Aulas (1.º período, 1.ª parte: 1-20)
Aula 1-2 (16 [3.ª, 5.ª, 9.ª] e 17/set [4.ª])
Algumas indicações úteis ao trabalho ao longo do ano (remetendo-se também para
‘Preceitos’, em Gaveta de Nuvens),
programa e calendário.
Os parágrafos que se seguem tratam do
autor de que este ano mais falaremos, Fernando Pessoa. Deves assinalar a sua
veracidade (V) ou falsidade (F). Estão escondidas subtis
impossibilidades, anacronias, mas também é preciso ter em conta que Fernando
Pessoa tinha efetivamente muitas idiossincrasias. (O aluno que obtiver melhor
resultado receberá uma parvoíce qualquer, tipo prémio Tia Albertina.)
Fernando Pessoa
chamava-se António porque nasceu no dia de Santo António (em Lisboa, no Largo
de São Carlos, a 13 de junho de 1888).
Estudou em Durban (na
atual África do Sul, na região de Natal, então uma colónia inglesa), onde o
padrasto era cônsul. Aprendeu a dominar tão bem o inglês, que venceu prémios
literários e se distinguiu como o melhor aluno da região (o que aliás, em
princípio, lhe deveria ter dado acesso a Oxford — era o prémio oficial —, mas
não aconteceu).
Fernando Pessoa e o
Mahatma Gandhi viveram ambos na África do Sul pela mesma época (no início do
século XX).
Fazendo-se passar por
psiquiatra, com o nome de Faustino Antunes, por razões clínicas interessado em
informar-se sobre a saúde mental de um seu paciente — precisamente, o próprio
Pessoa —, já em Lisboa, em 1907, Fernando Pessoa escreveu a antigos professores
e condiscípulos da Durban High School, a pedir-lhes um retrato psicológico daquele
seu suposto doente. Houve respostas, cuidadosas e detalhadas.
Há pouco mais de cem
anos, em agosto de 1909, Pessoa viajou até Portalegre, para ir comprar
maquinaria de tipografia. É provável que nos vinte e seis anos anos que se
seguiram, até à sua morte, nunca mais tenha saído para lá dos arredores de
Lisboa. Quanto à tipografia que foi comprar (para a Empresa Íbis, Tipográfica e
Editora), quase nada nela se imprimiu.
Na Olisipo, editora que
criou, Pessoa publicou livros considerados escandalosos, como as Canções, de António Botto, poeta,
homossexual (e assumido frequentador dos urinóis de Lisboa), ou Sodoma divinizada, de Raul Leal, que tinha
«uma pulsão irresistível para o bizarro e o excessivo». Pessoa defendeu sempre
a liberdade de expressão, sem receio de afrontar as indignações e os movimentos
de censura.
O poema em inglês Antinous (1918), raro caso de livro de
Pessoa publicado em vida, dir-se-ia hoje ser de apologia da pedofilia e o
próprio poeta o considerava obsceno.
Os heterónimos são
autores fictícios, com biografias inventadas por Pessoa, cujos nomes subscrevem
textos concebidos pelo poeta nos estilos de cada um. Os mais importantes, os
verdadeiros heterónimos, serão Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis.
Costuma ser referido como semi-heterónimo Bernardo Soares. No entanto, se
quisermos considerar os vários autores fictícios criados por Pessoa,
contabilizaremos cento e trinta e seis.
Um dos heterónimos de
Pessoa — e que é autor de contos policiais em inglês — chama-se Cocó.
«Amorzinho», «Terrível
Bebé», «Vespa vespíssima», «Bebé fera», «Bebezinho mau», «Ophelinha pequena»,
«Bombom», «Boquinha doce», «Minha bonequinha»,
«Meu Íbis chamado Ophélia», «Íbis do Íbis da Íbis do Íbis», «Bebé
rabino», «Bebé do Nininho», «Anjinho bebé», «Anjinha bué lindinha» e
«Nenuquinho fofinho» são nomes carinhosos por que Fernando (Pessoa), nas suas
cartas de amor, trata Ofélia (Queirós), com quem namoriscou em 1920 e no final
de 1929.
Há poemas de Pessoa
escritos em sessões de espiritismo e a meias com espíritos. A letra de Pessoa surge-nos
então com um desenho diferente.
O aforismo «Penso logo
existo» é da autoria de Pessoa.
O texto «Ultimatum», do
heterónimo Álvaro de Campos, publicado em 1917 no número único da Portugal Futurista, inclui, a letras
garrafais, a exclamação «Cocó!».
Pessoa teve intervenção
decisiva num episódio espetacular que envolveu o mágico internacional, e
espião, Aleister Crowley, que se teria suicidado (ou teria sido assassinado) na
Boca do Inferno.
O poema de Álvaro de
Campos cujo primeiro verso é «Ao volante do Chevrolet pela estrada de Cintra»,
de 1928, teve que ver com a promoção de um modelo daquela marca de automóveis
que acabava de ser comercializado em Portugal.
Fernando Pessoa deu-se
sempre bem com padrasto, com o irmão do padrasto e com o cunhado com que teve
de coabitar.
Ia aos escritórios em
que trabalhava também ao domingo.
Foi dispensado da colaboração
em O Jornal porque a Associação dos
Motoristas de Lisboa protestou, ofendida com uma referência que Pessoa fizera
numa das suas crónicas aos chauffeurs
(que, segundo ele, guiariam mal).
Já no último ano de
vida, em 1935, Pessoa não compareceu na sessão de entrega de prémios de
concurso literário do SPN (Secretariado de Propaganda Nacional), que vencera na
categoria ‘poema’, com o livro Mensagem,
no valor de cinco mil escudos (correspondente a mais do que um salário anual de
um professor).
Como causa da morte de Fernando
Pessoa, a 30 de novembro de 1935, tem-se indicado uma crise hepática (teria o
fígado demasiado deteriorado pelo muito que bebia). A última frase que escreveu,
já no Hospital de São Luís dos Franceses, para onde fora levado dois dias
antes, foi «I know not what to tomorrow will bring».
Fontes: muitas já
recorrentes nas biografias sobre Pessoa. De qualquer modo, algumas das informações
mais específicas retirei-as, por exemplo, de António Mega Ferreira, Fazer pela vida. Um retrato de Fernando
Pessoa, o emprendedor, Lisboa, Assírio & Alvim, 2005; Fernando Pessoa, Eu sou uma antologia. 136 autores fictícios,
edição de Jerónimo Pizarro e Patricio Ferrari, Lisboa, Tinta-da-China, 2013; Carlos
Pittella & Jerónimo Pizarro, Como
Fernando Pessoa pode mudar a sua vida. Primeiras lições, Lisboa, Tinta-da-China,
2017.
TPC — Em Gaveta
de Nuvens lê ‘Preceitos’. Relanceia também tudo o que marquei a azul
turquesa.
Aula 3 (17 [5.ª], 18 [4.ª], 19 [9.ª], 20/set [3.ª])
Critérios para distinguir funções
sintáticas
funções ao nível da frase
O sujeito
concorda com o verbo. Se experimentarmos alterar o número ou pessoa do sujeito,
isso refletir-se-á no verbo que é núcleo do predicado:
Caiu a cadeira.
→ Caíram as cadeiras (Para se confirmar
que «a cadeira» não é aqui o complemento direto: → *Caiu-a.)
O
predicado
pode ser identificado se se acrescentar «e» + grupo nominal + «também» (ou «também não») à oração:
O Egas partiu para o Dubai. → O Egas partiu para o
Dubai e o Ivo também (também
partiu para o Dubai).
O vocativo
distingue-se do sujeito porque fica isolado por vírgulas e não é com ele que o
verbo concorda. Antepor-lhe um «ó» pode confirmar que se trata de vocativo.
Tu,
Teresa, não percebes nada disto! → Tu, ó Teresa,
não percebes nada disto!
Para
distinguir o modificador de frase do modificador do grupo verbal, pode
ver-se que as construções que ponho à direita (a interrogar ou a negar) são
possíveis com o modificador do grupo verbal mas não com o advérbio que incide
sobre toda a frase.
Evidentemente, a Uber tem razão. → *É evidentemente que a Uber tem razão?
Talvez Portugal ganhe. →
*Não talvez Portugal ganhe.
Com um modificador de grupo verbal o resultado
seria gramatical:
Ele come alarvemente. → É alarvemente que ele come?
funções
internas ao grupo verbal
O
complemento
direto é substituível pelo pronome «o» («a», «os», «as»):
Dei mil doces ao diabético. → Dei-os ao diabético.
O
complemento
indireto, introduzido pela preposição «a», é substituível por «lhe»:
Ofereci uma sopa de nabiças ao arrumador.
→ Ofereci-lhe uma
sopa de nabiças.
O
complemento
oblíquo, e mesmo quando usa a preposição «a» (uma das várias que o
podem acompanhar), nunca é substituível por «lhe»:
Assistiu
ao jogo contra as Ilhas Faroé. → *Assistiu-lhe.
Para
identificarmos um modificador do grupo verbal, podemos
fazer a pergunta «O que fez [sujeito] + [modificador]?» e tudo soará
gramatical:
Marcelo
fez um discurso na segunda-feira.
Que fez Marcelo na segunda-feira? Fez um
discurso.
Se se tratar de um complemento oblíquo, o resultado já
será agramatical:
Dona Dolores foi à Madeira.
*Que
fez Dona Dolores à Madeira? Foi.
O
complemento
agente da passiva começa com a preposição «por», precedida por verbo
na passiva, e podemos adotá-lo como sujeito da mesma frase na voz ativa:
A casa foi comprada por Monica Bellucci. → Monica Bellucci comprou a casa.
As
joias de Kim foram roubadas pelos ladrões. → Os ladrões roubaram as joias de Kim.
O
predicativo
do sujeito é uma função sintática associada a verbos copulativos
(como «ser», «estar», «parecer», «ficar», «permanecer», «continuar», mas também
«tornar-se», «revelar-se», «manter-se», etc.). Atribui uma qualidade ao sujeito
ou localiza-o no tempo ou no espaço.
Os taxistas andam revoltados.
A Violeta está em casa.
O
predicativo
do complemento direto é
uma função sintática associada a verbos transitivos-predicativos (como «achar»,
«considerar», «eleger», «nomear», «designar» e poucos mais), os que selecionam
um complemento direto e, ao mesmo tempo, lhe atribuem uma
qualidade/característica.
A ONU elegeu Guterres secretário-geral.
(Para confirmar que «Guterres» é o complemento direto e «secretário-geral», o
predicativo do complemento direto: → A ONU elegeu-o secretário-geral.)
Eles deixaram a porta aberta. (→ Eles deixaram-na aberta.)
Cfr., porém, «Comprei o bolo
podre», que pode ter duas interpretações: uma em que todo o segmento «o bolo
podre» é o complemento direto (‘Comprei-o’); e outra em que «o bolo» é o
complemento direto e «podre» é o predicativo do complemento direto (‘Comprei-o podre’).
funções
internas ao grupo nominal
O
complemento
do nome, quando tem a forma de grupo preposicional, é selecionado
pelo nome (ou seja, é obrigatório, mesmo se, em alguns casos, possa ficar
apenas implícito). Os nomes que selecionam complemento são muitas vezes
derivados de verbos.
A absolvição do réu
desagradou-me. (Seria aceitável «A absolvição desagradou-me» num contexto em
que a referência ao absolvido ficasse implícita.)
A
necessidade de estudar gramática é uma balela. (*A necessidade é uma
balela.)
Quando tem a forma de
grupo adjetival, o complemento do nome
constitui uma unidade com o nome, ficando tão intimamente ligado a ele, que, na
sua ausência, aquele parece ter já outro sentido. (Reconheça-se que estes casos
não são fáceis de distinguir de certos modificadores restritivos do nome.)
A previsão meteorológica falhou.
Os conhecimentos informáticos são úteis.
O
modificador
restritivo do nome restringe a realidade que refere, mas não é
selecionado pelo nome (não é «obrigatório»).
