Saturday, August 31, 2019

Aulas (3.º período, 1.ª parte: aulas 123-134)


Aula 123-123R [= Quarentena 7] (14 [4.ª, 5.ª], 15/abr [9.ª, 3.ª]) Informações:

1. Já estão no Inovar as sínteses sobre o 2.º período.

Em alguns casos, advirto aí o facto de a nota atribuída ter sido otimista (procurando imaginar uma evolução que adivinhava ir suceder mais tarde ou mais cedo mas que nem sempre se concretizara ainda) e o deverem ter em conta que se tratou de classificação contingente que ainda pode ser reajustada.

Vai parecer um pouco cru o que direi em várias das sínteses: alguns alunos precisam de confirmar a nota que, na verdade, pode não ter correspondido ao que já tinham mostrado até então. Mesmo em regime não-presencial, é preciso mostrar agora que essa confiança no putativo (não é palavra feia, significa ‘alegado, suposto’) progresso não foi apenas simpática.

Em outros casos, considerei não poder fazer já o arredondamento ideal (até em termos de média de todo o ciclo), mas ainda acredito que possam chegar lá. Portanto, o discurso vai em sentido contrário, apelando a que ainda melhorem este ou aquele aspeto.

Ou seja, da minha parte, a avaliação ainda não está fechada, independentemente do regime que tenhamos até ao final do período.

Reproduzo essas sínteses, resguardadas de alguma indicação que pudesse ser considerada mais pessoal, aqui (por turmas, e só com os números dos alunos precedidos das duas primeiras letras do nome por que são tratados na aula de Português — note-se que o facto de haver seis más no 12.º 9.ª nada que ver com a sua falta de bondade mas com o haver Margaridas, Marianas, Marta): 12.º 3.ª; 12.º 4.ª; 12.º 5.ª; 12.º 9.ª.



2. Sugiro a seguir como devem acompanhar as aulas no 3.º período.

Ainda não sei se nos vão obrigar a congregarmo-nos todos nas mesmas plataformas. Para já, continuarei a usar o Gaveta de Nuvens nos moldes em que o fiz nas seis aulas da quarentena de março. Depois, verei se há vantagem em migrar para outro lado (ou permitir duas vias).

Sugiro que sigam mesmo o vosso horário ou, pelo menos, não deixem acumular aulas. Não é relevante a hora a que «tenham» a aula, mas evitem atrasar-se quanto aos dias. Façam tudo o que é pedido como se estivessem na sala D9, com a vantagem de que não verei V. (3.ª), T.N. ou A.P. (4.ª), B. E. (5.ª) ou M.V. (9.ª) a consultarem telemóvel. (Sim, bem sei que foi azar calhar vê-los a vocês.)

Se houver texto para ler ou relancear, demorem o que demorariam em aula e anotem as respostas que dariam aos itens que lhes for pedindo para completarem (depois de o fazerem, comparem com as respostas na Apresentação, que pode estar só no final da aula). Ouçam ou vejam os áudios ou vídeos que for inserindo. E conservem convosco os pequenos comentários ou as respostas maiores que tiverem de fazer. A certa altura, pedirei que mos enviem. E, nessa altura — como fiz na aula 5 da Quarentena —, marcarei prazo curto, pelo que convém ir fazendo tudo à medida que as tarefas forem sendo indicadas, isto é, na própria aula.

Continuaremos a dar gramática (no fundo, rever, sobretudo), ainda que não seja fácil avaliá-la ao longe. Inventarei maneira. Não descarto testá-la em sessões em direto com poucos alunos ou individuais, mas é improvável. Não desinvistam deste domínio (aliás, para muitos: invistam mesmo um pouco mais).

Quanto à expressão oral, adiamos para já as preocupações com a recitação de poemas de Mensagem. O mais provável é que lhes venha a pedir ficheiro áudio ou vídeo com leituras em voz alta ou algum outro tipo de expressão oral. Ver-se-á.

Entretanto, estou a reunir em PDF os trabalhos corrigidos de cada um, que enviarei, por mail — ou por alguma nova plataforma que entretanto nos chegue? —, logo que possa. Mas ainda demorarei alguns, ou bastantes, dias.

Tenho mantido a numeração das aulas marcando os blocos que conteriam os tempos de apoio (por exemplo, o de hoje), mas, em termos de conteúdo, as aulas serão cada vez mais indiferenciadas. O 3.º período, mesmo em ano não covídico, costuma ser, em grande parte, de revisões. A minha intenção sempre fora que nesta fase final nos ocupássemos de tudo, caoticamente, em revisões, ou aprimoramentos, do 12.º e dos outros anos, aqui e ali articulados com referências à leitura de O Ano da Morte de Ricardo Reis.



Nesta primeira aula do 3.º período, como prometido, vamos fazer revisões acerca de Antero de Quental, o poeta contemporâneo de Eça e de Cesário que vimos no 11.º ano. Aliás, ouvimos, sobretudo, porque o usámos para umas eliminatórias da Liga dos Campeões (e já repararam como este ano, premonitoriamente, deixámos cair as competições europeias da UELVA, estando agora a UEFA a plagiar-nos?).

Porém, ainda antes de chegarmos a Antero, queria aproveitar o programa de rádio «E o resto é História», para revisão de revisão de outro assunto. Oiçam, por favor, o episódio sobre «A maior mentira da História de Portugal». Desde o começo até ao minuto 11 (basta ouvirem até aí) fala-se daquela que para Rui Ramos é a maior mentira da História de Portugal, que corresponde ao momento que Fernão Lopes descreve no passo que estudámos melhor da Crónica de D. João I:


Como talvez não o tenham à mão reproduzo mais uma vez o texto da crónica (não para que o vão reler agora, apenas para o terem presente). Outros textos que lemos de Fernão Lopes foram os relativos ao cerco de Lisboa. Revejam na diagonal, quase sem a olharem, esta versão (com a grafia muito adaptada) do célebre trecho do capítulo 11 da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes):

Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavam o Mestre, e como lá foi Álvaro Pais e muitas gentes com ele

O pajem do Mestre, que estava à porta, como lhe disseram que fosse pela vila, segundo já era percebido, começou de ir rijamente a galope, em cima do cavalo em que estava, dizendo altas vozes, bradando pela rua:

— Matam o Mestre! Matam o Mestre nos paços da rainha! Acorrei ao Mestre que matam!

E assim chegou a casa de Álvaro Pais, que era dali grande espaço.

As gentes que isto ouviam saíam à rua ver que coisa era. E, começando de falar uns com os outros, alvoroçavam-se nas vontades e começavam de tomar armas, cada um como melhor e mais asinha podia.

Álvaro Pais, que estava prestes e armado com uma coifa na cabeça, segundo usança daquele tempo, cavalgou logo à pressa, em cima de um cavalo que anos havia que não cavalgara, e todos seus aliados com ele, bradando a quaisquer que achava, dizendo:

— Acorramos ao Mestre, amigos! Acorramos ao Mestre, ca filho é de el-rei D. Pedro!

E assim bradavam ele e o pajem, indo pela rua.

Soaram as vozes do ruído pela cidade, ouvindo todos bradar que matavam o Mestre. E, assim como viúva que rei não tinha, e como se lhe este ficara em logo de marido, se moveram todos com mão armada, correndo à pressa para onde diziam que se isto fazia, para lhe darem vida e escusar morte.

Álvaro Pais não quedava de ir para lá, bradando a todos:

— Acorramos ao Mestre, amigos! Acorramos ao Mestre que matam sem porquê!

A gente começou de se juntar a ele e era tanta, que era estranha coisa de ver. Não cabiam pelas ruas principais e atravessavam lugares escusos, desejando cada um de ser o primeiro; e, perguntando uns aos outros «quem matava o Mestre?», não minguava quem respondesse que o matava o conde João Fernandes, por mandado da rainha.

E, por vontade de Deus, todos feitos de um coração, com talente de o vingar, como foram às portas do paço, que eram já cerradas, antes que chegassem, com espantosas palavras, começaram de dizer:

— Onde matam o Mestre? Que é do Mestre? Quem cerrou estas portas?

Ali eram ouvidos brados de desvairadas maneiras. Tais aí havia que certificavam que o Mestre era morto, pois as portas estavam cerradas, dizendo que as britassem para entrar dentro, e veriam que era do Mestre ou que coisa era aquela.

Uns deles bradavam por lenha e que viesse lume, para porem fogo aos paços e queimar o traidor e a aleivosa. Outros se aficavam pedindo escadas para subir acima, pera verem que era do Mestre. E em tudo isto era o ruído tão grande, que se não entendiam uns com os outros, nem determinavam nenhuma coisa. E não somente era isto à porta dos paços, mas ainda ao redor deles por onde homens e mulheres podiam estar. Umas vinham com feixes de lenha, outras traziam carqueja para acender o fogo, cuidando queimar o muro dos paços com ela, dizendo muitos doestos contra a rainha.

De cima, não minguava quem bradasse que o Mestre era vivo e o conde João Fernandes morto. Mas isto não queria nenhum crer, dizendo:

— Pois se vivo é, mostrai-no-lo e vê-lo-emos.

Então os do Mestre, vendo tão grande alvoroço como este, e que cada vez se acendia mais, disseram que fosse sua mercê de se mostrar àquelas gentes; de outra guisa poderiam quebrar as portas, ou lhes pôr o fogo; e, entrando assim dentro por força, não lhes poderiam depois tolher de fazer o que quisessem.

Ali se mostrou o Mestre a uma grande janela que vinha sobre a rua, onde estava Álvaro Pais e a mais força de gente, e disse:

— Amigos, pacificai-vos, ca eu vivo e são sou, a Deus graças.

E tanta era a turvação deles e assim tinham já em crença que o Mestre era morto, que tais havia aí que aperfiavam que não era aquele; po­rém, conhecendo-o todos claramente, houveram grande prazer quan­do o viram, e diziam uns contra os outros:

— Oh, que mal fez! Pois que matou o traidor do conde, que não matou logo a aleivosa com ele! Credes em Deus: ainda lhe há de vir algum mal por ela. Olhai e vede que maldade tão grande! Mandaram-no chamar onde ia já de seu caminho, para o matarem aqui por traição. Oh aleivosa! Já nos matou um senhor e agora nos queria matar outro! Leixai-a, ca ainda há mal de acabar por estas cousas que faz.

E sem dúvida, se eles entraram dentro, não se escusara a rainha de morte, e fora maravilha quantos eram da sua parte e do conde poderem escapar.

O Mestre estava à janela e todos olhavam contra ele, dizendo:

— Ó senhor! Como vos quiseram matar por traição! Bendito seja Deus, que vos guardou desse traidor! Vinde-vos, dai ao demo esses paços, não sejais lá mais!

E, em dizendo isto, muitos choravam com prazer de o ver vivo.

Vendo ele então que nenhuma dúvida tinha em sua segurança, desceu a fundo e cavalgou com os seus, acompanhado de todos os outros, que era maravilha de ver. Os quais, mui ledos ao redor dele, bradavam, dizendo:

— Que nos mandais fazer, senhor? Que quereis que façamos?

