Thursday, September 10, 2015

Análise de Frei Luís de Sousa e Canções pelo 11.º 7.ª



Anastasiia [Bom + {tal como as notas seguintes, esta apreciação diz respeito sobretudo à primeira versão do texto, embora tenha tentado também vigiar a revisão havida}]
O fogo foi, desde os rituais da antiguidade e a queda de Troia, um símbolo de purificação; o fim de uma vida e o início de outra. Para as personagens de Frei Luís de Sousa, esta chama, seja ela metafórica ou física, foi o ponto de não retorno, caracterizado de uma maneira delicada por Bastille e a sua canção «Things We Lost In The Fire»: «Things we lost to the flames / Sits before us, shattered into ash [Coisas que nós perdemos para as chamas / Sentam-sediante de nós, despedaçados em cinzas]».
A origem da tragédia dos protagonistas foi o fogo do amor de D. Madalena, «o pecado do coração» que sentiu por D. Manuel ainda quando estava casada com D. João de Portugal. Submetida a uma força tão poderosa, que considerava tanto uma maldição como uma bênção que lhe dera a sua única filha, a fidalga submerge em depressão e ansiedade. Apesar de ter uma vida nova, ainda teme que o seu primeiro marido tenha sobrevivido, e tudo o que considerava arruinado pela guerra na Batalha de Alcácer Quibir desonrasse e tornasse blasfemo o seu segundo casamento.
Quanto a D. Manuel, é associado ao fogo pelo seu incessante patriotismo e fé, preparado para sacrificar o lar da sua família para protegê-la. Neste incêndio — episódio de caráter quase profético — é destruído o retrato de Sousa, a pintura que a sua mulher estimava, mas que já não conseguiu salvar: «I was the match and you were the rock / Maybe we started this fire / We sat apart and watched / All we had burned on the pyre [Eu era o fósforo e tu eras a rocha / Talvez nós começássemos este incêndio? / Ficámos separados e vigiados / Tudo o que tínhamos queimado na pira]».
Culpados e condenados à miséria pela natureza do seu sentimento e ilegitimidade da sua relação, foram, desde o início, perseguidos pelo passado de D. Madalena, pelo espírito de D. João de Portugal. Ao descobrir a verdade sobre o seu destino, o casal perde tudo o que conseguira criar naqueles anos de tranquilidade, sacrificando o mais valioso para redimir-se dos seu pecados – a sua filha, a sua família, a sua liberdade, entregando o seu destino a Deus, que «aflige neste mundo àqueles que ama»: «The future's in our hands and we will never be the same again [Entendes que nunca seremos os mesmos novamente?]».

Bernardo [Bom -]
“Saudade” foi o título escolhido pela antiga banda PopRock dos anos 80, os Heróis do Mar , para uma das músicas mais marcantes desta década. O título escolhido para esta faixa remete-nos para um sentimento que D. Madalena e D. João de Portugal partilhavam. Ao partir para a batalha de Alcácer Quibir, D. João deixava para trás a sua amada sem saber o que esperava ou, pior, se ainda voltaria para os braços desta. A distância que os separava e os perigos da guerra enchiam o coração de Madalena de medo, apesar desta já sentir amor por D. Manuel e por se culpar sempre por este sentimento.
Ao longo da obra vamos sendo sensibilizados para o estado de espírito de D. Madalena mas nunca perguntamos como se encontraria D. João pois este era dado como morto. No entanto, agora, com a sua vinda, podemos imaginar o que teria sentindo durante sete anos. «Ao redor desta fogueira — Saudade / Enquanto as armas descansam — Saudade / Ergo os meus olhos aos céus — Saudade / Pelas estrelas dos teus — Saudade», versos escritos pela banda que pretendia elevar os feitos dos Portugueses e contar a sua História, transmite-nos o sentimento de saudade que invadia D. João. No campo de batalha, enquanto as armas descansam, o esposo só pensa na sua amada e ergue os olhos ao céu que eram o limite entre eles, mostrando a distância que os separava. Para D. João de Portugal, Madalena representava a paz, a tranquilidade, a beleza; e, além disso via-a como uma figura frágil a quem lhe cabia proteger, «Amada senhora, pomba de cristal / Amada senhora, morro de paixão».
Madalena estava longe, não tinha como saber dela, não tinha qualquer maneira de comunicar ou de conseguir vê-la, restava esperar e rezar pelo regresso a Portugal e manter a esperança de que ela esperasse por ele. No seu peito sofrido pela ausência, o coração batia acelerado de paixão, como foi escrito pela banda que remetia para um nacionalismo que, na altura, era considerado exagerado e considerado quase fascista: «Peito rasgado de amor / Troa o rufar do tambor / Amor quão longe tu estás».
D. João foi mantido em cativeiro durante sete anos, a saudade que tinha era cada vez maior. Com a saudade crescia também o desespero de D.Madalena que, durante o período que D.João estivera desaparecido mandara fazer buscas e fizera tudo para encontrá-lo mas sem  sucesso. Sete anos depois, casaria com D. Manuel, supondo que o seu antigo esposo estaria morto: «Sabeis como chorei a sua perda, como respeitei a sua memoria, como durante sete anos, incrédula a tantas provas e testemunhos da sua morte, o fiz procurar», «A todos se encomendava o seguir a pista do mais leve indício que pudesse desmentir, por em duvida ao menos aquela noticia que logo viera com as primeiras novas da batalha de Alcácer. Tudo inútil; e a ninguém mais ficou resto de dúvida».

