Thursday, September 10, 2015

Análise de Frei Luís de Sousa e Canções pelo 11.º 8.ª



Kristina [Suf+/Bom - {tal como as notas seguintes, esta apreciação diz respeito sobretudo à primeira versão do texto, embora tenha tentado também vigiar a revisão havida}]
No início pensei que a pesquisa de uma música portuguesa para relacionar com a obra Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett seria tarefa simples, pois sobre o tema do amor sempre os portugueses escreveram muito. Porém, não conheço muito a bem arte musical portuguesa e por esse motivo optei por pesquisa de música estrangeira. Pesquisei músicas de  Rammstein, pois, por ser uma banda NDH ou rock, presumi que, ao traduzir as letras, ia encontrar algo dentro do tema da tristeza, desilusão, amor, sentimentos negativos. Deparei-me com várias letras que podiam servir para explicar vários momentos ou ações dos personagens, porém apenas “Wo Bist Du” consegue fazer uma análise psicológica aos comportamentos da Madalena ao longo de quase toda a obra, fazendo entender o que sente e pensa uma mulher com os seus problemas e na sua situação.
A tragédia tem o seu início exatamente com Madalena só a refletir nas suas íntimas preocupações e com o receio da ilegitimidade do seu segundo casamento com D. Manuel – “(…) que o não saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em que eu vivo… este medo, estes contínuos terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor (… )”. O motivo da inquietação relativamente a saber se o casamento fora legítimo explica-se pela incerteza da morte do primeiro marido de Madalena, D. João de Portugal, desaparecido na batalha de Alcácer Quibir. Com a incerteza da sobrevivência de D. João, “vivo ou morto”, vive agora Madalena, casada com D. Manuel, presa pelo pensamento do possível regresso do primeiro marido.
Ainda casada, Madalena apaixonou-se por D. Manuel, porém sempre fiel a D. João – “Ich liebe dich, ich liebe dich nicht mehr [eu amo-te, eu não te amo mais]”. Apenas com o desaparecimento de D. João, Madalena casou pela segunda vez e teve uma filha Maria (na obra, com treze anos) que também causa terror na mãe com a hipótese do regresso de D. João de Portugal e D. Sebastião inconscientemente. Para além da única filha, o medo e peso na consciência de Madalena é causado pelo Telmo, um velho criado, confidente privilegiado, que Madalena conheceu ao casar pela primeira vez. Telmo também acreditava no regresso de D. João de Portugal e partilhava histórias e opiniões com Maria. Apesar do segundo casamento ter sido aceite pelas três famílias, de D. Manuel, de Madalena e de D. João, Madalena continuara aterrorizada com a possibilidade da sua ilegitimidade, tal como refere a canção (“Wo bist du? [Onde estás?]”, a dúvida de Madalena presente e desenvolvida ao longo da tragédia).
Por Madalena viver com medo e ser supersticiosa, procura sinais de poder superior a avisar da vida de João de Portugal em vários momentos, por vezes até exagerando. Tal como refere a canção, “such ich dich hinter dem lich, (…) ich such dich unter jedem stein / eu olho para ti atrás da luz [eu procuro por ti por baixo de cada pedra]”.
Com isto, Madalena fica presa ao passado e entra em stress (“ich schalf mit einem messer ein [eu golpeio com uma faca]”).

Filipa [Bom -]
A canção dos Xutos & Pontapés, “Homem do leme”, aplica-se sobretudo às cenas V e VI do terceiro ato de Frei Luís de Sousa, com destaque às personagens Telmo, Romeiro e Madalena.
Os versos «Tentaram prendê-lo / impor-lhe uma fé / mas vogando a bondade / rompendo a saudade» remetem para a crença de Telmo, que nunca duvidou da sobrevivência do seu amo na batalha de Alcácer Quibir, D. João de Portugal. A sua suspeita é confirmada na cena V do terceiro ato, quando, em conversa com o Romeiro, acaba por descobrir que diante si se encontra o seu amo («Meu amo, meu senhor… sois vós? Sois. D. João de Portugal, oh, sois vós, senhor?»). Durante o diálogo com D. João de Portugal, Telmo repara no seu aspeto descuidado, que D. João justifica com a experiência cruel vivida nos últimos vinte anos: «São vinte anos de cativeiro e miséria, de saudades, de ânsias que por aqui passaram». Esta citação pode relacionar-se com os versos «Vai quem já nada teme / vai o homem do leme», presentes na canção.
D. João, ao regressar a casa, é informado por Telmo do novo esposo de Madalena, Manuel Coutinho, com quem Madalena tem uma filha, chamada Maria («E têm um filho?»). Fica incrédulo e surpreendido com as notícias, tomando assim a decisão de ir embora arrependido de ter voltado e indignado com a atitude de Madalena («D. João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera. Sua mulher honrada e virtuosa, sua mulher que ele amava…»), apesar do esforço de Telmo para o impedir. Esta atitude por parte de D. João poderia associar-se aos versos «No fundo do tempo / foge o futuro / é tarde demais», onde também o autor da canção descreve um sentimento de impotência perante a situação vivida, compreendendo que é tarde demais para mudar seja o que for.
Na cena VI do terceiro ato, é apresentada a cena em que uma confusão de Madalena, por momentos, faz D. João de Portugal voltar a sonhar com o seu casamento, pensando que Madalena o reconhecera e o chamara em tremendo pranto: «Pois por quem?... Não lhe ouves gritar: “esposo, esposo?». Madalena acaba por desfazer o engano («Meu marido, meu amo, meu Manuel!»), deixando assim D. João mais decidido a ir embora. Os versos «E uma vontade de ir / correr o mundo e partir / a vida é sempre a perder», são relacionáveis relacionam-se com a parte final da cena, onde D. João demonstra um sentimento de raiva por si próprio em ter acreditado que as palavras de Madalena pudessem ser dirigidas a si, o que é comprovado na fala «Ah! E eu tão cego que já tomava para mim! Céu e inferno! Abra-se esta porta… Não: o que é dito, é dito».

Stefanie [Muito Bom -]

A frase declarativa «Eu esperei», que serve de título à canção de Tiago Bettencourt, poderia constar ao longo do drama de Garrett, sobretudo na cena II do ato I, constituindo uma espécie de justificação e, talvez até, uma desculpa, proferida por D. Madalena de Vilhena. Embora perseguida por um sentimento de culpa, a verdade é que a esposa de D. João de Portugal esperou efetivamente sete anos antes de ter desposado D. Manuel de Sousa Coutinho.
A faixa do álbum Acústico (2012), que conta com a colaboração dos Mantha (banda composta por Pedro Gonçalves e João Lencastre), embora retratando uma realidade diferente da que se encontra presente em Frei Luís de Sousa – a do vazio interior dos portugueses, que têm encarado a vida como um fardo demasiado pesado, sentindo-a como um «mundo inteiro a ser demais» relembra o sofrimento de Madalena, após D. João ter sido dado como perdido na batalha de Alcácer Quibir («D. João ficou naquela batalha […] com a flor da nossa gente»). Apesar das buscas infrutíferas, a dúvida em torno da efetividade da sua morte permaneceu e é devido à sua determinação e esperança («Sabeis […] como durante sete anos, incrédula a tantas provas e testemunhos da sua morte, o fiz procurar […]») que Madalena pede a Telmo que não a faça «mais desgraçada». De facto, o «fiel servidor», frequentemente de caráter agoirento, será porventura o único a poder afirmar o seu orgulho, a sua superioridade e o seu destino. Na verdade, o destino constitui o principal motivo da quase ausência de enredo de Frei Luís de Sousa. Logo de início, o espetador sabe o que sucederá, uma vez que o desfecho se torna frequentemente evidente. Conjurá-lo, como o fazem aliás D. Madalena e Manuel de Sousa, revela-se, desse modo, inútil.
Esta conceção de destino é própria da individualidade literária de Garrett e denota a herança do teatro clássico. O mesmo se poderá afirmar acerca do conflito psicológico que é desencadeado pelos dilemas com os quais as personagens do drama se deparam. Este aspeto é particularmente visível no momento em que Telmo Pais se vê obrigado a escolher entre Maria e D. João. O conflito psicológico é igualmente evidenciado de imediato na cena I do ato I, aquando da reflexão/meditação de Madalena, que poderia ser fundamentada com os prenúncios presentes na canção de Tiago Bettencourt: “E a tristeza é forma de sinal / Liberdade pode ser prisão…”.
Com efeito, a vida de D. Madalena de Vilhena é marcada pela prisão em que a ansiedade a confina, uma vez que o medo causado pela possibilidade de regresso de D. João não lhe possibilita “gozar um só momento” da felicidade e do amor proporcionados por D. Manuel de Sousa.
Existe, por isso, um problema moral imposto às consciências católicas, na peça de Garrett, devido ao duplo casamento de D. Madalena. A sua gravidade é determinada não apenas pela indissolubilidade do vínculo matrimonial, mas, principalmente, pela presença da filha ilegítima, Maria. A sua morte, no final do drama, representa uma forma de expiação da culpa que não é de ninguém.