E ele lhes respondia, mal podendo ser ouvido, que lho agradecia muito, mas que por então não havia deles mais mister.



Chegamos então a Antero de Quental.

Tinha-lhes sugerido que vissem o filme Anthero. O Palácio da Ventura (parte I; parte II), do realizador José Medeiros. Embora se assuma que é uma ficção, o filme detém-se numa série de momentos importantes da vida de Antero de Quental, mostrados desordenadamente: suicídio; Antero como líder dos estudantes em Coimbra contra reitor Basílio e tempos de boémia; polémicas com Castilho e com Teófilo Braga; diálogo com o amigo  e poeta João de Deus e viagem à América; conferências do Casino Lisbonense; os problemas de saúde constantes, etc. (não estou a seguir a ordem no filme, nem a biográfica).

Se não viram, vejam talvez só o começo, o suficiente para perceberem a estrutura. É um filme sobre o processo de fazer um filme sobre Antero. Aos dois minutos da parte I é declamado o poema aproveitado no título do filme, «O Palácio da Ventura», um soneto que lemos o ano passado, mas que analisámos superficialmente. (Também no final da parte II, à uma hora e três minutos, há outra declamação do mesmo soneto.)



Vocabulário porventura mais difícil: ventura = ‘felicidade’; cavaleiro andante = ‘herói das novelas de cavalaria medievais que busca um ideal de amor e de justiça’; paladino = ‘cavaleiro andante’, ‘defensor intrépido de alguma causa’; anelante = ‘ofegante, ansioso’; formosura = beleza; deserdado = ‘aquele que é privado de uma herança, de um benefício’; fragor = ‘estrondo’.



Vai completando esta análise do poema (no final, vê as soluções na Apresentação; se ter mais jeito teres o poema à frente, em livro, podes consultá-lo na p. 298 do manual do 11.º ano):

Quanto à forma, a composição (dois quartetos e dois tercetos) é um _________.

O metro é ______________ (podes experimentar com o v. 1: So | nho | que | sou | um | ca | va | lei | r(0)’an | dan), como é comum nos sonetos.

A rima nos quartetos, como costuma acontecer também no sonetos clássicos, é interpolada e __________ repetindo-se o esquema rimático na primeira e na segunda estrofe: A-__-__-A || A-__-__-__.

Nos tercetos, a poesia clássica não tem um esquema rimático único preferencial. Neste caso, o que temos é: A-A-__ || __-__-__.

Faz corresponder as sínteses A a D aos versos:

A — Desalento pelo insucesso = vv. 5-__

B — Renascimento da esperança = vv. __-__

C — Deceção final = vv. __-__

D — Entusiasmo = vv. __-__

Se descartarmos uma forma de Imperativo («_______», v. 11), todo o poema usa um único tempo verbal, o _______ do Indicativo.

Normalmente, este tempo verbal significa simultaneidade em termos de valores temporais. No entanto, nestes versos a conotação que é introduzida pelo Presente do Indicativo é mais complexa: é como se o sujeito poético estivesse a ver-se a praticar todas as ações, que assim ficam a parecer-nos, em termos temporais, relativamente ao momento da enunciação, __________ {anteriores / simultâneas / posteriores}, ainda que se vá narrando uma sequência de situações (o que, em princípio, devia implicar anterioridade, pelo menos até se chegar ao momento presente, já que não estamos habituados a que uma narrativa nos chegue em direto, como se tratasse de um relato de jogo de futebol).

Voltemos à única forma do Imperativo. Que valor temporal conotará? Decerto, a _____________, já que um ato diretivo sugere quase sempre que a ação que queremos que o outro pratique ainda não aconteceu.

Passemos aos valores aspetuais. Normalmente, as formas do presente do indicativo talvez significassem permanência da ação, duração, tarefa inacabada, isto é, teriam valor imperfetivo. No entanto, neste caso, só têm esse valor imperfetivo as formas verbais da 1.ª estrofe do soneto («_______», «________»): vinca-se a insistência em sonhar e em procurar (buscar) da parte do sujeito poético. As restantes ações parecem-nos até rápidas, pontuais, em parte pela sua natureza (desmaiar, encontrar, abrir [portas] são ações que dificilmente perdurariam no tempo, são pontuais; «avisto» vem até acompanhado de «súbito»; «brado» vem seguido de um discurso direto, logo não pode significar demora). Há também uma forma com valor genérico («____», v. 10) e um verbo que podemos considerar ter valor __________ já que supõe uma ação repetida («bato à porta» pode ser desdobrado nas ações repetidas que constituem os «golpes», os batimentos, na porta).

Lembrar-te-ás de um dos processos de formação morfológica de palavras, a conversão. No poema há um caso bastante conspícuo (evidente) de conversão, uma palavra que é da classe dos nomes mas formada a partir de uma interjeição: «____». (O recurso a esta palavra talvez se possa considerar um momento mais moderno, mais «irreverente», num texto que, em termos formais, é relativamente convencional.)


O mais famoso dos cavaleiros andantes — na verdade, sua caricatura-paródia — é Dom Quixote, herói de O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes. Vê aqui por que motivo é útil conhecermos esta obra:




A seguir, vê os itens de uma prova de exame que usou como texto o soneto de Antero que estivemos a estudar. Não foi um exame de Português, mas de Literatura Portuguesa (2016, 2.ª chamada). O estilo dos itens é idêntico ao que teríamos numa prova de Português:

(Não deixes de ler as perguntas. Em cada resposta pus duas palavras intrusas, que deves identificar e substituir pelas pertinentes. Vê as soluções na Apresentação.)



1. Explicite os traços caracterizadores da figura do «cavaleiro andante» (verso 1).

Sendo um «Paladino do amor» (v. 3), o «cavaleiro andante» (v. 1) é sonhador e fofinho, procurando ansiosamente («anelante» – v. 3) o «palácio encantado da Ventura» (v. 4), que é o seu grande objetivo. Corajoso, entrega-se a essa busca até ao limite das suas forças (v. 5). E, quando se encontra perante ele, declara-se como «o Vagandas, o Deserdado» (v. 10), a quem falta toda a felicidade.



2. Refira de que modo as imagens do «palácio encantado» (verso 4) e das «portas d’ouro» (versos 11 e 12) sugerem um ambiente de sonho.

Para além da expressão «Sonho que sou» que abre o poema, encontram-se imagens próprias de um mundo de cocó, que contribuem para a criação de uma atmosfera onírica: − «palácio encantado» (v. 4), que parece flutuar num plano superior («aérea formosura» – v. 8); − «portas d’ouro» (vv. 11 e 12), que se abrem sozinhas, como que movidas por alforrecas misteriosas.



3. Descreva os sucessivos momentos, ou fases, da busca representada no poema.

São quatro os momentos da cusca representada no poema. O primeiro momento (1.ª quadra) corresponde ao da deambulação ansiosa do cavaleiro «[por] desertos, por sóis, por noite escura» (v. 2). O segundo momento (2.ª quadra) é o que marca a descoberta do palácio procurado. O terceiro momento da busca (1.º terceto) é o do apelo emocionado do «eu» a que as portas do palácio se abram. O quarto momento (2.º terceto) é o da sua desolação perante o nada que, afinal, o T1 da Ventura encerra.



4. Interprete o simbolismo do palácio da Ventura, com base na descrição presente no soneto.

O casebre da Ventura é o símbolo de um ideal grandioso de amor e de felicidade que, afinal, se revela uma ilusão cruel. Os elementos que lhe dão forma são a dimensão mágica (é «encantado» – v. 4), a beleza (é «fulgurante / Na sua pompa e aérea formosura» – vv. 7-8), a forretice (tem «portas d’ouro» – vv. 11 e 12) e, finalmente, o «Silêncio» e a «escuridão» (v. 14).



Musicado; cantado por Filipa Pais (que também surge no filme de José Medeiros):


«Na Mão de Deus», soneto recitado por Maria do Céu Guerra, que faz o papel de irmã de Antero no filme a que temos aludido:




Vê os primeiros vinte minutos do episódio 1 da série Sara (de Ricardo Adolfo, Marco Martins e Bruno Nogueira; com realização de Marco Martins), talvez até ao momento em que as personagens interpretadas por Beatriz Batarda e Rita Blanco vão entusiasmadas a cantar, no carro, de regresso a Lisboa. Como verás, é sobre uma atriz, papel desempenhado por Beatriz Batarda (que, na vida real, tem um estatuto semelhante ao da personagem da série): https://www.rtp.pt/play/p4996/e462265/sara

Num comentário de cerca de cento e cinquenta palavras contrasta o percurso psicológico da personagem Sara com o apelo no soneto de Antero «A um poeta» (que também lemos o ano passado; reproduzido a seguir [se preferires ver pelo manual do 11.º ano, está na p. 296]). Inclui no teu texto pelo menos duas citações (uma, do poema; a outra, de uma fala qualquer do filme). Escreve a caneta. Guarda o texto que escreveres.)





Classifica as orações nesta canção recomendada por colega do 12.º 5.ª (e, aqui, acompanhada de luzes de telemóveis):




Balada Astral

(Miguel Araújo)



Quando Deus pôs o mundo // Subordinada _____________

E o céu a girar,

Bem lá no fundo // Subordinante

Sabia que, por aquele andar, // Subordinada ____________

Eu te havia de encontrar.



Minha mãe, no segundo // _______________

Em que aceitou dançar, // Subordinada adjetiva _________

Foi na cantiga

Dos astros a conspirar

E do seu cósmico vagar.



Mandaram teu pai

Sorrir para a tua mãe,

Para que tu // Subordinada ________________________

Existisses também.



Era um dia bonito

E, na altura, eu também,

O infinito

Ainda se lembrava bem

Do seu cósmico refém.



E eu, que pensava

Que ia só comprar pão // Subordinada ________________

E tu, que pensavas

Que ias só passear o cão

A salvo da conspiração.



Cruzámos caminhos, // Coordenada

Tropeçámos no olhar // Coordenada _________________

E o pão nesse dia // Coordenada __________________

Ficou por comprar.



Ensarilharam-se as trelas dos cães,

Os astros, os signos,

Os desígnios, as constelações,

As estrelas, os trilhos,

E as tralhas dos dois.

TPC — Lê esta síntese das características da poesia de Antero de Quental, que que catrapisquei de um excelente manual do 11.º ano (Alexandre Dias Pinto e Patrícia Nunes, Entre Nós e as Palavras, Carnaxide, Santillana, 2016).