Carolina [Suf]
A música “Amar não é pecado”, de Luan Santana, ilustra bem o comportamento de duas personagens da obra Frei Luís de Sousa, D. Madalena e D. João de Portugal.
Madalena, como se vê em toda a peça, é uma mulher apaixonada. No dia em que viu Manuel apaixonou-se logo por ele, “eu amei-o assim que o vi.” O problema é que Madalena ainda era casada com D. João de Portugal (“foi em tal dia como hoje, D. João de Portugal ainda era vivo”), e por isso é como se fosse um crime que ela cometeu, pois estava casada com uma pessoa, mas, claramente, amava outra, não podendo dizer a ninguém o que estava a sentir (“Tive medo, e em segredo / Guardei o sentimento e me sufoquei”). Só quando D. João de Portugal, segundo se cria, morreu em Alcácer Quibir (“que naquela batalha de Alcácer, entre tantos, ficasse D. João”) é que pôde finalmente confessar os seus sentimentos e dizer a Manuel o que realmente sente (“Mas agora é a hora / Eu vou gritar p’ra todo mundo de uma vez / Eu ‘tou apaixonado/Eu ‘tou contando tudo / E não ‘tou nem ligando p’r’o que vão dizer”). Como diz a canção, “Amar não é pecado”, pois Madalena tinha todo o direito de se apaixonar e voltar a casar, pois pensava que o marido estava morto e tinha de seguir com a sua vida. Afinal, ela já tinha esperado alguns anos por ele, e, visto que ele nunca mais voltara, seguiu o seu coração.
Esta canção também pode ilustrar os sentimentos de D. João de Portugal, que, quando voltou de Alcácer Quibir, vinte e um anos depois, finge ser um Romeiro para ninguém o conhecer. Quando regressa, percebe que ainda sente amor por Madalena e, sabendo que ela não está bem, diz que se vai embora, pois ele só quer que ela seja feliz (“E que sossegue, que seja feliz.”). D. João de Portugal admite que a amava muito (“oh Telmo, Telmo, com que amor eu a amava eu”), mas percebe-se de que ainda hoje a ama pois quando Madalena (no ato terceiro, cena VI) chama pelo esposo, que é Manuel, o romeiro pensa que ela o está a chamar e fica encantado (“Que encanto, que sedução! Como lhe hei de resistir!?”).
E, na verdade, D. João de Portugal tem todo o direito de ainda a amar. De novo como diz a canção, “ Amar não é pecado”, e toda a gente tem o direito de amar, pois mesmo que tivesse passado muito tempo sem a ver e sem ter contato com ela, para ele Madalena era a mulher da sua vida e, com certeza, iria sempre amá-la. Tal como Madalena teve o direito de seguir em frente e apaixonar-se por outra pessoa.

Leonor F. [Bom+/Muito Bom-]
A história contada na canção “A Máquina”, da banda portuguesa Amor Electro, podia quase ser considerada um paralelo da vida de Madalena Vilhena em Frei Luís de Sousa, não fora o final feliz da canção não existir na história da personagem centenária.
Melodiosa e lúgubre, Mariza Liz transporta-nos para uma aura de tristeza e melancolia, de saudade e de dor por um coração que, embora transbordante de amor, encontra apenas farpas no seu caminho – “Porque este amor é meu / E cedo vou saber / Que triste é viver / Que sina, ai que amor” –, tal como o coração de Madalena – “Oh! que amor, que felicidade… que desgraça a minha!” (ato I, cena I) – que, aterrorizada com a ideia de o primeiro marido, D. João, ter sobrevivido, vive em constante angústia, apesar do amor que sente por Manuel e pela filha do segundo casamento, Maria.
Com a chegada, ao mesmo tempo inesperada e anunciada, do Romeiro – na realidade, D. João de Portugal disfarçado –, Madalena entra em desespero, convicta da sua desonra e, mais importante, da desonra que está, diretamente, a impor à filha, implorando a morte – “Meu Deus, meu Deus! Que se não abre a terra debaixo dos meus pés… Que não caem estas paredes, que me não sepultam já aqui?...” (ato II, cena XIV). Também assim acontece com o sujeito poético da canção que, num ato de exasperação, implora aos seus que lhe permitam ser feliz, pois é apenas essa a sua ambição – “É de pedir aos céus / A mim, a ti e a Deus / Que eu quero é ser feliz / É de pedir aos céus…”.
É após este momento de tensão e aflição que as histórias tomam rumos diferentes. Por um lado, a faixa de Cai o Carmo e a Trindade termina com uma valorosa ode à força de vontade, um vitorioso fim sem lágrimas ou dor – “Porque este amor é teu / E eu já só vou amar / Que bom não acabou / A Máquina acordou”. Por outro, Madalena acaba caída em desgraça pois a filha, Maria, frágil e, imaginamos, gravemente doente, falece ao descobrir a verdade sobre o seu nascimento – que é, na realidade, filha de um casamento “pecaminoso”, uma vez que o primeiro marido da mãe ainda vive. A vergonha da jovem é demasiado grande para que o seu corpo franzino a consiga conter, e a jovem morre, apesar da boa intenção do Romeiro – que se disponibiliza para fingir que a sua vinda nunca aconteceu, exatamente para proteger Maria –, cuja nova não chega a tempo de evitar o pior. Desgraçados e acabrunhados pela culpa, Madalena e Manuel ingressam em ordens religiosas, tornando-se Manuel o futuro célebre escritor Frei Luís de Sousa.