[Bom +]

A obra Frei Luís de Sousa é uma tragédia-drama romântico, comparável a uma tragédia-grega, uma vez que é possível retirar dela a ideia de que é o destino que tudo controla. É, na verdade, “o destino e a sua irrevogabilidade que interessam à tragédia”.
Nesta peça, Almeida Garrett escreve sobre uma família, a família Vilhena-Coutinho, que reside em Almada e tem uma filha. A sua vida aparenta ser feliz e calma, mas a verdade é que este casal tem algo que os assombra: a possibilidade de o seu casamento ser pecaminoso. D. Madalena de Vilhena, esposa de Manuel de Sousa Coutinho (o futuro Frei Luís de Sousa), havia já sido casada, em tempos, com um outro homem, um nobre guerreiro chamado D. João de Portugal, que tinha desaparecido na batalha de Alcácer Quibir. D. João amava a esposa e, antes de desaparecer, jurara em carta: “Vivo ou morto, Madalena, hei-de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo”.
Após a derrota dos portugueses na batalha, D. João de Portugal desapareceu e, com muito poucas dúvidas da parte de Madalena sobre a sua morte, esta torna a casar, formando uma família. Apenas o aio, Telmo, duvidava ainda da morte de seu amo.
Por azares da vida, esta família vê-se obrigada a abandonar a residência e ir para a velha residência de D. João. Tal acontece no fim do I ato e início do II ato. É aqui que Madalena fica aterrorizada, pois recorda a vida que tivera naquele palacete. Também neste palacete toma lugar o acontecimento trágico, nos atos II e III. Um Romeiro aparece, afirmando vir de Jerusalém e trazer notícias a D. Madalena, falando-lhe de um cativo (D. João de Portugal), dizendo-lhe que este vive com a esperança de voltar a vê-la e de que esta se lembre de si e de seu amor. Traz-lhe a notícia de que “um homem que muito bem lhe quis (…) está vivo… por seu mal (…) há vinte anos que o trouxeram cativo.”
Este Romeiro é, na verdade, D. João, que fala indiretamente de si. Ele é o “destinador” da tragédia, porque vai destruir o lar. Quando lhe perguntam quem ele é, responde que é “Ninguém”. Até ao seu aio ele diz: “Ninguém, Telmo; ninguém, se nem já tu me conheces!”. O sentimento de D. João é semelhante ao do sujeito poético da canção de António Mourão, “O meu nome é Ninguém”, que assume ser “o barco que volta (…) Sou a esperança, a revolta (…) Um cativo caminho. Ando perdido no espaço, à procura de ninho. O meu nome é ninguém”. D. João já não se considera alguém. Afirma “D. João de Portugal morreu no dia em que a sua mulher disse que ele morrera”. Ele, já de cabelos brancos e barbas longas e brancas (“São vinte anos de cativeiro e miséria”), tem o mesmo sentimento descrito na canção (“Sou o fato rasgado, sou a mão calejada. O meu sangue é encarnado, tem a cor desbotada”).
No entanto, apesar de não se revelar a Madalena, de modo a não aumentar o seu sofrimento, D. João causa a tragédia. Destrói aquele lar nos atos II e III. Ele acaba por partir de novo, não se revelando a ninguém a não ser ao seu aio. Como na canção, continua sendo ninguém: “O meu nome é ninguém, o meu nome não sei”.

Sara G. [Bom -/Bom (-)]

A canção de Caetano Veloso «Leãozinho», do álbum Bicho (1977), retrata um forte sentimento de afeto de um ser – que, neste caso, seria o sujeito poético – por um outro ser, a que se refere como “Leãozinho”. Considerei esta relação ternurenta, de que trata a canção, semelhante à relação partilhada por Telmo e Maria, que percorre todas as cenas – ou, pelo menos, as cenas em que ambas as personagens referidas participam – da obra Frei Luís de Sousa.
Telmo Pais – velho aio e confidente privilegiado de D. Madalena –, por ter sido quase que um “amo de criação” para Maria, fora sempre uma grande influência para a mesma. Partilhavam conversas que abrangiam assuntos da mais diversa índole, desde assuntos políticos e sociais do país a assuntos mais pessoais ou privados da vida de Maria e da sua família, nomeadamente a débil saúde de Maria («É delgadinha, é»), que sofria de tuberculose – situação que muito afligia Telmo («Que febre que ela tem hoje, meu Deus! Queimam-lhe as mãos»). Maria e Telmo partilhavam o patriotismo, a esperança de que um dia D. Sebastião voltasse da batalha de Alcácer Quibir, a paixão pelos Lusíadas e o gosto pela política, passando grande parte dos seus dias juntos a divagar por entre a poesia de Camões, as batalhas de D. Sebastião e as novas descobertas literárias de Maria («Gosto de ficar ao sol, leãozinho/ De estar perto de você») –, o que não agradava muito a D. Madalena, que considerava estas conversas demasiado fortes para a idade de Maria («já pensaste bem no mal que estás fazendo?»), que tinha apenas treze anos (e que era, portanto, apenas um «leãozinho»).
Este amor incondicional que Telmo tinha por Maria («Gosto muito de você, leãozinho») – quase que paternal («vedes-me aqui agora, que lhe quero mais do que o seu pai») –, por vezes, faria que o invadisse um sentimento de culpa, por estar a pôr em causa a sua lealdade para com o seu desaparecido amo, D. João de Portugal, que outrora fora o seu «leãozinho». Telmo havia também criado D. João de Portugal, era o seu maior amigo, e ninguém havia sofrido tanto com o seu desaparecimento como ele: opôs-se quanto pôde a que D. Madalena casasse pela segunda vez (com Manuel de Sousa Coutinho), não lhe tendo nunca conseguido perdoar a infidelidade para com o amo, cuja morte se recusou sempre a aceitar («Dúvida de fiel servidor, esperança de leal amigo»).
Fora nesta situação de profundo desgosto que uma nova alegria ocupara o coração de Telmo, Maria, que de algum modo acabara por amenizar a dor do velho aio («Para desentristecer, leãozinho / O meu coração tão só / Basta eu encontrar você no caminho), após a perda de D. João de Portugal (primeiro «leãozinho» de Telmo) – embora, inicialmente, Telmo não tivesse aceitado o nascimento de Maria («Pois não se lembra, minha senhora, que ao princípio era uma criança que eu não podia. — É verdade, não a podia ver: já sabereis porquê mas vê-la, era ver»). É neste contexto que, quando Telmo é forçado a escolher entre Maria, que criara como filha, e D. João, que também criara como filho, descobre que, no fundo da alma, desejava que o seu  antigo «leãozinho» tivesse continuado morto, por temer o impacto que o seu regresso poderia ter na vida de Maria, apercebendo-se por fim, de que ela, era o único «leãozinho» no seu coração.

Ana [Bom (-)]

A música “Breakeven” faz parte do álbum intitulado com o nome da banda (The Script) de 2008. É complicado arranjar um significado literal para “breakeven” mas, traduzido por alto no contexto da canção, é quando ninguém ganha ou perde o mesmo. Esta música lembra-nos D. João de Portugal, em Frei Luís de Sousa, quando chega ao seu palácio, passados vinte e um anos.
A chegada de D. João de Portugal é anunciada na cena XI do Ato II, onde se identifica como Romeiro, o que é possível porque passado tanto tempo, ninguém o reconhece. O primeiro contacto estabelecido é entre as cenas XIII e XV do mesmo ato, quando descobre que Madalena, amor da sua vida, tinha casado de novo por acreditar que ele se encontrava morto (“Parentes!... Os mais chegados, os que eu me importava achar… contaram com a minha morte, fizeram a sua felicidade com ela”). Nos momentos que se seguem, o Romeiro relata que estivera cativo durante vinte anos e em sofrimento, enquanto que Madalena vivia com o seu marido, Manuel de Sousa Coutinho («Her best days were some of my worst [Os melhores dias dela foram uns dos meus piores]»).
Já na cena V do ato III, Telmo vai ao encontro do Romeiro e descobre que este é, de facto, o seu amo, D. João de Portugal. Durante este reencontro, o Romeiro fica a saber que Madalena e Manuel de Sousa têm uma filha, o que o faz confessar a Telmo a sua dor por não poder voltar a estar com Madalena, pois ela agora tem tanto o coração dele como de Manuel de Sousa, e fez a sua decisão e parece estar bem com ela («you got his heart and my heart and none of the pain [tens o coração dele e o meu e não sentes a dor]»). Reafirma ainda que D. João de Portugal está morto, desde o dia em que ela acreditou na morte dele (“D. João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera”).
Instantes a seguir, ouve-se bater à porta e é Madalena. Madalena chama por seu esposo e apela para que este abra a porta pelas memórias que têm juntos (“Marido da minha alma, pelo nosso amor te peço, pelos doces nomes que me deste, pelas memórias da nossa felicidade antiga, pelas saudades de tanto amor e tanta ventura”). O Romeiro reage de imediato, iludido com a ideia de que aquele discurso poderia ser dirigido a ele, mas, rapidamente, volta à realidade, quando Madalena chama por Manuel, no lado de fora da porta (“Meu marido, meu amor, meu Manuel”). O Romeiro fica indeciso com o que fazer a seguir devido ao que ainda sente por Madalena («What am I gonna do when the best part of me was always you? [O que é que eu vou fazer quando a melhor parte de mim foste sempre tu?]»), pensando em abrir a porta, mas, rapidamente, decide ir embora pois, mais uma vez, ela tomara a sua decisão (“Não: o que é dito, é dito”).