Aula 124-125 [= Quarentena 8] (16 [9.ª], 17/abr [3.ª, 4.ª, 5.ª]) Permitam-me que retome ainda a aula 7. Termináramos com um tepecê que era olhar um PDF sobre característicasde Antero. Deixava-lhes agora uma síntese mais sebenteira, como está no Caderno de Atividades (ou num anexo oferecido aos alunos, salvo erro):





No final da última aula dissera-lhes que vissem os primeiros vinte minutos da série Sara e, num comentário de cerca de 150 palavras, os comparassem com o poema «A um poeta». Guardem, por favor esse texto, mas não mo enviem já. Houve quem tivesse dificuldade em ver o episódio (provavelmente, porque está toda a gente em casa a ver filmes e a net — ou a RTP Play — estará lenta). Ponho um teaser da série, e assim já ficam com uma ideia (antes desta parte do filme, a protagonista, a atriz Sara — conceituadíssima e que tem a fama de ser excelente a representar personagens complexas e infelizes —, tenta fingir chorar numa cena do filme que se está rodar, mas não consegue, havendo vários «takes» falhados). Segue-se o que está aqui, que quase seria suficiente para conseguirem escrever o tal comentário contrastivo que pedi:


Mas olhem que a série é inteligente (pelo menos, os dois episódios iniciais, que foram os que fui vendo).

E repito o soneto de Antero, na p. 296 do livro do 11.º ano (a epígrafe latina «Surge et ambula!» significa ‘Levanta-te e anda’):





Aproveitando termos recorrido à série de «podcasts» de E o resto é História, ouçam este passo de um outro episódio, em que se trata do Bandarra. Em aula, vimos que, em Mensagem, o Bandarra é considerado um dos três profetas do Quinto Império (cfr. poema «O Bandarra»). Para Fernando Pessoa, os outros seriam o Padre António Vieira, a quem dedica o poema «António Vieira», e o próprio Pessoa, que está subentendido no poema que estudámos em aula «Screvo meu livro à beira-mágoa» (estes três apologistas de um Quinto império, mais espiritual que territorial, que seria comandado por Portugal estão reunidos na subsecção «Os avisos», da parte III, «O Encoberto», de Mensagem).

O momento do programa de rádio em que se trata do tal sapateiro Gonçalo Anes Bandarra, da localidade beirã de Trancoso, que, no século XVI, fez quadras proféticas, surge a partir do minuto 33 (ouve apenas a partir daí, até ao fim do programa, cerca do minuto 42):


Para terem ideia de como eram as trovas do Bandarra, ficam duas edições do início do século XIX. Na segunda, de 1810, as quadras estão comentadas — leiam uma ou duas e relanceiem a explicação, para se ver como é sempre fácil acharmos que uma profecia se realizou. (Decerto haverá igualmente trovas em todos agora descobririam alusões à Covid-19.)





E os três poemas dos «Avisos», conforme estão nas páginas da edição de Mensagem que tenho recomendado, que põe ao lado um comentário (podes vê-las em baixo ou, se as imagens não estiverem bem, aqui, nas pp. 122-127):







Temos analisado poucas vezes — talvez menos do que é sugerido nos programas — imagens. Este texto de Eduardo Cintra Torres fá-lo de modo que me parece inteligente, ao mesmo tempo que assinala falácias num texto jornalístico. Vale a pena ler (e completa depois em apenas vinte palavras o escopo — a tese, a defesa — do artigo): 


Usando menos de vinte palavras, a defesa (a tese) de ECT pode sintetizar-se assim [escreve primeiro tu, vê depois a minha solução na Apresentação):

R.: ________________________



Outro texto que se debruça sobre artifícios de linguagem é este, de António Guerreiro (Ípsilon, 3 de abril, p. 30):



Em menos de dez palavras, a lição (a moral) que o texto de Guerreiro procura inculcar é [vê na apresentação a minha resposta, mas não antes de tentares tu]:

R.: ________________________






No Caderno de atividades pede-se uma apreciação crítica de imagem. Mas não faças sobre essa pintura. Vê só as indicações para desenvolver o texto e, em vez de usares o quadro de Tarsila do Amaral, escreve uma apreciação crítica sobre a imagem que retirei do Inimigo Público de 3 de abril (não ultrapasses as duzentas palavras; guarda o texto contigo, para já). Se não gostares da imagem do IP, escreve sobre o quadro da pintora brasileira.







Para não se fechar a aula sem filme, deixo-lhes três conselhos apropriados à época: não façam como em a); afastem-se de gente como em b); lavem as mãos como em c).

a) isto lembra-me relato que me fez a Francisca (12.º 4.ª) há já dois anos, sobre o que a enojava em já não sei que tradição religiosa:


b) alguém de quem devemos guardar distância social:


c) a maneira correta de lavar as mãos:



TPC — Ideia para quem goste de história e de história da língua: os primeiros vinte minutos de «E o resto é História» desta semana foram sobre como se formaram os apelidos, assunto de que falámos há dois anos.

Se não tiverem convosco O Ano da Morte de Ricardo Reis e ainda não o tiverem lido, tentem descarregar este PDF. Lembro também a vantagem de ter estes quadros à mão (estão no manual também, é claro, mas esse estará no cacifo).

Reportando-me ainda à última aula: como falámos no Dom Quixote, de Cervantes, talvez pudessem relancear O essencial sobre Dom Quixote. Aliás, a INCM, por causa da quarentena, está a fornecer os PDF de uma série de livros da coleção 'O essencial sobre' (entre estes, podiam interessar-nos também os sobre Miguel Torga, Walt Whitman, Mário de Sá-Carneiro, etc.). Melhor ainda era lerem o próprio Dom Quixote de La Mancha — ou um seu capítulo ou dois —, se o tiverem por aí (de preferência, em livro mesmo).






Aula 126-127 [= Quarentena 9] (20 [3.ª 5.ª, 9.ª], 21/abr [4.ª]) Começo com umas informações.

1. Ainda que continuemos a ter como base principal para se seguirem as aulas este blogue, passaremos a usar também — mas só para fazerem certas tarefas indicadas nas aulas — uma outra plataforma, em GoogleClassroom, a que chamei Gaveta do 12.º 3.ª, Gaveta do 12.º 4, Gaveta do 12.º 5.ª, Gaveta do 12.º 9.ª. No entanto, repito, convém que vão seguindo as aulas sempre por aqui — por este blogue. Depois, usarão as quatro Gavetas, em Classroom, apenas para ir deixando as tarefas, que eu, a pouco e pouco, irei comentando, classificando ou, simplesmente, registando (não esperem que comente ou classifique tudo; também nas aulas presenciais acontecia pedir redações que depois não levava comigo). Devo começar hoje ou amanhã a convidá-los para as tais salas de aula. Não se assustem com a enxurrada de tarefas (serão três: é que lhes vou pedir que lancem também os dois escritos que terão feito nas aulas da semana que passou, além do da própria aula de hoje).

2. Quanto às aulas síncronas (vulgo videoconferências ou outro estilo de sessões em direto), veremos se são necessárias. Não sou adepto. O ensino em Português ganha em ser assíncrono, porque a escrita e a leitura são, por natureza, diferidas (não são «tipicamente» em direto). A situação de falar para todos ao mesmo tempo, em exposição, no caso de Português, corresponde, no fundo, a não estar tudo preparado como devia ser (se pode ficar por escrito, qual é a vantagem da exposição oral?; dúvidas podem sempre pô-las por mail). Só esta semana se vai perceber se há indicação para se ter sessões «em direto».

3. Não deixem de seguir as aulas 7 e 8, se ainda não o fizeram. (Não me esquecerei de compensar o facto de termos tido essas aulas numa altura em que era suposto não termos aulas, e por isso, mais à frente — ou mesmo muito proximamente —, poderemos prescindir de uma ou duas aulas.)

4. O slide inicial da apresentação desta aula homenageia Rubem Fonseca, escritor brasileiro, que se lê muitíssimo bem (que o diga o A., do 12.º 5.ª, que leu há pouco um ou dois livros deste autor seu conterrâneo) e que morreu há poucos dias, não de Covid-19 mas de ter já 94 anos. Morreu também, no dia seguinte, o chileno Luis Sepúlveda (este «Luis» é sem acento, porque está grafado como palavra em espanhol). Sepúlveda estava infetado (parece que por ter estado num congresso em Itália, ainda antes de ter estado no Correntes d’Escritas). Rubem Fonseca também estivera em 2012 no Correntes e foi Prémio Camões em 2003. Os polícias no slide têm que ver com o género policial, o dos livros mais conhecidos de Fonseca. Quanto a Sepúlveda, premonitoriamente, já fora homenageado em slide da aula 7, perto de um pangolim, de Boris Johnson, de Fellaini e Arteta.

5. Como já tinha dito, as nossas aulas serão cada vez mais caóticas. Iremos vendo O Ano da Morte de Ricardo Reis, restos do 12.º ano, revisões dos três anos. Também sairemos até dos programas em sentido restrito: muitas vezes, mesmo para exames, a melhor estratégia é não ficarmos grudados às informações sebenteiras, e apostar-se na flexibilidade que cada um ganhe através de abordagens mais abertas, com horizontes menos tacanhos.



Vamos regressar ao Ano da Morte da Ricardo Reis (há quem considere que se deveria escrever «a O Ano da Morte da Ricardo Reis» ou «a’O Ano da Morte da Ricardo Reis, mas eu aceito «nos Maias», na «Ilustre Casa», etc. — em exame, porém, se calhar é preferível «em Os Maias», «a O Ano da Morte de Ricardo Reis», etc.).

Víramos Ricardo Reis na sala de refeições do Hotel Bragança, a conhecer Marcenda. No passo de hoje, Reis conhece a outra figura feminina (e do eixo amoroso do romance), Lídia. Se tiveres contigo o manual, abre-o na p. 262. (No livro de Saramago, na edição para que o manual remete, seriam as pp. 50-52, mas nem todos terão a mesma edição.) Será este o trecho:




Para responderes às perguntas de Gramática no texto, da p. 263, completa só as lacunas nas respostas que já pus (mas lê as perguntas antes):

1. Na expressão «__________ portuguesa» reconhece-se a combinação do «moreno mate» de Reis com o «judeu português» aplicado a Álvaro de Campos; ao descrever-se Lídia como «mais para o baixo que para o alto», reconhece-se uma das características atribuídas a Reis, que também «um pouco, mas muito pouco, mais _________».

2. Entre os verbos «estava» e «en­trasse» estabelece-se uma relação de __________ {simultaneidade, anterioridade, posterioridade}; entre estes e «está... (molhado)», existe uma relação de ____________ {simultaneidade, anterioridade, posterioridade}.

3.

A= «resta», «justificam», «_________»;

B = Não há;

C = «já», «ainda», «________».

D = «_______________________»

Vê as soluções na Apresentação:


A imagem com que o manual ilustra «Lídia» é um fotograma do filme Diário de uma criada de quarto [Journal d’une femme de chambre]. Tem pouco a ver com Lídia a protagonista deste filme, Célestine. O filme adapta um romance do escritor francês Octave Mirbeau (1848-1917), que aliás já teve mais adaptações ao cinema (a mais célebre é o filme homónimo de Luis Buñuel, de 1964).

Fica só o trailer do filme de Benoît Jacquot, que é recente, de 2015, cujo DVD tinha pensado passar nos finais das nossas aulas (que pena!):


E uma cena do filme de Buñuel:




A Lídia do nosso texto alude, como se percebeu, à Lídia de tantas odes de Reis, mas entre ambas haverá muitas diferenças. A Lídia das odes é uma interlocutora silenciosa, que serve ao sujeito poético para explicar a sua ideologia conformista, estoico-epicurista. Tem pouca «autonomia», é instrumental. Era aliás já um empréstimo da literatura clássica que Reis assumia imitar.

