Análise de Frei Luís de Sousa e Canções pelo 11.º 12.ª
Ana N. [Bom + {tal como as
notas seguintes, esta apreciação diz respeito sobretudo à primeira versão do
texto, embora tenha tentado também vigiar a revisão havida}]
A canção “The Lovers Are Losing”, da banda
inglesa Keane, reflete com bastante coerência o estado de espírito de D.
Madalena de Vilhena, com todas as suas agonias e ânsias. A letra estabelece, de
certa forma, uma analogia com a tragédia que Madalena vive intensamente,
durante praticamente toda a peça de Almeida Garrett.
Os primeiros versos da música podem ser, de
imediato, associados às superstições e agouros que envolvem Madalena quanto à
possibilidade do regresso de D. João de Portugal. Os versos “I dreamed I was
drifting / On the howling wind / I dreamed I had nothing at all / Nothing but
my own skin [Eu sonhei que estava à deriva / sobre um vento uivando / Eu sonhei
que não tinha mais nada / Nada para além da minha própria pele]” são uma boa
representação dos sentimentos constantemente demonstrados por Madalena. Esta
vive no terror da premonição de acontecimentos desfavoráveis para a sua vida,
quase como se estivesse sempre a sonhar com as consequências catastróficas que
trariam esses pressentimentos: “Mas tu não sabes a violência, o constrangimento
de alma, o terror (…)” ou mesmo “Tenho este medo, este horror de ficar só… de
vir a achar-me só no mundo”. Tal como na letra, Madalena teme que esses
presságios sejam reais e a levem a ficar desamparada.
O dístico “Slipped away from your open hands /
Into the river [Escapei-me das tuas mãos abertas / Para o rio]” poderá estar
relacionado com a sensação que Madalena experienciou quando se encontrou
sozinha numa data tão fatídica como a sexta-feira que decorria, em que fazia
anos que casara com D. João de Portugal, que se dera a batalha de Alcácer
Quibir e que vira pela primeira vez o amado marido Manuel de Sousa Coutinho
(“Sexta-feira! (Aterrada.) Ai que é
sexta-feira!”). Madalena pede a Manuel que não a deixe mas este, prometendo não
demorar, deixa-a escapar das suas mãos tão habitualmente protetoras (“Meu
esposo, meu marido, meu querido Manuel!”).
Continuando a analisar a letra da música dos
Keane, notemos que tudo parece encaixar com os vários horrores de Madalena. Segundo
a frágil filha, Maria, na cena I do ato Segundo, Madalena achou-se num momento
de pura aflição ao deparar-se com o retrato de D. João de Portugal. Já se
encontrava ela num estado de ansiedade indiscutível devido à mudança para a sua
antiga casa, apesar das várias tentativas de convencer Manuel a não recorrerem
a essa solução (“Mas oh! Esposo da minha alma… para aquela casa não, não me
leves para aquela casa!”). Desta forma, a situação em que Madalena encarou o
quadro de D. João (“põe de repente os olhos nele e dá um grito. Oh, meu Deus!…
ficou tão perdida de susto, ou não sei de quê, que me ia caindo em cima”)
encontra-se perfeitamente descrita também na letra da música: “Saw your face
looking back at me / I saw my past, and I saw my future [Vi o teu rosto a olhar
de volta para mim / Eu vi o meu passado e o meu futuro]”. Madalena, instalada
com a sua família atual na casa onde viveu com o ex-marido, enfrenta
incessantemente o seu passado e todas as memórias ali criadas e, mais tarde,
enfrentará um destino a que não pode escapar.
Perante todos os trágicos e fatídicos
acontecimentos que vão ocorrendo a Madalena e à sua família durante a peça,
chegaremos a um desfecho inevitável. Com a entrada da personagem designada
“Romeiro”, que mais tarde percebemos ser o próprio D. João de Portugal vinte e
um anos mais velho e irreconhecível, dá-se o desastroso desenlace. A família de
Madalena de Vilhena e de Manuel de Sousa Coutinho estará condenada à
destruição. Infelizmente, apercebemo-nos de que “But any way you look at this /
Looks like / The lovers are losing [Mas de qualquer maneira que se olhe para
isto / Parece que / Os amantes estão a perder]” e que o amor que prevaleceu
entre Madalena e Manuel estava já destinado a ser alvo de dificuldades
trágicas.