Madalena S. [Bom]

Na cena V do III ato, Telmo, que, ao contrário de D. Madalena de Vilhena, nunca acreditara na morte do seu amo, D. João de Portugal, na Batalha de Alcácer Quibir, vem a descobrir, passados vinte e um anos, que o seu pressentimento estava correto e o seu amo estava vivo. Teve a certeza disso quando o Romeiro apareceu (“Esta voz… esta voz!… Romeiro, quem és tu?”/ “Meu amo, meu senhor… sois vós? Sois, sois […]”). Nunca acreditara na sua morte e, apesar da sua ausência, fora-lhe sempre intimamente fiel (“Ninguém Telmo; ninguém se nem já tu me conheces!”).
Tal como a letra da canção ‘’Hide in your shell”, da banda Supertramp (aqui, infelizmente, reproduzida numa versão recente, pelo autor, com orquestra), o Romeiro pretendia esconder-se ‘’na sua concha’’, para evitar o mundo e o sofrimento que a sua presença poderia causar (‘’Hide in your shell 'cause the world is out to bleed you for a ride’’).
O seu aparecimento súbito provocaria manchas na honra da mulher, D. Madalena. Como homem honrado que era, para que ela não fosse acusada de viver em pecado ao descobrir-se que afinal não enviuvara, nem Maria, filha de D.Madalena e de seu actual marido, Manuel de Sousa Coutinho, ficasse por consequência com o epíteto de filha ilegítima, pretende que Telmo minta por ele, ao dizer ‘’que o peregrino era um impostor, que desapareceu, que ninguém mais houve novas dele’’.
No entanto, apesar do seu propósito firme de ‘’não desonrar a sua viúva’’, ilude-se quando a determinada altura escuta a voz de Madalena a chamar por ele (‘’Esposo, esposo, abri-me, por quem sois! Bem sei que aqui estais! Abri!’’), exclamando ‘’É ela que me chama! Santo Deus! Madalena que chama por mim…’’ / ‘’ Não lhe ouves gritar: ‘’esposo, esposo?’’;‘’/Que encanto, que sedução! Como lhe hei de resistir!?’’. Eis, porém, que Madalena responde ‘’Meu marido, meu amor, meu Manuel!’’ e, então, tal como na canção da banda de rock Supertramp, ''You're looking for someone to give an answer. But what you see is just an illusion’’. D. João de Portugal, por momentos, iludira-se, imaginara que o impossível, e menos conveniente, acontecera e sua mulher o tivesse reconhecido, mas logo se apercebeu da realidade. Estava a chamar por seu marido, Manuel de Sousa (‘’Ah! E eu tão cego que já tomava para mim! Céu e Inferno!‘’), tal como na canção, ‘’Heaven or Hell, was the journey cold that gave your eyes of steel?’’.

Catarina S. [Suf +/Bom -]
Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, enquadra-se, quase na perfeição, na tragédia clássica, por um lado. Por outro, é um autêntico hino ao mito sebastianista.
A peça, que se situa temporalmente no pós-batalha de Alcácer Quibir e consequente morte do Rei D. Sebastião, reflete a vertente clássica da Tragédia, composta por hybris (o desafio à ordem, que acontece quando D. Madalena não guarda fidelidade a D. João de Portugal); ágon (conflito que culmina com o regresso de D. João); peripécia (incêndio no palácio de Manuel de Sousa Coutinho); anagnórise (reconhecimento de D. João); catástrofe (morte física e psicológica das personagens); pathos (sofrimento); o coro (os presságios de Telmo); clímax (ponto máximo de conflito); catarse (sentimento de terror e piedade); anankê (destino sempre presente). Noutra perspetiva, o mito sebastianista. Por um lado o pessimismo, o fado, o destino; por outro lado, a esperança, o regresso do desejado.
Garrett, tal como Dulce Pontes na canção “O Amor a Portugal”, evoca, precisamente, o mito sebastianista. O autor serve-se das suas personagens para o fazer. O pânico e desassossego de D. Madalena (“este medo, estes contínuos terrores… que desgraça a minha”). D. João de Portugal, apresentado como um fantasma do passado, do presente e do futuro, tal como D. Sebastião regressará numa manhã de nevoeiro. Simbolizam a condenação de um povo que tem de enfrentar o passado.
Telmo e Maria são as personagens que melhor encarnam o sebastianismo. Maria é sofredora, a única que tem morte física, é o modelo da mulher romântica (“e sentada a olhar para o rio”; “ilha encoberta onde está el-rei D. Sebastião, que não morreu e que há de vir, num dia de névoa cerrada”). Telmo, o puro sebastianista, supersticioso e pessimista, personifica os presságios (“Que febre ela tem hoje, meu Deus!”; “vivo ou morto… não me esqueceu na letra daquelas palavras, e eu sei que homem era meu amo”; “vivo não veio… e morto… a sua alma… a sua figura”).
O mito do sebastianismo é o reflexo do amor a Portugal, e do orgulho em ser português. A canção de Dulce Pontes menciona que “o dia há de nascer, rasgar a escuridão e fazer o sonho amanhecer”. O amor e o patriotismo libertarão as gentes, as vozes e as almas, “o amor há de vencer, a alma libertar” e “um dia há de se ouvir o cântico final”.
Esse dia surgirá; tal como cantou Fernando Pessoa “Falta cumprir Portugal”. Falta ultrapassar as superstições e os medos, falta coragem e acreditar que D. Sebastião não é apenas um mito e que Portugal não desiste nem morre. O Amor a Portugal é um hino de esperança e o verdadeiro Portugal está na alma dos portugueses.

Vitória [Bom -]
Ao analisarmos a letra da canção «Você não me ensinou a te esquecer», de Caetano Veloso, encontramos algumas semelhanças com a peça de Frei Luís de Sousa, sobretudo nas cenas V e VI, do ato terceiro.
D. Madalena, que acredita ter perdido o seu primeiro marido, D. João de Portugal, na batalha de Alcácer Quibir, acaba por se casar novamente, com D. Manuel de Sousa Coutinho. Apesar de não cometer um crime propriamente na ação, por D. João de Portugal já ter falecido, D. Madalena sabe que nunca conseguirá fugir do crime que sempre existiu no seu coração e na sua mente, e que acaba por confessar a Frei Jorge («Este amor, que hoje está santificado e bendito no céu, porque Manuel é meu marido, começou com um crime»). Ainda em vida de D. João de Portugal, D. Madalena tinha consciência desse crime porque já amava Manuel de Sousa, apesar de guardar fidelidade ao primeiro marido («porque eu amei-o assim que o vi… e quando o vi, hoje, hoje… foi em tal dia como hoje, D. João de Portugal ainda era vivo!»).
Quando Manuel de Sousa Coutinho incendeia a sua própria casa, com o objetivo de não alojar os governadores, provoca a hybris. Em consequência deste ato, Madalena percebe que, além do fogo destruir a sua casa, destrói também o quadro com o retrato de D. Manuel. D. Madalena toma esta situação como um presságio, pressentindo que irá perder Manuel tal como perdeu a sua casa e o quadro de seu marido.
Desta forma, D. Manuel vê-se obrigado a morar no palácio do antigo marido de sua esposa. D. Madalena reage de forma dramática por sentir que será ainda mais ameaçada pela presença do fantasma de D. João de Portugal, pressentindo um futuro de infelicidade, tragédia e morte.
Pouco tempo depois, D. João acaba por regressar da Palestina, onde viveu vinte anos de cativeiro em grande sofrimento, com o desejo de voltar para os braços da sua esposa, D. Madalena («Não vejo mais você faz tanto tempo / Que vontade que eu sinto / De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços»). Porém, percebe que a mesma se sente atormentada, à medida que ele, enquanto Romeiro, vai revelando informação sobre si próprio. Deste modo, D. João de Portugal, conclui que a sua presença não é positiva para a antiga esposa, («Parentes!... Os mais chegados, os que eu me importava achar contaram com a minha morte, fizeram a sua felicidade com ela; hão de jurar que me não conhecem»).
D. Manuel, completamente atormentado pela volta de D. João de Portugal, de quem só ele e Frei Jorge, até ao momento (ato terceiro, cena I), conhecem a verdadeira identidade, decide seguir a vida religiosa.
Posteriormente, na cena V, do mesmo ato, é que Telmo reconhece o seu amo, quando têm uma conversa, em consequência da qual D. João de Portugal decide desaparecer para tentar salvar a nova família de D. Madalena da tragédia que provocou com o seu regresso. Rede a Telmo que vá dizer que («o peregrino era um impostor, que desapareceu, que ninguém mais houve novas dele; que tudo isto foi vil e grosseiro embuste de inimigos»).
No entanto, ao ouvir D. Madalena a chamar «Esposo, esposo, abri-me, por quem sois! Bem sei que aqui estais! Abri!», D. João ilude-se julgando ser ele o esposo que ela chama («E nesse desespero em que me vejo / Já cheguei a tal ponto / De me trocar diversas vezes por você / Só pra ver se te encontro»). Mas, rapidamente, a ilusão é desfeita quando a ouve dizer «Meu marido, meu amor, meu Manuel» e percebe que «D. João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera. Sua mulher que ele amava… – oh Telmo, Telmo, com que amor a amava eu!»
Perdido («Agora, que faço eu da vida sem você? / Você não me ensinou a te esquecer / Você só me ensinou a te querer»), D. João de Portugal decide manter a resolução tomada e desaparecer da vida de D. Madalena.