Comprei o casaco azul.
Cão que ladra não morde.
O
modificador
apositivo do nome, sempre isolado por vírgulas, travessões ou
parênteses, não restringe a realidade a que se refere nem é selecionado pelo
nome (a sua falta não prejudicaria o sentido da frase).
O
filme de que te falei, Birdman,
está a acabar.
O
Renato Alexandre, que é amigo do seu amigo, conhece o Busto.
função
interna ao grupo adjetival
O
complemento
do adjetivo é selecionado por um adjetivo (embora seja,
frequentemente, opcional).
Ela ficou radiante com os presentes. (Ela
ficou radiante.)
Isso é passível de pena máxima. (*Isso é
passível.)
Os itens seguintes — sobre funções
sintáticas — são retirados da Nova
Gramática didática de português (Carnaxide,
Santillana, 2011), com quase nenhumas adaptações:
Seleciona, em cada conjunto de frases
apresentadas nas alíneas abaixo, aquela cujo constituinte destacado não
desempenha a função sintática indicada.
Complemento direto
A
Marlene vendeu o barco na semana
passada.
Os
velejadores perderam a regata.
O
nadador-salvador atirou a boia ao náufrago.
As
focas comem peixe.
Complemento oblíquo
Não
te aconselho a fugir.
Ele
bateu ao irmão.
Gosto
de passear.
Duvido
disso.
Complemento agente da
passiva
O
Brasil foi descoberto por Pedro Álvares
Cabral.
O
Porfírio anseia pelo teu regresso.
O
barco foi desviado da rota pelo vento.
Os
papéis foram organizados pela secretária.
Predicativo do
complemento direto
A
Luana continua na mesma empresa.
Os
padrinhos estimavam-no como filho.
O
juiz considerou-o inocente.
Os
vizinhos tinham-no por caloteiro.
Atenta nas frases que se seguem e,
depois, classifica as afirmações abaixo como verdadeiras (V) ou falsas (F), e
corrige as falsas.
1.
Vestiste a tua camisola lilás.
2.
D. Maria I, a Piedosa, foi a primeira rainha
reinante de Portugal.
3.
A minha mãe, que está de férias, vai para o Algarve
amanhã.
4.
A ideia da Ana Alice é interessante.
5.
O meu irmão mais novo magoou-se.
6.
Não te esqueças de trazer leite, Rolando.
A — Na frase 1, o constituinte destacado desempenha a função
sintática de modificador restritivo do nome.
B — Na frase 2, o constituinte
destacado é um complemento do nome.
C — Na frase 3, o constituinte
destacado é um modificador restritivo do nome.
D — Na
frase 4, o
constituinte destacado desempenha a função sintática de complemento do nome.
E — Na frase 5, o constituinte
destacado é um modificador explicativo do nome.
F — Na frase 6, o constituinte destacado
desempenha a função sintática de vocativo.
Os dois itens seguintes — sobre funções
sintáticas — retirei-os de Desafios.
Português. 11.º ano. Caderno de Atividades (de Alexandre Dias Pinto,
Carlota Miranda, Patrícia Nunes; Carnaxide, Santillana, 2011), alterando apenas
alguns nomes próprios.
Identifica a função sintática
desempenhada pelo constituinte destacado nas frases:
a) O Adão e a Eva chegaram agora.
b) O filme era
muito
emocionante.
c) Ofereceram-me um livro muito
interessante.
d) O juiz declarou-o culpado.
e) O texto foi entregue pela minha aluna.
f) A venda das
camisolas
foi um sucesso.
g) O Marciano,
que
é um excelente dançarino, venceu o
concurso.
h) Prometemos
que
regressaríamos daí a dois anos.
i) É fantástico
que
venhas connosco.
Associa cada
afirmação de A à hipótese de B que a completa.
A
|
B
|
a) O sujeito da frase «Fala-se na entrada no
mercado de carros mais ecológicos.» classifica-se como...
b) Na frase «Naquela
noite,
chegámos cansadíssimos a casa.», o constituinte destacado desempenha a função
sintática de...
c) Na frase «A casa parecia muito sossegada.», o constituinte destacado desempenha a função sintática
de...
d) Na frase «Ele encaixou a peça no puzzle.», o constituinte destacado desempenha a função sintática
de...
e) Na frase «Eles deram-nos
informações muito úteis.», o constituinte destacado desempenha a função
sintática de...
f) Na frase «Há quadros muito interessantes
neste museu.» não há...
g) Na frase «Eles entraram na casa amarela.», o constituinte destacado desempenha a função sintática
de...
h) Na frase «A
Fátima, a melhor aluna da turma, teve uma nota excelente.»,
o constituinte destacado desempenha a função sintática de...
|
1. predicativo do
sujeito.
2. modificador
restritivo do nome.
3. sujeito nulo
indeterminado.
4. sujeito.
5. complemento oblíquo.
6. modificador do grupo
verbal.
7. complemento indireto.
8. modificador apositivo do nome.
9. predicado.
|
Itens com funções sintáticas em exames nacionais dos últimos tempos
2019, 1.ª fase
[trecho do texto que era usado:]
Temos de ser capazes
de perceber que tal e tal caminho não nos conduzem na direção ambicionada, ou
que tal e tal combinação de palavras, cores ou números não se aproxima
da visão intuída na nossa mente. Recordamos com orgulho os momentos em que
os nossos inspirados Arquimedes gritam «Eureca!» no banho; somos menos
propensos a recordar os muitos mais momentos em que eles, como o pintor
Frenhofer da história de Balzac, olham para a sua obra-prima desconhecida e
dizem: «Nada, nada!... Não terei produzido nada!».]
6. Identifique
as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões:
a) «de palavras,
cores ou números» (linhas 17 e 18);
b)
«os momentos em que os nossos inspirados Arquimedes gritam “Eureca!” no banho»
(linhas 18 e 19).
6.
a) . . . . . . . | b) . . . . . . .
2019, 2.ª fase
[trecho do texto que era usado:]
Esta é uma pergunta
minha também. O meu desejo. E aqui, sentado a esta mesa cheia de papéis,
escrevo isto comovidamente.
[...] não via a Gija
desde os cinco anos, portanto há cerca de vinte e de súbito ela estava ali, no
meio das tais pessoas a olharem, gorda, de cabelos brancos e (como se explica
isto?) soube logo que aquela pessoa era ela.
6. Identifique
as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões:
a) «de papéis» (linha
16);
b) «que aquela pessoa
era ela» (linha 29).
6.
a) . . . . . . . | b) . . . . . . .
2018, 1.ª fase
[trecho do texto que era usado:]
Assim, o termo ganhou
uma extensão invulgar que as metáforas ainda alargaram mais. Ora, em
semântica, é regra fundamental que o significado é o uso. Dito de outro modo:
para se saber o que significa uma palavra ou uma expressão, analisa-se o
contexto em que é usada. E, santo Deus!, quão vastos são os contextos de
«saudade» na nossa cultura. Usa-a o fado em letras sobre amores destroçados que
recordam momentos de idílio em comum;
6. Identifique
as funções sintáticas desempenhadas pelo pronome relativo «que»:
a) na linha 20;
b) na linha 24.
6.
a) . . . . . . . | b) . . . . . . .
2018, 2.ª fase
[trechos do texto que era usado:]
[...] Não consegue,
sobretudo, fazer despontar nos indivíduos uma chama que vá além do mero
bem-estar, um ideal que supere o horizonte de uma melhor distribuição dos
rendimentos.
[...] É certo que
estas coisas ainda existem, mas são condenadas e combatidas como nunca o
foram no passado.
6. Identifique
as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões:
a) «dos rendimentos»
(linhas 14 e 15);
b) «que estas coisas
ainda existem» (linha 27).
6. a) . . . . . .
. | b) . . . . . . .
Nos espaços à direita da letra da canção,
escreve a função sintática dos constituintes que sublinhei:
TPC —
Sobre funções sintáticas podes consultar em Gaveta de Nuvens (‘Funções sintáticas’) uma reprodução de páginas
da Nova gramática didática de português
(Carnaxide, Santillana, 2011). No manual deste ano, o mesmo assunto é tratado nas pp. 8-12 do
anexo. O manual do ano passado, o do 11.º ano, era muito bom na apresentação
dos critérios para distinguir as funções sintáticas (pp. 374-380). Também o
manual do 9.º ano, P9, pp. 280-282,
ainda pode ser útil.
Aula 4-5 (18 [9.ª, 3.ª], 19/set [5.ª, 4.ª]) Debruça-te
sobre o poema na p. 37 — «Ela canta, pobre ceifeira», de Fernando Pessoa.
Completa as lacunas nas respostas que se seguem.
[Sobre
as três primeiras estrofes (1-3), em
que o poeta se detém na ceifeira]
Como caracteriza o poeta o canto da ceifeira?
O canto da ceifeira
brota de uma voz simultaneamente alegre e _____, é suave e musical como um
________.
Que
recursos estilísticos melhor contribuem para essa caracterização?
A
expressão «a sua voz, cheia / de
alegre e anónima viuvez» (vv. 3-4) contém uma dupla __________ e um paradoxo
expressivos; igualmente significante é a metáfora «______» (v. 5).
A
«pobre ceifeira» canta, «julgando-se feliz» (1-2). Explica o efeito semântico
da anteposição do adjetivo «pobre» ao nome «ceifeira».
O adjetivo «pobre», anteposto ao
substantivo «ceifeira», expressa
a apreciação {escolhe} subjetiva/objetiva
que o sujeito poético faz da mulher — ‘pobre’, porque não sabe. Se o mesmo adjetivo
estivesse colocado depois do substantivo, indicaria a condição social da
ceifeira (e teria então o seu valor {escolhe}
conotativo/denotativo).
O
que sente o poeta ao ouvir o canto?
Ao ouvir o canto, o
poeta sente-se, paradoxalmente, ________ e ________.
[Sobre as três estrofes finais (4-6), em que o
poeta se passa a analisar a si próprio]
«Ah,
canta, canta sem razão! / O que em mim sente ‘stá pensando» (vv. 13/14). Mostra
como estes versos exprimem a antítese ceifeira/poeta (sentir/pensar).
A ceifeira canta «sem
razão», isto é, sem pensar. Pelo contrário, o sujeito poético, que sente
tristeza e alegria ao ouvir o canto, pensa no que sente, não consegue sentir
sem _______. Nele, a sensação converte-se em ___________, intelectualiza-se.
Explicita a
ambição paradoxal que o poeta expressa no final do poema.
O
poeta gostaria de ser a ceifeira com a sua «alegre inconsciência», o que é o mesmo que dizer que
gostaria de sentir sem pensar, mas gostaria, simultaneamente, de ser ele mesmo,
de ter a consciência de ser ____________. O que o poeta deseja, afinal, é unir
o sentir ao ___________.
«A ciência /
pesa tanto e a vida é tão breve!» (vv. 20-21). Que sentimentos o poeta exprime
com esta afirmação?
É com tristeza e desolação que o poeta
afirma a consciência que tem do peso da ciência, do pensamento, que impede que
a vida, que é tão breve, seja vivida inconsciente e _________.
Identifica
o desejo que o poeta expressa no final do poema (vv. 19-24).
No final do poema, o
poeta exprime o desejo de se deixar invadir e conduzir pelas sensações
despertadas pela _______ — o céu, o campo — e pelo canto da ceifeira. Este
desejo de sentir equivale ao desejo de não _____.
Veremos um sketch com ceifeiras (série Barbosa) que nos mostra um «mundo ao
contrário» do de Pessoa. A genuinidade das ceifeiras é aqui procurada por um
jornalista que, se não lhes inveja a inocência, pelo menos acredita na sua
espontaneidade, que pretende aproveitar numa reportagem «etnográfica». Esta
presunção de superioridade — o jornalista crê ser mais racional do que a boa
gente do campo, que julga submissa — vai ser beliscada pela progressiva
revelação das alegadas simples mulheres rústicas.