Tomás [Bom (-)]
A canção “Porque ainda te amo”, de Micael Carreira, do álbum Viver a Vida, relaciona-se com a peça Frei Luís de Sousa, tragédia criada por Garrett e onde a tristeza e o sofrimento estão presentes em cada cena.
Segmentos como “Porque ainda te amo”, “estou apaixonado” e “estou desesperado” aplicam-se perfeitamente à forma como Madalena lidou durante todos os dias de vinte um anos com a suposta morte de D. João de Portugal. Principalmente, “estou desesperado” e “dizer que a tua ausência não me deixa louco” remetem-nos para todos os dias que Madalena passou de forma angustiada, preocupada e triste. “Mentiria se dissesse que a vida sem ti segue igual” e “Não há tempo nem distância que te apaguem do meu coração” são versos que se enquadram perfeitamente na forma como Madalena tentou refazer a sua vida ao lado de Manuel de Sousa Coutinho, apesar de se recordar constantemente de D. João de Portugal (“Sabeis como chorei a sua perda, como respeitei a sua memória, como durante sete anos, incrédula a tantas provas e testemunhos de sua morte, o fiz procurar por essas costas de Berberia, por todas as sejanas de Fez e Marrocos, por todos quantos aduares de Alarves aí houve” — ato I, cena II).
“Porque ainda te amo e estou abandonado” e “Eu dava tudo para voltar-te a beijar” ajustam-se àquele momento em que D. João de Portugal se encontra a falar com Telmo e, na sala ao lado, estão Madalena e Manuel de Sousa Coutinho. Nesta cena percebemos que D. João de Portugal continua a amar Madalena mas, apesar de ter esperanças de que tudo voltasse a ser como dantes, pensa que o sentimento não é recíproco devido ao tempo que passou desaparecido, pois durante esse tempo Madalena já tinha outro marido e uma filha. Aí apercebemo-nos de que D. João de Portugal ficou desiludido e triste.
Acho que se pode relacionar a última parte da canção (“Mentiria se dissesse que sem ti a vida segue igual”) com o facto de Telmo, fiel escudeiro, não ter conseguido esconder que não acredita que o seu Senhor tenha morrido, ficando sempre na expectativa de que ele regressasse: “D. João de Portugal — A ninguém mais ficou resto de dúvida. // Telmo — Senão a mim”. E, afinal, acaba apoquentado e apreensivo pela vida de Maria e pelo amor de Madalena.

Beatriz C. [Bom (-)]
A canção “Sangue Oculto”, dos GNR, transmite-nos um sentimento de revolta no sentido de lutarmos por nós próprios ou por aquilo que é nosso e defendemos. O mesmo se pode verificar nas emoções de Manuel de Sousa, que o revela ao mostrar-se ele mesmo um patriota português, opondo-se a Castela e, mais particularmente a um grupo de governadores castelhanos que tencionavam ocupar o seu palacete, mesmo estando o nobre e a sua família contra a sua vinda. Manuel tinha conhecimento da chegada dos governadores, sabendo que, num prazo culto,  eles iriam chegar.
Entretanto, surge um criado seu a avisar que os governadores teriam desembarcado mais cedo do que Manuel previra. Após o sucedido, Manuel resolve tomar uma medida que, apesar de pouco ortodoxa, entendia que seria o melhor a fazer naquela situação. Manuel manda atear fogo ao palacete e, dando um exemplo de patriotismo, também ele pega numa tocha e é o primeiro a iniciar o incêndio.
«Ardem as chamas» do palacete, obrigando o nobre e a sua família a iniciar a fuga. As chamas propagaram-se tão rapidamente que nem o retrato de Manuel de Sousa foi retirado a tempo, para desgosto de Madalena, sua esposa.
Durante esta cena, a família Vilhena-Coutinho foge. Foge como que a « fugir duma investida» castelhana e refugia-se na antiga casa dos Vimioso, palacete onde Madalena vivera com D. João de Portugal, seu antigo esposo.
Ao aperceber-se de que iriam passar a morar no tal palacete, Madalena, atormentada pelo facto de ainda acreditar que João de Portugal ainda se encontrava vivo, dirigiu-se a Manuel implorando-lhe que não fossem para uma casa que lhe lembrava o seu antigo esposo e defendendo que sentiria a sua presença, afirmando que, devido a essa “presença”, encarava a sua estadia como um sinal de traição e pecado.
Afundada neste sentimento de culpa que a atormentava, Madalena, que sofria com a atroz doença da filha, vivia sem viver, ao lado de seu marido, que apesar de muito as amar, sufocava e sonhava, principalmente com a vontade férrea de conseguir manter a sua terra livre de intrusos que iriam tirar a liberdade da sua amada pátria.
No fim, e depois de tantas lutas e sofrimento, o casal vê a sua filha morrer de uma doença impiedosa e todos os seus sonhos ruir, dando a esta obra a classificação de tragédia.

Sebastião [Bom]

“Eu Esperei”, de Tiago Bettencourt, é um tema versátil – aplica-se a todas as situações em que a espera não resulta, no fundo, em que o desejado não chega. Através do uso de metáforas, o autor explica, ao longo da música, o resultado da paciência que leva à expectação sem fim. Versos como “A mentira não se fez verdade”, “E a justiça não se fez mulher”, ou “Esta corda não nos sai das mãos” são exemplos disso.
Quanto esperou Madalena pelo marido D. João de Portugal, desaparecido na célebre batalha de Alcácer-Quibir! Quanto procurou o próprio, como refere na cena II (“como durante sete anos, incrédula a tantas provas e testemunhos da sua morte, o fiz procurar por essas costas de Berberia, por todas as sejanas de Fez e Marrocos, por todos quantos aduares de Alarves aí houve… Cabedais e valimento, tudo se empregou”)! Quanto sofreu, não da morte da dúvida, que aparentemente permaneceria para sempre na sua vida, mas da dúvida da morte, que a impedia de ultrapassar este acontecimento. A carta que recebeu do próprio D. João, antes de este desaparecer, matou qualquer hipótese de terminar com a incerteza, deixando uma réstia de esperança e um mar de dor.
Madalena esperou, mas, como diz a letra de Tiago Bettencourt, “o fumo não saiu da estrada”. Quando decidiu, por fim, dar seguimento à sua vida (embora D. João nunca viesse a sair da sua cabeça), a decisão foi aceite por todos, inclusivé pela família do primeiro marido, que muito a estimava. Manuel de Sousa Coutinho foi o seu novo esposo, com quem viria a ter uma filha, Maria.
A vida parecia estar a correr bem à nova família, ficando para trás o episódio de Alcácer-Quibir, mas dificilmente se aplica melhor o verso de “Eu Esperei” – “Liberdade pode ser prisão”. A liberdade que houve para Madalena e Manuel se juntarem não deixou de os aprisionar à incerteza, baseada numa esperança muito remota, de que D. João de Portugal não havia falecido. A esperança comprometeu durante anos a felicidade de Madalena, até à chegada do Romeiro, que tornou este amor em pecado, ao abrigo de uma Igreja que ignorou a espera, os esforços e o sofrimento que marcaram a vida da mãe de Maria. À cena final de Frei Luís de Sousa, seria bem acrescentada esta fala a Madalena – “Eu Esperei”, D. João, eu esperei.