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Vasco Af. [Suf +/Bom -]
A canção dos Avenged Sevenfold, “Gunslinger”, pode ilustrar a cena V do ato terceiro. Esta canção retrata a ida de um homem do exército para a guerra, não tendo o regresso a casa como algo certo. Em Frei Luís de Sousa, existe uma situação semelhante com D. João de Portugal, que partiu para a batalha de Alcácer Quibir e que se pensou ter morrido nessa mesma batalha, vindo-se mais tarde a confirmar que tal não acontecera. Ainda no que toca à canção, esta é dirigida a uma mulher, defendendo o sujeito poético que, apesar de todo o tempo que passou, nunca a esqueceu e que vai voltar para ela. A cena V não fala propriamente sobre o amor (relacionamento) que o romeiro tem por Telmo, que é o fiel aio de D. João de Portugal, e nunca acreditou que o seu amo tinha morrido, mas uma grande amizade.
Os versos «You’ve been alone / I´ve been gone for far to long [Tens estado sozinha/o / eu tenho estado ausente há muito tempo]» remetem um pouco para o facto de o romeiro (D. João) ter estado ausente durante vinte e um anos, sendo que Telmo, não estando sozinho, como se diz na canção, apesar de tudo, tem sentido bastante a sua falta. Na obra Frei Luís de Sousa, na cena V, o romeiro relata um pouco do que passou enquanto esteve desaparecido — «São vinte anos de cativeiro e miséria, de ânsias que por aqui passaram» —, tal como na canção, em que o sujeito poético também diz o sofrimento por que tem passado: «Never let it show / The pain I´ve grown to know [Nunca demonstrei / a dor com que passei a ter de lidar]».
Na peça, Telmo fica impressionado com o local onde o romeiro estivera todos aqueles anos. O  romeiro responde: «E por tão longe eu morrera! Mas não quis Deus assim.», em semelhança com dois versos da canção onde o militar diz que: «Não vou questionar, tantos morreram / as minhas preces levaram-me até aqui» («I won’t question why so many have die / My prayers have made it through»). O militar revela que, se não fossem as suas preces, nunca teria regressado, tal como o romeiro, que, no seu caso, agradece a Deus por não ter morrido na batalha de Alcácer Quibir.
Na canção, M. Shadows, vocalista e autor da música, diz-nos como tem sido verdadeiro, quando diz que tem esperado tanto tempo só para voltar e poder estar com o seu amor («I’ve always been true / I’ve waited so long just to come hold you»). Em Frei Luís de Sousa, como já referi, não se trata de um relacionamento mas de um amor pela amizade que o romeiro tem por Telmo e que Telmo tem por D. João. Na obra está isso mesmo representado: «És, bem sei. E contudo, vinte anos de ausência e de conversação de novos amigos fazem esquecer tanto os velhos! Mas tu és meu amigo. E se tu o não foras quem o seria?».
A cena V é representativa de uma amizade de longa data e que supera todos os obstáculos da vida. A música “Gunslinger” representa bem esta cena pois contém muitos sentimentos semelhantes ao da obra e que nos fazem perceber que Telmo e o romeiro são bastante unidos, apesar do tempo que já passou.

Madalena F. [Bom +]
Após a tarefa proposta pelo professor de português, passei horas agarrada ao meu Ipod, numa busca exaustiva pela música ideal. Contrariamente ao que seria expectável, visto que tenho uma tendência para optar por músicas inglesas, acabei por escolher uma canção portuguesa. Escrita e interpretada por Pedro Abrunhosa, «Quem me leva os meus fantasmas» consta do álbum Luz, lançado em 2007. Este tema é relacionável com a realidade vivida por D. Madalena, cujo constante sofrimento se devia ao receio de se reencontrar com o seu fantasma, o primeiro marido, D. João de Portugal.
D. Madalena de Vilhena é uma personagem romântica, sendo maioritariamente dominada pelos seus sentimentos, que impossibilitam qualquer demonstração da sua capacidade lógica. A sua relevância na história deve-se ao momento em que casou com D. João de Portugal, um nobre descendente da família dos Vimioso, “um valente cavaleiro, o espelho de cavalaria e gentileza, aquela flor dos bons”, cujo aio fiel era Telmo.
Ainda que se encontre sob constante tortura pelo remorso do passado e pelo complexo de culpa, à primeira vista D. Madalena aparenta ser “como quem descaiu da leitura na meditação”. A sua postura dá a impressão de que se trata de uma pessoa equilibrada e tranquila. Mas a rutura da tranquilidade surge imediatamente, com o primeiro monólogo desta personagem: “Este medo, estes contínuos terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor. Oh! Que amor, que felicidade. Que desgraça a minha!”. Assim, Madalena vivia «o tempo / Em que as sombras se abriam».
Ao longo do desenrolar da ação, através do diálogo entre D. Madalena e Telmo, que entretanto entra em cena, torna-se possível identificar os acontecimentos precedentes da vida de ambos, que esclarecem a situação actualmente vivada por Madalena, tornando-se clara a tensão entre os dois.
Lendo o diálogo, é possível tomar conhecimento de que D. João desapareceu na batalha de Alcácer Quibir. D. Madalena tentou encontrar o seu primeiro marido, através de diligências que duraram sete longos anos. Após estes sete anos, Madalena, sem qualquer confirmação da morte do primeiro esposo, casou-se em segundas núpcias com Manuel de Sousa Coutinho e desta união nasceu uma filha, Maria.
Por outro lado, Telmo, um fiel servidor de D. João, ainda depois de vinte e um anos duvida da morte do seu primeiro amo, por causa de uma carta escrita por D. João tinha recebido “na própria madrugada do dia da batalha”. Assim, porque o seu senhor não apareceu nem vivo nem morto, recusa a sua morte, consagrando, durante o resto dos seus dias, o culto do desaparecido por acreditar que tanto João de Portugal como D. Sebastião não passam de «Marinheiros perdidos em portos distantes / Em bares escondidos, em sonhos gigantes».  
Estas constantes incertezas lançadas por Telmo causam não só uma certa tensão entre D. Madalena e Telmo, mas também alimentam os terrores de Madalena, que teme a possibilidade do regresso de D. João de Portugal, o seu fantasma («Quem me leva os meus fantasmas? / Quem me salva desta espada?»).
Apesar de ter consciência que «De costas voltadas não se vê o futuro / Nem o rumo da bala nem a falha do muro», Madalena não se liberta dos agouros de Telmo.
Com o desenrolar da ação surge a possibilidade, lançada por Manuel, de a família se mudar para a casa de D. João de Portugal, o que aprofunda marcadamente os terrores de Madalena.
A casa, onde viveu com o primeiro marido, é para ela um símbolo do passado que começa a regressar de novo à sua vida e, assim, a concretização dos seus receios, pois acredita cegamente que esta mudança irá trazer inúmeras desgraças à sua família («De que serve ter o mapa / Se o fim está traçado / De que serve a terra vista / Se o barco está parado»). Pede ao seu marido para optar por outra casa, mas este recusa o seu pedido. A submissão de Madalena é a prova do seu amor extremo por ele, visto que só a ideia de perdê-lo lhe causa os maiores terrores, estando a origem dos mesmos relacionada não só com o medo do regresso de D. João de Portugal, mas também com a consciência de que o seu amor se baseia no pecado, pois Madalena apaixonou-se por Manuel enquanto o primeiro marido ainda era vivo.