Passa ao poema, também do Pessoa
ortónimo, «Gato que brincas na rua» (na p. 38). Porei no quadro o que pretendo
faças com ele.
Estabelece a relação
entre os dois textos («Gato que brincas na rua» e «Ela canta, pobre ceifeira»),
no que diz respeito ao desejo impossível expresso em ambos — compatibilizar o
sentir e o pensar. Inclui umas duas ou três citações de «Gato que brincas na
rua». Usa cerca de cem palavras. A caneta.
. . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
TPC — Vê o que digo sobre Projeto de leitura em Gaveta de Nuvens e começa a tratar do
assunto.
Aula 6-7 (23 [3.ª, 5.ª], 24 [4.ª], 25/set [9.ª]) Correção
do comentário sobre «Ela canta, pobre ceifeira»/«Gato que brincas na rua».
Quase anónima sorris
E o sol doura o teu cabelo.
Porque é que, pr’a ser feliz,
É preciso não sabê-lo?
Fernando
Pessoa, Poesias
Inéditas (1930-1935), Lisboa, Ática, 1955
Nesta quadr1a de Fernando Pessoa há uma falha de
coesão frásica (justificada pela intenção de fazer rima e pelo estatuto, entre
o da imitação de quadra popular e o da brincadeira assumida, que tem este
quarteto). Reescreve o último verso já corrigido:
v. 3 Porque é que,
pr’a ser feliz,
v. 4 _____________
O que faz que o pronome («__») tenha de
ficar anteposto ao verbo (o infinitivo «saber») é o facto de a frase ser _______.
Vejamos algumas circunstâncias que obrigam à alteração da
ordem mais normal no português europeu (a da {escolhe} próclise / mesóclise / ênclise): estar a frase na negativa, ficar o pronome numa subordinada completiva, tratar-se da variante sul-americana do português,
ter a frase certos advérbios.
Completa a coluna da direita:
Stora, por favor, dê-mo.
|
negativa >
|
Stora, por favor, não _____.
|
Comprei-o.
|
subordinação
completiva
>
|
Já te disse que _____.
|
Natal revela-se linda.
|
variante
brasileira
>
|
Natal ______ linda, né.
|
Registo-o.
|
presença
de certos advérbios >
|
Talvez __________.
|
Dístico
Ó meu menino que brincas
o dia todo na rua
e ainda pensas que a Vida
é só a vida que é tua,
fica lá no teu engano.
Não perguntes, não te apresses.
Sobra tempo pra saberes
coisas que antes não soubesses.
Sebastião
da Gama, Itinerário Paralelo, Mem Martins,
Arrábida, 2004
Estabelece analogias entre «Dístico», de
Sebastião da Gama, e «Gato que brincas na rua» (p. 38), de Fernando Pessoa,
completando a minha resposta:
O tema de «Dístico», de
Sebastião da Gama, é quase o mesmo do do poema de Pessoa «Gato que brincas na
rua» — também aqui o sujeito poético se dirige a . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . —, mas a perspetiva é diferente: . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . .
Qual é o vocativo da quintilha? Faltará
alguma vírgula? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Explica o título «Dístico» (sabendo que
não se trata de uma estrofe de dois versos, um dos significados da palavra). . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Cria um título, também de uma só palavra,
para «Gato que brincas na rua» (não, não pode ser «Gato»; nem «Brincadeira»,
nem «Rua», nem «Que»):
___________________
Escreve uma
síntese, em 90 a 105 palavras, de «A dor de pensar» (p. 38).
Recordo regras
da síntese. Ao contrário do
resumo, não tem de ser uma condensação, ordenada e proporcional, do
texto-fonte. É mais interpretativa, há já distância relativamente ao texto
original. O objetivo é dar a conhecer a ideia principal, permitindo-se até, em
alguns casos, alguma leve opinião por parte de quem sintetiza.
Assim, não é
obrigatório, nem aliás aconselhável, seguir a ordem das informações no
original; e é conveniente descartar alguns trechos e focarmo-nos no essencial,
quebrando porventura a proporcionalidade exigida num resumo.
Também
diferentemente dos resumos, na síntese não se mantêm as pessoas verbais do
original, já que passa a haver um sujeito exterior, nem os tempos, porque a
perspetiva é a de quem está a sintetizar. E indicando-se o nome do autor e o
título da obra.
Neste passo de Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa,
Jacinto do Prado Coelho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . .
TPC — Lê as pp. 32-33 do manual, sobre
«Pessoa ortónimo».
Aula 8-8R (23 [9.ª], 24 [5.ª], 25/set [4.ª, 3.ª]) Ao longo do
10.º e do 11.º revimos quase todas as classes de palavras. Faltou-nos,
porém, a dos Advérbios, uma
classe {escolhe} aberta/fechada. Depois, vamos associar uma das suas subclasses,
a dos advérbios de frase, à função sintática que desempenha, a de modificador
de frase.
Costuma
dizer-se que os advérbios qualificam verbos (como os adjetivos qualificariam,
modificariam, os nomes). Não é uma verdade exata, como se verá a seguir. As
frases que usarei como exemplos são de «Advérbios de modo não combinam com
amor» (série Zé Carlos). Completa as
lacunas com advérbio, frase, verbo, adjetivo.
Em «Você é jovem e moderadamente bela», o advérbio «moderadamente»
modifica o _____ «bela». Identicamente, em «você me deixou completamente ***»,
o _____ «completamente» está a modificar o adjetivo eufemisticamente traduzido
por ***.
Em «Efetivamente, gosto de aparências», o ______ «efetivamente» modifica
toda uma frase («gosto de aparências»). Tal como em «Contrariamente ao que
dizem, nunca pus os pés no Finalmente» o grupo adverbial «contrariamente ao que
dizem» modifica a _____ «nunca pus os pés no Finalmente».
Mas é verdade que o caso mais comum será o de o advérbio modificar o
grupo verbal. Em «Gosto extremamente de você», «extremamente» modifica «gosto
(de você)». Em «Qual é o mal de falar precisamente?» e em «Eu falo assim», os
advérbios «precisamente» e «assim» reportam-se ao ______ que os precede.
Os advérbios podem até modificar outros advérbios. No sketch não há nenhum caso desses, mas,
por exemplo, em «Ricardo Araújo Pereira canta pouco afinadamente», o ______
«pouco» reporta-se ao advérbio «afinadamente».
Vejamos as subclasses do advérbio. Teremos de ir
experimentando as classificações a pouco e pouco (por sinal, este «a pouco e
pouco» é uma locução adverbial). Completa com predicado, frase, conectivo, negação, quantidade/grau,
inclusão/exclusão:
Em «Principalmente, a
tendência que eu tenho para adverbiar», «principalmente» é um advérbio _______
(tem função de conexão, serve para ligar frases ou constituintes).
Já vimos advérbios de _______: «falar com modificadores verbais persistentemente»; «falar precisamente»; «eu falo assim»; «nunca pus os pés no Finalmente».
E advérbios de ______: «Efetivamente,
gosto de aparências».
Em «Escolheu um cara que, estupidamente,
somente adjetiva», «somente» é
advérbio de ____ (enquanto «estupidamente», que se reporta a «somente
adjetiva», é um advérbio de predicado).
Em «Eu gosto extremamente de
você», teríamos um advérbio de ______.
Por fim, em «Advérbios de modo não
combinam com amor», «não» é advérbio de _______.
Refira-se
ainda uma característica dos advérbios em «mente» com que, a certa altura, se
brinca na canção: a possibilidade de, em séries, se omitir o «mente» dos
primeiros advérbios: «estudarei gramática abnegada
e esforçadamente».
Só que os Gato
Fedorento usam uma série demasiado grande, por isso implausível: «E me deixou, designadamente, nomeada, exata e mormente, completamente ...» (além de
que o primeiro elemento da série não teria o «mente», só o último).
Pedro Silva, Elsa
Cardoso, Rita Mendes, Sónia Costa, Rita Correia, Expressões, 10.º ano, Porto, Porto Editora, 2010, p. 302:
Na sua
tradução portuguesa (Divertida-mente),
o título do filme Inside out,
recorda-nos as características da formação de boa parte dos advérbios de modo. Com
efeito, os advérbios de modo terminados em –mente
correspondem a adjetivo (no feminino) + sufixo –mente. Ora este «-mente» é o latino mente-, que significava ‘mente’ (‘faculdade intelectual’,
‘espírito’, ‘pensamento’). Um advérbio de modo em «mente» significa,
etimologicamente, ‘de mente divertida/triste/alegre/etc.’). O filme trata do
funcionamento do cérebro de modo divertido, por isso o título português foi
muito feliz, foi criado engenhosamente (isto é, ‘com mente engenhosa’).
Os advérbios
de frase equivalem às palavras que servem de modificadores de frase
(para termos todos os possíveis modificadores de frase, faltariam só certas
expressões — «com efeito», «na realidade», etc. — e as orações concessivas e
condicionais).
Regressemos então às funções sintáticas,
para vermos melhor os Modificadores de
frase, fazendo este exercício tirado do Caderno de atividades (p. 45):
a.
Sinceramente, não esperava isto de ti.
b.
Realmente, não há muito mais a dizer.
c.
Embora não me agrade, vou fazer o que me pedes.
d.
Infelizmente, não consegui bilhetes para o espetáculo.
e.
Se correres, ainda chegas a tempo.
f.
Para minha surpresa, ela cantou muito bem.
g.
Realmente, ando pouco a pé.
h.
Embora esteja frio, vou passear à beira-mar.
i.
Francamente, não sei o que queres.
j.
Provavelmente, não percebi bem o poema.
k. Efetivamente, este título é muito longo.
2. Identifica e corrige a única destas
informações que não é verdadeira.
a. O
modificador de frase pode ser suprimido sem que isso afete a gramaticalidade da
frase.
b. A função de modificador
de frase pode ser desempenhada por um grupo adverbial, um grupo preposicional
ou uma oração (adverbial concessiva ou condicional).
c. O modificador de frase incide sobre toda a
frase.
d. O modificador de frase é irrelevante, pois
não acrescenta nada ao sentido da frase.
3.Reescreve as frases abaixo transcritas,
substituindo o grupo adverbial constituinte do modificador por outro grupo que
não lhe altere o sentido. [Já resolvi a
primeira.]
a. Sinceramente,
não esperava isto de ti.
> Com sinceridade, não esperava isto de ti.
b. Realmente,
não há muito mais a dizer. > ___________
c. Francamente,
não sei o que queres.
> ____________
3.1 Esclarece se, nestas frases, o
modificador introduz uma informação nova ou reforça a ideia transmitida pela
frase que modifica. _________
4. Especifica a noção que cada um dos respetivos modificadores
acrescenta às frases abaixo. [Já respondi
à primeira.]
a. Provavelmente,
não percebi bem o poema.
| Acrescenta a noção de dúvida.
b. Efetivamente, este título é muito longo. |
_______
5. Redige duas frases em que utilizes, em
cada uma delas, uma oração como modificador de frase. [Já resolvi a primeira.]
Ainda que já soubessem tudo sobre modificadores
de frase, hesitaram nas orações.
_______________________
Assistência a
trecho final de Amor de Perdição (de
Manoel de Oliveira), apud João Botelho, O
Cinema, Manoel de Oliveira e Eu).
Copio a seguir os parágrafos finais de Amor
de Perdição, de Camilo
Castelo Branco (uso a edição de Ivo Castro, INCM, 2012, p. 192):
À voz do comandante
desamarraram rapidamente o bote, e saltaram homens para salvar Mariana.
Salvá-la!...
Viram-na,
um momento, bracejar, não para resistir à morte, mas para abraçar-se ao cadáver
de Simão, que uma onda lhe atirou aos braços. O comandante olhou para o sítio
donde Mariana se atirara, e viu, enleado no cordame, o avental, e à flor d’água
um rolo de papéis, que os marujos recolheram na lancha. Eram, como sabem, a
correspondência de Teresa e Simão.
