ao piano por Phillip Sear. O texto lido em voz alta são os vv. 1-100, iniciais,
e os vv. 288-328, os finais (omitem-se, portanto, os cento e oitenta e sete versos do meio, mais
de metade do poema). A leitura em voz alta devia ter sido mais ensaiada. Os
slides são imagens dos manuscritos correspondentes à parte que está a ser
lida. O ouvinte pode assim ir experimentando decifrar o cursivo de Pessoa, o
que, dada a ajuda do que se vai ouvindo, até é bastante exequível.
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