Márcia [Suf+]
A música que eu
escolhi para este trabalho foi “Um novo adeus”, de Rosa de Saron. Escolhi-a
porque tem uma certa relação com a peça. Quando no primeiro ato, na cena II,
Madalena se mostra preocupada com o facto do seu marido, Manuel, não aparecer
(“Que me está dando cuidado demora de meu marido em Lisboa”) e vai à varanda,
podemos relacionar isso com os versos, “Passo os dias e olho sempre minha
janela / E eu conto cada hora para que você volte aqui”, já que em ambos os
casos estão presentes o sentimento de saudade e preocupação com os seus amados.
Já quando na música
se nos diz (“E peço a Deus que venha aqui / E ajude a me recompor / Vem me
abraçar neste doce reencontro”), somos recordados de quando Madalena se vê
obrigada a mudar-se para casa do seu falecido esposo D. João, e fica devastada,
precisando que Manuel lhe dê apoio e o carinho de que ela tanto precisa,
pedindo assim que fique lá com ela: “Triste porquê? As tristezas acabaram. Tu
ficas aqui já de vez, não me deixas mais, não sais de ao pé de mim? Agora,
olha, estes primeiros dias, ao menos, hás de me aturar, hás de me fazer
companhia. Preciso muito, querido”.
Quanto ao verso, “Mas
minha vida corre com tanta pressa lá fora”, podemos relaciona-lo com o momento
em que Madalena e Telmo falam do crescimento e da beleza que tem Maria, filha
de Madalena. (Madalena — “É verdade tem crescido de mais, e de repente, nestes
dois meses últimos…”; Telmo — Então! Tem treze anos feitos, é quase uma
senhora, está uma senhora”). Nesta cena, Madalena pede também a Telmo que não
volte a falar com Maria sobre as histórias do passado, pois a filha ainda era
muito nova para compreender o que já sabia.
Na cena I do ato
segundo, Maria pede a Telmo que lhe diga quem é a pessoa que está no retrato
presente na parede (“De quem é este retrato aqui, Telmo?”), o que podemos
relacionar com a parte em que na canção se diz, “Sente aqui bem ao meu lado e
conte uma história”, pois Maria gostava de que Telmo falasse com ela e lhe contasse
histórias que se teriam passado anteriormente mas, desta vez, Telmo não lhe
poderia dizer quem era o senhor que se encontrava no retrato, nem o que com ele
vivera, pois Madalena pedira-lhe para não o fazer.
Por fim, quando
Madalena chega à casa de D. João, depara-se com o tal retrato que futuramente a
vai atormentar e fazer com que fique abalada, pois não quer rever as memórias
do seu ex-marido, (“Minha mãe, que me trazia pela mão, põe de repente os olhos
nele e dá um grito”). Podemos identificar esse passo com a frase da letra
“Fotos passadas retratam toda a sua ausência”, já que com isto podemos concluir
que ambos —Madalena e o sujeito poético da canção de Rosa Saron — tinham o
mesmo sentimento de dor, que era marcado pela saudade e não queriam relembrar
um passado que só os iria destroçar e afetar mais.
Patrícia [Suf +]
A conhecida canção “Eu Tenho Dois Amores”,
cantada por Marco Paulo, faz recordar várias personagens de Frei Luís de Sousa e a respetiva
história, como o amor entre Madalena e o seu falecido marido, D. João de
Portugal, e o amor atual de Madalena por Manuel de Sousa Coutinho.
Adequa-se bastante à personagem Madalena, visto
que ela se casou duas vezes e nutre sentimentos pelos dois maridos. O primeiro
marido morreu na batalha de Alcácer Quibir e o segundo continua a seu lado
(“Sabeis como chorei a sua perda, como respeitei a sua memória…”; “Meu marido,
meu amor, meu Manuel”). A canção fala exatamente de dois amores, distintos, que
lutam por um lugar maior no coração de quem os ama (“Eu tenho dois amores / Que
em nada são iguais”).
D. João de Portugal foi dado como morto na
batalha, tal como o rei de Portugal, D. Sebastião. Como se esperava que este
aparecesse um dia em Portugal para assumir o trono perdido para os espanhóis,
Madalena tinha esperanças de que D. João regressasse também para junto dela.