Da família de Simão
Botelho vive ainda, em Vila Real de Trás-os-Montes, a senhora D. Rita Emília da
Veiga Castello Branco, a irmã predileta dele.* A última pessoa falecida, há
vinte e seis anos, foi Manuel Botelho, pai do autor deste livro.
FIM
____________
* Morreu em 1872. (Nota da 5.ª edição).
Comprova que
nas últimos parágrafos de Amor de Perdição há várias marcas que
evidenciam o processo de enunciação e o contexto familiar que inspirou o
romance (relativas a autor, e seus destinatários, e a personagens que são
parentes do autor).
.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
TPC — Vê as classes de palavras (e,
particularmente, a dos advérbios) em Gaveta de Nuvens, «Classes depalavras».
Aula 9-10 (26 [9.ª], 27/set [5.ª, 4.ª, 3.ª]) Nas
pp. 25-27, vai relendo o excerto da carta de Pessoa a Adolfo Casais Monteiro,
cuja versão integral sugerira que fosses lendo em Gaveta de Nuvens. O questionário, ainda assim, tratará apenas das
partes da carta que vêm no manual e não te prejudicará não teres lido o texto
na íntegra. Circunda em cada item a melhor alínea.
Até
à linha 9, Pessoa recorda
a) a tendência que sempre tivera para mudar o
tipo de música com que se encantava.
b) a propensão que nele sempre se manifestara
para criar personagens fictícias.
c) a facilidade que sempre revelara em se cercar
de amigos e conhecidos.
d) que, nestas coisas, como em todas, não
devemos ser dogmáticos.
No
período «E tenho saudades deles» (ll. 17-18), o autor da carta reporta-se
a) aos seus amigos.
b) aos trinta anos anteriores à carta.
c) aos seus pré-heterónimos.
d) ao que sentia, ouvia e via.
Pessoa
situa em 1912 (ll. 18-23) os primeiros poemas
a) assinados por Ricardo Reis.
b) escritos por Álvaro de Campos.
c) ao estilo de Ricardo Reis.
d) ao estilo de Ávaro de Campos.
O
poeta bucólico que Pessoa resolvera criar para fazer uma partida a Mário de
Sá-Carneiro (ll. 24-38) foi
a) Álvaro de Campos.
b) Bernardo Soares.
c) Alberto Caeiro.
d) Ricardo Reis.
O
heterónimo que Pessoa diz ser mestre de todos os outros e até do ortónimo é (cfr. ll. 29-44)
a) Álvaro de Campos.
b) Fernando Pessoa.
c) Ricardo Reis.
d) Alberto Caeiro.
Pessoa
considera 8 de março de 1914 como o «dia triunfal da [sua] vida» (l. 33),
porque foi nesse momento que
a) pisou um cocó de cão com interessante
consistência, muito doce e simpático.
b) criou espontaneamente uma série de textos de
um dos heterónimos.
c) escreveu, com elaboração cuidadosa e
planeada, os primeiros poemas de Caeiro.
d) desistiu, finalmente, de inventar um poeta
bucólico.
A
ordem da criação dos heterónimos foi
a) Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de
Campos.
b) Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto
Caeiro.
c) Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto
Caeiro.
d) Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Bernardo
Soares.
O
heterónimo Ricardo Reis foi criado por Pessoa em
a) 1914.
b) 1935.
c) 1910.
d) 1887.
O
surgimento de Álvaro de Campos é-nos descrito (ll. 45-50) como momento
a) calmo.
b) vertiginoso.
c) demorado.
d) planeado.
A
«Ode triunfal», de Álvaro de Campos, foi escrita
a) num avião a jato.
b) em 1914.
c) em Tavira.
d) no Brasil.
— Cfr.
sobretudo ll. 56-81 —
À
época da enunciação — a da escrita da carta —, ainda estavam vivos
a) Caeiro, Campos, Reis.
b) Campos e Reis.
c) Reis e Caeiro.
d) Caeiro e Campos.
Os
dois heterónimos de Pessoa que aprenderam latim foram
a) Alberto Caeiro e Ricardo Reis.
b) Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
c) Alberto Caeiro e Bernardo Soares.
d) Álvaro de Campos e Alberto Caeiro.
As
formações de Caeiro, Campos e Reis, eram, respetivamente,
a) CEF de pastor; pintura; línguas clássicas.
b) ensino secundário; engenharia naval; medicina
dentária.
c) instrução primária; engenharia; medicina.
d) estilismo; datilografia; genealogia.
Pessoa
tinha de altura
a) 1,75 m.
b) 1,73 m.
c) 1,77 m.
d) 1,80 m.
O
«Opiário»
a) foi escrito em latim.
b) foi inspirado por viagem ao Oriente.
c) é um poema de férias.
d) foi inspirado por ida ao Parque das Nações.
O
estímulo para escrever em nome de Caeiro, Campos, Reis e Soares é,
respetivamente (cfr. ll. 82-90),
a) cansaço e sono; inspiração inesperada;
decisão abstrata; impulso súbito.
b) inspiração inesperada; impulso súbito;
decisão abstrata, cansaço e sono.
c) decisão abstrata; impulso súbito; cansaço e
sono; inspiração inesperada.
d) inspiração inesperada; cansaço e sono;
decisão abstrata; impulso súbito.
Segundo
ll. 86-93, Bernardo Soares é um semi-heterónimo porque
a) é anão.
b) é um mutilado (maneta e perneta).
c) não tem personalidade completamente diferente
da de Pessoa ele-mesmo.
d) é uma mutilação de Pessoa.
Em
termos de qualidade do português (entenda-se correção linguística), os cinco
escreventes, podem apresentar-se assim (por ordem descendente (cfr. ll. 94-97):
a) Reis, Pessoa e Soares, Campos, Caeiro.
b) Caeiro, Campos, Pessoa e Soares, Reis.
c) Pessoa e Soares, Campos, Caeiro, Reis.
d) Reis, Pessoa e Soares, Caeiro, Campos.
Os
protótipos textuais mais presentes neste excerto de carta são
a) descritivo, expositivo, instrucional.
b) conversacional, argumentativo, instrucional.
c) descritivo, narrativo, preditivo.
d) expositivo, argumentativo, narrativo.
Se tiveres sido dos
mais rápidos, na p. 55 vai relanceando o «perfil literário» «Álvaro
de Campos — o poeta da modernidade».
Lê depois também este
excerto de «Opiário» (de um Campos jovem):
Opiário
Ao senhor Mário de
Sá-Carneiro
É antes do ópio que a minh’alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.
Esta vida de bordo há-de matar-me.
São dias só de febre na cabeça
E, por mais que procure até que adoeça,
Já não encontro a mola p’ra adaptar-me.
Em paradoxo e incompetência astral
Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida
E os próprios gozos gânglios do meu mal.
É por um mecanismo de desastres,
Uma engrenagem com volantes falsos,
Que passo entre visões de cadafalsos
Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.
Vou cambaleando através do lavor
Duma vida-interior de renda e laca.
Tenho a impressão de ter em casa a faca
Com que foi degolado o Precursor.
Ando expiando um crime numa mala,
Que um avô meu cometeu por requinte.
Tenho os nervos na forca, vinte a vinte,
E caí no ópio como numa vala.
Ao toque adormecido da morfina
Perco-me em transparências latejantes
E numa noite cheia de brilhantes
Ergue-se a lua como a minha Sina.
Eu, que fui sempre um mau estudante, agora
Não faço mais que ver o navio ir
Pelo canal de Suez a conduzir
A minha vida, cânfora na aurora.
Perdi os dias que já aproveitara.
Trabalhei para ter só o cansaço
Que é hoje em mim uma espécie de braço
Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.
E fui criança como toda a gente.
Nasci numa província portuguesa
E tenho conhecido gente inglesa
Que diz que eu sei inglês perfeitamente.
Gostava de ter poemas e novelas
Publicados por Plon e no Mércure,
Mas é impossível que esta vida dure,
Se nesta viagem nem houve procelas!
A vida a bordo é uma coisa triste,
Embora a gente se divirta às vezes.
Falo com alemães, suecos e ingleses
E a minha mágoa de viver persiste.
[...]
Eu fingi que estudei engenharia.
Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda.
Meu coração é uma avozinha que anda
Pedindo esmola às portas da Alegria.
Não chegues a Port-Said, navio de ferro!
Volta à direita, nem eu sei para onde.
Passo os dias no smoking-room com o conde —
Um escroc
francês, conde de fim de enterro.
Volto à Europa descontente, e em sortes
De vir a ser um poeta sonambólico.
Eu sou monárquico mas não católico
E gostava de ser as coisas fortes.
Gostava de ter crenças e dinheiro,
Ser vária gente insípida que vi.
Hoje, afinal, não sou senão, aqui,
Num navio qualquer um passageiro.
[...]
[excertos de:] Álvaro de Campos, «Opiário», Fernando Pessoa, Poesia
dos outros eus, edição de Richard Zenith, Lisboa, Assírio & Alvim,
2007.
Poema de amor
Temos imensos fósforos
em nossa casa,
Mantemo-los sempre à mão.
Atualmente, a nossa marca favorita é a Ohio Blue
Tip,
Se bem que costumávamos preferir a marca
Diamond.
Isso foi antes de descobrirmos os fósforos Ohio
Blue Tip.
Eles são excelentemente embalados:
Robustas caixas pequenas em azul escuro e claro
e etiquetas brancas,
Com palavras impressas com o texto em forma de
megafone,
Como que para dizer, ainda mais alto ao mundo,
Eis o mais belo fósforo do mundo;
O seu caule de quatro
centímetros, em pinho macio coberto por uma cabeça granulosa púrpura escuro,
Tão sóbrio e furioso e teimosamente pronto a
explodir numa chama,
Acendendo talvez o cigarro da mulher que amas
pela primeira vez.
[tradução de «Love Poem»,
Paterson (de Jim Jarmusch; poemas por
Ron Padgett)]
Escreve um
poema em versos livres, não rimados, a ocuparem boa parte da linha, ao estilo
dos de Paterson.
Terás notado já
que os poemas de Paterson, na observação de detalhes do quotidiano, no
léxico quase de prosa, têm alguma coisa de Cesário Verde (mas, vê-lo-emos
depois, também tem característi-cas soltas de Campos, Caeiro, Reis).
O título do teu
poema será «Quedas de água» ou «A água cai».
Pontuação deve
ser gramatical.
. . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
TPC — Se não o fizeste em aula, lê em casa a
p. 55 e também já a 57, sobre Campos e Futurismo, respetivamente.
Aula 11-12 (30/set [3.ª, 5.ª], 1 [4.ª], 2/out [9.ª]) Correção de
questionário de compreensão de carta sobre génese dos heterónimos (cfr.
Apresentação).
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés — oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Atividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de L’Opéra que entram
Pela minh’alma dentro!
Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule!
Tudo o que passa, tudo o que para às montras!
Comerciantes; vários; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer;
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!
(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)
A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!
Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes —
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfato
E com o tato (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!
Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções!
Olá anúncios elétricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente.
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos — e eu acho isto belo e amo-o! —
Masturbam homens de aspeto decente nos vãos de escada.
Este ano nevou imenso no Algarve.
Ouvi dizer que vai ficar mau tempo.
Ontem trovejou.
Vou ao centro comercial ver as novidades da nova estação.
Comprei um livro de manga.
Fazemos hoje um bolo?
a) Os jogadores obedecem ao árbitro.
b) O avião está atrasado.
c) A Marisa ofereceu um livro à mãe.
d) Eles tomaram o Calisto por parvo.
e) O médico pratica natação.
f) Os alunos parecem apreensivos...
g) O ilusionista fez um truque fantástico!
h) A juíza considerou o réu culpado.
Telefonei à Jamila.
O quadro caiu.
Resolvi a questão.
Ele jantou.
A Judite vendeu a carrinha na semana passada.
Entreguei os apontamentos ao Camilo.
Ele jantou peixe.
Nós obedecemos às regras!
A empresa reabriu em agosto.
Esta bicicleta pertence à Isilda.