João A. [Suf (-)]
A cançãoFar awaypertence à banda canadiana Nickelback e está incluída no álbum All the Right Reasons (2005). Eu decidi escolher este tema, porque se adequa perfeitamente a D. João de Portugal, durante os vinte e um anos em que esteve desaparecido.
A peça Frei Luís de Sousa retrata a história de um casal (D. João de Portugal e Madalena de Vilhena) que se viu separado, quando D. João partiu para Alcácer Quibir para combater pela pátria e honrar o seu nome, na mesma batalha em que D. Sebastião perdeu a sua vida. A família de D. João julgava que D. João teria perdido a vida conjuntamente com o rei D. Sebastião. Mas o seu aio, Telmo, sempre acreditou e teve esperança de que o seu verdadeiro amo tivesse sobrevivido. Verdadeiro amo, pois Telmo sempre considerou D. João como o seu senhor, embora D. Madalena tenha casado mais tarde com Manuel. Vinte e um anos depois de Alcácer Quibir, D. João voltou a Portugal e ficou chocado por ver a sua amada com uma nova vida, isto é, com marido e uma filha. Ao ver isto, D. João sentiu-se revoltado e queria separar esta família, mas acabou por se arrepender e, no fim, pediu a Telmo que não contasse que sabia quem na verdade era o romeiro, voltando a desaparecer.
Foco-me no segundo ato na cena XIV, onde se dá o regresso de D. João, e Madalena de Vilhena afirma que nunca amou D. João, enquanto este sempre a amara. Estes vinte e um anos de tortura e de afastamento da mulher que amava podem-se relacionar com os versos “Too Long, Too Late [Muito tempo, Muito tarde]”. E até mesmo com o próprio refrão da música, “That I love you I've loved you all along / And I miss you been far away for far too long (…) Stop breathing if I don't see you anymore [Que eu te amo / Eu amei-te o tempo todo / E eu sinto a tua falta Estive tão longe por muito tempo (…) Paro de respirar se eu não te vir mais]”.
Pode concluir-se que D. João sempre amara D. Madalena, pois, ao partir, diz: «um homem que muito bem lhe quis… aqui está vivo, por seu mal… e daqui não pode sair nem mandar-lhe novas suas». Logo, pode afirmar-se que esta música ilustra muito bem como D. João de Portugal se sentiu nos seus vinte e um anos em cativeiro, provavelmente a ser torturado fisicamente, pois, mentalmente, era “assombrado” pelo amor que sentia por D. Madalena.

Miguel [Suf +/Bom -]
A canção “Hello”, de Adele, pode ser comparada com a situação de D. João de Portugal na peça, de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa.
A situação em questão é o regresso de D. João a Almada, na cena XIV do ato segundo, ele que tinha combatido e sido dado como morto na batalha de Alcácer Quibir.
A partir do segundo verso da canção de Adele, “I was wondering if after all these years you would like to meet [estava a perguntar-me se depois de todos estes anos gostarias de encontrar-te comigo]” consegue fazer-se uma analogia com D. João de Portugal, que, apesar de ter regressado a casa, disfarçara-se de romeiro, pois não sabia se a sua chegada seria ou não bem aceite nem sabia o impacto que esta teria na nova vida de Madalena.
Esta canção também pode ilustrar os tempos em que D. João de Portugal ainda era cativo em Jerusalém (“I’m in California dreaming about who we used to be / When we were younger and free / There is such a difference between us/ And a million miles [Estou na Califórnia a sonhar sobre quem nós éramos / Quando éramos jovens e livres / Há uma grande diferença entre nós / E um milhão de milhas]”), podendo nós interpretar esta parte da letra com um possível sentimento de saudade em relação a Madalena (como, aliás, se percebe com o seu discurso ao longo da cena XVI), quando estava em cativeiro, principalmente com o verso “I’m in California dreaming about who we used to be” (que, neste caso, estaria a substituir “California” por Jerusalém) e os versos “There is such a difference between us / And a million miles”, discriminando a distância entre as duas personagens.
Os versos “At least I can say I have tried to tell you Im sorry for breaking your heart / But it doesnt matter / It clearly doesnt tear you apart anymore [Ao menos posso dizer que tentei pedir-te desculpa por partir o teu coração / Mas não interessa / Claramente já não te magoa mais]” podem ser comparados com a cena VI do ato terceiro, quando D. João de Portugal, enquanto conversa com Telmo, ouve Madalena a chamar por Manuel de Sousa Coutinho, percebendo que a mesma já não o quer na sua vida, fazendo assim todo o sentido a comparação com os últimos versos já citados: “But it doesnt matter / It clearly doesnt tear you apart anymore”.
Assim, posso concluir que esta canção é comparável com toda a participação de uma personagem da peça, D. João de Portugal, e até com peripécias que não fazem parte da obra de Almeida Garrett mas que o leitor/espetador consegue imaginar com o desenrolar da história, como é o caso dos sentimentos de D. João quando estava longe da sua mulher e família em Jerusalém.

Filipe [Suf]
Escolhi a canção, de Wiz Khalifa, "See You Again", com a participação do cantor, seu compatriota, Charlie Puth. Foi lançada a 17 de março de 2015 como banda sonora do filme Velocidade furiosa 7. Esta canção foi escrita em homenagem ao ator Paul Walker, que faleceu a novembro de 2013. A canção foi escrita por DJ Frank E, Charlie Puth, Wiz Khalifa, Yaseen Zuberi e Andrew Cedar. Relacionei esta música com a cena V do terceiro ato. Esta cena tem como personagens Telmo e o Romeiro (D. João de Portugal).
Começa com Telmo a reconhecer o seu antigo amo, D. João de Portugal, que, inicialmente, não se apresenta como tal, pois pensa ser um homem diferente, perdera tudo o que outrora tinha, todas as coisas boas que lhe tinham acontecido, e agora não tem ninguém.(”Damn, who knew? / All the planes we flew / Good things we've been through / That I'll be standing right here talking to you”). Wiz recorda todas as coisas pelas quais já passara e que agora estão frente a frente outra vez, tal e qual como aconteceu com Telmo e o Romeiro.
Telmo diz que agora tem outra filha que também foi ele que criou, que já não é só fiel a D. João. Explica-lhe o quanto a ama e o afeto que tem por Maria. “Que há aqui um anjo…uma outra filha minha, senhor, que eu também criei…”, diz Telmo a seu amo. Wiz diz que a família é dos bens mais preciosos que temos e que temos de aproveitar ao máximo o seu amor.
D. João de Portugal não veio para ficar, não tem muitos dias de vida, apenas queria entregar a sua mensagem a Madalena. Telmo, inicialmente, não entende o motivo de D. João se ir embora, pede-lhe  que conte coisas, pede-lhe justificações e pergunta-lhe o que fazer. D. João pede ao Romeiro para dizer que ele não passava de um ultraje, diz que, se são verdadeiramente amigos, é tudo o que importa. Wiz diz algo semelhante: “First you both go out your way / And the vibe is feeling strong / And what's small turn to a friendship / A friendship turn to a bond And that bond will never be broken / The love will never get lost (and the love will never get lost) / And when brotherhood come first / Then the line will never be crossed / Established it on our own / When that line had to be drawn / And that line is what we reach / So remember me when I'm gone”. O Romeiro pede a Telmo para salvar Madalena e o seu nome, para o recordar como o bom senhor que foi.
Telmo pergunta a seu amo quando o voltaria a ver e este responde-lhe “que no dia do juízo final”. O sujeito poético da canção de Wiz diz que também voltará a ver o seu amigo, não sabe onde, mas que isso vai acontecer:”It's been a long day without you, my friend / And I'll tell you all about it when I see you again / We've come a long way from where we began / Oh, I'll tell you all about it when / I see you again / When I see you again.”
Eles têm tanta coisa para contar um ao outro, mas só falarão disso tudo quando se virem outra vez. E assim se despedem um do outro…

Bárbara [Suf (-)]

Esta canção de João Pedro País, "Até nunca mais", pode caracterizar o que vai na cabeça e alma de Madalena.
Madalena, presente companheira de Manuel de Sousa Coutinho e viúva de D. João de Portugal, leva-nos, cada vez que aparece na obra, para o lado mais triste da mesma. Desde o incêndio ocorrido na casa de Manuel de Sousa e, consequentemente, desde a ida da família para a casa que em tempos pertencera a D. João de Portugal, que se instalou em Madalena um grande sentimento de culpa que a tem deixado cada vez mais desanimada. Esse sentimento de culpa vem do facto de sentir que está a cometer um pecado por não saber se D. João de Portugal morreu ou não e, mesmo assim, ter criado família com outro homem. Apesar de não estar errada, Madalena, infelizmente, não consegue perceber isso. É o facto de a sua família se ter mudado para a casa onde, em tempos, vivera com D. João de Portugal, só veio agravar esta tristeza que lhe vai na alma.
Quando na música é dito "Trocas as voltas dos tempos / recordas futuros ausentes / apagas os rastos que deixei / ficas farta, não me afasto / se me enganei, nem sei", ilustram-se todos os "filmes" que neste momento da obra estão a ser criados por Madalena nos seus próprios pensamentos. Este trecho da letra da canção dir-se-ia que põe Madalena a imaginar tudo o que D. João lhe transmitiria se estivesse ali com ela, perante a mesma situação.
Ao longo da peça, cada um de nós vai tirando as suas próprias conclusões. Neste caso, as conclusões que eu tiro é que a culpa de Madalena estar a piorar dia para dia é de Manuel de Sousa. O que ele fez foi uma ação egoísta, ter mudado a família para a casa do ex-marido da sua própria companheira, quando sabia perfeitamente que a incomodava voltar àquela casa.