Mas esta ideia assombrava-a, pois temia, que quando este voltasse, se
intrometesse na relação que tinha criado com o atual marido e a filha destes,
Maria (“Oh, perdoa, perdoa-me, não me sai esta ideia da cabeça… que vou achar
ali a sombra despeitosa de D. João, que me está ameaçando com uma espada de
dois gumes… que a atravessa no meio de nós, entre mim e ti e a nossa filha, que
nos vai separar para sempre…”).
Manuel, o homem com quem agora casara, tinha
bastantes inimigos, e a perspetiva de que o destino deste homem fosse incerto
pesava-lhe no pensamento. A ideia de deixar a filha órfã de pai tornava tudo
mais assustador. Manuel, embora respeitasse D. João, (“Aquele era D. João de
Portugal, um honrado fidalgo e um valente cavaleiro.“). Sabia que a mulher não
se esquecera dele. Este teve a ideia de se refugiarem na casa de D. João, para
fugir aos inimigos, que fez com que Madalena revivesse o passado (“Minha mãe,
que me trazia pela mão, põe de repente os olhos nele e dá um grito.”).
No final da peça de Garrett, Madalena descobre
que D. João está vivo, através do Romeiro, que se percebe ser o próprio, sem
esta ter desconfiado. O pensamento de que este podia mesmo voltar, mais a perda
de Maria, devido também a tuberculose, e de Manuel, para o clero, fez com que
Madalena se sentisse deprimida. As memórias que tinha dos dois maridos estavam
guardadas para sempre no seu coração e ela teria que viver com isso. Ao
contrário da canção, a decisão não é de lembrar os dois e ser feliz (“Meu coração
continua / Sem saber o que fazer / É melhor amar as duas”), mas de se afastar,
tal como o marido, da vida secular.
Joana S. [Bom/Bom (-)]
A canção de Evanescence
“My Immortal [Meu imortal]” conduz-nos ao enredo
da peça de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, pois exprime,
em certa medida, o sentimento de angústia e os agouros de Madalena de Vilhena
em relação ao possível regresso do seu primeiro marido, D. João de Portugal.
Na obra de Garrett,
Madalena há sete anos que nada sabia sobre D.
João de Portugal, que se pensa ter morrido na Batalha de Alcácer Quibir.
Passados sete anos, Madalena casa-se com Manuel Sousa Coutinho, com quem tem
uma filha, Maria. Maria sofre de tuberculose, uma doença bastante propagada naquela
época. Apesar de quase todos acreditarem na morte de D. João, Madalena não se consegue
livrar da sua presença. Os seus receios tornar-se-iam ainda mais intensos
quando é obrigada a mudar-se com sua família para a antiga casa de D. João. Esta
mudança repentina deixa-a em pânico. A frase “And
if you have to leave, I wish that you would just leave [E se tens que ir, eu
desejo que apenas vás]”, da canção “My Immortal”, permite-nos a perceção do sentimento
de Madalena em relação a D. João, desejando que este não reentre na sua vida.
Todavia
Madalena vive atormentada com a carta que o primeiro marido deixara a Frei Jorge
antes de ingressar na sua última batalha: “Vivo ou morto, Madalena, hei de
ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo”. Esta carta e as alusões de Telmo
provocam intranquilidade e aflição a Madalena, que sentimos durante quase toda
a peça, até se iniciar a grande reviravolta.
Por
outro lado, esta música também pode ser vista da perspetiva de Telmo, o velho aio.
Este, ao longo de vários anos e apesar da permanente falta de notícias,
mantivera sempre D. João no seu pensamento: “I've tried so hard to tell myself that you're gone [Bem tentei convencer-me
de que tu te foste]”. Telmo nunca deixou de
acreditar que, por alguma razão, “no fim de vinte anos de o julgarem todos perdido”,
D. João ainda estava vivo e iria regressar, ao contrário do que toda a gente
pensava. Esta íntima fé vai enchendo a casa dos Coutinho de negros auspícios.
Durante
o primeiro ato, é-nos nos dada a informação de que Maria, filha de Madalena e
de Manuel Sousa Coutinho, acreditava que D. Sebastião não morrera em Alcácer Quibir
e que em breve regressaria. Este pensamento de Maria deixa a mãe num estado de
angústia profunda e tormento, temendo o regresso de D. João ao mesmo tempo que
D. Sebastião.
Esta
atitude de Madalena revela-nos o pavor e apreensão de que D. João de Portugal a
separe da sua filha e do seu marido (“Cause your presence still lingers here [Pois
a tua presença permanece aqui, e ela não me deixará em paz]”.