O meu primo Rogério emprestou-te o carro?
O ator foi entrevistado pelo jornalista.
O Lauro gosta de futebol.
Nomearam-no capitão de equipa.
Os amigos do capitão leram o diário de bordo.
Eles continuam zangados um com o outro.
Os meus pais viajaram ontem.
A Eulália leu o livro que a amiga lhe deu.
Os amigos achavam-na extremamente competente.
O Quim foi ao Brasil.
Andaluzia, quero vê-la...
Vinde, táxi, depressa!
Vim de táxi, depressa...
Não é Regina!
Não erre, Gina!
Glória, adeus!
Glória a Deus!
O texto informativo que se segue apresenta
a obra de Álvaro de Campos.
Atendendo às relações indicadas entre parênteses, completa-o com os conectores
apropriados, de entre os transcritos abaixo:
| mas sobretudo | depois
da | e | não só | portanto | realmente | ao
mesmo tempo | por isso | igualmente | mas | ou |
em vez da |
Álvaro de Campos goza de
um estatuto especial entre os heterónimos, ____ (enumeração) por ser aquele que tem um perfil biográfico mais
completo, ____ (enumeração),
porque Pessoa fez dele um poeta atual, modernista e vanguardista [...].
Na época em que foi
criado, em conjunto com os outros heterónimos, a função de Campos estava, _____ (conclusão), circunscrita a um
vanguardismo europeísta _____ (oposição) ____ (tempo) nacional, aproximando-se
do Futurismo no que respeita ao culto das tecnologias _____ (adição) da ciência moderna [...].
Foi ____ (confirmação) a este heterónimo que
Pessoa atribuiu a autoria de dois incisivos textos programáticos do Modernismo:
o «Ultimatum», que foi publicado em 1917
na revista Portugal Futurista [...]; os «Apontamentos para uma estética não aristotélica», que viram a luz na
revista Athena
(1924-1925), contêm a proposta de uma nova estética, adaptada aos tempos
modernos, e, _____ (consequência),
baseada na ideia de força _____ (contraste) aristotélica (10) _____ (alternativa) helénica ideia de beleza.
[...] «Opiário» representa
a época pré-modernista de Pessoa. Ficticiamente anterior às grandes odes
sensacionistas, foi _____ (certeza)
composto vários meses _____ (sequencialização temporal) «Ode Triunfal».
[tarefa tirada do manual Expressões,
12.º ano, Porto Editora, com texto de António Apolinário Lourenço]
A «Ode triunfal», de Álvaro de Campos, é
muito maior do que o excerto que vemos na p. 56 do manual (vai até lá). Como as
outras grandes odes futuristas-sensacionistas deste heterónimo («Ode marítima»,
«Saudação a Walt Whitman», «A passagem das horas»), é um poema de várias
páginas, torrencial. (Como tepecê, aliás, sugiro que dês uma vista de
olhos ao resto da «Ode triunfal».) Para já, ponho
os versos que se seguem, mas sem que cheguemos, sequer, a meio do poema.
Consegui incluir, mesmo no final da parte transcrita, os versos que causaram
polémica por terem sido cortados num manual (no nosso, optou-se por nem chegar
lá perto; de resto, creio que a transcrição no Plural parou antes de uns outros versos considerados censuráveis).
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés — oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Atividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de L’Opéra que entram
Pela minh’alma dentro!
Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule!
Tudo o que passa, tudo o que para às montras!
Comerciantes; vários; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer;
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!
(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)
A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!
Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes —
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfato
E com o tato (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!
Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções!
Olá anúncios elétricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente.
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos — e eu acho isto belo e amo-o! —
Masturbam homens de aspeto decente nos vãos de escada.
[...]
Uso um trecho de um ensaio — de Lino
Moreira da Silva, sobre a linguagem da «Ode triunfal» — a que acrescentei, entre
parênteses, citações que abonassem os aspetos referidos e, entre parênteses
retos, por vezes, os números dos versos. Completa essa minha ampliação do original
com os exemplos que encontres na parte do poema na p. 56 (pus mais exemplos,
relativos aos versos que já não foram reproduzidos no manual):
A preocupação do poeta é
fazer corresponder o modo de exteriorização daquilo que sente àquilo que diz
que sente, isto é: o nível da expressão ao nível do conteúdo. E assim todas
essas manifestações da dinâmica da vida moderna são apresentadas por ele
repetitivamente, desordenadamente, em catadupa, sugerindo o movimento das
máquinas e a pressa em usufruir de tudo, em ser tudo e ser de tudo, a emoção e
a ansiedade que o invadem. [...]
Ao sentido de modernidade
que deseja transmitir, e a que recorre para sentir tudo de todas as maneiras — conferindo poeticidade a
temáticas não usuais, como motores, fábricas, energia [...] —, faz o poeta
corresponder um nível de expressão carregado de nomes concretos e abstratos
(«Inconsciente», «Matéria»), isolados ou em conjuntos («aparelhos de todas as
espécies, férreos, brutos, mínimos, / Instrumentos de precisão, aparelhos de
triturar, de cavar, / Engenhos, brocas, máquinas rotativas» [102-104]), fonemas
substantivados («_____ eterno» [5]), topónimos («Panamá, Kiel, Suez» [108]), antropónimos
(«____», «Virgílio», «Alexandre», «____»), estrangeirismos («souteneur»;
«escrocs»; «la foule»), maiúsculas desusadas («Momento», «Horizonte»,
«Nova Revelação», «Inconsciente», «Matéria»), adjetivação expressiva («excesso
___ de vós» [14]), simples e múltipla («_____ ruídos ____» [10]; «flora estupenda, negra, artificial e
insaciável»), polissíndetos («________» [16]; «por estas correias de transmissão __ por estes êmbolos __ por estes
volantes» [24]), metáforas («_______»
[25], «frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita» [112]), apóstrofes
(«____, _____» [5]), anáforas («______» [8-9]; «Amo-vos [...] / Amo-vos»),
personificações («_______» [6]; «átomos
que hão de ______» [22]), sinestesias («tenho os lábios secos […] / _____» [10-11]; «bebedeira dos
metais»; «rubro ruído»), perífrases, iterações (retoma de «ó» de apóstrofes),
gradações («Atirem-me para dentro das fornalhas! / Metam-me debaixo dos
comboios! / Espanquem-me a bordo de navios» [63-65]), comparações («______»
[15]; «exprimir-me todo ______»
[26]; «ser completo como uma _____»
[27]; «ir na vida triunfante como um
automóvel último-modelo» [28]; «um orçamento é tão natural como uma
árvore / e um parlamento tão belo como uma borboleta»), neologismos («____» [28];
«aeroplanos»), grande variedade de formas verbais (por todo o texto), advérbios
expressivos («amo-vos carnivoramente»), gerúndios expressivos («rugindo, rangendo, ciciando, _____, ferreando»
[25]), musicalidade e ritmo (por todo o texto), aliterações («dolorosa
luz das grandes ______» [1]; «rodas, engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno» [5]), interjeições («Olá», «Ah»,
«Eia», «Hup-lá», «Hé-lá»), rimas internas, onomatopeias («_____» [5] «Z-z-z-z-z-z-z-z-z!» [125];
«hô-ô-ô» [113]), etc...
E tudo isto surge
caoticamente e esfuziantemente organizado, em verso livre branco e estrofes
heteromórficas, manifestando euforia, descontrolo emocional, admiração pelo
progresso e pela técnica.
Sobre a forma da ode em Álvaro de Campos:
«Definida como um poema
lírico dividido em estrofes semelhantes entre si pelo número e medida dos
versos [como sucede nas odes de Ricardo
Reis], a ode ganha em Campos
características completamente diversas. Trata-se, no seu caso, de composições
em longos versos brancos, alternando com versos curtos, à maneira de Walt
Whitman. São odes futuristas, destinadas a cantar (como se preceitua para este
tipo de poema) a máquina e a vida moderna.»
Manuela
Parreira da Silva,
«Odes», Fernando Cabral Martins
(coord.), Dicionário de Fernando Pessoa e
do Modernismo Português, Lisboa, Caminho, 2008
Depois de leres trecho sobre «ode» (e,
especialmente, «ode» à Campos), escreve tu uma dúzia de versos (+ título) de
ode, ao estilo do Campos futurista-sensacionista, acerca de uma realidade
qualquer (que conheças suficientemente).
Ode a ___
ou
Ode
_________ {adjetivo}
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
TPC — Concluir,
melhorando-a, ode (e trazer-ma em folha nova), apostando talvez mais na
qualidade do que na quantidade de versos.
Aula 13-13R (30/set [9.ª], 1 [5.ª], 2/out [4.ª, 3.ª]) Correção
de síntese de «A dor de pensar» (cfr. Apresentação).
O poema em baixo — que ouvimos já — está
datado de 21-10-1935, pouco mais de um mês antes de Pessoa morrer, sendo
assinado por Álvaro de Campos. Não tem algumas das características do
Campos futurista e sensacionista das odes nem da fase decadente (a do Campos
jovem, a de «Opiário»).
Não modernizei a grafia
(Pessoa escrevia segundo a escrita comum antes da primeira reforma ortográfica,
em 1911). Atualiza tu a grafia, emendando o texto a lápis.
Há uma estrofe que traduz
bem a reflexão que o Pessoa ortónimo fazia em «Ela canta, pobre ceifeira» e em
«Gato que brincas na rua». É a ________ estrofe.
Todas as cartas de amor
são
Ridiculas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridiculas.
Tambem
escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridiculas.
As cartas de amor, se ha
amor,
Têm de ser
Ridiculas.
Mas, afinal,
Só as creaturas que nunca
escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridiculas.
Quem me dera no tempo em
que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridiculas.
A verdade é que hoje
As minhas memorias
D’essas cartas de amor
É que são
Ridiculas.
(Todas as palavras
exdruxulas,
Como os sentimentos
exdruxulos,
São naturalmente
Ridiculas.)
Fernando Pessoa, Poemas de Álvaro de Campos, edição de Cleonice Berardinelli,
Lisboa, INCM, 1990
Passa agora a «Aniversário», também deste Álvaro de Campos dito da fase intimista, na p. 64.
Transcreve algum verso em que se perceba
ainda o problema existencial que vimos em «Gato que brincas na rua», «Ela
canta, pobre ceifeira» — do ortónimo — e, há pouco, em «Todas as cartas de amor
são ridículas», de Campos.
___________________
Entre as características de Campos (em
parte, também encontráveis no Campos das odes futuristas), vê o que esteja
abonado em «Aniversário». Para isso, transcreverás trechos de «Aniversário» que
ilustrem cada um destes itens:
comparações inesperadas:
___________
metáforas inesperadas:
___________
exclamações: ____________
anáforas: __________
apóstrofes: __________
paradoxos: __________
repetições: __________
versos longos e livres: muitos das primeiras estrofes, sobretudo.
articulados com alguns
bastante curtos: os da última estrofe,
por exemplo.
fuga para a recordação
e/ou sonho: ___________
poetização do prosaico,
comum e quotidiano: __________
fragmentação do eu:
___________
angústia existencial: [todo o texto, decerto]
O texto constrói-se a partir da memória de
um tempo passado. Caracteriza esse passado, considerando as duas primeiras
estrofes.
O passado era o tempo da
_____________.
Justifica o uso do pretérito imperfeito do
indicativo nessas mesmas estrofes.
________________.
Relaciona o quinto verso da terceira estrofe
com a estrofe anterior.
Na infância, o sujeito
poético era feliz, mas ________. Só no presente, em que já perdeu essa
felicidade inocente da infância é que sabe que _______.
Explica o valor aspetual do pretérito
perfeito usado nesta terceira estrofe.
________________.
Mostra como, na estrofe 6, a memória do
passado se sobrepõe ao presente.
A expressão «Vejo tudo outra vez» inicia a
presentificação do passado que, assim, substitui o _________.
Mostra como, à euforia dessa presentificação, se segue a disforia da
tomada de consciência.
