Alfabeto Pessoal
TPC — Escreve um «Alfabeto pessoal». (Além do exemplo, incompleto, que fica em baixo, podes ver depois um alfabeto por colegas de 2011.) Evita que as frases
sirvam apenas para declarar aquilo de que gostas ou de que não gostas. Boa
solução é não te limitares a qualificar o que escolhes («é bom», «mau», «gosto
de», etc.) e usares antes uma redação «de comentário» aos temas que destaques. Repara
também que a palavra que é escolhida pode nem ser o exato assunto, servindo
afinal como pretexto para se aludir ao tema que importa mesmo. Podes ir
alternando letras tratadas em algumas linhas (três ou quatro) com outras que
desenvolvas apenas numa frase. E faz o alfabeto completo (fica ao teu critério
incluir ou não o k, w, y).
A, de Automóvel. Irrita-me a importância que
em Portugal se dá aos automóveis, sempre prejudicando quem usa os transportes
públicos (e os passeios, paisagens, etc.). Admiro o trabalho da ACA-M
(Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados), um dos raros exemplos de intervenção
da «sociedade civil».
B, de Benfica. Foi em 1983 a primeira vez que dei
aulas na Secundária de Benfica. Antes de a escola ser construída havia aqui uma
quinta e a casa dos meus pais era do outro lado do muro.
C, de Capitu. Capitu é o hipocorístico de
Capitolina, personagem de Dom Casmurro,
de Machado de Assis, um dos meus livros preferidos.
D, de Dona Leonor. O liceu onde andei a partir
do 5.º ano (o atual nono). Foi em 1974-75, o que explica que nada tivesse sido
convencional (aliás, salvo erro, no ano anterior o liceu ainda era
exclusivamente feminino). Recordo um dos hábitos de então: saindo das aulas, à
tarde e no inverno, o grupo dos que moravam em Benfica ia apanhar o autocarro a
Entrecampos, compartilhando as castanhas assadas compradas no caminho.
E, de Estrela. Quase colada ao Jardim da Estrela
fica a escola João de Deus, onde fiz a primeira classe. Lembro-me do cheiro do
leite — com cevada? —, da «linda falua» — seria? —, do estilo tipográfico da
cartilha maternal. Mesmo em frente, o Pedro Nunes, que me faz recordar exames (um
meu, do Propedêutico, e os das provas do secundário que ali os professores vão recolher).
F, de Futebol. Passei boa parte da minha
infância a jogar à bola na rua. A minha primeira bola a sério (dizíamos de
«catechumbo», por caoutchouc) foi
roubada nuns baldios cerca de onde fica agora a Avenida do Colégio Militar.
G, de Gonçalves. Apelido de duas excelentes
professoras que tive na Pedro de Santarém, e com quem nem sempre fui justo: Odete Gonçalves , de
História; Adelaide Gonçalves, de Português.
H, de Hector Malot. O francês Hector Malot
(1830-1907) é o autor de Sem Família,
o primeiro livro de certa extensão que me lembro de ler. O romance conta a
história de Remy, órfão e depois comprado por Vitalis, que, como músico
ambulante, vai percorrendo parte da Europa.
I, de Inglês. A primeira língua estrangeira
que aprendíamos era o francês. Ainda hoje não domino como gostaria a língua
inglesa, o que é óbvia desvantagem.
J, de Janela. Pelas janelas da minha casa vejo
a escola e descubro que, escondido pelas árvores, já não se percebe o desenho
de mão espalmada que faziam os cinco blocos. Sobressai apenas a Escola Superior
de Música (onde a Catarina T., com quem acabo de me cruzar na rua, conseguiu
entrar).
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