Podemos
ainda aplicar o que é dito na canção a D. Madalena em “Your face it haunts my once pleasant dreams [O teu rosto assombra os
meus sonhos, que já foram agradáveis]”. Há já muito
que a pobre mulher suspeitava da chegada de uma catástrofe, que haveria de
mudar a sua vida, a do esposo e a da filha. Madalena não aguenta o facto de
saber que a filha é fruto de uma relação em pecado e que o seu casamento é ilegítimo,
sendo submetida a uma violência sentimental imposta pela alma do seu primeiro
marido.
No
fundo, esta canção aplica-se aos sentimentos de D. Madalena que, analogamente a
todo o seu drama vivido, achava que “[t]here's just too much that time cannot
erase [há muita coisa que o tempo não pode apagar]”.
André F. [Bom]
A mensagem transmitida
por Dillaz, ao longo da canção “Chegas e pronto”, molda-se à relação de
cumplicidade entre Telmo e o romeiro, D. João de Portugal. A chegada deste
último veio mexer com a trama, deixando todos inquietos, tal como suscita o
título da música.
Durante todo o
desenrolar do drama, é notório o comportamento nostálgico adotado por Telmo
que, sempre que tem oportunidade, faz menção aos bons velhos dias que passou
com o seu antigo amo, D. João. O aio sempre acreditou no regresso daquele a quem
era mais fiel e que sempre tratara como um filho. O sentimento de Telmo durante
vinte e um anos encontra-se na canção de Dillaz: “E se ninguém bater à porta /
e só baterem as saudades, / afasta aquilo que não é preciso / das tuas
preciosidades”.
O tão ansiado regresso
consumou-se. Após ter conversado com aquela que outrora fora sua mulher, o
romeiro, já no ato III, encontra o seu mais querido amigo, Telmo. É aqui que
Telmo sente uma felicidade enorme por ver quem ele mais desejara: “Meu
filho!...Oh é o meu filho todo; a voz, o rosto...”. Este reencontro entre ambos
imaginava-se mais ternuroso e quente; porém, dadas as mudanças, consequentes de
mais de duas décadas de ausência, D. João de Portugal sentiu-se desagradado porque
Telmo ganhara uma nova família e uma menina por quem sentia um carinho muito
grande: “E a quem já quereis mais que a mim, dize a verdade”.
Apesar dos
acontecimentos, nenhum dos dois se esqueceu dos bons momentos vividos há muitos
anos e de como isso os unira de forma muito afetuosa, numa espécie de relação
pai-filho. Contudo, e mesmo com as presentes divergências, a frase de Dillaz
encaixa-se na perfeição nesse preciso momento em que tiveram uma ligeira
discussão: “Então se tu escreves o que eu digo, / se segues o meu passo, /
então não me espezinhes, / dá-me antes um abraço”.
Na despedida entre
ambos fica realçada a fidelidade que Telmo ainda sentia por D. João. A um
pedido deste último, responde que não lhe falhará e que “a resolução é nobre e
digna de vós”. O acatamento da ordem dada pelo homem disfarçado de romeiro é a
certeza da fidelidade de Telmo: “Se eu estou lá na vitória, / eu estou lá no
fracasso”.
A frase inicial da
canção do músico português é um excelente resumo do momento presenciado pelo
velho aio e o seu primeiro amo: “Tu achas que é chegar e aparecer, / então
chegas e pronto. / Acabas e recomeças / mas tu não chegas ao ponto”.
Bia [Bom -]
Wiz Khalifa e Charlie
Puth dão vida à canção “See you
again”, lançada em 2015, que consigo
aproximar de Frei Luís de Sousa no
seu todo.
Esta música
remete-nos para inúmeros sentimentos das várias personagens e para o que estas
vivem ao longo da história. Como principal personagem deste tema considerei D. João
de Portugal, um sofredor — a sua esperança de voltar para os braços de Madalena
nunca morrera e, mesmo assim, fora esquecido pela própria mulher.
