Thursday, September 08, 2022

Aula 33-34

Aula 33-34 (11 [1.ª, 3.ª], 15 [5.ª], 22/nov [4.ª]) Correção de comentário feito na última aula (ver Apresentação).

[Exemplo de comentário possível:]

Se quiséssemos associar o cartoon de David Vela Cervera a um dos géneros trovadorescos, ocorrer-nos-iam de imediato as cantigas de escárnio e maldizer, uma vez que, tal como sucede tantas vezes nesse tipo de composições medievais, também O primeiro beijo pretende criticar um costume do seu tempo — a preferência pelos meios tecnológicos na relação com os outros em detrimento do contacto direto (este comportamento é caricaturado, exagerado: um casal de apaixonados, de mãos dadas mas de costas voltadas, troca o primeiro beijo via telemóvel).

Vai até à p. 44. Ouviremos a cantiga de amor de Bernal de Bonaval cujo primeiro verso é «A dona que eu am’e tenho por senhor».

Ponho uma adaptação dessa cantiga, tendo procedido às seguintes alterações:

tirei o -d- das formas verbais de 2.ª pessoa do plural, antecipando, portanto, a síncope da consoante, que, nestes casos, se deu cerca de um século depois; e também, através de sinérese (a-e > ai), resolvi já o hiato que teria ficado ainda durante uns tempos; reverti a prótese em mostrar > amostrar;

quando havia pronomes em ênclise, deixei espaço para escreverem vocês o pronome que usaríamos hoje, em português europeu;

omiti o pronome com funções de sujeito sempre que, em português atual, ficava melhor estar o sujeito subentendido;

traduzi o «senhor», o «en», o «ca», o «u» medievais; adaptei alguns tempos; corrigi grafias; prescindi de apóstrofo (’); e adotei a ordem das palavras mais comum.

A dona que amo e tenho por senhora

mostrai-___, Deus, se isso vos prouver [(‘agradar’)]

senão, dai-___ a morte.

 

A que tenho por lume destes meus olhos

e por que [pela qual] choram sempre, mostrai-___, Deus.

senão, dai-___ a morte.

 

Essa que fizestes parecer melhor

de quantas sei, ai, Deus, fazei-___ vê-___ [*fazei-ma ver]

senão, dai-___ a morte.

 

Ai, Deus, que me fizestes amá-___ mais do que a mim,

mostrai-me onde possa falar com ela.

senão, dai-___ a morte.

 

Dá um relance à tira de banda desenhada no ponto 1 da mesma p. 44. Completa (com o cuidado de que tudo fique irrepreensível também em termos de sintaxe):

Os autores do manual ter-se-ão lembrado de reproduzir aqui esta banda desenhada, porque a historieta aí desenvolvida pode relacionar-se com certas características das cantigas de amor, uma vez que . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Resolve o item 4 de «Educação literária», p. 45:

Nesta cantiga, para salientar a beleza e a singularidade da mulher amada, são utilizados diferentes recursos expressivos: no verso «A que tenh’eu por lume destes olhos meus» (v. 4) está presente uma ______; a hipérbole ocorre, por exemplo, em _________.

Já agora, se te despachares, atenta nos itens 1, 2, 3 de «Gramática»:

1 1 = ___; 2 = ___; 3 = ___

2 [na verdade, é uma oração subordinada adjetiva relativa que está coordenada logo com outra oração]

«que eu amo / e tenho por senhor»

3 [exemplos de conjunções (ou locuções) subordinativas concessivas: «embora», «apesar de que», «ainda que», «mesmo que», «se bem que», ...]

Na p. 59 temos uma cantiga de escárnio e maldizer de Pero Garcia Burgalês que satiriza, ridiculariza, o tópico que a cantiga de amor que vimos evidenciava — o facto de os trovadores dizerem preferir a morte se não fossem correspondidos pela dama a quem se dirigiam. Reproduzo a versão, modernizada, de Natália Correia (dessa cantiga de escárnio cujo verso inicial original é «Roy Queimado morreu com amor»):

 

Foi Rui Queimado morrer de amor

em seus cantares, ao que dizia,

por uma dama e porque queria

mostrar engenho de trovador.

Como ela lhe não quis valer,

fez-se ele em seus cantares morrer,

mas ressurgiu ao terceiro dia.

 

Demonstrar quis o seu fervor

por uma dama, mas eu diria:

preocupado com a mestria

dos seus cantares, tem o pendor

de, embora morto, lograr viver.

Isto só ele pode fazer

porque outro homem não o faria.

 

E já da morte não tem pavor,

se não mil vezes a temeria.

Próprio é da sua sabedoria

viver enquanto morto for.

Em seus cantares pode morrer

estando vivo. Maior poder

obter de Deus não poderia.