À euforia do passado
tornado presente segue-se, na estrofe seguinte, a disforia da tomada de
consciência de que é impossível recuperar ___________.
Poemas de Álvaro de Campos incorporados na
telenovela O Clone:
Uso exercícios tirados de um manual, Nova Gramática didática de português
(Carnaxide, Santillana, 2011), tendo-me permitido alterar algumas frases aqui e
ali.
Atenta nas frases seguintes e identifica o
tipo de sujeito nelas presente, selecionando a opção correta.
Sujeito simples [s]; Sujeito composto [c]; Sujeito nulo subentendido
[sns]; Sujeito nulo indeterminado [slb];
Sem sujeito [scp]
Dizem que o filme Paterson é fantástico.
Os alunos e os professores participaram numa
visita de estudo a Tóquio.
Trovejou intensamente esta noite.
O Papa Francisco acabou de ler um livro excelente.
Vamos de férias assim que o inverno começar!
Eles pensam que ganharão a eleição para a
Associação de Estudantes facilmente.
Nunca telefonas a avisar que chegas tarde!
O Cristiano e quem tu sabes vêm à festa.
Pensa-se que será um ano difícil...
Não nevava assim em Lisboa há semanas!
Parece que ele já não vem.
Vive-se bem na Sibéria.
Em cada grupo de frases que se segue,
existe uma cujo sujeito é diferente dos restantes. Risca com merecida
agressividade as frases intrusas e identifica o tipo de sujeito predominante de
cada grupo.
a) Sujeito — _______
Diz-se que este ano Rita
Pereira vai ganhar o Óscar.
Vou às compras.
Conversa-se muito, mas acerta-se pouco.
Comenta-se que foste de férias.
b) Sujeito — _______
Choveu a semana inteira.
Este ano nevou imenso no Algarve.
Ouvi dizer que vai ficar mau tempo.
Ontem trovejou.
c) Sujeito — _______
Ele foi passear.
Vou ao centro comercial ver as novidades da nova estação.
Comprei um livro de manga.
Fazemos hoje um bolo?
Identifica os elementos que fazem parte do
predicado de cada uma das frases seguintes e completa o quadro.
a) Os jogadores obedecem ao árbitro.
b) O avião está atrasado.
c) A Marisa ofereceu um livro à mãe.
d) Eles tomaram o Calisto por parvo.
e) O médico pratica natação.
f) Os alunos parecem apreensivos...
g) O ilusionista fez um truque fantástico!
h) A juíza considerou o réu culpado.
i) Acho que deves fugir.
j) Começou o espetáculo!
Sujeito
|
Predicado
|
||||
Núcleo
|
Complemento
|
Predicativo do sujeito
|
Predicativo do complemento direto
|
||
Direto
|
Indireto
|
||||
a) Os
jogadores
|
|||||
b) O avião
|
|||||
c) A Marisa
|
|||||
d) Eles
|
|||||
e) O médico
|
|||||
f) Os alunos
|
|||||
g) O
ilusionista
|
|||||
h) A juíza
|
|||||
i)
(Subentendido)
|
|||||
j) o espetáculo
|
Classifica
os verbos das frases abaixo numa das categorias que se seguem:
transitivo
direto (td); transitivo indireto (ti);
transitivo direto e indireto (tdi); intransitivo (i)
Cheguei!
Telefonei à Jamila.
O quadro caiu.
Resolvi a questão.
Ele jantou.
A Judite vendeu a carrinha na semana passada.
Entreguei os apontamentos ao Camilo.
Ele jantou peixe.
Nós obedecemos às regras!
A empresa reabriu em agosto.
Esta bicicleta pertence à Isilda.
O meu primo Rogério emprestou-te o carro?
Uso exercícios tirados de um manual, Nova Gramática didática de português
(Carnaxide, Santillana, 2011), tendo-me permitido alterar algumas frases aqui e
ali.
Identifica
a função sintática dos constituintes destacados nas frases seguintes.
A minha mãe ofereceu-lhe um perfume.
O ator foi entrevistado pelo jornalista.
O Lauro gosta de futebol.
Nomearam-no capitão de equipa.
Os amigos do capitão leram o diário de bordo.
Eles continuam zangados um com o outro.
Os meus pais viajaram ontem.
A Eulália leu o livro que a amiga lhe deu.
Os amigos achavam-na extremamente competente.
O Quim foi ao Brasil.
Em cada par de frases (retiradas da obra Aliás voltas sempre, Ali às voltas sempre, de Ana Goês), assinala aquela em que
existe um constituinte com a função de vocativo. (Nota minha — Este exercício é
dos mais ridículos que já lhes pedi que fizessem.)
Anda, Luzia, quero vê-la...
Andaluzia, quero vê-la...
Vinde, táxi, depressa!
Vim de táxi, depressa...
Não é Regina!
Não erre, Gina!
Glória, adeus!
Glória a Deus!
As palavras sublinhadas são pronomes
relativos (ou palavras relativas); introduzem orações relativas.
Reportam-se à palavra-expressão que as precede. A sua função sintática dentro
da oração relativa é a que teria essa palavra. Diz qual é em cada uma das três
orações.
Comi o gato |
oração adjetiva relativa
que brincava na rua |
[= o qual]
porque
o tomei por uma lebre.
Eram
muito sofisticadas as ceifeiras |
oração adjetiva relativa
que o jornalista entrevistou.
[as quais]
A
mercearia |
oração adjetiva relativa
onde vendem ópio |
[na qual]
faliu.
Escreve a função sintática sob
os (ou ao lado dos) segmentos que fui sublinhando.
Bruno Fernandes, que
eu considero o melhor jogador do SCP, foi apanhado em gravações.
Capitão Fausto, que foi ontem premiado,
foi-me recomendado por Madalena Jorge.
Morro na
praia
(Capitão Fausto)
Trabalhar
nunca me fez bem nenhum,
Mas é melhor que ver o
tempo a passar.
Atrasado, faço mais um
refrão.
Ao menos, vou gastar o
tempo todo a cantar.
Não paro enquanto ainda
for a tempo.
A tempestade virou
costas ao mar,
Por muito que eu não
queira,
De hoje não vai passar.
Fecho-me em casa, finjo que sou
cantor,
Ostento a tentativa de
me levar a sério,
Mas, no fundo, nada
mais vai mudar.
Eu canto a parolada, tu só tens de
aceitar.
Mãe, eu só te quero
lembrar,
Até morrer no peito eu
vou-te levar;
Minha mãe, eu só te quero
lembrar,
Até morrer no peito eu
vou-te levar.
Caladinho, tu andaste a
pastar,
Por esta altura tinhas
já o trunfo na mão.
Adormeço sempre a
equacionar
E durmo mal dormido a
pensar nesta canção.
Adio mais um dia
perceber
Que aos vinte e seis
não posso mais empatar.
Assumo o compromisso,
Deixo as nuvens entrar.
Morro na praia a vinte
passos de ser
Um gajo formado, um
gajo pronto a vingar;
Mas, no fundo, fundo, tudo tem de mudar,
Agora, que eu não
estudo, não me vou mais calar.
Mãe, eu só te quero
lembrar,
Até morrer no peito eu vou-te levar;
Minha mãe, eu só te
quero lembrar,
Até morrer no peito eu
vou-te levar.
TPC — O poema «Aniversário»,
como outros da fase intimista de Álvaro de Campos (ou mesmo, por vezes, certos
trechos das odes sensacionistas), aproveita o que podemos caracterizar como ‘a
nostalgia da infância’. Este tema é também frequente no Pessoa ortónimo. Para
já, gostava que relanceasses «Un soir à Lima», um longo poema do ortónimo (aliás, na
verdade, um poema não assinado), que, tanto quanto se pode identificar sujeito
poético e autor (e não deve), se diria autobiográfico.
Aula 14-15 (3 [9.ª], 4/out [5.ª, 4.ª, 3.ª]) Correção de poema
sobre «Quedas de água» (cfr. Apresentação).
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja —
Definidamente pelo indefinido…
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número de porta que me deram.
Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta — até essa vida…
Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do Sul impossível aguardam-me náufrago;
Ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.
Não, não sei isto, nem outra cousa, nem cousa nenhuma…
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas coortes por existir, esfaceladas em Deus.
Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida…
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui…
Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar,
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligadas por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?
Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.
Outra vez te revejo — Lisboa e Tejo e tudo —,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver…
Outra vez te revejo,
Sombra que passa através de sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir…
Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim —
Um bocado de ti e de mim!…
Aula 16-17 (7 [3.ª, 5.ª], 8 [4.ª], 9/out [9.ª]) Correção de «ode» futurista (cfr. Apresentação).
Em Lisboa, Pessoa viveu em cerca de dez
casas diferentes.
E, quando eu não te vejo,
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito.
Eu gosto de você
E gosto de ficar com você.
Meu riso é tão feliz contigo,
O meu melhor amigo
É o meu amor.
E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança,
A gente brinca
Na nossa velha infância.
Seus olhos, meu clarão,
Me guiam dentro da escuridão,
Seus pés me abrem o caminho,
Eu sigo e nunca me sinto só.
Você é assim,
Um sonho p’ra mim,
Quero te encher de beijos.
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito.
Eu gosto de você
E gosto de ficar com você.
Meu riso é tão feliz contigo,
O meu melhor amigo
É o meu amor.
E a gente canta,
A gente dança,
A gente não se cansa
De ser criança.
A gente brinca
Na nossa velha infância.
Seus olhos, meu clarão,
Me guiam dentro da escuridão,
Seus pés me abrem o caminho,
Eu sigo e nunca me sinto só.
Você é assim,
Um sonho p’ra mim.
Você é assim,
Você é assim,
Um sonho p’ra mim.
Você é assim.
#
Lê o poema «Lisbon Revisited (1923)», de Álvaro de Campos, na
página 68 do manual. Para responderes, seleciona a única opção que permite
obter uma afirmação adequada. (Por favor, não consultes outras páginas do
manual além das do texto.)
O sujeito da oração no primeiro verso
a) não existe (é um SCP).
b) é nulo subentendido.
c) é nulo indeterminado.
d) é simples.
O
segundo verso é constituído por
a) uma única oração.
b) duas orações, sendo a segunda subordinada
substantiva completiva.
c) duas orações, sendo a segunda coordenada
conclusiva.
d) duas orações, sendo a segunda subordinada
adjetiva relativa restritiva.
No v. 5, o verbo «trazer» é
a) intransitivo.
b) transitivo direto
e indireto.
c) transitivo
direto.
d) transitivo
indireto.
A frase
«Que mal fiz eu aos deuses todos?» (v. 11) apresenta
a) um deítico pessoal.
b) deíticos pessoais e temporais.
c) um deítico temporal.
d) deíticos pessoais e espaciais.
Na
mesma frase, «Que mal fiz eu aos deuses todos?» (v. 11), «eu» e «aos deuses
todos» desempenham as funções sintáticas de, respetivamente,
a) sujeito, complemento direto.
b) complemento direto, complemento indireto.
c) complemento direto, complemento oblíquo.
d) sujeito, complemento indireto.
No
verso «Se têm a verdade, guardem-na!» (v. 12), a
vírgula
a) justifica-se
por separar uma oração subordinada adverbial da subordinante seguinte.
b) não é
obrigatória.
c) justifica-se
por suceder a uma subordinante e anteceder a subordinada.
d) justifica-se
por separar constituintes com funções sintáticas idênticas.
O
pronome pessoal utilizado nos versos 14 e 15 retoma o referente
a) «técnico» (v. 13).
b) «direito» (v. 14).
c) «doido» (v. 14).
d) «todo»
(v. 15).
No
verso 16, «maçar» é
a) transitivo direto.
b) transitivo indireto.
c) intransitivo.
d) transitivo direto e indireto.
O
adjetivo «fútil» (v. 17) tem acento, porque se trata de uma palavra
a) grave.
b) grave terminada em -l.
c) esdrúxula.
d) aguda terminada em -il.