Os versos “It's been a long day, without you my
friend / And I'll tell you all about it when I see you again [Tem sido um longo
dia, sem ti meu amigo / Eu conto-te tudo quando te voltar a ver]” fazem-nos
imaginar D. João de Portugal a pensar no seu fiel aio e no que lhe tem para
contar desde o seu suposto desaparecimento na Batalha de Alcácer Quibir. Sabemos
que Telmo lhe era fiel e que sempre acreditara na sua vinda, como se lê no ato
III, cena IV: “Telmo (deitando-se-lhe às mãos para lhas beijar)
—Meu amo, meu senhor... Sois vós?
Sois, sois. D. João de Portugal, oh, sois vós, senhor?”.
Ninguém para além de
Telmo acreditava no regresso de D. João de Portugal, nem mesmo Madalena, que
recebera uma carta onde o cavaleiro reforçava que iria voltar: “Madalena (assustada) — Está bom:
não entremos com os teus agouros e profecias do costume: são sempre de
aterrar... Deixemo-nos de futuros... [...] / Telmo — [...]
«vivo ou morto, Madalena, hei de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo.»
— Não era assim que dizia? / Madalena (aterrada)
— Era.” (ato I, cena II).
O dístico “Those were the days
/ (…) / Now I see
you in a better place [Aqueles foram os dias (…) Agora vejo-te
num lugar melhor]” leva-nos à cena V do ato III, onde D. João de Portugal, ao
saber que D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho têm uma filha, que são felizes
e que acreditam na sua morte, resolve não contar a Madalena quem realmente é e
ir-se embora sem levantar qualquer suspeita: “Romeiro — Basta: vai dizer-lhes
que o peregrino era um impostor, que desapareceu, que ninguém mais houve novas
dele; (…) E que sossegue, que seja feliz. Telmo, adeus!”.
Já no final, quando se apercebem de que estão a
viver um casamento ilegítimo e que aquele alegado romeiro era D. João de
Portugal, D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho só acham uma saída: se querem
realmente ser perdoados por Deus por este terrível pecado, a única maneira é
dedicarem o resto da sua vida somente a Ele, tornando-se assim Freira e Frei. “How could we not talk about family / When family's all that we got?
[Como podemos não falar sobre família / Quando
família é tudo que temos?]” recorda-nos o momento em que, na cena XI do ato III,
Maria entra na igreja durante a consagração dos pais: “Maria (separando-se com eles da outra gente e
trazendo-os para a boca da cena) – Esperai: aqui não morre ninguém sem mim.
Que quereis fazer? Que cerimónias são estas? Que Deus é esse que está nesse
altar, e quer roubar o pai e a mão a sua filha?”
Quando D. João de Portugal se vai embora após Maria
ouvir a sua voz e morrer — “Maria (apontando para o romeiro) — É aquela
voz, é ele, é ele! Já não é tempo… Minha mãe, meu pai, cobri-me bem estas
faces, que morro de vergonha… (…)”, Ato III, Cena XII —, um seu pensamento pode
ter sido “So remember me when I'm gone [Então lembra-te de mim quando eu for
embora]” pois, apesar de D. Madalena ter outro amor, D. João de Portugal tem o
coração entregue ao mesmo amor de há vinte e um anos.
Joana G. [Suf (+)]
Tendo como base a música por mim escolhida, «Não
me esqueço de ti», de Mickael Carreira, que pertence ao seu segundo álbum, Entre Nós, do ano de 2007, pode
estabelecer-se um elo com a peça, mais propriamente com o ato terceiro, cena V.
O Romeiro passou a ser um elemento importante na
peça, uma vez que traz consigo algo que pode abalar muita gente e por que
ninguém esperava. Na cena V, o Romeiro manifesta a tristeza que sente sobretudo
por ter acontecido o que aconteceu, e por já nada ser como era. Madalena
acabara por casar com Manuel de Sousa Coutinho e ambos tiveram uma filha, isto
depois da presumida morte de D. João de Portugal. Depois de tanto tempo já nada
é igual, até Telmo revela que sente mais amor por Maria, que lhe quer mais do
que ao seu antigo amo. O Romeiro acaba por revelar a angústia perante o que
está em frente aos seus olhos: a mulher que amara está nos braços de outro.
Está angustiado também por ter aparecido tanto tempo depois, e recear que
Madalena não o queira ver. No fundo, sente que seria injusto prejudicá-la.