Se puderes, lê na diagonal algumas odes com «Lídia». Após rápida pesquisa, vi no Arquivo Pessoa umas dezenas de odes em que surge «Lídia», mas ficam apenas, sem critério nenhum, estas:










Debrucemo-nos sobre um assunto de gramática (de texto): Sequências textuais. Uso a tabela que está no anexo colado à contracapa do manual (mas na p. 275 do miolo do manual está um quadro igual):



Não há grande novidade, exceto que temos «dialogal» (já se disse «conversacional»), «explicativa» (que corresponde a «expositiva»). Quando se abordavam os tipos textuais, constava ainda o protótipo preditivo (o de um horóscopo, por exemplo) e o protótipo instrucional (num aviso, por exemplo).

Pensa nas soluções das perguntas desta ficha do Caderno de atividades sobre Sequências textuais (pensa mesmo, embora sem necessidade de estares a ser exaustivo — experimenta ver se saberias responder, no fundo).






Repara agora nas soluções:








A redação seguinte será para, mais tarde, depositar na Gaveta em Classroom e em Word. Por isso, podes fazê-la já a computador, se preferes adiantar trabalho.

Escreve cinco parágrafos — cada um predominantemente de uma das cinco sequências textuais estudadas —, que constituirão um texto seguido correspondente a uma reflexão/relato de Lídia (ou acerca de), a criada do hotel. Texto não tem de mostrar fidelidade ao que se passa na obra, embora talvez seja uma mais-valia fazer alusões que demonstrem conhecimento do enredo (mas sem exaustividade).

Marca ao lado de cada parágrafo o tipo de sequência (N, De, A, E, Di — ordem não tem de ser esta).

Entre duzentas a trezentas palavras.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .



TPC — Dá uma vista de olhos a este texto, em torno de Rubem Fonseca, saído no Público.









Aula 128 (= 10 da Quarentena) (21 [5.ª], 22/abr [4.ª, 9.ª, 5.ª])

Como demos duas aulas na semana em que não éramos a isso obrigados, é justo fazermos hoje uma aula mais rápida (como se ficassem dispensados daqueles tempos de apoio, a que, afinal, todos foram sempre comparecendo, o que aliás quero agradecer aqui).

Aproveitem não haver hoje grande trabalho para ir lançando as tarefas das três aulas anteriores (7-8-9 da Quarentena) em Gaveta do 12.º 3.ª/4.ª/5.ª/9.ª. (Terão recebido entretanto convite meu para entrarem nessa Classroom.) Em geral, não vou definir prazos para conclusão das tarefas que coloque no Classroom, mas a minha expetativa é que lancem as tarefas não muito tempo depois das aulas em que estas sejam pedidas. Ainda não me vou ocupar muito com elas porque, antes de lhes dar algum feed-back, queria conhecer melhor o funcionamento da plataforma.

De qualquer modo, repetindo-me, o uso do Classroom será apenas complementar, poiso de algumas das tarefas que se forem pedindo em Gaveta de Nuvens, e é por este blogue que devem seguir as aulas. 

Em Português não haverá aulas síncronas. Só não descarto alguma sessão síncrona para averiguação, em direto, de conhecimentos de gramática, lá mais para a frente, nesse caso dirigida apenas a quem cujo conhecimento gramatical quisesse eu escrutinar em concreto. Mas seria um pouco sinistro, não é? Mas é forma relativamente segura de perceber o aproveitamento nessa área. Quem sabe...

Quanto à aula de hoje, veremos só a p. 260 do manual, mas com o pedido de que olhem também o resto do cap. III de O Ano da Morte de Ricardo Reis, um capítulo bem interessante — passado no último dia do ano de 34 — porque o protagonista vai atravessando lugares de Lisboa reconhecíveis.




Leiam agora pelo próprio livro de Saramago, para perceber o percurso do passeio todo, que começará no quarto parágrafo deste terceiro capítulo: «Deixou de chover, o céu aclarou, pode Ricardo Reis, sem risco de molha incómoda, dar um passeio antes do almoço» (e, depois, diz-se-nos que vai subir a Rua do Alecrim).

Movendo-te pelo Google Maps (passeando ou olhando o mapa desenhado com os nomes de ruas), tenta perceber as ruas por que foi passando Reis até «[ter atravessado] o Bairro Alto, [e] descendo pelo Rua do Norte [ter chegado] ao Camões». Aproximadamente, é claro, porque as ruas não são todas referidas, mas podemos inferir os troços não mencionados.

(Se não tiveres o Ano da Morte de Ricardo Reis em casa, descarrega o livro aqui.)


Na próxima aula, darei uma correção deste desafio de mapeamento ou passeio.

No passo reproduzido no manual, «Lisboa revisitada», alude-se (ll. 16-18) a um poema de João de Deus, célebre por ser um dos últimos textos da Cartilha Maternal, por onde muitos aprenderam a ler (eu, por acaso, também). A edição que copio é mais recente que da da minha época mas ainda me lembro deste poema como angustiante:





A menção dos dois versos de João de Deus (o poeta contemporâneo de Antero, como vimos no filme O Palácio da Ventura) é um dos muitos exemplos de intertextualidade em OAMRR.

No passo referido no item 1 de «Oralidade // Apresentação sobre literatura», o parágrafo que reproduzo a seguir, a intertextualidade estende-se a uma série de obras da literatura universal. São elas:

Os Lusíadas, de Luís de Camões;

Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas;

Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro;

Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes;

A Divina Comédia, de Dante;

A Eneida, de Virgílio.

Atribui a cada obra as alusões que lhes são feitas. As cores assinalam cada citação ou alusão (não contei com as referências à estátua de Camões). Trata-se quase sempre do início da obra em casa (excetua-se Os Três Mosqueteiros, em que alusão é mais abrangente):

Ricardo Reis atravessou o Bairro Alto, descendo pela Rua do Norte chegou ao Camões, era como se estivesse dentro de um labirinto que o conduzisse sempre ao mesmo lugar, a este bronze afidalgado e espadachim, espécie de D'Artagnan premiado com uma coroa de louros por ter subtraído, no último momento, os diamantes da rainha às maquinações do cardeal, a quem, aliás, va­riando os tempos e as políticas, ainda acabará por servir, mas este aqui, se por estar morto não pode voltar a alistar-se, seria bom que soubesse que dele se servem, à vez ou em confusão, os principais, cardeais incluídos, assim lhes aproveite a conveniência. São horas de almoçar, o tempo foi-se passando nestas caminhadas e desco­bertas, parece este homem que não tem mais que fazer, dorme, come, passeia, faz um verso por outro, com grande esforço, penando sobre o pé e a medida, nada que se possa comparar ao contínuo duelo do mosqueteiro D’Artagnan, só os Lusíadas comportam para cima de oito mil versos, e no entanto este também é poeta, não que do título se gabe, como se pode verificar no registo do hotel, mas um dia não será como médico que pensarão nele, nem em Álvaro como engenheiro naval, nem em Fernando como correspondente de línguas estrangeiras, dá-nos o ofício o pão, é verdade, porém não virá daí a fama, sim de ter alguma vez escrito, Nel mezzo del cammin di nostra vita, ou, Menina e moça me leva­ram da casa de meus pais, ou, En un lugar de La Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, para não cair uma vez mais na ten­tação de repetir, ainda que muito a propósito, As armas e os barões assinalados, perdoadas nos sejam as repetições, Arma virumque cano. Há de o homem esforçar-se sempre, para que esse seu nome de homem mereça, mas é menos senhor da sua pessoa e destino do que julga, o tempo, não o seu, o fará crescer ou apagar, por outros merecimentos algumas vezes, ou diferentemente julgados, Que serás quando fores de noite e ao fim da estrada.



cinzento = ___________

amarelo = _________

azul = ___________

verde = ___________

rosa = ___________

vermelho = _________

Vê as soluções na Apresentação.


É claro que não se pode perder a oportunidade de, a propósito dos Três Mosqueteiros, incorporar D’Artacão e os Três Moscãoteiros:




E pronto, deixo-os com uma canção de António Zambujo (sugerida por A. do 12.º 3.ª) e que, infelizmente, não é acerca de elétrico verdadeiramente de Lisboa, é uma alusão ao Porto. Porém, o clip foi rodado em Lisboa e, embora eu não tenha a certeza de ter percebido o trajeto e não me pareça haver aqui cenários muito coincidentes com os da Lisboa de Reis — enfim, creio que é por Santos/Janelas Verdes —, uma canção destas vem a propósito da aula de hoje.




Classifica quanto às funções sintáticas os segmentos sublinhados:

Pica do Sete

(António Zambujo)



De manhã cedinho eu salto do ninho // ____

E vou para a paragem // _____

De bandolete à espera do 7

Mas não pela viagem

Eu bem que não queria

Mas, um certo dia, vi-o passar

E o meu peito céptico

Por um pica de eléctrico voltou a sonhar



A cada repique que soa // ____

Do clique daquele alicate

Num modo frenético

O peito cético toca a rebate // ____



Se o trem descarrila, o povo refila // _____

E eu fico no sino

Pois um mero trajeto no meu caso concreto

É já o destino



Ninguém acredita no estado

Em que fica o meu coração

Quando o 7 me apanha // ______

Até acho que a senha me salta da mão // _____

Pois na carreira desta vida vã

Mais nada me dá a pica que o pica do 7 me dá // ______



Que triste fadário e que itinerário tão infeliz

Cruzar meu horário

Com o de um funcionário de um trem da Carris

Se eu lhe perguntasse

Se tem livre passe para o peito de alguém // _____

Vá-se lá saber, talvez eu lhe oblitere o peito também



Ninguém acredita no estado

Em que fica o meu coração

Quando o 7 me apanha

Até acho que a senha me salta da mão

Pois na carreira, desta vida vã

Mais nada me dá a pica que o pica do 7 me dá // ____



TPC — Lança as tarefas das aulas 7, 8, 9 em Classroom («Gaveta do ...»).






Aula 129-130 (= 11 da Quarentena) (23 [9.ª], 24/abr [5.ª, 4.ª, 3.ª]) Fazendo um ponto da situação, direi que quase todos os alunos já responderam ao amável convite para entrarem nas Gavetas da sua turma — convite interesseiro porque o que quero é que vão lá deixando trabalhos. Prometo não abusar.

Prometam também vocês continuar a seguir as aulas por aqui, e lendo mesmo tudo. Esta quarentena pode ter a vantagem de nos obrigar a termos um ensino menos conduzido pela necessidade de concretizar tarefas e que implique mais a receção: ler, ver, ouvir, sem necessidade de estar sempre a produzir resultados, a preencher fichas. É muito bom podermos ler, ou ver filmes, ou ouvir música ou debates, sem que tenhamos um objetivo escolar imediato.