Matilde [Bom - / Bom (-)]

Madalena é uma personagem romântica, frágil, tímida. O tipo de pessoa que não sabe enfrentar problemas. A «mais virtuosa dama» esteve casada, primeiramente, com D. João de Portugal, um nobre que desapareceu na Batalha de Alcácer Quibir, assim como D. Sebastião. Dado o seu desaparecimento, Madalena casou-se com Manuel de Sousa Coutinho, um nobre cavaleiro da ordem de Malta que, além de patriota, é corajoso. O casal teve uma filha, Maria, adorada pelos pais e, sobretudo, pelo criado, Telmo.
Manuel não revelava qualquer tipo de ciúmes com o passado de Madalena. Já ela, sentia-se traidora por ter casado com D. Manuel, uma vez que D. João era apenas dado como desaparecido, sem se confirmar, por completo, a sua morte.
A música «Lusitana Paixão» foi cantada por Dulce Pontes num festival da Eurovisão. Pessoalmente, sempre me emocionou. Umas certas lágrimas espreitam no canto do olho quando começo a ouvir o instrumental desta mesma música. Cantei-a com a minha mãe no café «Albufeira ao rubro», numa noite de karaoke, quente e algarvia, por volta das 21h. Foi um momento de mãe e filha que, infelizmente, posso dizer que são cada vez mais escassos.
A letra sublinha o facto de que, apesar dos pecados que cometemos, se isso nos faz feliz, não deverá haver remorsos. Na cena II, numa conversa amigável entre Madalena e Telmo, é abordado o assunto do desaparecimento de D. João. Telmo acredita plenamente que o senhor de quem cuidava continua vivo. Já Madalena, refere esse assunto como proibido. No fundo, esta sente-se mal por ter casado com Manuel, sem ter tido a certeza da morte do seu primeiro marido. Porém, uma vez que amava outra pessoa, Madalena não tem que pedir perdão “quando gozar o pecado”. É neste contexto que o refrão da música se encaixa: «Mas / Não condeno essa paixão / Essa mágoa das palavras / Que a guitarra vai gemendo também / Eu não, eu não pedirei perdão / Quando gozar o pecado / E voltar a dar de mim / Porque eu quero ser feliz.»
Quando Madalena e sua família saem de casa por causa dos governadores que chegariam em breve para invadir o palácio de Manuel, o cavaleiro sugeriu partirem para a antiga casa da esposa, aquela que partilhara com o seu primeiro marido (Ato Primeiro, Cena XVII e XVIII). Madalena não reage bem ao pedido do marido, ficando nervosa e assustada. A certa altura, Madalena explica o motivo de implorar outra solução ao seu marido Manuel de Sousa Coutinho, dizendo que aquela casa lhe trazia azares, lembrando a figura de D. João de Portugal e, desta forma, prejudicando a relação com o marido e com a própria filha («Parece-me que é voltar ao poder dele, que é tirar-me dos teus braços, que o vou encontrar ali… Oh, perdoa, perdoa-me, não me sai esta ideia da cabeça… que vou achar ali a sombra despeitosa de D. João, que me está ameaçando com uma espada de dois gumes… que a atravessa no meio de nós, entre mim e ti e a nossa filha, que nos vai separar para sempre… […] Sei decerto que vou ser infeliz, que vou morrer naquela casa funesta»).
A primeira estrofe da música de Dulce Pontes – «Fado / Chorar a tristeza bem / Fado adormecer com a dor / Fado só quando a saudade vem / Arrancar do meu passado / Um grande amor» – pode aplicar-se à mágoa e a todas as lembranças que Madalena tem, provocadas pelo seu primeiro amor. A segunda terá o mesmo efeito, quando se afirma que Madalena sente uma grande dor em relação ao seu passado, chorando a morte de D. João de Portugal: «Fado / Soluçar recordações / Fado / Reviver uma tal dor / Fado / Só quando a saudade vem / Arrancar do meu passado um grande amor».
Por fim, consigo fazer ainda mais uma associação. Como já referi, D. Manuel é uma personagem bastante patriótica. Essa característica pode verificar-se quando decide incendiar a sua casa no ato primeiro, cena XII, depois de Frei Jorge trazer a noticia de que os governadores saíram de Lisboa e querem invadir o palácio. Deste modo, associo o apelo constante à palavra «Fado» ao significado que esta também tem, “destino”, sendo o destino de Manuel e de sua família partir.

Ariana [Suf (+)]

Quando se trata do tema “amor”, muitas vezes referimos um poder de alívio, sedução, de carinho entre as duas pessoas mas também o de ser capaz de provocar sentimentos contraditórios. Quando este amor termina, ou, pelo menos, se assim o julgamos, as memórias e lembranças que se passaram junto da pessoa que se ama sobrevivem no nosso íntimo.
Como exemplo desta explicação, temos a prova de amor de Dona Madalena de Vilhena que, após a perda do seu esposo, se volta a apaixonar pelo homem que tanto aguardava pela hipótese de estar com Madalena, Manuel de Sousa Coutinho. Desde o início que Madalena ficou rendida aos encantos de Manuel de Sousa mas, por outro lado, estava a trair um homem a quem era fiel mesmo se este não lhe satisfazia a alma como Manuel. Estará criado, desta forma, um triângulo amoroso, no qual D. João de Portugal estava a mais no amor ardente entre duas almas apaixonadas. Após a suposta morte de D. João e dos sete anos desperdiçados a procurar D. João, Madalena volta a ficar livre e desimpedida para viver a sua grande paixão, de que nasceu Maria.
A música que escolhi para ilustrar a história entre D. João de Portugal e Dona Madalena foi ‘’Photograph’’, de Ed Sheeran. Escolhi esta canção porque achei que se enquadrava na história de amor de D. João com Madalena, amor que nunca foi desprezado por D. João, ao contrário de Madalena, que após anos à sua procura, acabou por desistir, e reconstruir a sua vida. Por exemplo, nos versos da música “Nós mantemos este amor numa fotografia, nós fizemos estas memórias para nós próprios onde os nossos olhos nunca se fecham, os nossos corações nunca estiveram partidos e o tempo está congelado para sempre. [We keep this love in a photograph, We made these memories for ourselves where our eyes are never closing, Hearts were never broken and time's forever frozen still]”, podemos encontrar relação entre a letra da canção e os sentimentos, principalmente, de D. João, que ainda continua a amar a sua querida mulher e, por outro lado, o desespero e angústia que o simples retrato de D. João de Portugal lhe provoca, provavelmente por suscitar determinadas lembranças que acarretam consigo algumas consequências, neste caso, por se considerar que Maria, filha do amor com Manuel, se tornaria numa filha ilegítima, caso se provasse que D. João realmente estava vivo, tornando-se, na realidade, uma consequência que iria permanecer “congelada” no tempo, como uma traição.
A escolha deste excerto adequa-se aos sentimentos de D. João de Portugal, uma vez que este nunca se esquecera dos seus verdadeiros sentimentos por Dona Madalena de Vilhena, embora não fossem os mesmo correspondidos por ele.