Elly [Suf +/Bom -]
Esta canção, “Dava Tudo”, do álbum Amantes e Mortais (que até por coincidência ou mesmo destino, combinam muito bem com o drama de Almeida Garrett), cantada por Adelaide Ferreira, poderia servir para explicar muito do que Madalena sentiu enquanto esperava ansiosamente que seu amado e atual esposo Manuel de Sousa Coutinho voltasse de Lisboa, e também para demonstrar o grande amor que Madalena sentia por Manuel, apesar de toda a angústia causada pela dúvida acerca da morte do seu anterior marido.
No final da Cena II, Madalena demonstra uma enorme preocupação pela demora do marido («E dizei a meu cunhado Frei Jorge Coutinho, que me está dando cuidado a demora de meu marido em Lisboa; que me prometeu de vir antes da véspera e não veio; que é quase noite, e que já não estou contente com a tardança.»). Mesmo vivendo com o terror de, um dia, o seu primeiro marido voltar («Está bom; não entremos com os teus agouros e profecias do costume: são sempre de aterrar... Deixemo-nos de futuros...»), Madalena não conseguia, de forma alguma, esconder o seu lindo amor por Manuel Coutinho («Sim, é por amor / Que eu me dou sempre mais / Quando me olhas nos olhos / Como quem chama por mim»). De certa forma, os dois se conheciam bem, e o seu amor não crescera do nada: ainda D. João de Portugal era vivo e a chama do amor entre Madalena e Manuel já estava presente («quase que não há vento, é uma viração que afaga... Oh! e quantas faluas navegando tão garridas por esse Tejo! Talvez nalguma delas — naquela tão bonita — venha Manuel de Sousa»).
Os versos «Mas tu nem sempre vens / Outra paixão talvez / Eu sei esperar e entender / Mas dói demais» e o refrão cantado por Adelaide Ferreira, representam bem as grandes emoções que Madalena sentira, o amor, a saudade, a angústia e o desespero, tudo aquilo que se apoderava do seu coração: «Eu dava tudo para te ter aqui / Ao pé de mim outra vez / Eu dava tudo para te ter aqui / Ao pé de mim outra vez».
Normalmente, são mais as mulheres que revelam a imensidão do amor que sentem, mas, em várias cenas, Manuel também o demonstra («Eu não tenho ciúmes de um passado que não me pertencia. E o presente, esse é meu, meu só, todo meu, querida Madalena...»). De novo, se nos recorda «Eu dava tudo para te ter aqui / Ao pé de mim outra vez / Eu dava tudo para te ter aqui / Ao pé de mim outra vez». Sem dúvida, somos presenteados com um típica tragédia romântica, relatando muito daquilo que, por vezes, nos parece tão distante, como estar apaixonado por alguém, errado aos olhos dos outros, mas, se pensarmos bem, haverá vários exemplos próximos que o podem comprovar.

Catarina F. [Bom -]
A expressão incluída no título da canção de José Cid, «Um grande, grande amor», que é a décima primeira faixa do seu álbum De Par Em Par, de 2007, pode ser utilizada em vários momentos e passagens do drama Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, embora, algumas vezes, possa ter um sentido negativo.
O Frei Luís de Sousa é uma obra literária do género tragédia-drama romântico, que se assemelha a uma tragédia-grega, visto que se confirma [no final da obra] a presença forte da Anankê («destino ou necessidade, elemento fundamental da tragédia»), o fatum, fado, com a inevitável morte de Maria, por ficar anulado o casamento de seus pais. O fado significa também que ninguém daquela casa (Madalena, Manuel de Sousa Coutinho, Telmo Pais, Frei Jorge, D. João de Portugal [Romeiro]) tinha a culpa do sucedido, estava tudo assim fixado já.
Na Cena I do Ato Primeiro parece-nos que o estado de espírito da família Vilhena-Coutinho seria de paz e felicidade, ou seja, o ambiente era leve. No entanto, confirma-se totalmente o contrário com a fala de D. Madalena de Vilhena, esposa de Manuel de Sousa Coutinho, ao ler um pequeno excerto d’Os Lusíadas, que, na verdade, é o do episódia de Inês de Castro, em que se afirma que o amor cega e que condena a alma ao sofrimento eterno («Naquele engano d’alma ledo e cego, / que a fortuna não deixa durar muito…»).
Já na Cena II desse mesmo Ato, os constantes medos que Madalena tem, relativamente ao regresso do seu primeiro marido, D. João de Portugal, manifestam-se, sobretudo, na vontade de proteger a sua única filha, D. Maria de Noronha, dos pensamentos em torno do Sebastianismo. O verso da canção de José Cid «É um mar, é um rio, / É uma fonte que nasce dentro de mim.» representa muito bem a situação que aqui está presente.
E na Cena I do Ato Terceiro, o verso «É um mar, é um rio, / É uma fonte que nasce dentro de mim.» também se enquadra no contexto em que Manuel afirma a Jorge que o seu amor [proibido] por Madalena é como se fosse uma «coroa de espinhos de toda esta paixão que estou passando…», afirmando este que Maria era o fruto da sua transgressão e que esta provavelmente não iria sobreviver a essa vergonha («Maria… a filha do meu amor, a filho do meu pecado, se Deus quer que seja pecado, não vive, não resiste, não sobrevive a esta afronta»).

Vasco G. [Suf +/Bom -]

A canção “Isolation Years”, da banda sueca Opeth, do álbum Ghost Reveries (2005), aplica-se principalmente ao personagem de Frei Luís de Sousa Romeiro, que, na verdade, era D. João de Portugal.
O quarto verso da canção, “Can’t forget the years she’s lost [Não posso esquecer os anos que ela perdeu]”, alude ao facto de D. Madalena ter esperado por, e quase obsessivamente procurado, D. João durante os sete anos posteriores à Batalha de Alcácer Quibir, como é evidenciado pelo diálogo da Cena V do Ato Terceiro, entre o Romeiro e Telmo: “Bem sei o que queres dizer. E é verdade isso? É verdade que por toda a parte me procuraram, que por toda a parte…. ela mandou mensageiros, dinheiro? / Como é certo estar Deus no céu, como é certo ser aquela a mais honrada e virtuosa dama que tem Portugal”.
Novamente, o quinto e sexto versos da canção — “In isolation / She talks about her love [Em isolação / Ela fala do seu amor]” — relaciona-se com a súplica de D. Madalena na Cena VI do Ato Terceiro (“Marido da minha alma, pelo nosso amor te peço, pelos doces nomes que me deste, pelas memórias da nossa felicidade antiga, pelas saudades de tanto amor e tanta ventura, oh! não me negues este último favor!”), estando ela também isolada do marido e da filha. O Romeiro, reagindo à súplica desesperada de D. Madalena, pensou que se dirigia a si, mas, na verdade, dirigia-se a Manuel de Sousa Coutinho (com quem veio a casar passados os referidos sete anos). A canção faz alguma alusão a esta tristeza que assaltou o Romeiro após perceber que a dita súplica não se dirigia a si: “And isolation / Is all that would remain [E isolamento / Seria tudo o que restava]”. E no texto: “Ah! E eu tão cego que já tomava para mim! Céu e inferno! Abra-se esta porta…”. É do entendimento do leitor que D. João ainda amava D. Madalena, mesmo após o seu longo cativeiro. No entanto, havia mais tarde de se arrepender de ter revelado que estava vivo e até tentou reverter a situação, urgindo Telmo para ‘desmentir’ o que havia dito, como se refere na Cena XII: “Vai, vai, vê se ainda é tempo; salva-os, salva-os, salva-os, que ainda podes” porém, Maria acabou por morrer e o desejo de D. João não chegou a ser cumprido, talvez até agravando o sentimento de culpa e arrependimento do mesmo bem como a mágoa sentida por D. Madalena e Manuel de Sousa, a que a canção, quase se diria fazer referência: “And left a stain [E deixou uma nódoa — uma mágoa]”.