No
v. 19, ««outra pessoa» é o
a) sujeito.
b) complemento direto.
c) predicativo do sujeito.
d) predicativo do complemento
direto.
Em
«Não
me peguem no braço!» (v. 24)
a) o pronome está em ênclise, como é habitual no
português europeu.
b) há próclise, justificada pela negativa.
c) o pronome está anteposto ao verbo por a frase
ser diretiva.
d) há próclise, porque se trata de uma estrutura
de subordinação.
Em
«Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?» (v. 17), «casado, fútil,
quotidiano e tributável» desempenha a função sintática de
a) predicativo do complemento direto.
b) complemento direto.
c) modificador restritivo do nome.
d) complemento indireto.
Em
«Vão para o diabo sem mim» (v. 21), «para o diabo» é um
a) modificador do grupo verbal.
b) complemento oblíquo.
c) vocativo.
d) predicativo do sujeito.
Na
mesma oração, «Vão para o diabo sem mim» (v. 21), «sem mim» desempenha a função
sintática de
a) complemento oblíquo.
b) modificador do grupo verbal.
c) complemento indireto.
d) agente da passiva.
Em
«Já disse que sou só sozinho!» (v. 26), a repetição do som /s/ pode constituir
uma
a) assonância.
b) aliteração.
c) onomatopeia.
d) anáfora.
A
palavra «Ah» (v. 27) pertence à classe
a) das exclamações.
b) dos vocativos.
c) das interjeições.
d) das apóstrofes.
Os
vv. 28, 30, 32, pelo facto de tomarem Lisboa, o Tejo e «céu azul» como
destinatários do enunciador, constituem
a) anáforas.
b) metáforas.
c) apóstrofes.
d) hipérboles.
A
expressão entre travessões «o mesmo da minha infância» (v. 28) desempenha a
função sintática de
a) modificador restritivo.
b) modificador apositivo.
c) complemento do nome.
d) cocó.
Em «Não
tardo, que eu nunca tardo...» (v. 34), «que eu nunca tardo» é uma oração
a) subordinada
adjetiva relativa restritiva.
b) subordinada
adjetiva relativa explicativa.
c) subordinada
substantiva completiva.
d) subordinada
adverbial causal.
A
palavra «Silêncio» (v. 35) tem acento gráfico
a) indevidamente.
b) para se distinguir da 1.ª pessoa do singular do
Presente do Indicativo de «Silenciar».
c) por se tratar de palavra esdrúxula (embora, na
verdade, esdrúxula aparente).
d) para se assinalar que a vogal (/e/) é fechada.
«Lisbon
Revisited (1923)» — na p.
68 do manual — foi publicado, na revista Contemporânea,
em 1923. Três anos mais tarde, no mesmo periódico e também assinado por Álvaro
de Campos, saiu o poema em baixo, com título idêntico mas datado,
entre parênteses, de 1926.
Compara o tom e o tema dos dois
textos. Inclui pelo menos uma citação de cada um dos poemas. (Aproveita para
procurar explicar também o uso do inglês no título.)
Lisbon Revisited (1926)
Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja —
Definidamente pelo indefinido…
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número de porta que me deram.
Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta — até essa vida…
Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do Sul impossível aguardam-me náufrago;
Ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.
Não, não sei isto, nem outra cousa, nem cousa nenhuma…
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas coortes por existir, esfaceladas em Deus.
Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida…
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui…
Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar,
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligadas por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?
Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.
Outra vez te revejo — Lisboa e Tejo e tudo —,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver…
Outra vez te revejo,
Sombra que passa através de sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir…
Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim —
Um bocado de ti e de mim!…
Álvaro
de Campos
(Fernando Pessoa, Poesia
dos Outros Eus, edição de Richard Zenith, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007)
.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.
TPC — Avança na leitura do livro (sobre os livros do Projeto deleitura) ou pede-me ajuda.
Aula 16-17 (7 [3.ª, 5.ª], 8 [4.ª], 9/out [9.ª]) Correção de «ode» futurista (cfr. Apresentação).
Vamos iniciar um dos poucos conteúdos de
gramática que são específicos do 12.º ano, os valores temporais, aspetuais, modais. (O programa
gramatical do 12.º ano é sobretudo de revisões.)
Resolve o exercício da p. 66 do manual
sobre Aspeto (ou valores
aspetuais), completando o que já fui respondendo (e, se necessário, olhando
a p. 67):
1.1 com valor perfetivo: «Vim aqui para não esperar
ninguém»; em parte, também «vou-me embora brusco»; com valor imperfetivo: «_____________», «Trago um
grande cansaço de ser tanta coisa»; também, embora menos indiscutivelmente,
«Chegam os retardatários do princípio» e «Começam chegando os primitivos da
espera».
1.2 [Destaca a parte da frase relevante para
efeitos de valor aspetual. (Como as soluções pretendidas pelo manual não são
corretas ou indiscutíveis, alterei uma das colunas e não sigo a exata solução
proposta.)]
1
|
Habitual
|
Costumo vir
|
E
|
2
|
Iterativo (e Habitual)
|
Aos domingos, vai
|
D
|
3
|
Imperfetivo
|
||
4
|
Perfetivo
|
[mas não é famoso o exemplo]
|
|
5
|
Genérico
|
1.3
Genérico: Ser tanta coisa é um
grande cansaço.
Habitual: ___________.
Perfetivo: ___________.
Iterativo: ___________.
Passa agora ao exercício sobre Modalidades (ou valores modais),
na p. 70 (se necessário, consultando p. 69):
2.
a. A vida ali deve ser
feliz — modalidade _____
b. Talvez à criança espreitando pelos vidros da
janela — modalidade _____
c. Talvez à rapariga que olhou,
ouvindo o motor, pela janela da cozinha — modalidade epistémica
d. Aquele é que é feliz — modalidade _____
e. Deves fazer este estúpido exercício com todo o
cuidado — modalidade _____
3.
a. Devo
ser qualquer coisa do príncipe de todo o coração da rapariga (verbo
auxiliar modal «dever»)
b. Provavelmente sou / Talvez seja /
… (advérbio)
c. Serei / Seria (tempo/modo verbal)
Em anos anteriores revimos o verbo — a sua
conjugação, a sua flexão —, mas não relembrámos as suas subclasses. O verbo pode ser...
principal
|
intransitivo
|
não seleciona
complementos
|
|
transitivo
|
direto
|
seleciona complemento
direto
|
|
indireto
|
seleciona complemento
indireto (ou complemento oblíquo)
|
||
direto e indireto
|
seleciona dois
complementos
|
||
predicativo
|
seleciona complemento
direto e predicativo do complemento direto
|
||
copulativo
|
associa-se a um nome
predicativo do sujeito (ser, estar, parecer, ficar, continuar, permanecer, tornar-se,
etc.)
|
||
auxiliar
|
dos tempos compostos
|
ter, haver
|
|
da passiva
|
ser
|
||
temporal
|
ir,
haver de
|
||
aspetual
|
estar, continuar, começar, acabar, ir, vir, ficar
|
||
modal
|
ter de, poder, dever
|
Sobre
os valores
modais (ou modalidade) tens a explicação na
p. 69 e na p. 17 do anexo do manual). As três modalidades são: epistémica (valores de probabilidade,
certeza); deôntica (permissão,
obrigação); apreciativa.
Na tabela, preenche a
coluna da direita com a modalidade que esteja em causa.
«O desensofador» (série
Lopes da Silva)
|
modalidade
|
Ui!
|
|
Não lhe vou mentir: está muito complicado...
|
|
Vai ser preciso desmontar: tenho de tirar a almofada.
|
|
Tenho de fazer a verificação do forro a nível do extravio de
acepipes.
|
|
Não pode
recolocar agora?
|
|
Não posso
voltar cá.
|
|
Tenho um serviço num dentista que deve ser demorado.
|
|
Que horror: parece impossível!
|
|
Parece incrível como há gente assim em pleno
século XXI...
|
|
E posso
colocar eu a almofada?
|
|
Por mim, pode.
|
|
Pode só virar o fecho éclair
ao contrário...
|
|
Pode meter mal a almofada...
|
|
A única coisa que pode acontecer é desfigurar o sofá para sempre.
|
|
Posso oferecer-lhe uma
cerveja?
|
|
Devemos ter cuidado com chaves e naperons — o mundo tornou-se
complicado para os sofás.
|
Sobre o aspeto,
tens a p. 67 do manual e a p. 16 do anexo. e a Indica o valor aspetual predominante em cada uma destas frases de Último a sair:
Ela estava a fazer jogo, esteve a fazer
jogo desde o início.
|
|
Há muitas melgas nesta casa.
|
|
Já acabou o Fenistil.
|
|
A melga entrou lá dentro.
|
|
A melga vinha [a voar].
|
|
Procurei bué. Estive ali um quarto de hora
à procura da melga.
|
|
Tu és meu amigo, Rui.
|
|
* Costumo sair do quarto dos homens e visitar
o das mulheres.
|
|
* Tens procurado as melgas todas as
noites.
|
* inventados para efeitos do exercício
O poema «Dobrada à moda do Porto», de Álvaro
de Campos, tem bastantes marcas de narratividade. A situação
relatada é sobretudo pretexto para o «eu» refletir sobre si mesmo. É este poema
um novo exemplo do Campos intimista, agora talvez em clave mais irónica que
desiludida.
O que te peço é que reescrevas o poema,
verso a verso, criando outra situação (a tal parte mais narrativa, que deixará
de ter a ver com um restaurante), mantendo entretanto tudo o que sublinhei (em
geral, os fragmentos mais líricos ou mais introspetivos).
Além das partes sublinhadas, conserva, é
claro, o número de versos, e procura não alterar muito a pontuação do original.
Quanto ao título, deve ser trocado por outro, é claro.
Dobrada à moda do Porto
Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se
come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente
houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
Fernando Pessoa, Poemas de Álvaro de Campos, edição de Cleonice Berardinelli,
Lisboa, INCM, 1990 (com modernização da grafia).
TPC — Sobre valor aspetual e valor modal,
além da leres as páginas do manual e respetivo anexo final que já fui
referindo, podes tentar resolver as fichas 31 e 32 (pp. 55-57) do Caderno de atividades. Porei em Gaveta de Nuvens as fichas já respondidas,
pelo que, mesmo que não queiras resolvê-las tu próprio, podes sempre verificar
as soluções.
Aula 18-18R (7 [9.ª], 8 [5.ª], 9 [4.ª], 11/out [3.ª]) Correção
de questionário de gramática sobre «Lisbon Revisited (1923)» (cfr. Apresentação).
Tendo visto a primeira parte de
documentário sobre Fernando Pessoa feito para a série ‘Grandes Portugueses’,
assinala, à esquerda de cada período (a esquerda é para este lado: ←), se a afirmação é
V(erdadeira)
ou F(alsa).
Pessoa viveu parte da
infância e da adolescência em território da atual África do Sul (à época,
colónia inglesa).
Fernando Pessoa admirava
Cesário Verde.
O poema «Tabacaria» é do
heterónimo Ricardo Reis.
«Sou tudo» é o primeiro
verso de «Tabacaria».
Fernando Pessoa nasceu no
dia de Santo António, em Lisboa, em 1898.
Pessoa nasceu em frente ao
teatro de São Carlos, que seu pai, crítico musical do Diário de Notícias, frequentava.
«Eis-me aqui em Portugal»
é o primeiro verso de uma quadra que, ainda criança, dedicou à mãe.
«Deus quer, o homem sonha,
a obra morre» é o primeiro verso de «O Infante», poema de Mensagem.
Enquanto adolescente,
Pessoa viveu com a madrasta, o pai e os cinco meios-irmãos.
A língua em que mais
escrevia até cerca dos vinte anos era o francês.
Em Lisboa, durante dois
anos, Fernando Pessoa foi aluno da Faculdade de Direito.
Pessoa teve uma
tipografia, comprada com herança da avó Dionísia, mas esse negócio não teve
grande sucesso.
