Thursday, September 04, 2014

Alfabeto Pessoal


TPCEscreve um «Alfabeto pessoal». (Além do exemplo, incompleto, que fica em baixo, podes ver depois um alfabeto por colegas de 2011.) Evita que as frases sirvam apenas para declarar aquilo de que gostas ou de que não gostas. Boa solução é não te limitares a qualificar o que escolhes («é bom», «mau», «gosto de», etc.) e usares antes uma redação «de comentário» aos temas que destaques. Repara também que a palavra que é escolhida pode nem ser o exato assunto, servindo afinal como pretexto para se aludir ao tema que importa mesmo. Podes ir alternando letras tratadas em algumas linhas (três ou quatro) com outras que desenvolvas apenas numa frase. E faz o alfabeto completo (fica ao teu critério incluir ou não o k, w, y).

A, de Automóvel. Irrita-me a importância que em Portugal se dá aos automóveis, sempre prejudicando quem usa os transportes públicos (e os passeios, paisagens, etc.). Admiro o trabalho da ACA-M (Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados), um dos raros exemplos de intervenção da «sociedade civil».

B, de Benfica. Foi em 1983 a primeira vez que dei aulas na Secundária de Benfica. Antes de a escola ser construída havia aqui uma quinta e a casa dos meus pais era do outro lado do muro.

C, de Capitu. Capitu é o hipocorístico de Capitolina, personagem de Dom Casmurro, de Machado de Assis, um dos meus livros preferidos.

D, de Dona Leonor. O liceu onde andei a partir do 5.º ano (o atual nono). Foi em 1974-75, o que explica que nada tivesse sido convencional (aliás, salvo erro, no ano anterior o liceu ainda era exclusivamente feminino). Recordo um dos hábitos de então: saindo das aulas, à tarde e no inverno, o grupo dos que moravam em Benfica ia apanhar o autocarro a Entrecampos, compartilhando as castanhas assadas compradas no caminho.

E, de Estrela. Quase colada ao Jardim da Estrela fica a escola João de Deus, onde fiz a primeira classe. Lembro-me do cheiro do leite — com cevada? —, da «linda falua» — seria? —, do estilo tipográfico da cartilha maternal. Mesmo em frente, o Pedro Nunes, que me faz recordar exames (um meu, do Propedêutico, e os das provas do secundário que ali os professores vão recolher).

F, de Futebol. Passei boa parte da minha infância a jogar à bola na rua. A minha primeira bola a sério (dizíamos de «catechumbo», por caoutchouc) foi roubada nuns baldios cerca de onde fica agora a Avenida do Colégio Militar.

G, de Gonçalves. Apelido de duas excelentes professoras que tive na Pedro de Santarém, e com quem nem sempre fui justo: Odete Gonçalves, de História; Adelaide Gonçalves, de Português.

H, de Hector Malot. O francês Hector Malot (1830-1907) é o autor de Sem Família, o primeiro livro de certa extensão que me lembro de ler. O romance conta a história de Remy, órfão e depois comprado por Vitalis, que, como músico ambulante, vai percorrendo parte da Europa.

I, de Inglês. A primeira língua estrangeira que aprendíamos era o francês. Ainda hoje não domino como gostaria a língua inglesa, o que é óbvia desvantagem.

J, de Janela. Pelas janelas da minha casa vejo a escola e descubro que, escondido pelas árvores, já não se percebe o desenho de mão espalmada que faziam os cinco blocos. Sobressai apenas a Escola Superior de Música (onde a Catarina T., com quem acabo de me cruzar na rua, conseguiu entrar).

[...]