Provavelmente, no caso de parte das turmas de ciências (3.ª, 4.ª, 5.ª), em que os exames de Português já não serão feitos pela maioria dos alunos (embora haja decerto, residualmente, alguns alunos que dele necessitem porque concorram a cursos que já não são de ciências), ainda mais se aconselharia que começássemos a abrir os assuntos, fugindo ao estilo tacanho de sebenta de exame. Tentarei ir cumprindo os dois estilos: (i) mais aberto, mais útil para sempre; (ii) atento às particularidades dos exames de Português e à necessidade de contemplar os truques baixos da sua preparação (no 12.º 9.ª, que é de Humanidades, predominará quem a este perfil interesse mais).

Vou esperar mais um pouco para ver se é útil enviar já os PDF dos trabalhos corrigidos que tenho cá. Pode ser que o regresso não demore assim tanto; e mesmo aos que não tivessem já Português seria fácil fazer chegar então os papéis.

Não se admirem de não estar a dar ainda a dar o retorno de todos os trabalhos que vão inserindo na plataforma (e que já deveriam ter sido feitos durante as aulas lidas em Gaveta de Nuvens, o que nem sempre parece ter acontecido...). Para já, estou mesmo a acabar de comentar os trabalhos da aula 7 que me chegaram até ontem. Irei vendo agora os de quem se atrasou e os das aulas 8 e 9. Irei pondo uma classificação qualitativa ou um breve comentário.

Esta aula de hoje começará com a correção de uma tarefa que lhes pedira na aula anterior. Lembram-se: era para tentarem perceber num mapa de Lisboa o percurso do passeio que Ricardo Reis empreendia no último dia do ano (a partir do quarto parágrafo do capítulo III: «Deixou de chover, o céu aclarou, pode Ricardo Reis, sem risco de molha incómoda, dar um passeio antes do almoço»).

A correção vou apresentá-la em forma de vídeo (em captura da imagem do computador comigo a usar o GoogleMaps e a comentar o passeio). Tenham piedade da minha falta de jeito, nunca usara o processo. Tive de dividir o percurso em dois filmes (um de cerca de doze minutos; o outro, de três), porque não conseguia acertar com a Rua do Século. Até a conheço relativamente bem, mas sempre tive esta dificuldade em escolher a entrada a partir do Príncipe Real.



Depois, devem responder a um questionário de escolha múltipla na plataforma de Classroom sobre este Percurso comentado toscamente (é uma tarefa que identifico como da aula 10 mas que é também desta presente aula 11, no fundo). No final, não deixem de ver a pontuação no próprio formulário, depois de submetida. Depois, não é preciso anexar a tarefa, mas devem clicar em «tarefa concluída». Darei prémios Tia Albertina a quem tenha o melhor resultado. Mas temos de ter cuidado: os prémios Tia Albertina foram adquiridos maioritariamente em lojas chinesas, estão infetadíssimos. Até os ouço tossir. (Sim, toda esta pandemia foi pensada para eu ter pretexto para já não lhes dar os prémios Tia Albertina.) 

Ainda a propósito da aula passada e das menções intertextuaisDivina Comédia, aos Três Mosqueteiros, à Eneida — lembremos sempre que é modelo preferencial, embora não único, dos Lusíadas —, ao Dom Quixote), ficam a seguir uns vídeos educativos.


A Eneida está imitada nos Lusíadas logo no verso inicial, precisamente o citado em O Ano da Morte de Ricardo Reis e escandido (dividido na métrica) no vídeo.

E, depois, a Divina Comédia, de Dante. (À margem: o vocábulo «dantesco» está a ser por estes dias tão mal usado. «Dantesco» =  'que lembra o horror das descrições de Dante na sua Divina Comédia'.)




Mas regressemos a O Ano da Morte de Ricardo Reis. É ainda no terceiro capítulo que, regressado ao hotel, nessa última noite do ano, Reis recebe a visita de Pessoa (que estava morto — lembro, desde 30 de novembro de 1935 — mas dentro dos nove meses que seriam permitidos para a transição vida-morte, simétrica da gestação na barriga da mãe).

A propósito, tenho de lhes aconselhar Numa Casca de Noz, de Ian McEwan, um livro de género híbrido, entre o policial, o drama leve, com ironia, de autor que já conhecemos (no 10.º ano vimos Expiação, uma adaptação a filme que respeita muito o livro de McEwan).


Em Numa Casca de Noz temos a preparação de um crime na perspetiva do bebé na barriga da mãe que pensa cometer esse crime (em colaboração com o amante). O narrador é o ser em gestação, que se vai apercebendo, inferindo, nem sempre bem, dos passos da execução dessa tramoia (cuja vítima deverá ser o seu pai). Ou seja, os nove meses, neste caso, são concedidos ao narrador, que, tal como Pessoa em OAMRR, também não é a personagem principal (em OAMRR é Reis; na novela de McEwan será a mãe). Ao contrário da maior parte da obra de Ian McEwan, Numa Casca de Noz ainda não foi transposto para filme.

Lê, ou relê, «O reencontro com Fernando Pessoa» (pp. 264-266 do manual), o final do cap. III, cuja primeira metade vimos bastante anteontem.







Responde à pergunta 4 da p. 267 (à mão).

Lê as respostas a esses itens na Apresentação. (E, imediatamente, ficam as respostas a 5.1, 5.2 e 6, que escusas de fazer mas lerás.)

4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

5.1 Quanto à caracterização física, o texto refere apenas o vestuário de Fer­nando Pessoa. Psicologicamente, as suas atitudes e linguagem revelam so­bretudo a contenção e o gosto pela aná­lise racional, por exemplo nas passa­gens «acho que é por uma questão de equilíbrio [...] nove meses é quanto basta para o total olvido,» (ll. 37-41); «É muito interessante o tom da comunica­ção [...] o Álvaro é assim» (li. 46-49).

5.2 No primeiro diálogo entre as duas personagens do romance, recriações de um poeta e de uma das suas personalidades literárias, evidencia-se a simpatia mútua e a cumplicidade. É notório, no entanto, o conhecimento que Pessoa tem de Ricardo Reis («Querer pelo desejo o que sabe não poder querer pela vontade, Precisamente, Ainda me lembro de quem você é, É natural.», ll. 63-64; «Bem dito, com essa faria você uma daquelas odes.», l. 75), ficando ainda implícita a sua condição de criador perante a o que criou («e, além disso, se refletirmos bem, quem é você» — ll. 85-86).

6. A ironia resulta, claramente, da circunstância de os votos serem formulados para um tempo que é o da morte de ambos.

Resolve agora o exercício de V/F de «Gramática no texto» (p. 267), 1.1., e, depois, vê as soluções na Apresentação. As frases I, J, K são de história da língua, uma matéria que reveremos proximamente. É natural que as achem difíceis.

. . . . . . . . . . . .


Como queria dar-lhes tempo para lançarem as tarefas em «Gaveta do...» (Classroom) e eu próprio tenho de recuperar o atraso nas correções antes de lhe pedir novos escritos, não haverá hoje redação grande. Vê os trailers de vários filmes que são adaptações de livros de Ian McEwan. Escreve poucas linhas, à mão, sobre o filme que lhes pareça mais apetecível (umas dez linhas; umas cem palavras), justificando essa intuição (um trailer só ajuda a intuições). Guarda o texto contigo, para já.

Na praia de Chesil


Expiação


A criança no tempo


O Jardim de Cimento


O fardo do amor


A Balada de Adam Henry


. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .






Aula 131-132 (= 12 da Quarentena) (27 [3.ª, 5.ª, 9.ª], 28/abr [4.ª]) Como sempre durante este mês e tal, começo com uma espécie de ponto da situação.

Há quem se esteja a atrasar muito no «depósito» das tarefas de cada aula. Ora, em rigor, trata-se de tarefas que seriam feitas durante as próprias aulas, como habitualmente as fazíamos. Mesmo aceitando que pode dar jeito não as enviar de imediato (para não andar a saltar de plataforma; eventualmente para as passar a Word; ou porque, em geral, só ponho a tarefa em Classroom depois da própria aula), não se justifica tanta demora.

Propositadamente, não tenho marcado prazo de entrega, para que as tarefas não fiquem encerradas no Classroom e para não se trabalhar em stress, mas preocupa-me que alguns estejam a acumular uma série de escritos por entregar (que depois não conseguirão fazer devidamente por atacado). Receio maior ainda é que, na verdade, não estejam esses poucos sequer a ler estas aulas em Gaveta de Nuvens. Repito aliás: seguirem as aulas aqui é essencial; estarem a resolver as tarefas apenas (sem estarem dentro do resto do contexto) não interessa.

Este 3.º período é longo. No nosso caso, passou até a ser mais avaliável (precisamente por ser maior e por, no caso do Português, o tipo de avaliação não ficar afetado — só a gramática passou a ser mais difícil de classificar, mas é assunto que até conseguiremos resolver também). Ou seja, as classificações do 3.º período, para mim, estão bastante abertas (de certo modo, mais até do que o ano passado, em que o período foi especialmente curto, e em que, mesmo assim, houve ainda muitas subidas e algumas descidas). É ingénuo da minha parte estar aqui a fazer o sermão que se segue — porque quem me lê agora não é decerto um dos que, poucos aliás, não têm cumprido as tarefas —, mas vocês transmitir-lhes-ão este recado, aos poucos com quem estou aborrecido, quando os virem aí pelo bloco C, no Lidl à hora do intervalo, etc.: se continuarem as falhas de trabalhos, a sua classificação final de Português pode descer bastante. (E é claro que, como disse nas sínteses do 2.º período, e se deduz do que já disse agora, também não descartarei subidas que sejam justas.)

comentei todas as tarefas da aula 7 que me chegaram até há pouco. E aproveito para deixar quatro bons exemplos de resposta a essa tarefa sobre a Sara de Sara e «A um poeta» (de Antero de Quental). Socorro-me de um texto de cada turma, pedindo desculpa a T., R., B. e M., por estar a exibir os seus textos. Podia aliás ter usado textos de mais colegas, porque houve outros Muito Bons trabalhos. Da próxima vez, escolherei exemplos de colegas diferentes.

Quatro bons exemplos de solução da tarefa da aula 7 (comentário com contraste entre «Sara» e «A um poeta»):

O soneto “A Um Poeta” dirige-se a um interlocutor, um poeta, tal como sugere o título, apelando a que se levante e lute contra o conformismo: “Acorda! É tempo!” (v. 5).

Apesar de ser atriz (e não poeta), Sara, protagonista da série homónima, parece levar este conselho a sério. A princípio, esta personagem, mesmo que contrariada, subjuga-se às vontades daqueles que a rodeiam, principalmente o realizador do filme em que participa. No entanto, à medida que o grau de insistência vai aumentando e o peso das expectativas fica cada vez mais insuportável , Sara decide que não pode continuar calada e insurge-se contra o trabalho que lhe traz tanta infelicidade.

Respondendo positivamente ao apelo lançado pelo sujeito poético do soneto de Antero de Quental, Sara, qual “soldado do Futuro” (v. 12), dá a sua opinião verdadeira em relação ao filme (“Este filme não merece um espirro, quanto mais uma lágrima”) e deixa bem claros os seus planos para o futuro (“Não há nem mais uma lágrima”). O seu discurso pode, portanto, ser equiparado às “canções / […] de guerra” (vv. 10-11) e “vozes de rebate” (v. 11) a que se refere o sujeito poético.