Sara [Bom-]

Traduzido, o nome desta canção ficaria “casa de cartas”, algo que é muito frágil e delicado, desabando com facilidade, ficando assim esquecido e abandonado. Acho que esta expressão se pode aplicar ao caso de D. João de Portugal, cuja mulher, Madalena, pensava que ele estava morto, tendo voltado a casar, com Manuel de Sousa Coutinho.
Madalena nunca tinha amado, estado apaixonada, por D. João de Portugal, mas sempre se mantivera fiel, tendo esperado sete anos após o seu desaparecimento, antes de casar com Manuel de Sousa.
A letra da música consegue encaixar-se na situação de D. João de Portugal (este aparecendo depois como Romeiro) através dos versos «Say it, like you mean it / Even at the end, if you’re with me, I’m okay [Di-lo, como se fosse isso que querias dizer / Mesmo no final, desde que estejas comigo, estarei bem]». Este ponto da música aplica-se à situação de D. João e de Madalena (antes de ele ir para África combater), pois ela não o amava (amava Manuel de Sousa), e D. João, que a amava profundamente, estaria sempre bem desde que ela estivesse a seu lado.
Na peça de Almeida Garrett (no Ato III, Cena VI), o Romeiro (D. João de Portugal) ouve Madalena a chamar pelo «esposo», pensado este que se referia à sua pessoa , (“Marido da minha alma, pelo nosso amor te peço, pelos doces nomes que me deste, pelas memórias da nossa felicidade antiga, pelas saudades de tanto amor e de tanta ventura, oh! não me negues este ultimo favor; Romeiro - Que encanto,que sedução! Como lhe hei de resistir?!”). Porém, mal Madalena profere “Meu marido, meu amor, meu Manuel!”, a “casa de cartas” construída com o amor que somente D. João de Portugal sentira nessa relação entre ele e Madalena acabou, finalmente, por desabar: «A house made of cards and us inside / As time passes by, we only mess it up even more, no way, no way, it’s collapsing again [Uma casa de cartas e nós lá dentro / Com o passar do tempo, só estragamos mais as coisas, de modo algum, de modo algum, está a desabar novamente]». No fundo, estes versos da música idealizam figurativamente a destruição do “sonho” que D. João de Portugal tinha sobre o seu amor com Madalena.
Mas o que dizemos não se aplica somente ao caso de D. João com Madalena, podemos também aplicá-lo ao caso de Madalena e Manuel de Sousa Coutinho.
Grande era o amor que estes dois sentiam um pelo outro (e por sua filha Maria), mas algo sempre assombrara Madalena, o facto de não saber se seu “ex-marido”, D. João de Portugal, estava vivo ou morto. O amor, o casamento, de Madalena com Manuel de Sousa, eram como se estivesse parado no tempo, numa grande bolha, pois, mesmo se Madalena esperara os sete anos pelo regresso do seu marido, se o amasse verdadeiramente, não teria casado com Manuel de Sousa Coutinho. Mas o amor que sentia por Manuel era demasiado forte, era um amor cego, tendo ela um grande medo de o perder e de perder a filha de ambos (“Tenho este medo, este horror de ficar só... de vir a achar-me só no mundo.”, Ato Segundo; Cena VIII). Compare-se com o passo da canção «Even if you say it´s an useless dream, just stay a little more like this [Mesmo que digas que é um sonho em vão, vamos só ficar assim mais um pouco]».
No fundo, este “triângulo amoroso” acabaria sempre por magoar alguém: «Insecure again, dangerous again, so bad (why?) us, enduring more, holding out, so hard, we can’t [Inseguro novamente, perigoso novamente, tão mau (porquê?) nós, suportar mais,segurando mais, tão difícil,não podemos]».

Beatriz R. [Suf +/Bom -]