O emprego de Pessoa
implicava um rígido horário fixo, como o de um funcionário público.
No local do emprego,
Fernando Pessoa nunca escrevia textos seus.
O poeta americano Walt
Whitman influenciou Fernando Pessoa.
Pessoa deixou mais de
trinta e sete mil papéis com escritos seus.
Sendo embora Lisboa o seu
habitat preferencial, Pessoa viajava frequentemente.
A estreia de Pessoa no
meio literário aconteceu em 1912, com a publicação de artigos na Águia.
A revista Orpheu teve como colaboradores, entre
outros, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros.
Lê a cantiga
de amigo, de D. Dinis,
«De que morredes, filha, a do corpo velido» (na p. 9 do manual).
Recria-a,
transpondo-a para a nossa época (e para a nossa língua). Manterás a situação grosso modo: um(a) rapariga/rapaz
saudos@ e embevecid@ — nas verdadeiras cantigas de amigo, note-se, seria sempre
uma donzela — por @ namorad@ lhe ter deixado peça de roupa ou outro adereço,
dirige-se à mãe (ou irmã, irmão, pai, padrasto, madrastra, etc.), a dar conta
dos seus amores. No refrão constará parte do dia, mas pode não ser já a «alva»,
a madrugada.
Aspetos de forma
a ter em conta:
rima,
que pode ser apenas toante (como acontecia na lírica trovadoresca), em i/a,
nas estrofes ímpares/pares;
paralelismo
entre estrofes ímpares e pares;
leixa-prem.
_________________________________________________
_________________________________________________
______________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
______________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
______________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
______________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
______________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
______________________________
Indica
a função sintática do que esteja sublinhado:
Velha infância
(Tribalistas)
Você é assim,
Um
sonho p’ra mim, E, quando eu não te vejo,
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito.
Eu gosto de você
E gosto de ficar com você.
Meu riso é tão feliz contigo,
O meu melhor amigo
É o meu amor.
E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança,
A gente brinca
Na nossa velha infância.
Seus olhos, meu clarão,
Me guiam dentro da escuridão,
Seus pés me abrem o caminho,
Eu sigo e nunca me sinto só.
Você é assim,
Um sonho p’ra mim,
Quero te encher de beijos.
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito.
Eu gosto de você
E gosto de ficar com você.
Meu riso é tão feliz contigo,
O meu melhor amigo
É o meu amor.
E a gente canta,
A gente dança,
A gente não se cansa
De ser criança.
A gente brinca
Na nossa velha infância.
Seus olhos, meu clarão,
Me guiam dentro da escuridão,
Seus pés me abrem o caminho,
Eu sigo e nunca me sinto só.
Você é assim,
Um sonho p’ra mim.
Você é assim,
Você é assim,
Um sonho p’ra mim.
Você é assim.
TPC — Consulta Cantigas Medievais Galego-Portuguesas.
Aula 19-20 (9 [3.ª], 10
[9.ª], 11/out [5.ª, 4.ª]) Correção de comentário sobre duas «Lisboa Revisited»
(ou, na turma 3.ª, simples entrega do trabalho de gramática).
Se os poemas apresentam um tema comum — a desilusão
do sujeito poético face ao seu desencontro emocional com o espaço que o envolve
—, o tom usado é distinto.
Em «Lisbon Revisited (1923)», o
tom do discurso é de irrequietude e revolta, como denota a presença frequente
de frases com valor modal deôntico («Paguem o que devem!»; «Não me peguem no
braço!»; etc.), tantas vezes acumulando negação, imperativo e exclamação. Já em
«Lisbon Revisited (1926)» as palavras do sujeito lírico assumem uma
dimensão de desilusão e desânimo, a que não é alheia a fragmentação do eu
(«Mas, ai, a mim não me revejo! / Partiu-se o espelho mágico em que me revia
idêntico, / E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim»).
Entretanto, nos dois textos o poeta sente-se
como um «estrangeiro», não integrado nas vivências comuns e nos hábitos
culturais da capital. A utilização do inglês no título dos poemas acentua a
inadaptação do eu lírico, que expressa assim a sua circunstância de
«estrangeiro» em Lisboa.
Vai até à p. 60 do manual, para leres o
poema «Datilografia», ainda de Álvaro de Campos (e da face/fase que
se tem convencionado dizer intimista-abúlica).
Distribui estas quatro etiquetas descritivas
de partes do poema pela tabela a seguir:
situação presente do sujeito poético | regresso à situação
presente | reflexão realidade-sonho | nostalgia do passado
estrofe 1 (vv. 1-3)
|
situação presente do
sujeito poético
|
estrofe 2 (vv. 4-5) | |
estrofe 3 (vv. 6-8) | |
estrofe 4 (vv. 9-13) | |
estrofe 5 (v. 14) | |
estrofe 6 (vv. 15-16) | |
estrofe 7 (vv. 17-22) | |
estrofe 8, vv. 23-29 | |
estrofe 8, v. 30 | |
estrofe 9 (vv. 31-33) |
Repara nos vv. 4-5, 15-16 e no verso 33
(que contém uma variante ao segundo verso dos dísticos referidos).
Podemos considerar que as estrofes iguais constituídas
pelos vv. 4-5 e 15-16 representam a monotonia ______________. Ainda assim, o eu
lírico consegue _____________________. No entanto, no final do poema, o verso
33 assinala que ___________________.
Lê na p. 62 um excerto do longo «Ao volante do Chevrolet pela
estrada de Sintra», sempre de Álvaro de
Campos, poema que já ouvimos logo na primeira aula do ano. Completa o quadro
que já comecei a preencher e que é referido no item 7.
Processos de localização temporal | Expressões do poema | |
A | Flexão verbal — presente
— passado
— futuro
|
|
B | «não ter ficado em Lisboa» | |
C | ||
D | Verbo auxiliar temporal | |
E | Advérbio | |
F | Oração temporal | |
G | Relações
cronológicas
— de simultaneidade
— de anterioridade
— posterioridade
|
«sozinho guio»; «me parece»; «ou me forço» |
H | «Que sigo sem haver Lisboa deixada» | |
I | «ou Sintra a que ir ter» |
«Teste
de bazófia» (série Barbosa) — que vimos o ano passado mas para outros efeitos —
serve-nos agora para fixarmos os valores
aspetuais (perfetivo, imperfetivo; habitual; genérico; iterativo), temporais (anterioridade,
simultaneidade, posterioridade) e modais
(modalidades deôntica, epistémica, apreciativa). Preenche as lacunas:
Quanto ao temperamento criticável que está
em foco no sketch, já teremos dito
que lembra o de um dos peixes repreendidos no «Sermão de Santo António» {escolhe}:
a) roncador; b) pegador; c) voador; d) polvo à
lagareiro; e) esparguete à bolonhesa.
Vai até à p. 14,
intitulada «Quem sou eu?». Depois de
leres o artigo do psiquiatra Cristiano Ronaldo, aliás Cristiano Nabo, aliás
Cristiano Nabuco, escreve sobre selfies mas incluindo uma especulação sobre
como Pessoa lidaria com elas. O objetivo é referir temas de Álvaro de Campos,
sobretudo, ou, mais longinquamente, do ortónimo, ou, em geral, o processo
heteronímico. (Não excluo que também haja referência à pintura de Brendan
Donnet, relacionável com o quadro de Magritte.) A caneta, por favor.
.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Pedro
Mexia, «Paterson», Expresso. Revista, coluna ‘Fraco
Consolo’, p. ?:
Paterson é condutor de
autocarros e poeta. Vive em Paterson, um subúrbio de New Jersey. E tem em casa
livros de William Carlos Williams, entre os quais Paterson (1946-58), um poema épico factual demótico, que se quer ao
mesmo tempo um "orgulho local; (...) uma confissão; (...) uma réplica ao
grego e ao latim sem mais nada; uma multidão; uma comemoração".
O último filme de Jim
Jarmusch, Paterson (2016), é uma
investigação sobre o equilíbrio entre a felicidade e a banalidade. Paterson,
interpretado por Adam Driver, leva uma vida estável mas espartana. Tem uma
namorada giríssima mas um pouco enfadonha, obcecada com determinados padrões,
que usa indiscriminadamente em pinturas, vestidos e decorações de bolos. Laura
(a iraniana Golshifteh Farahani) é apesar disso a "musa" do namorado,
ou não tivesse, como nos lembram escusadamente, nome igual ao da amada de
Petrarca. Paterson escreve poemas para ela, "se são para ti, são poemas de
amor", embora admita que não é insensível às outras mulheres.
Os
poemas de Paterson, que vamos vendo no ecrã, são despretensiosos, diretos, como
os mais despretensiosos e diretos versos de Williams. Poemas minimais,
discretos, timidamente inventivos, que são na verdade da autoria de um poeta
não-ficcional, amigo de Jarmusch: Ron Padgett. Esses poemas obedecem a uma
máxima de Williams, "no ideas but in things", tese que constituía uma
reação à poesia erudita e hermética de Eliot e Pound. O doutor Williams, talvez
por ser médico, gostava de coisas concretas, de pessoas concretas, queria toda
a invenção ancorada num presente verificável e gostava de fazer coincidir, como
escreveu um seu estudioso, "os materiais que suscitam a poesia e a poesia
que esses materiais suscitam". É por isso que no Paterson de Jarmusch as coisas mostradas ou ouvidas, e os versos
que sobre elas se escrevem, são trivialmente poéticas: caixas de fósforos,
copos de cerveja, conversas sobre pugilistas e engates. Mas quando sugerem a
Paterson que a sua cidade é poética, que a sua vida é poética, ele acha que
não, que não são nada poéticas.
Como em
todos os Jarmusch, ou quase todos, o ambiente de Paterson é depurado e modesto, o clima casto e cool, as pessoas macambúzias mas
boas. Mas há uma estranha sensação de que toda a gente vive numa "ilha das
almas perdidas", parafraseando o título de um clássico dos anos 30 que
Jarmusch cita. De acordo com as nossas possibilidades, veremos nesta história o
copo meio cheio ou meio vazio. O elogio da domesticidade não se distingue das
tragicomédias amorosas das personagens secundárias. A empatia humana
confunde-se com a uniformidade, de modo que aparecem gémeos em todo o lado. Os
indivíduos são em geral decentes, mas há quem avise que é melhor "não
tentar mudar as coisas, senão ainda as tornamos piores". Escrever poesia é
fundamental para Paterson, mas ele não faz questão de que alguém leia os seus
poemas, e até assistimos a um episódio que lembra ironicamente a desculpa do
cábula: "O cão comeu me o trabalho de casa."
Cada um escolherá em Paterson os seus momentos
significativos. Lembro-me de três. Um é quando o condutor de autocarros
encontra uma rapariguinha de 10 anos que escreve poemas tão bons como os dele,
o que põe em causa a noção de talento ou a excecionalidade da poesia. O segundo
é a evocação de uma das estrelas de Paterson, New Jersey, o comediante Lou
Costello, sugerindo talvez que a vida deve ser levada à conta de slapstick. O último é o verso
"preferias ser um peixe?", de uma canção de 1944. Uma canção que nos
diz que um peixe não faz coisa alguma com a sua vida, que vai apenas nadando
ribeiro abaixo até que, um dia, é pescado. "But
then if that sort of life is what you wish / You may grow up to be a
fish."
[Paterson, de William Carlos Williams, tem edição portuguesa na
Relógio D'Água, com tradução de Maria de Lourdes Guimarães.]
TPC — Faz (ou vê a solução que porei em Gaveta de Nuvens) a ficha 30 do Caderno
de atividades, sobre ‘Valor temporal’. Para parte da turma 3.ª (os que vão
a Montargil): ler primeira parte (até
se começar a referir a «Ode triunfal», aos 25 minutos) do documentário sobrePessoa da série ‘Grandes Portugueses’; ver slides de correção ao trabalho de
gramática com «Lisbon Revisted (1923)» (ficarão na apresentação da aula
18-18R).
#
<< Home