 

Desse-me Deus igual poder

de, embora morto, poder viver,

e nunca a morte me assustaria.

Depois de vermos o trecho de Último a sair, em que as ações de Bruno Nogueira ficam nos antípodas do código do amor cortês na lírica medieval, completa a tabela com as seguintes palavras (aqui desordenadas):

ator / trovador / sussurrar / Bruno / desejo / religiosa / proximidade / voyeurismo / regra / elogia / assediar / honestidade / intervêm / intervém / nobres / inacessível

Cantigas de amor

Último a sair, episódio Bruno-Sónia

O sujeito poético é um trovador, que se dirige à sua «senhor», que não _______ e é um ser sobretudo idealizado, incorpóreo.

Bruno Nogueira é quem inicia o diálogo, mas tanto o homem (Bruno) como a mulher (Sónia Balacó) _______.

Ambiente é palaciano, o «eu» (trovador) e a dama são _____. Origem das cantigas de amor é provençal (lembre-se que a primeira dinastia portuguesa tinha ascendentes franceses), ao contrário das cantigas de amigo, provavelmente autóctones.

Contexto imita o de um reality show, supondo-se que as personagens em causa se comportam como jovens ______ e modelo-atriz.

Amor é mais aspiração do que experiência sentimental; tudo está sujeito a convenções; ______ respeita a senhor[a] a quem presta vassalagem amorosa, à maneira cavaleiresca.

______ não se coíbe de fazer propostas bastantes explícitas, mais físicas do que espirituais, e trata a sua colega sem qualquer reserva ou delicadeza.

Pretende-se prolongar o estado de tensão, sem chegar ao fim do _______.

Bruno não resiste a seduzir Sónia sob os lençóis, mesmo quando se supunha ficarem apenas a _______.

______ da senhor[a] não poderia ser posta em causa, não havendo quaisquer alusões impróprias, sem se sair nunca da esfera espiritual; a «mesura» implicava que não se poderia suspeitar da identificação da amada.

Bruno não se preocupa em preservar a imagem de Sónia, o seu estratagema passa mesmo por aproveitar o ______ do público, o que implicava expor ao máximo a sua relação com a amada.

O sujeito poético, o trovador, superlativa a senhor[a], que elogia com devoção quase ________.

Sem grande sentido do charme, Bruno é várias vezes desagradável com Sónia, que deprecia mais do que _______.

distância entre trovador e a senhor[a], que lhe é ______.

Haveria _____ máxima entre amante e amada, se dependesse apenas de Bruno.

Fidelidade é outra _______ imposta ao trovador.

Bruno, assim que Sónia se lhe esquiva, vai _______ Luciana e Débora.

Trechos de 1986, tirados dos episódios 1 (https://www.rtp.pt/play/p4460/e334913/1986), 3 (https://www.rtp.pt/play/p4460/e335569/1986), 11 (https://www.rtp.pt/play/p4460/e599403/1986)

Completa esta síntese relativa aos trechos de episódios de 1986 — série criada por Nuno Markl, ex-aluno da Secundária de Benfica — a que acabámos de assistir:

Tiago admira Marta como um trovador vê a sua «senhor» numa cantiga de ______.

Marta é como uma «senhor» (louvada em cantigas de _____) que decidisse descer do seu pedestal de deusa e experimentar os namoros concretos das raparigas que são o sujeito das cantigas de _______ (e escolhe como «amigo», isto é, namorado, o estroina Gonçalo).

Gonçalo socorre-se de estratégias de trovador apaixonado (tenta cantar à sua dama; obedece, ainda que renitente, às imposições da «senhor»; finge enquadrar-se no ambiente «palaciano»), mas, no fundo, preferia a espontaneidade realista do contexto popular das cantigas de ________.

avó de Marta, a gótica Patrícia — e talvez também um pouco Sérgio — exercem a crítica, a sátira, típicas das cantigas de __________.

Ao longo dos trechos de 1986 que vimos há pouco, surgiram estes versos de quatro canções diferentes (ou dos respetivos incipit ou do refrão):

Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pensamos no futuro amanhã

Sempre que o amor me quiser

Estamos aqui, neste fim do mundo

Escreve um poema, não rimado, que incorpore (como versos que ficarão em algum ponto do teu texto) cada um dos quatro versos que retirei das canções ouvidas em 1986. Evita espaços interestróficos (ou faz quase nenhum). Procura que o poema seja «lírico», não brincalhão.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

TPC — Experimenta resolver — ou relanceia-a apenas — a ficha do Caderno de Atividades sobre ‘Apreciação crítica’ (pp. 35-36), que fica, já corrigida, em Gaveta de Nuvens.

 

 

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