Mário-Henrique Leiria, autor «da minha vida» de Nuno Markl

No primeiro episódio da série 1986 (a passar na RTP1, e que tem como cenário principal a Escola Secundária de Benfica, agora Secundária José Gomes Ferreira), o protagonista é aconselhado pela professora de Português a ler Contos do Gin-Tonic, de Mário-Henrique Leiria. Sabemos que a referência ao primeiro livro do autor surrealista tem fundo autobiográfico: um dos argumentistas, Nuno Markl, já confessou por diversas vezes ter sido essa leitura, começada efetivamente por indicação da sua professora, muito marcante:

Nota biográfica no verso do anterrosto da 2.ª edição de Contos do Gin-Tonic, obviamente escrita pelo próprio Mário-Henrique Leiria. A capa está também assinada pelo autor dos contos:

Mário-Henrique Leiria nasceu em Lisboa em 1923. Fre­quentou a Escola de Belas Artes, donde saiu apressada­mente. Entre 1949 e 1951 participou nas actividades da movimentação surrealista em Portugal. Depois começou a andar de um lado para o outro. Teve vários empregos, marinha mercante, caixeiro de praça, operário metalúrgico, construção civil (não, não era arquitecto, carregava ti­jolo), etc. pelas terras onde andou: a Europa cristã e ocidental, o Mediterrâneo norte-africano, o Oriente Médio e até, dizem, os países socialistas. Não ia aos Balkans por­que tinha medo, todos lhe diziam que lá os bigodes eram enormes e as bombas estoiravam até no bolso. Um dia teve que passar por lá. Os bigodes eram realmente grandes, mas toda a gente sabia rir. Tirou o casaco e bebeu que se fartou. Em 1958 meteram-se-lhe ideias na cabeça e foi até Ingla­terra, para aprender coisas. Não aprendeu e voltou. Entre 1959 e 1961 foi casado e não fez mais nada. Em 1961 foi para a América Latina donde voltou nove anos depois. Por lá, conseguiu ser, entre outras actividades menos respei­táveis, planejador de stands para exposições, encenador de teatro e até director literário de uma editora. Fizera pro­gressos. Agora está chateado, vive em Carcavelos e custa- Ihe muito a andar.

Tem colaborado em várias revistas e jornais nacionais e não só. Está publicado em algumas antologias, tanto aqui como no estrangeiro. Este é o primeiro livro que tenta publicar em Portugal.

Realmente, está muito chateado.

Recentemente — enfim, há um ano — começou a ser republicada toda a obra de Mário-Henrique Leiria. O volume 1, dedicado à ficção, inclui, é claro, os Contos do Gin-Tonic.

Contracapa de Obras Completas de Mário-Henrique Leiria, Ficção:

Crónica-recensão de Luiz Pacheco (na Pública, em 1997) sobre Depoimentos Escritos, de Mário-Henrique Leiria:

Qualquer dos livros de Mário-Henrique Leiria é uma boa ideia para as vossas leituras de abril-maio.

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