Afonso Puga [Suf +/Bom -]
A canção «Ghosts», de Higher Self (DJ) e Lauren Mason (cantora), foi publicada a 20 de outubro de 2014 num famoso canal de música eletrónica cujo nome é «Spinnin' Records» e fez-me lembrar bastante a Cena VIII do Ato Primeiro da tragédia romântica Frei Luís de Sousa. Adapta-se muito bem à personagem de Madalena.
«I don´t need no ghost» (Eu não preciso de nenhum fantasma) era o que Madalena devia estar a pensar quando soube que iria para o palácio do suposto falecido marido. Deitando os braços ao pescoço de Manuel («para aquela casa não, não me leves para aquela casa!»), implora que não volte ao palácio de D. João de Portugal. Manuel estava decidido em ir para lá por não perceber o que se passava com Madalena («I don’t feel your ghost around me [Eu não sinto o teu fantasma]»), era também o que ele não via, o fantasma que Madalena via. Manuel de Sousa chegou a perceber que era por causa do primeiro marido de Madalena mas não percebia que o que a incomodava era o facto de ter de passar pela «violência, o constrangimento de alma, o terror […] em ter de entrar naquela casa» e Madalena viu-se obrigada a explicá-lo.
A verdade é que Madalena tinha medo de «voltar ao poder dele (do primeiro marido)» e de «achar a sombra despeitosa de D. João» no seu palácio. Para Madalena, voltar à primeira casa era uma ameaça ao casamento com Manuel de Sousa e a sua filha Maria. Manuel consegue finalmente acalmar Madalena, afirmando que «O teu coração e as tuas mãos estão puras; para os que andam diante de Deus, a terra não tem sustos, nem o inferno pavores que se lhes atrevam». Não fez nada de mal e lembrou-a de quem era e de quem tinha vindo.
Na canção, o sujeito poético nega ver e ouvir fantasmas, numa tentativa de os esquecer («I don't hear, I don’t see / I don’t feel your ghost around me [Eu não oiço, eu não vejo / Eu não sinto o teu fantasma]»). Já usei essa segunda parte da letra acerca de Manuel de Sousa mas, na canção, o seu significado é realmente o de negação. Isto faz com que prossigamos com a Cena V do Ato Segundo, em que Madalena, já no palácio de D. João, afirma que «Todo o meu mal era susto; era terror de te perder», que afinal era tudo apenas ansiedade e medo de perder Manuel. Madalena consegue assim superar os seus medos de voltar à casa do primeiro marido.
A canção serve bem para ilustrarmos o fantasma da morte de D. João de Portugal, visto que a sua esposa voltaria à sua casa e se sentiria atormentada e assombrada pelas memórias que lá teria vivido.

Xana [Suf -]

A canção de Caetano Veloso, “Você não me ensinou a te esquecer”, aplica-se essencialmente às cenas V e VI do terceiro ato de Frei Luís de Sousa, evidenciando as personagens D. Madalena, D. Manuel e Romeiro/D. João de Portugal.
Ao analisar a canção e as cenas V e VI do terceiro ato, verificamos que ela se aplica sobretudo a D. João de Portugal e aos seus sentimentos para com Madalena, não sendo estes correspondidos, por esta se ter casado novamente, com D. Manuel, de quem obteve um amor incondicional. Este facto sucedeu devido à “morte” de D. João de Portugal, na batalha de Alcácer Quibir, tendo D. Madalena acreditado que tivesse, realmente, perdido o seu marido. Mais tarde, sete anos depois, juntou-se com D. Manuel, o que sempre no seu coração funcionou como uma ação penalizável, não o sendo na realidade, pois, para todos os efeitos, D. João de Portugal estaria morto. Verificamos este pensamento de D. Madalena quando confessa a Frei Jorge que “Este amor, que hoje está santificado e bendito no céu, porque Manuel é meu marido, começou com um crime”.
D. João de Portugal, na realidade, permaneceu em cativeiro na Palestina de onde regressou após vinte anos com uma saudade, vontade e um desejo fulminante de voltar para os braços da sua esposa, D. Madalena. Esta parte da cena podemos relacioná-la com a parte inicial da canção (“Não vejo mais você faz tanto tempo / De olhar em seus olhos, ganhar seus braços / Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la”). João regressa ao palácio, disfarçado de Romeiro, onde encontra D. Madalena e enfrenta uma dolorosa desilusão ao descobrir que esta se encontra casada de novo, com D. Manuel, com quem tem uma filha em comum, Maria. Afirma: “D. João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera. Sua mulher honrada e virtuosa, sua mulher que ele amava…”. Podemos, também, relacionar esta parte da cena com os seguintes versos da canção: “Agora, que faço eu da vida sem você? / Você não me ensinou a te esquecer / Você me ensinou a te querer”. À medida que a família descobre que o Romeiro na realidade é D. João de Portugal, este conclui que a sua presença se torna injustamente negativa, acabando por desestabilizar aquela nova família. Consciencializado de que a sua presença já não tem razão de ser, decide partir.

Catarina A. [Bom]

A canção que escolhi foi “O fugitivo”, de Sérgio Godinho, do seu álbum Escritor de Canções (1990), que pode ser relacionada com as cenas XI, XII, XVI e XV do segundo ato e com as cenas V e VI do terceiro ato de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, especialmente com a personagem do romeiro (ou D. João de Portugal) e com o impacto que este teve na família retratada na peça.
Durante a peça, Almeida Garrett dá a conhecer a família Vilhena-Coutinho, composta por Manuel de Sousa Coutinho, D. Madalena de Vilhena e a sua filha, Maria de Noronha. No entanto, o que aparenta ser uma família equilibrada, com os seus pontuais acontecimentos dramáticos, é lentamente consumido pelo “fantasma” de D. João de Portugal e o consequente medo de viver em pecado.
D. João de Portugal foi o primeiro marido de D. Madalena de Vilhena. Sendo "um honrado fidalgo e um valente cavaleiro" (Cena II, Ato II) participou na batalha de Alcácer Quibir, durante a qual desapareceu. Durante anos D. Madalena procurou o marido árdua e exaustivamente com a ajuda de Telmo, o antigo aio de D. João de Portugal, que lhe era muito leal e também um bom amigo. Ao fim de muitas buscas, Madalena acreditou estar D. João morto e, supostamente viúva, casou com Manuel de Sousa Coutinho, tendo depois a filha Maria de Noronha. No entanto, passados alguns anos, D. João de Portugal regressa na figura de romeiro, trazendo tragédia à vida da família.
O romeiro é mencionado pela primeira vez por Miranda, criado da família, que avisa Madalena e Frei Jorge da sua chegada: “É um pobre velho peregrino, um destes romeiros que aqui estão sempre a passar…”. Nesta cena está presente a curiosidade e a dúvida em relação a esta nova personagem devido ao pedido que fez a Miranda (“Mas, senhora, diz ele que vem da Palestina e vos traz recado…”), tal como é possível perceber através da fala de Frei Jorge na cena seguinte: “[…] é precisa muita cautela com estes peregrinos! A vieira no chapéu e o bordão na mão, às vezes não são mais do que negaças para armar à caridade dos fiéis. E nestes tempos revoltos…”. Estas cenas podem ser relacionadas com os versos da canção “De onde vem? […] / Será soldado? / Vagabundo? / Criminoso? / Ratoneiro?”.
Na cena XIV do segundo ato, o romeiro tem o seu primeiro diálogo com Madalena e Jorge, durante o qual pretende dar a sua mensagem a Madalena. Nestas cenas é explicado o esforço feito pelo romeiro para chegar a Portugal e a ansiedade devida ao facto de não saber o que esperar ao ver a sua mulher vinte e um anos depois e qual a sua reação à mensagem que tem para lhe dar (“Há três dias que não durmo nem descanso nem pousei esta cabeça nem pararam estes pés dia nem noite, para chegar aqui hoje, para vos dar meu recado…”). O romeiro dá então a sua mensagem, em que diz a Madalena que D. João de Portugal está vivo, apesar da sua relutância em relação à reação de Madalena a estas notícias. É possível relacionar a relutância e ansiedade do romeiro com os versos “O que espera? / O que espera o homem fera se chegar a quem o espera? / Alguém o quer? / Alguém se ascende? / Alguém o chora?”, na medida em que o Romeiro não sabe o que esperar da pessoa que outrora fizera parte da sua vida e de que tanto gostava, do mesmo modo que não sabe como ela viveu durante a sua ausência. Ao ouvir o recado de D. João, Madalena chora, não por ele mas pelo pecado que cometeu e pelo desespero e ansiedade que se apoderam dela no momento. Quando Jorge lhe pergunta quem ele é, o Romeiro identifica-se como ninguém, visto que D. Madalena não o reconheceu, mostrando-se assim desapontado com a sua reação à notícia do seu primeiro marido estar vivo. Volta a identificar-se como ninguém durante o seu diálogo com Telmo quando este não o reconheceu imediatamente; no entanto, Telmo acaba por se aperceber da sua verdadeira identidade (“Meu amo, meu senhor… Sois vós? Sois, sois.  D. João de Portugal, oh, sois vós, senhor?”). Mais tarde, durante o diálogo das duas personagens, D. João mostra-se indignado e desiludido com o facto de Madalena não ter duvidado de sua morte (“só lhe podia resistir o coração. E aqui… coração que fosse meu… não havia outro”) mas Telmo faz com que o seu amo reconheça o esforço que Madalena fez para o encontrar e este começa a sentir arrependimento em relação às suas ações. Este arrependimento fica explícito quando D. João pede a Telmo que minta a Madalena, estando disposto a sujar a sua imagem de modo a que esta viva uma vida feliz e livre de preocupações (“Basta: vai dizer-lhe que o peregrino era um impostor, que desapareceu, que ninguém mais houve novas dele; que tudo isto foi vil e grosseiro embuste […] dos inimigos desse homem que ela ama… E que sossegue, que seja feliz. Telmo, adeus!”). Nesta cena da peça (cena V do ato terceiro), D. João começa a questionar a sua ação, a pensar nos danos que poderia causar à família da mulher que tanto amou. Questiona-se, então, se “Valeu a pena”, tal como diz o verso de “O fugitivo”.