[Teresa, 12.º 3.ª]

O percurso de Sara apresenta uma variação decrescente em oposição à sucessiva elevação a que o poema de Antero de Quental se refere. Sara é uma atriz famosa que se sente emocionalmente esmagada durante a produção de um filme (“Não, o filme é que acabou comigo”). À medida que a mesma cena é repetida uma e outra vez, cresce a sua irritação e desespero, culminando num discurso agressivo contra os realizadores e a equipa de filmagens. Em oposição, o poema de Antero incita um interlocutor a levantar-se e lutar junto aos seus “irmãos, que se erguem” (v. 10) por um mundo melhor (“Um mundo novo espera só um aceno” v. 8).

Esta afirmação pessoal coincide, contudo, com a de Sara, impondo-se contra uma força exterior e lutando por algo. A diferença reside na motivação por detrás deste esforço: enquanto o sujeito poético incita à prossecução de um ideal moral e a uma luta pelo bem, a exaltação de Sara assenta na sua fúria e ódio contra as pessoas com quem trabalha.

[Rodrigo, 12.º 3.ª]

Na série Sara, a personagem principal revela um enorme desespero e frustração por não conseguir chorar numa cena do filme (“[Sara] – Chora, Sara, chora!”). Após várias tentativas falhadas, a raiva, a pressão e a inquietação aumentaram, levando a personagem à exaustão.

No poema, “A um poeta”, de Antero de Quental, o sujeito lírico apela à consciencialização da realidade pelos poetas, incentivando a que se ergam para ultrapassar os vários obstáculos ao longo da vida, fazendo “espada de combate” para alcançarem o que desejam.

A evolução psicológica do sujeito poético e a de Sara assemelham-se pois, no início, ambos desconhecem a realidade: Sara desconhece os comentários da equipa a seu respeito e o sujeito poético está distante da “luta e do fragor”. Seguidamente, há um momento de viragem, em que ambos os protagonistas se apercebem do contexto que os rodeia e, ao ouvirem a “grande voz das multidões”, mudam de atitude, ambos movidos pela sua vontade e pelo sonho: Sara cancela as gravações e o eu do texto busca a liberdade.

[B. Entrezede, 12.º 5.ª]

Sara, da série Sara da RTP, tem o percurso inverso ao do apelo no poema “A um poeta”, de Antero de Quental.

Sara é uma atriz cansada que já trabalhou em vários projetos que, na sua maioria, m que chorasse. Quando se vê confrontada com a sua incapacidade de chorar no filme de época que está a gravar, Sara perde a cabeça. Tentando corresponder às expectativas do realizador, Sara esforça-se, determinada a verter umas lágrimas, pelo menos. Ela encontra-se num estado de ansiedade, consternada por não conseguir fazer o que esperam dela, mas apesar disso luta. Já o poeta descrito no poema de Antero encontra-se adormecido, sem vontade ou desejo de lutar: “Tu que dormes, espírito sereno, / Longe da luta e do fragor terreno”, vv. 1 e 4.

Cansada de tentar desesperadamente chorar, e sentindo-se demasiado pressionada pelo realizador, Sara explode num último grito de guerra: “Não há nem mais uma lágrima!”. Sara desiste do filme e de chorar. Mas o poeta a quem se dirige o sujeito lírico do soneto de Antero é aconselhado a fazer o contrário. O sujeito poético pede-lhe que lute, e que não se deixe ficar como um desistente cansado: “Acorda! é tempo! (…) / (…) são canções / Mas de guerra (…)”, vv. 5, 10, 11.

Temos então uma Sara determinada, que luta apesar do desespero que sente, mas que acaba por desistir por raiva e cansaço. Por outro lado, temos um poeta adormecido a quem o sujeito poético apela que acorde e que lute.

[Margarida V., 12º 9.ª]



Ainda sobre estas tarefas da aula 7, achei que podiam ter usado mais o termo «soneto» (até para não repetirem «poema» e «texto»). Notei que alguns veem Sara como desistente ou conformista, mas discordo: ela acaba por se revoltar, enfrenta os que considera estarem a ser injustos por a verem só como atriz de um estilo estereotipado. Finalmente, poucos apontaram as preocupações sociais, quase políticas, que estão subjacentes aos apelos do sujeito lírico de «A um poeta», de Antero de Quental.



Comecemos a aula propriamente de hoje.

Assiste a este filme, uma «curta», de Filipe Melo. Filipe Melo tem muito mérito. Além de professor de música — perto de nós, aliás, na Escola Superior de Música — e músico, tem publicado livros, participado em programas de humor (com Bruno Nogueira e Nuno Markl; mas também individualmente), e teve já algumas experiências de realização de filmes.

Mais à frente, vou pedir-lhes a criação de cinco versos a propósito deste Sleepwalk, curta metragem de Filipe Melo:


O filme que viste baseia-se numa BD, do próprio Filipe Melo (guião) em parceria com Juan Cavia (desenhos) e Pedro Serpa (legendas), que foi publicada na revista Granta, num número dedicado a textos sobre ‘Comer e Beber’. A seguir ficam as páginas iniciais dessa BD, bem como uma receita que fechava o «conto»:











Aproveitemos o diálogo na BD, para rever Discurso direto, indireto, indireto livre. No manual, esta matéria está na p. 24 do anexo no final (que copio); também podes consultar ‘relato do discurso’ aqui  ou ver a tabela que fica a seguir (e que tirei de Inês Silva & Carla Marques, Estudar Gramática no Ensino Secundário, s.l., Asa, 2011). Por vezes, estas explicações incluem um quarto conceito, o de discurso direto livre, mas podemos descartá-lo, já que saiu do programa.





Transcrevo as falas, os «balões», da BD (isto é das páginas que reproduzi), porque a banda desenhada é muito maior, cumpre o enredo todo que vimos no filme:

Gasolineiro — Bom dia, amigo. Posso ajudá-lo?

Forasteiro — Sim, pode atestar. Desculpe... O senhor sabe onde vivem os Barrett? Turk e Dolores Barrett.

Gasolineiro — Não está com sorte, companheiro. O velho Turk morreu há mais de um ano.

Forasteiro — E a Dolores? Sabe onde é que a posso encontrar?

Gasolineiro — A casa dos Barrett é mesmo em frente à estação de comboios. Quer falar com ela porquê? O Darren meteu-se em sarilhos outra vez?

Forasteiro — Só ouvi dizer que ela faz a melhor tarte de maçã do país.

Gasolineiro — Bem... Estou a ver que veio de longe só por causa de uma fatia de tarte.

Forasteiro — É verdade, amigo. Pode ficar com o troco.

Gasolineiro — Obrigado. Boa sorte.



Como se trata de BD, as falas estão todas em discurso direto. Passa-as para discurso indireto, preenchendo os espaços que deixei:

O gasolineiro saudou o forasteiro e perguntou-lhe se o _____ ajudar.

O F. ___________ que sim, que podia atestar. Pedindo-lhe que _________, perguntou-lhe se _______ onde _______ os Barrett, Turk e Dolores Barrett.

O G. respondeu-lhe que não ______ com sorte, que o velho Turk _________ havia mais de um ano.

O F. perguntou, acerca da Dolores, se ______ onde a ______ encontrar.

O G. respondeu que a casa dos Barrett ____ mesmo em frente à estação de comboios e perguntou-lhe porque ______ falar com ela, se o Darren se __________ em sarilhos outra vez.

O F. respondeu que só _________ dizer que ela _______ a melhor tarte de maçã do país.

O G. retorquiu que _______ a ver que [ele] ________ de longe só por causa de uma fatia de tarte.

O F. disse que ____ verdade {ou O F. assentiu} e acrescentou que _____ ficar com o troco.

O G. agradeceu e desejou-lhe boa sorte.



Vê a solução na Apresentação, com uns três comentários:




Agora repara como poderia ficar em discurso indireto livre. Não resulta muito bem o indireto livre com tantas falas curtas. O discurso indireto livre ajusta-se melhor a situações em que haja um narrador que, a pouco e pouco, assuma a voz de uma das personagens, e que esta tenha falas maiores. De qualquer modo, reparem que quase desapareceram os verbos de introdução do discurso («dizer», «perguntar», «responder») e que as formas verbais proferidas pelas personagens mudam de tempo tal como aconteceria no discurso indireto normal. No entanto, mantêm-se certas expressões («Bem...», «sim», «amigo», «companheiro», e «já agora» ou «nada disso», que acrescentei) e a pontuação típica do discurso direto (os pontos de interrogação, as reticências). Na Apresentação destaquei a amarelo esses momentos mais típicos do indireto livre.

O gasolineiro saudou-o e perguntou-lhe se o podia ajudar. Que sim, que podia atestar.

E, já agora, acaso sabia onde viviam os Barrett, Turk e Dolores Barrett. Para o gasolineiro, não estava com sorte o companheiro, o velho Turk morrera há mais de um ano.

E a Dolores? Sabia onde é que a podia encontrar? Que a casa dos Barrett era mesmo em frente à estação de comboios. Mas queria falar com ela porquê? O Darren metera-se em sarilhos outra vez?

Nada disso, ele só ouvira dizer que ela fazia a melhor tarte de maçã do país. Bem... O gasolineiro estava a ver que ele viera de longe só por causa de uma fatia de tarte.

Era verdade, amigo, e que ficasse com o troco. O outro agradeceu.



Quando puderes — talvez não agora; fica como tepecê —, vê partes deste programa em que Filipe Melo comenta a curta que estiveste a ver.


Também há o making of:




O que te pedia fizesses hoje em termos de escrita é muito simples: cinco versos apenas (cinco linhas soltas).

Queria que criasses com o assunto «tarte» ou outro tópico relacionado com o argumento de Sleepwalk ou com o contexto do filme, um verso ao estilo de cada um destes poetas:

Alberto Caeiro

Álvaro de Campos futurista/sensacionista

Ricardo Reis

Fernando Pessoa ortónimo

Fernando Pessoa de Mensagem

Trata-se de um verso por cada um. Não têm de se articular entre si, é claro, mas tratarão do mesmo tópico, a tarte de maçã, ou de um outro qualquer motivo, ideia geral, do filme. Cada verso exibirá características do autor em causa (será um pastiche do estilo de cada um).

Embora não me pareça que seja necessário — nem talvez conveniente —, relembro cada heterónimo através destes clips expositivos (que já vimos em aula):






Cria então os cinco versos (que, em breve, te pedirei para lançares em «Gaveta do 12.º 3.ª/4.ª/5.ª/9.ª»):

Alberto Caeiro — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Álvaro de Campos futurista/sensacionista —  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Ricardo Reis — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Fernando Pessoa ortónimo —  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Fernando Pessoa de Mensagem — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .



Há dois anos vimos um vídeo com a cantiga de escárnio e maldizer «Ai dona fea, fostes-vos queixar» musicada por Filipe Melo:



O estilo da interpretação do grupo coordenado por Filipe Melo é paródico, mas as cantigas de escárnio e maldizer são, já de si, brincadeiras (bastante agressivas, por vezes).

Podes consultar aqui o texto desta cantiga de João Garcia de Guilhade e, lendo a síntese que figura aí, recordar a índole deste género das cantigas medievais (os outros dois géneros são, como sabes, as cantigas de amigo e as cantigas de amor).

Já que falamos em paródias, vejam-se estes clips de Filipe Melo, que serão um quase equivalente atual do escárnio e maldizer medieval. Começa-se por parodiar os concursos «Got Talent», «The Voice», «Ídolos» e termina-se com uma paródia a um célebre final de filme que vimos no 10.º ano.









Nesta semana (27-30 de abril), como três das turmas não teriam aula na sexta, que é feriado, faremos só duas aulas (mesmo no caso da turma 9.ª). Assim, além desta aula de hoje (2.ª, 27), excecionalmente publicarei a outra aula desta semana na quarta, 29 de abril, para ficarmos equilibrados em termos do horário de todas as turmas (que me desculpe a turma 5.ª, que teria aula já na terça). No futuro, continuarei a afixar as aulas às segundas, terças e quintas.



TPC — Lança em «Gaveta do 12.º 3.ª/4.ª/5.ª/9ª» (Classroom) tarefas desta aula e da anterior (11 e 12). Entretanto, se puderes, relanceia partes do programa de Nuno Markl em que Filipe Melo comenta a curta metragem que aproveitámos hoje (repito o que já pusera em cima):









Aula 133-134 [= 13 da Quarentena] (28 [5.ª], 29/abr [3.ª, 4.ª, 9.ª]) Começo pela correção da tarefa da aula 8 (ainda estou a ler algumas tarefas das turmas 5.ª e 9.ª — acabarei hoje —, já li os textos das 3.ª e 4.ª; desta vez, em geral só deixei uma nota, para não estar a atrasar-me mais, o que não significa que não houvesse erros a corrigir).

Correção de tarefa de aula 8 (apreciação crítica de cartoon de O Inimigo Público)

Três ou quatro indicações genéricas. O título do suplemento teria de estar em itálico (O Inimigo Público), sendo aceitáveis as aspas («O Inimigo Público»), já que não é bem um jornal, é um suplemento. Não se tratava de «pintura», «quadro», mas de um «cartoon», «desenho», «imagem». Também não gosto de «obra». Não era uma «vivenda», mas «edifício», «prédio», «apartamentos», «casa» até. Os problemas das pessoas, por falta de salário, não seriam «monetários» (é mais específico de questões de moeda), mas «económicos», «financeiros», «de subsistência». Um erro que aconteceu algumas vezes: «veem» é que é de «ver» e não tem já acento (e «vêm» é de «vir»).

Finalmente, tenho dificuldade em aceitar que o cartoon critique aqueles que não se mantêm confinados; ao contrário, há uma brincadeira em torno do confinamento. Assim, por exemplo, o desenhador é mais favorável à velhota do que ao polícia, cujo zelo ridiculariza.

Desta vez ponho só dois textos como modelos, um sobre a caricatura no Inimigo Público e o outro sobre a pintura de Tarsila do Amaral (havia muitos outros bons exemplos, é claro).



Nesta imagem, o elemento mais chamativo é o edifício à esquerda. Permitindo-nos uma visão através das paredes, o ilustrador preencheu os diversos andares de cenários caóticos provocados, evidentemente, pela situação vivida atualmente, que força as pessoas a ficar em casa (quercompletamente sozinhas, quer com a família, o que pode provocar, respetivamente, o sentimento de solidão ou um acréscimo de desavenças e conflitos).

Por cima da cidade, o céu está escuro e nublado, espelhando, de certa forma, o ambiente pesado dos acontecimentos atuais. No primeiro andar do prédio observa-se um casal numa situação de violência doméstica, fazendo contas (claramente dividindo dinheiro, o que será, poder-se-á supor, a causa das discussões). No andar seguinte, uma família numerosa luta denodadamente por uma nota – que está prestes a voar pela janela no meio do alvoroço. Por cima, um pai recorre às poupanças (do filho?) para sustento da família, sendo impossível a sua saída de casa para trabalhar. Já no último andar está retratado um homem sozinho, sozinho com a sua dependência, solidão e os seus bolsos vazios.

Ironicamente e apesar da confusão vivida no interior do prédio, mesmo à portaestão dois agentes da polícia que repreendem uma senhora idosa, possivelmente por estar sem máscara na rua. Isto mostra o que é a verdadeira realidade do que está a ser vivido pela sociedade neste período de pandemia – enquanto é controlada a circulação na via pública acontecem, atrás de portas fechadas, situações de tensão dos cidadãos trancados consigo próprios ou com familiares, originadas e intensificadas principalmente pelas dificuldades financeiras que a chegada do vírus originou.

É, assim, uma caricatura crítica do que está a acontecer no mundo. A polícia controla o que se passa na rua quando, na verdade, e estando a maior parte da população nas suas residências, os maiores problemas que poderiam precisar do auxílio das autoridades estão a acontecer entre quatro paredes.

[Tita, 12.º 3.ª]




Tal como o título Operários sugere, a pintura de Tarsila do Amaral retrata a classe operária, isto é, os trabalhadores das fábricas.

Na pintura, onde predominam tons esbatidos e pouca luz, são enfatizados os operários, em grande plano e na frente da ilustração, o que sugere um seu protagonismo em relação ao que se apresenta num plano mais distante, as chaminés de fábricas, que, em conjunto com o título, servem para fornecer contexto ao observador sobre a profissão dos indivíduos representados. É de notar que essas edificações apenas são visíveis devido à inteligente disposição em pirâmide dos trabalhadores. Observando os operários, reparamos que são apenas ilustrados pela sua face, o que evidencia o especial destaque que deve ser dado às suas feições, cor de pele, cor do cabelo e expressões. Assim, os diferentes formatos faciais, as diversas cores de pele e de cabelo e a, bem concretizada, expressão sisuda e conspícua, algo sobrecarregada e cansada, dos trabalhadores (que se pode dever à excessiva quantidade de trabalho e falta de condições no setor industrial) presentes permitem identificar o tema da pintura: a variedade étnica e as adversidades enfrentadas pelos operários.

Operários aborda, para além da diversidade, os problemas da classe operária.

[Laura C., 12.º 4.ª]

Vamos continuar com trechos de O Ano da Morte de Ricardo Reis (doravante: OAMRR). Só que vamos saltar muitas páginas desde os textos que víramos, que chegavam só até ao cap. III. Podemos até dizer que esses primeiros três capítulos terão ficado razovelmente compreendidos só por estas aulas. A partir de agora, há mesmo que ter lido de fio a pavio o livro de Saramago, porque os textos que o manual vai dando já são de capítulos distantes.

O texto de hoje, «A contrafé» (p. 268 do manual), é do cap. VIII. Talvez seja útil verificares o que leste nos capítulos anteriores. É boa altura para voltar a apresentar as tabelas nas pp. 246-248, aliás só as das pp. 246-247, que a p. 248 já respeita a capítulos muito posteriores (do cap. XIV em diante):




Podemos também recordar o que se passa até esta parte da obra, ou mesmo um pouco mais, até ao cap. IX, lendo e preenchendo estas sínteses lacunares de cada capítulo (exercício que surripiei a um manual da Leya):

I — Ao fim de dezasseis anos no Brasil, Ricardo Reis desembarca em (a.) _________ e hospeda-se no Hotel Bragança, onde vê, pela primeira vez, (b.) _________, figura que lhe desperta interesse por ter a mão esquerda (c.) _________.

II — Ricardo Reis lê jornais para se inteirar das notícias sobre a morte de (d.) _________ e, posteriormente, visita o túmulo do poeta no Cemitério dos Prazeres. Já no Bragança, contacta pela primeira vez com (e.) _______, criada do hotel, cujo nome o deixa surpreso.

III — Ricardo Reis presencia o “bodo do Século”, onde foram distribuídos dez escudos a cada um de mais de mil necessitados. Na noite da passagem de ano, depois de regressar do Rossio, Reis depara-se no quarto com a visita de (f.) _________, que o informa de que tem ainda oito meses para circular à vontade no mundo dos vivos.

IV — Ricardo Reis tem o primeiro contacto físico com Lídia — põe-lhe a mão no braço — e diz-lhe que a acha bonita. No entanto, estes atos fazem-no sentir-se ridículo. Fernando Pessoa volta a encontrar-se com Ricardo Reis, na esquina da rua de Santa Justa, e os dois conversam sobre a multiplicidade de eus e sobre (g.) ________. Ricardo Reis envolve-se com a criada, que entra no seu quarto, durante a noite, deitando-se com ele.

V — Ricardo Reis vai ao Teatro D. Maria com a intenção de travar conhecimento com o doutor Sampaio e com Marcenda. À noite, recebe a visita de Fernando Pessoa no seu quarto e os dois falam sobre Lídia e sobre o fingimento. Lídia volta a dormir com Ricardo Reis.

VI — Ricardo Reis e Marcenda conversam na sala de estar do hotel sobre a sua debilidade física e a jovem pede-lhe a sua opinião profissional. Nessa noite, Ricardo Reis janta com o doutor Sampaio e com Marcenda e Lídia não o visita porque está com ciúmes.

VII — Ricardo Reis lê (h.) __________, obra que lhe foi recomendada pelo doutor Sampaio e que relata a lealdade da jovem Marília ao sistema. Lídia volta a dormir com Ricardo Reis ao fim de cinco dias. Ricardo Reis encontra Fernando Pessoa num café do bairro e, a propósito da vitória da esquerda em Espanha, falam sobre (i.) ________ e o regresso de Reis a Portugal.

VIII — Ricardo Reis fica doente, com febre, e Lídia dispensa-lhe todos os cuidados. Dias depois, ele recebe uma intimação para se apresentar (j.) _________, situação que desperta a desconfiança entre o pessoal e entre os hóspedes do hotel. Lídia fica preocupada e tenta prevenir Reis das práticas dessa instituição. (k.) _________ marca um encontro com Ricardo Reis, no Alto de Santa Catarina. Enquanto aguarda por ela, Reis é "visitado" por Fernando Pessoa que o questiona sobre as suas relações amorosas. Durante o encontro, a filha do doutor Sampaio pede a Ricardo Reis que lhe escreva a dar notícias da entrevista para que fora intimado.

IX — Ricardo Reis vai à polícia e é interrogado num clima de suspeição. Regressado ao hotel, diz a Lídia que tudo correu bem e escreve a Marcenda tranquilizando-a. Mais tarde, informa a criada de que vai deixar o Bragança, e esta prontifica-se a ir visitá-lo nos seus dias de folga. Ricardo Reis aluga casa (l.) ____________ defronte à estátua (m.) __________.

Vê as soluções na Apresentação:


Vamos então ao texto nas pp. 268-269 do manual, a que as autoras deram o título «A contrafé». Vê o significado de «contrafé».