Hoje em dia diz-se que as pessoas estão egoístas, egocêntricas e que só pensam nelas próprias. Nesse sentido, poderá ser estranho que um casamento acordado entre famílias, que uma relação recente, se possa transformar num amor que o tempo e a distância não destrói.
Vinte e um anos depois, D. João de Portugal regressa para cumprir a promessa (vivo ou morto, Madalena, hei de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo). Tal como Céline Dion diz na canção, “Pour que tu m’aimes encore [Para que tu ainda me ames]”. E, na verdade, D. João regressa para que ela o continue a amar, como ele a ama.
O amor de D. João por Madalena chega a ser forte ao ponto de João regressar com a ideia de que ela ficara à sua espera e, após o regresso, sentir-se traído, pois aquela que o manteve vivo e que acabou por o “salvar” entregou-se a outro, e a única forma de a recuperar é, como nos dizem os versos da canção, “Je deviendrai ces autres qui te donnent du plaisir [Eu irei tornar-me naqueles que te dão prazer]”; “Je me changerai en or pour que tu m’aimes encore [Eu irei transformar-me em ouro para que tu me voltes a amar]”. Ou seja, o amor perdoa e quer, acima de tudo, ser correspondido. Tal como D. João que, ao ouvir o chamamento de Madalena pelo “Marido”, acredita ser para ele.
D. João de Portugal, no último ato, acaba por reconhecer que o seu aparecimento apenas trará desonra para todos e, por isso, sugere a Telmo que minta e diga que ele não é quem afirma ser. Diz-nos D. João, no terceiro ato, na cena V, “Agora é que preciso remediar o mal feito. Fui imprudente, fui injusto, fui duro e cruel. E para quê? D. João de Portugal morreu no dia em que a sua mulher disse que ele morrera.” E Telmo, tendo em conta aquilo que sente por Maria, sente-se tentado a fazê-lo (“Telmo – Que há aqui um anjo… uma outra filha minha, senhor, que eu também criei… / Romeiro – E a quem já queres mais que a mim, dize a verdade. / Telmo – Não mo pergunteis.”).
Na verdade, D. João regressa para o amor da sua vida, e percebe que este amor já não existe. Mesmo após ter tentado que “tu m’aimes encore”, o primeiro marido de Madalena compreende que, emocionalmente, morreu e, acaba por “matar” aqueles que o rodearam.
Frei Luís de Sousa é uma peça onde ninguém ganha e todos perdem. Nem o amor consegue ganhar.

Miguel S. [Suf (-)]
A canção “Fix You”, dos Coldplay, no álbum X and I, remete-nos para uma relação amorosa entre um casal, que se ama incondicionalmente e que se apoia mutuamente nos bons e nos maus momentos.
A canção adequa-se principalmente a Madalena, a Manuel de Sousa Coutinho e à sua filha Maria, que muito se amam.
No entanto, este era o segundo casamento de Madalena, que, antes, estivera casada com D. João de Portugal, desaparecido na batalha de Alcácer Quibir, aludindo na realidade a D. Sebastião, que também havia desaparecido na mesma batalha. D. João de Portugal aparecerá mais tarde, na figura do Romeiro, tendo Telmo sido o único a reconhecer o seu amo pela voz.
Nos versos da música dos Coldplay “Quando tentas o teu melhor, mas não tens sucesso / Quando tu consegues o que queres, mas não o que precisas”, vemos o modo como D. João de Portugal se sentiria perdido nos ares de África, sem Madalena, apenas com os mortos à sua volta e o calor arrebatador. Como conseguiria fugir daquele lugar e voltar para junto de Telmo e do seu país?
Depois do desaparecimento de João, Madalena casa-se com Manuel de Sousa Coutinho, com quem tem uma filha, Maria. O único que duvida da morte de D. João de Portugal é Telmo, seu aio, que espera a sua vinda. Telmo sempre fora fiel a D. João, contrariamente a Madalena, e, apesar da sua morte, continuaria a cuidar de Madalena e mais tarde de Maria.
O regresso de D. João é atribulado, ao deparar-se com Madalena. Entretanto, Madalena envolve-se numa enorme tristeza ao descobrir que o seu primeiro marido estava vivo. Telmo conforta o amo, contando-lhe que Madalena se havia casado com Manuel de Sousa e tivera uma filha. Contudo, a sua fidelidade havia sido efetiva, adequando-se aos versos “Luzes guiar-te-ão até casa / E aquecerão os teus ossos / E eu tentarei, consertar-te”.
Ao saber do sucedido, Maria morre de vergonha, pois era considerada filha do pecado. Apesar disso, nem Telmo, nem D. João conseguem fazer nada contra o sucedido.

Beatriz Belo [Bom -]
Analisando a letra da música de Miley Cyrus, “Adore you”, podemos encontrar vários fatores que são comparáveis com Frei Luís de Sousa.
Na peça Frei Luís de Sousa há uma trama familiar que envolve Madalena, Manuel de Sousa Coutinho (atual marido de Madalena) e D. João de Portugal (primeiro marido de Madalena). D. João de Portugal sempre teve um amor inexplicável por Madalena, que não sentia que o amava da mesma maneira, e isso traduz-se no facto de Madalena se apaixonar por Manuel de Sousa Coutinho quando o vê pela primeira vez. O que sucede é que D. João de Portugal é dado como morto passados sete anos de buscas depois do seu desaparecimento na batalha de Alcácer Quibir. Passados esses sete anos, Madalena acabou por se casar com Manuel de Sousa Coutinho que se revelou o amor da vida de Madalena.
A partir da cena XIII do ato segundo aparece-nos uma nova personagem que mais tarde nos apercebemos ser D. João de Portugal, passados vinte e um anos desde a última vez que fora visto. D. João de Portugal, ao deparar-se com a situação de Madalena e Manuel, sente-se magoado, traído e com vontade de castigar uma família que, sem ter culpa, havia pecado.
Manuel, ao saber do regresso de D. João de Portugal, sente-se culpado e diz até que o “amor é impossível. Madalena sente-se destroçada por ver esta atitude por parte de seu marido. Quando o «eu» da canção de Miley Cyrus diz “when you say you love me know I love you more [quando dizes que me amas fica a saber que eu te amo mais]”, há semelhanças com a peça Frei Luís de Sousa pois durante o ato segundo ficamos com a sensação de que Madalena ama mais Manuel do que aquilo que ele dá a mostrar, como é visível na fala de Madalena da cena VI em que diz “Meu marido, meu amor, meu Manuel”. Também quando na letra Miley se diz “when you say you need me know I need you more [quando dizes que precisas de mim fica a saber que eu preciso mais de ti]” há semelhança com o Frei Luís de Sousa, mais uma vez, pois durante toda a peça vimos que Madalena apresenta uma certa necessidade de ter Manuel por perto porque, no fundo, é o amor da sua vida e precisa dele para poder ser feliz. Mais uma vez, quando o sujeito interpretado por Miley refere “I could do this for eternity [podia fazer isto para a eternidade]” remete-nos para Frei Luís de Sousa, pois com a peça podemos tirar a conclusão de que Madalena quer ficar com Manuel para todo o sempre e ter a capacidade de continuar com a sua vida e não vê quaisquer motivos para se separar de Manuel.