Marco [Suf (+)]

A canção que escolhi foi “Jura”, de Rui Veloso, que está no álbum Avenidas. A música trata de um apaixonado a pedir juramento à amada para que esta não o traia na sua ausência.
 Irei relacionar um verso desta música com um momento bastante particular no texto de Frei Luís de Sousa. Durante a peça são introduzidas as personagens D.Madalena, mulher de D. João de Portugal, que se julgava morto na batalha de Alcácer Quibir, Manuel de Sousa Coutinho, o atual marido de D Madalena (cuja relação, no desfecho da peça, se revela pecaminosa, com a aparição de uma personagem que irei referir mais à frente), Maria, fruto do casamento entre Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena, que passava graves problemas de saúde, e Telmo, o velho aio da família, que não descarta a hipótese do seu senhor, D. João de Portugal, ainda estar vivo e com um regresso possível. Por fim, o Romeiro, uma personagem inicialmente misteriosa, que acaba por se revelar ser D. João de Portugal, marido do primeiro casamento de D. Madalena.
O momento da peça que escolhi foi a confusão que o Romeiro fez ao ouvir D. Madalena chamar pelo seu amor. Este momento passa-se no Ato Terceiro, na Cena VI, em que Madalena exclama “Esposo, esposo, abri-me, por quem sois! Bem sei que aqui estais! Abri!”. Ao ouvir a sua amada a exclamar o vocativo “esposo”, o Romeiro pensou que fosse dele que se tratasse e sente-se atraído por isso: “Que encanto, que sedução! Como lhe hei de resistir!?!”. Madalena, na fala seguinte, refere Manuel, o que desfaz quaisquer enganos para o Romeiro. Esta confirmação de infidelidade da sua mulher desperta um sentimento de raiva e ciúme que está explícito na didascália “Investe para a porta com ímpeto”. A sua ação é travada por uma promessa que ele próprio fizera a si mesmo de não interferir na nova relação da sua então pressuposta viúva. A cena VI do terceiro ato deixa no ar um clima de ciúme e descontentamento por parte do Romeiro, bastante relacionável com o verso “Que o ciúme é queimadura, que faz o coração sofrer” da canção de Rui Veloso. O ciúme é o principal sentimento retratado no papel do Romeiro. O desejo de estar com a sua amada após tantos anos em cativeiro não é concedido pois esta já se encontra numa nova relação em que até o próprio D.João de Portugal prometeu não interferir, mesmo contra a sua vontade.

Cláudia [Suf (+)]

A canção “Xico”, de Luísa Sobral, é uma canção que podemos comparar com a história de D. Madalena de Vilhena, de D. João de Portugal, o seu primeiro marido que desapareceu na Batalha de Alcácer Quibir, Manuel de Sousa Coutinho, segundo marido de D. Madalena, e Telmo Pais, aio de D. João de Portugal e, mais tarde, de Manuel de Sousa Coutinho.
Os dois primeiros versos da canção, «Já passaram dois anos e tal / E do Xico nem sinal», remetem-nos para a história de Madalena e João de Portugal, pois Madalena ficou durante sete anos sem notícias do marido que achava morto em batalha, acabando mesmo por casar uma segunda vez com Manuel de Sousa Coutinho, com quem teve uma filha, Maria. Os versos seguintes, «Há quem diga que emigrou / Há quem diga que encontrou / Uma brasileira que não está nada mal», podemos associá-los a Telmo Pais, sempre com as suas crenças de que D. João estaria vivo e que um dia iria regressar.
Os versos que se seguem — «E a Dolores todos os dias o espera / Com a sopa ao lume e o prato do costume» — podem recordar-nos o facto de Madalena não estar totalmente convencida da morte do primeiro marido e, tal como Dolores, esperar pelo seu regresso. Enquanto Dolores espera, de braços abertos, que o marido, Xico, volte, D. Madalena de Vilhena tem receio de que isso aconteça devido ao seu casamento com Manuel de Sousa Coutinho.
O refrão desta canção («Ó Xico, ó Xico / Onde te foste meter? / Ó Xico, ó Xico / Não me faças mais sofrer») recorda-nos o desejo que D. Madalena tem de saber o que realmente aconteceu ao seu primeiro marido, para poder deixar o estado de angústia que a acompanhou durante toda a peça, devido ao receio de que o seu casamento com Manuel seja um caso de traição ("Este medo, estes contínuos terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor").
Os versos «Desde pequena Dolores sonha encontrar / Um português com olhos cor de mar / Ninguém entendia o porquê da maluqueira / Que tinha pelo outro lado da fronteira» servem-nos para comparar Dolores a Maria, que, desde pequena, ouve as histórias de Telmo sobre D. Sebastião, e espera que este um dia regresse, acabando por desistir dessa ideia por ninguém a entender (“ninguém nesta casa gosta de ouvir falar em que escapasse o nosso bravo rei, o nosso santo rei D. Sebastião”, ato I, cena III).
Os versos seguintes — «Viveram dez anos sem igual / Ninguém previa tal final / Agora diz Dolores com lamento» — podem associar-se aos anos em que D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho viveram felizes, apesar dos medos de D. Madalena. Tal como o casamento de Dolores e de Xico, o casamento de Madalena e de Manuel acabou mal, devido ao aparecimento do romeiro (D. João de Portugal) e à morte de Maria, filha do casal.
Dolores não recebia boas notícias de Espanha («de Espanha nem bom vento / Nem bom casamento») e D. Madalena não as recebia de Lisboa. De Lisboa recebeu a notícia de que os governadores iriam morar para sua casa, o que acabou por ser a causa do incêndio no palácio de Manuel de Sousa Coutinho. O final da música remete-nos de novo para o estado de angústia de Madalena por não saber o que aconteceu ao seu primeiro marido e para o estado de tristeza pela doença de sua filha, Maria.



Carolina [Suficiente -]
Com o regresso de D. João de Portugal, o casal em sofrimento, Madalena de Vilhena e Manuel de Sousa Coutinho, decide recolher à vida religiosa, adotando os nomes de Frei Luís de Sousa e Soror Madalena.
A canção que escolhi foi a canção interpretada por Luís Represas,"Perdidamente”, cuja letra adota um poema da poetisa Florbela Espanca. Florbela Espanca foi uma mulher que podemos, de alguma forma, comparar a D. Madalena, já que também viveu atormentada toda a sua vida numa inquietude constante e dramática, numa incessante busca de amor de um modo quase neurótico (e com tentativas de suicídio, acabando por uma delas ser fatal). Refiro-a não só pelo paralelismo com Madalena mas pela poetisa que foi, quebrando todos os preconceitos da época. A letra reza: Ser poeta é ser mais alto, é ser maior / Do que os homens! Morder como quem beija!”/ “É ter de mil desejos o esplendor”/ “É ter cá dentro um astro que flameja” / “É condensar o mundo num só grito!” / E é amar-te, assim, perdidamente...” / “É seres alma, e sangue, e vida em mim”.
A canção refere-se ao que é o amor e ao que é amar. A peça de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, também se refere ao amor e ao que é amar através do drama romântico entre D.Madalena e Manuel de Sousa Coutinho. Refere a letra o que é amar e diz-nos que se ama uma pessoa acima de todas as outras coisas, tal como sucedia com D.Madalena e Manuel Coutinho. O mundo condensa-se, todo ele, em volta desse amor, estando eles muito apaixonados, querendo paz e felicidade. Eram uma só alma, amando-se perdidamente, embora, pelos ditames de fé, tivessem tido de resignar a esse amor e ao mundo secular, trocando-o pela vida religiosa. Tudo porque se amavam perdidamente.
Mesmo se D. Madalena, como confessara a Telmo, quando estava casada com D. João de Portugal não amava o marido, não deixou de, após o desaparecimento ou suposta morte deste, em Alcácer-Quibir, mostrar sofrimento e apego à relação enquanto não teve como certo o destino do primeiro marido. Acabou por se conformar com a perda de D. João de Portugal e, após sete anos do desaparecimento deste, reencontrou a sua capacidade de amar na pessoa de Manuel de Sousa Coutinho. Em ambas as relações demonstrou o seu amor até ao fim, fê-lo “perdidamente”.

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