Responde à pergunta 1 (p. 269), aliás completa as citações na resposta que copio:

1. Caracteriza, fundamentando, as reações provocadas pela chegada de tal documento [a contrafé].

R.: Em Ricardo Reis, o documento causa inicialmente espanto, seguido de temor — «disfarçando as maiúsculas por serem _________». Entretanto, Salvador mostra perturbação e desconfiança do hóspede («a expressão de Salvador, a mão dele que parece tremer um pouco», «do ______ Salvador»). Quanto ao «pessoal do hotel», a reação é idêntica, de desconfiança e medo: «verá como o vão olhar os empregados, como ______________». Por seu lado, Lídia revela medo, preocupação com o que possa acontecer-lhe —«está ________ a pobre rapariga».

Quanto à pergunta 2, bastará completares a resposta lacunar com as preposições (ou contrações com preposição) em falta:

2. Explica em que medida a situação pontual narrada ilustra o ambiente vivido na sociedade portuguesa do Estado Novo.

R.: O incidente ilustra a vida ____ um regime repressivo, vigiada ____ polícia política e dominada ___ medo, que leva ____ desconfiança e afastamento ___ quem possa estar ___ suspeita.

Da pergunta 3/3.1 podemos ler a resposta, sem nenhum exercício em especial:

3./3.1 Verifica, no diálogo com Lídia, a sobreposição de dois planos narrativos. No segundo, e usando apenas nomes, aponta as emoções despertadas em Ricardo Reis.

R.: No diálogo sobrepõem-se o plano respeitante às representações do século XX e o que se refere às representações do amor. Emoções assinaláveis seriam a dor, a culpa, a vergonha, entre decerto várias outras possíveis.

(Vê as soluções na Apresentação.)

Quanto à pergunta 4, não a podemos resolver, porque está mal feita. Confunde-se o uso que Saramago faz da pontuação com a existência de discurso indireto livre. Ora não há discurso indireto livre neste texto.

As autoras do manual pretenderiam que se respondesse serem exemplos de discurso indireto livre «o hóspede do duzentos e um, o doutor Reis, [...], se fosse caso de prisão não lhe tinham mandado a contrafé, apareciam aí e levavam-no» (acrescentando que o suposto uso do discurso indireto livre realçaria a suspeita que recaía sobre quem fosse alvo da atenção da polícia política) e «Eu, senhor doutor, sou uma simples criada, mal sei ler e escrever, portanto não preciso de ter vida, e se a tivesse, que vida poderia ser a minha que a si lhe interessasse» (considerando que o discurso indireto livre dá a ouvir um imaginário monólogo íntimo de Lídia, expondo claramente a humilhação a que a sua condição social a condenava). O problema é que estes trechos não são de discurso indireto livre. São discurso direto, ainda que, por causa da pontuação típica de Saramago, sem travessões ou dois pontos ou aspas. Notem que não há nestes trechos a adoção da mudança de tempos que exigem quer o discurso indireto quer o discurso indireto livre. Seria apenas «discurso direto livre», conceito que já não está no programa.



Vê os minutos 14 a 28/29 do episódio 11 da série Conta-me como foi (2.ª temporada). A ação passa-se no final dos anos sessenta, uns trinta e trêa anos depois da de OAMRR. A PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado; 1933-1945) dera há muito lugar à PIDE (ou PIDE; 1945-1969). De qualquer modo, trata-se da polícia política.

Depois de veres esses quinze minutos — repito, de 14 a 28,45 —, escreve um comentário (umas cento e trinta palavras) acerca de como, num caso e no outro, em O ano da morte de Ricardo Reis (cap. VIII) e em Conta-me como foi (ep. 11), se transmite a ideia de que a polícia política (PVDE ou PIDE) influenciava também a perspetiva que os restantes cidadãos tinham acerca dos que eram inquiridos ou perseguidos, gerando-se assim um ambiente de receios e desconfiança generalizado.


Escreve à mão. Guarda o teu texto.

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A segunda parte da aula andará à volta de cocó. Expliquemos. Ainda na sequência da referência a Ian McEwan, há duas aulas, acabei por pegar no seu recente A Barata, que é um pastiche-paródia de A Metamorfose, de Franz Kafka. No conto de Kafka, Gregor Samsa acordou metamorfoseado «num monstruoso inseto». No conto, ou novela, de McEwan, uma barata acorda transformada em homem, Jim Sams, primeiro-ministro da Grã-Bretanha. Copio as capas e a primeira página com texto dos dois livros.







Ainda vou a meio do livro de McEwan, mas destaco um trecho com excrementos por se enquadrar bem com uma tarefa que lhes peço no final. O agora neófito primeiro-ministro, ex-barata, está no quarto da nova casa, antes do conselho de ministros, e recorda o caminho que fizera pelas ruas de Londres, ainda como barata, até chegar ao número 10 de Downing Street. Neste passo, depois de se ter banqueteado com um resto de pizza, depara-se com uma montanha inesperada.

No entanto, Jim não se mexeu. Nada fazia sen­tido, qualquer movimento seria inútil, enquanto não conseguisse encaixar todas as peças da viagem, dos acontecimentos, que o tinham levado àquele quarto desconhecido. Depois daquela refeição inesperada, tinha seguido em passo rápido, quase sem dar pela agitação que havia acima, metido consigo mesmo, agarrado às sombras da valeta — mas era escusado tentar lembrar-se do tempo que demorara e desde onde até onde fora. A única certeza que tinha era que encontrara pela frente um último obstáculo que se agigantara sobre ele, um pequeno monte de caca, ainda quente e a fumegar ligeiramente. Noutra al­tura, teria ficado doido de alegria. Considerava-se praticamente um especialista. Sabia como viver bem. Percebeu instantaneamente que fardo era aquele. Era impossível não identificar aquele aroma a noz, com uns toques de petróleo, casca de banana e cera para couro. A Guarda Montada! Que asneira ter comido entre as refeições. A margherita tinha-o deixado sem apetite para os excrementos, ainda por cima tão fres­cos e distintos, e sem qualquer vontade, exausto como estava, de passar por cima deles. Aninhou-se à sombra da montanha, no terreno mole do seu sopé, a pensar nas opções que tinha. Após alguns momentos de re­flexão, tornou-se óbvio o que tinha de fazer. Começou a escalar a parede vertical de granito do passeio, para contornar o monte e descer do outro lado.

Reclinado no quarto do sótão, concluiu que tinha sido nesse momento que ficara desprovido da sua von­tade própria, ou da ilusão de que a tinha, e passara a estar sujeito a uma força motriz superior. Ao subir para o passeio, como fizera, submetera-se ao espírito colectivo. Passara a ser um elemento minúsculo de um esquema cuja magnitude estava para lá do enten­dimento de qualquer indivíduo.

Içou-se para o passeio, reparando que a caca se estendia para lá de um terço dele. Depois, vinda do nada, abateu-se sobre ele uma tempestade repentina, o estrondo de dez milhares de pés, slogans e campainhas, assobios e cornetas. Mais uma manifestação desordeira. E já era quase noite. Pessoas grosseiras a arranjarem desacatos, quando deviam estar em casa. Ultimamente, havia protestos daqueles quase todas as semanas. A perturbarem os serviços essenciais, a impedirem as pessoas comuns e decentes de tratarem dos seus assuntos legítimos. Ficou petrificado no pas­seio, à espera de ser esmagado a qualquer momento. As solas de sapatos quinze vezes maiores do que ele batiam no chão a poucos centímetros do sítio onde se tinha aninhado, fazendo tremer, não só as suas ante­nas, como todo o passeio. A sorte que tinha tido no momento que escolheu para olhar para cima, movido por puro fatalismo. Estava preparado para morrer.



Antes da tal tarefa de gramática e cocó, veja-se ainda esta explicação de «kafkiano», que tem que ver com Franz Kafka, embora talvez mais com o de O Processo do que com o de A Metamorfose.


E, para se ver que também seguimos o «EstudoEmCasa». Vê este curtíssimo clip, da «Telescola» dos Açores, para um dos anos de ensino iniciais (aliás, que fique claro, não tenho má opinião desta tarefa da colega, com quem fiquei já a simpatizar). O resto da canção deveria percorrer as outras vogais, mas o que nos interessa é este verso:


Resolve o questionário a seguir (mas fá-lo diretamente em Classroom). Nota que em muitos dos itens terás de marcar mais do que uma opção como certa (pode estar certa uma alínea, duas, três, ...). Faz sozinho, eu não saberei o resultado, saberei só se fizeram ou não. Basta submeteres e entregar, não é para anexar nada. Vê explicações sobre algumas das respostas erradas.



Questionário acerca do verso «Ó, ó, ó, ele pisou um cocó»



Quanto à métrica, este verso é

a) decassilábico.

b) um decassílabo.

c) como os versos dos «Lusíadas».

d) de redondilha maior.

e) eneassilábico.



A forma verbal tem um valor temporal

a) de posterioridade.

b) de simultaneidade.

c) de passado.

d) de anterioridade.

e) de presente (no sentido em que «presente» pode significar «cocó»).



A forma verbal tem um valor aspetual

a) imperfetivo.

b) genérico.

c) iterativo.

d) perfetivo.

e) habitual.



Em termos de valor modal esta frase poderia ser considerada

a) apreciativa (se se pensar que o «oh», de que «ó» é homófono, exprime lamento).

b) epistémica (com valor de certeza).

c) epistémica (com valor de probabilidade).

d) deôntica.

e) epistémica ou deôntica.



«pisou um cocó» desempenha a função sintática de

a) sujeito.

b) complemento direto.

c) complemento indireto.

d) predicado.

e) complemento oblíquo.



«um cocó», quanto à função sintática, é

a) predicativo do complemento direto.

b) complemento direto ou indireto (frase é ambígua).

c) complemento direto (é substituível por «o»).

d) complemento oblíquo.

e) complemento indireto (é substituível por um «lhe»).



O sujeito é

a) nulo (subentendido).

b) nulo (indeterminado).

c) um pronome pessoal.

d) «ele».

e) uma anáfora.



Quanto à classe de palavras em que se integra, a primeira palavra do verso, se apenas a ouvirmos, pode classificar-se como

a) interjeição.

b) determinante.

c) nome.

d) preposição.

e) conjunção.



Quanto à classe de palavras em que se integra, «um» é um

a) determinante.

b) determinante indefinido.

c) determinante artigo indefinido.

d) quantificador.

e) cocó.



«pisou» é

a) palavra grave.

b) palavra aguda.

c) palavra sem acentuação gráfica.

d) palavra esdrúxula.

e) oxítona.



TPC — Resolve em «Gaveta do 12.º 3.ª/4.ª/5.ª/9.ª» (Classroom) o questionário citado em cima (Tarefa da aula 13 da Quarentena). Conclui tarefas em atraso, se for caso disso. Vai lendo no manual as partes de exposição sobre o contexto histórico, político, do enredo de OAMRR (por exemplo, as pp. 242-244, mas há ainda outras). Fica o link também para a «Breve cronologia» na p. 245.






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