Inês [Bom/Bom (-)]

Punha as minhas mãos no fogo em como esta música não foi escrita tendo como base Frei Luís de Sousa. No entanto, se tivermos um olhar atento, conseguimos encontrar algumas semelhanças e paralelismos evidentes. Refiro-me a “Primavera”, dos The gift, uma das maiores bandas nacionais.
Frei Luís de Sousa é um texto dramático com características de tragédia. O resultado é uma obra carregada de dramatismo, influenciado pelo destino fatal que nenhuma das personagens consegue evitar, mostrando-se portanto num estado de sofrimento evidente. Tais características despertam interesse por parte do espetador, que se encontra constantemente ansioso de chegar à cena em que se revele o desfeche tão esperado.
Tal carga trágica tão presente foi uma das razões que impulsionaram a minha escolha. De facto, “Primavera”, mais do que triste, é uma canção dramática que me leva à associação com D. João de Portugal e ao que a hipotética personagem possivelmente sentiu no dia que se sucedeu à sua aparição em Almada, numa sexta-feira.
Os primeiros versos presentes na música são precisamente “Sábado à noite não sou tão só, somente só”. Realmente, se nos pusermos na pele de alguém que, passados anos desde o seu desaparecimento, chega a casa com a perceção de que a sua família não é mais sua e de que amigos restam apenas o antigo aio, é percetível essa tal sensação de solidão e desamparo (“De parentes já sei mais do que queria. Amigos, tenho um; com esse conto.”).
Simultaneamente, e reforçando a citação do “De parentes já sei mais do que queria”, deve ter magoado bastante ver o amor que nem a distância e tempo tinham destruído, não ser já reciproco, uma vez que Madalena. partilhava agora vida com Manuel de Sousa, sendo tal facto um erro, desonra na época, uma vez que a morte do antigo marido nunca fora confirmada. Nos versos “Sei dos teus erros, os meus e os teus, os teus e os meus, os teus e os amores que não conheci”, os erros de Madalena seriam o seguimento de vida com outro homem que não aquele a quem tinha prometido fidelidade perante Deus (“Até que a morte nos separe”). Os erros de D. João de Portugal, numa outra perspetiva, poderão ser o facto de o mesmo sentir amor profundo por alguém que não o ama e o desejo de querer recuperar a vida que outrora partilhara com Madalena, mesmo sabendo do seu atual matrimónio com Manuel, “renascendo” (uma vez que todos à exceção de Telmo o tomaram por morto) na amada (“Parasse a vida, um passo atrás, quis-me capaz, dos erros renascer em ti”).
O desenrolar da música acompanha o desenrolar do texto. Em ambos deparamos com um sentimento de perdão e de abdicação da felicidade pessoal em prol de outrem. No fundo, é encarado o amor na sua forma mais trágica e dramática: “Hei-de te amar, ou então hei-de chorar por ti / Mesmo assim, quero ver-te sorrir...”.
Na obra de Garrett, é visível o sentimento de arrependimento de D. João de Portugal, uma vez que a impossibilidade de Madalena ficar com D. Manuel lhe causara tanto sofrimento. D. João pede então ajuda a Telmo para o fazer desaparecer para que Madalena possa reencontrar a felicidade, confessando em simultâneo que já a perdoara (“Que lho leve Deus em conta e lhes perdoe como eu perdoei já”).
Penso que é esse o maior paralelismo existente entre as duas obras: o amor na sua forma dramática, quando a felicidade do amado põe em causa a nossa, não havendo porém qualquer tipo de ressentimento, apenas solidão, no seu estado frio e cruel.

Polly [Suf (-)]

"Amor". Palavra tão pequena para definir um sentimento tão grande e bonito. Quando duas pessoas se amam de verdade, as peripécias da vida, grandes ou pequenas, não conseguem afetá-las, ao ponto de acabarem com esse sentimento tão puro e delicado. Vamos falar no caso de Dona Madalena de Vilhena e de Manuel de Sousa Coutinho.
Entre estas duas pessoas nasceu o verdadeiro sentimento de amor, um sentimento tão forte que, mesmo estando Madalena casada com D. João, a "peripécia" de sua vida, não deixou de senti-lo, fazendo-a suspirar pelos cantos, desejando estar junto de seu grande amor. Mas esse desejo logo se realizou, pois D. João de Portugal " morre" numa batalha. Após a procura, de sete anos, Madalena se viu livre finalmente para seguir em frente e ficar junto de Manuel de Sousa Coutinho, tendo uma história de puro amor, onde floresce o fruto esse sentimento, Maria. Pena que, da mesma forma que Maria foi uma bênção na vida de Madalena e de Manuel, no desenrolar da história, acaba por se perceber que na verdade Maria acabou sendo o pior erro que os alguma vez podiam ter cometido.
A música que escolhi para definir a intriga, mais precisamente, o amor entre D. João de Portugal e Madalena foi "Nunca mais eu e você", de Paula Fernandes. O motivo que me levou a escolher esta música foi o facto de esta se adequar bem à história de D. João e Madalena que, após a volta súbita de D. João, este, mesmo vendo que seu grande amor o esquecera, estando ela nos braços de outro, acaba caindo na realidade de que Madalena não voltaria para ele. O seu sentimento acabou por ser desprezado pelo seu verdadeiro e grande amor. Os versos da música "Não adianta ter saudades de quem não ira voltar / Perder alguém é crueldade, amor p'ra mim tem que durar / Se já não tem volta, porque ainda lembro? / Se não mais te importa, porque em me rendo? / E o que me sufoca, me diga a verdade, fecharei a porta das minhas vontades / Pra sempre lembrar, e reconhecer, que não vai voltar, Nunca mais eu e você." Enquadram-se bem na terrível história de D. João e Madalena, e no sentimento de D. João por ela após o regresso, perdendo a sua esperança de ficar com Madalena.

Catarina [Suf (-)]

Analisando a letra da música “Rosa Sangue”, dos Amor Electro e do álbum Cai o Carmo e a Trindade (2011), podemos comparar alguns dos versos com Frei Luís de Sousa e com algumas personagens da peça.
Madalena, mulher de D. Manuel de Sousa Coutinho, vive numa profunda tristeza com a morte do primeiro marido, D. João de Portugal. “[M]eu senhor D. João de Portugal” desapareceu na batalha de Alcácer Quibir e por isso Dona Madalena sentia-se mal em ter continuado a sua vida com D. Manuel, apesar de este lhe ter dado a sua maior felicidade, Maria, filha de ambos. Logo aqui podemos relacionar com o trecho da música “Tem-te se for tido, sabe ser vivido, fala-te ao ouvido e nasces tu”, visto que o pronome pessoal "tu" remete para o desespero anteriormente enunciado, agora fortificado pela morte de Maria, que dá a conclusão a esta tragédia, fazendo contraste com a conclusão do refrão, sendo observável uma ironia: "e nasces tu".
Outra comparação que podemos fazer, também relacionada com D. Madalena, é entre “é só o amor desfeito” e o amor de Manuel de Sousa e Madalena. Relativamente a “Rosa sangue ao peito”, podemos fazer uma associação a Maria quando morre no peito da mãe ou quando Telmo a chama “flor”. Há também bastantes momentos em que Manuel e Madalena se vão abaixo, derramando lágrimas que acentuam o clima trágico da peça.
Mais tarde, um Romeiro apareceu no palácio dos Vimioso, antiga residência de D. João, e conta a D. Madalena que D. João está vivo, respondendo ela “Meu Deus, meu Deus! Que se não abre a terra debaixo dos meus pés… Que não caem estas paredes, que me não sepultam já aqui?...”. Podemos também fazer uma comparação entre o que foi dito por esta e uma parte da música quando se diz “vê, não basta ir, voar, seguir, o cerco ao fim, aperta, trai, morde, engana a sorte, cai”, pois tudo o que foi dito pelo Romeiro se abateu sobre toda a vida de Madalena, sentindo esta que os seus dois mundos tinham acabado de colidir.
Podemos relacionar “Dobra a dor e entrega amor sincero” com a revelação da identidade do primeiro marido de Madalena, D. João de Portugal, e vincando o contexto, o século XVI com a importância de que se revestia a religião, pois, apesar da dor que isso trazia, tanto Madalena como Manuel concordaram em entregar o seu amor, fazendo depois as cerimónias de entrada para o convento dos dominicanos, em remissão dos pecados que consideravam ter cometido e de modo a tentar preservar a honra que tanto esmeravam.

Paulo [Suf]

A minha escolha recaiu sobre esta canção de Anselmo Ralph mas num aspeto muito específico, subjetivo. Madalena procurou D. João durante sete anos e casou com Manuel apenas quando deixou de acreditar no regresso do seu primeiro marido. No fundo, Madalena foi fiel a D. João e, quando este regressou, decidiu não se intrometer quando descobriu através de Telmo que Madalena lhe fora sempre fiel e o procurara. Isto fê-lo agir de forma justa, ainda que sem efeito no desfecho trágico.
Passando agora à explicação, direi que D. João ainda amava a sua mulher e queria-a de volta antes de saber da sua lealdade, e esta canção remete para o seu interior, para o amor que ainda existia dentro dele para com Madalena. Em falas suas, como “Ide a D. Madalena de Vilhena, e dizei-lhe que um homem que muito bem lhe quis... aqui está vivo... por seu mal... e daqui não pode sair nem mandar-lhe novas suas, de há vinte anos que o trouxeram cativo.” (fazendo-se passar por amigo da sua própria pessoa como se trazendo uma mensagem sua), e, mais tarde, quando aponta para o seu retrato revelando a identidade a Frei Jorge, respondendo “Ninguém!” e mostrando um sentimento de revolta pelo facto de julgar que a sua mulher lhe teria sido infiel, comprova-se a permanência do seu amor e a sua dificuldade em acreditar que Madalena tem um outro marido, o que nos remete para a letra da canção de Ralph (“Eu sei que a verdade liberta, mas se é verdade que já não me amas então prefiro estar preso na mentira.”). Neste passo também é relacionável com a canção o seu arrependimento por ter voltado e a intenção de ficar longe (falando-se da “mentira” na canção de Anselmo Ralph.
Ainda antes disso, ao longo da peça, Madalena mostra que ama Manuel, sabendo-se até que já sentia esse amor quando estava ainda com D. João, o que remete para as primeiras frases da canção (“Dá para ver que já não queres mais nada, e que o meu toque para ti já não tem piada.”). E, quando volta, João apresenta confiança em reconquistar Madalena, tal como o sujeito poético da canção de Anselmo (“Será que dá para fazer respiração boca a boca nesse amor, e trazê-lo à vida. Será que dá para esquecer a honestidade nessa hora”). O desejo de Manuel era ter Madalena de volta para si e Anselmo eleva essa esperança na sua canção (“Eu peço que me mintas, eu peço que, por favor mente para mim”), referindo depois mais aprofundadamente esse desejo (“Que ainda sou o homem dos teus sonhos, que nunca vais-me abandonar, que ainda vivo dentro do teu peito e quando dizes que me amas não estás a brincar, e se ao beijar a tua boca finge que ainda sentes algo, e por baixo da nossa manta mente-me que és toda minha, que nenhum homem te vai roubar de mim, que foste feita só para mim, que não vives sem mim.”). São vários os desejos que o «eu» da canção manifesta e, embora D. João acabe por não o expressar, dá a entender o que sente quando regressa e tenta lutar pela sua mulher (antes de saber a verdade). E, por fim, Anselmo acaba com “Prefiro viver na mentira do que aceitar a verdade, e te perder”, tal como D. João decide partir de novo e deixar a nova família de Madalena intacta, também devido ao facto de Madalena e Manuel terem uma filha (embora a família não fique intacta e D. João tenha tido infuência nesse aspeto).

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