Tal como nos versos da canção “É mais uma noite
aqui sozinho, entre a solidão e a minha dor. A sofrer rendido ao meu destino,
de não ser amado e ter amor”, o Romeiro acaba por revelar também algum
sofrimento, durante todo este tempo em que esteve sozinho, até finalmente
conseguir regressar, dando a entender que nunca deixara de amar Madalena, que
já não o amava mais (aliás, ainda D. João de Portugal não tinha morrido, já
Madalena gostava de Manuel de Sousa Coutinho). Com o verso “Hoje negas nosso
amor antigo” podemos relacionar também as recordações que D. João de Portugal
guarda de Madalena, relativamente ao amor que sempre sentiu por ela, e a que
Madalena acaba por não dar valor. “Eu queria tanto esquecer-te para sempre,
poder olhar-te e dizer frente a frente, tenho alguém tenho outra vida, já curei
de vez a minha ferida” serve para comparações com o sentimento de Romeiro,
pois, apesar do mesmo amar Madalena, considera em alguns momentos que seria
melhor manter-se afastado, caracterizando-se como alguém imprudente, tal como
evidencia a sua fala na cena V: “Agora é preciso remediar o mal feito. Fui
imprudente, fui injusto, fui duro, fui cruel”. Ainda assim, o Romeiro acaba por
revelar algum ressentimento relativamente ao que aconteceu durante o tempo em
que esteve desaparecido, tal como decorre de uma das suas falas: “Na hora em
que ela acreditou na minha morte, nessa hora morri. Com a mão que deu a outro
riscou-me do número dos vivos”.
O carinho que D. João de Portugal sente por
Madalena é visível ao longo desta mesma cena. “Eu queria tanto tirar-te do
peito e apagar-te do meu pensamento, ser feliz que também mereço, queria tanto
só que não me esqueço de ti” recorda-nos o sentimento que o Romeiro revela. Tem
vontade de “seguir em frente”, mas, de certo modo, existe algo que o prende, o
que sente por Madalena, como está expresso numa das suas falas: “Sua mulher
honrada e virtuosa, sua mulher que ele amava… — oh, Telmo, Telmo, com que amor
a amava eu!».
D. João de Portugal guarda um amor por Madalena.
Tal como vai demonstrando, existe algo que o prende a Madalena. Só que esse
sentimento não é mútuo e, só de pensar no regresso do seu antigo marido,
Madalena fica aterrorizada, sente-se culpada por ter amado um homem que não era
o seu marido, antes de o mesmo morrer. Também acontece na música o homem revelar
que ama a mulher e que queria poder esquecê-la por algo que aconteceu e não
consegue ignorar o sentimento, mesmo querendo-o muito e sabendo que isso poderá
vir a ter consequências negativas.
Helena [Suf (-)]
A música “Dead man Walking [Homem morto a andar]”,
dos The script, remete-nos para o caso de D. João de Portugal, que muitos
julgavam morto mas que tinha passado todos aqueles anos em cativeiro em
Jerusalém.
“Already know you’re moving on [Já sabendo que
estás a seguir em frente]” recorda-nos que D. João, quando regressa e fala com
Madalena, apresenta-se como um simples conhecido de D. João, e descobre também
que Madalena se casara com Manuel de Sousa Coutinho.
“We’re in the same room jus tone million miles
away [Estamos na mesma sala mas a um milhão de quilómetros de distância]” é
relacionável com a chegada do Romeiro. Ao chegar a sua casa, a casa de D. João
de Portugal, afirma ter uma mensagem importante para transmitir a Madalena, que
recebe a notícia de que D. João está de facto vivo e cativo em Jerusalém, não
sabendo que, na realidade, ele se encontrava à sua frente, apesar de ter o
aspeto alterado graças aos difíceis anos que se tinham sucedido.
“Am
I dead now, left living with the shame? [Estou agora morto, deixado a viver com a
vergonha?]” é comparável com o facto de que D. João de Portugal, quando volta
da batalha de Alcácer Quibir, vê que a sua esposa casara novamente, tivera uma
filha e que ele não passava de uma assustadora e assombrosa memória, que
persegue Madalena e a fazia viver com medo. Em uma das suas falas, Telmo afirma
que o seu amo amava Madalena. Este aspeto aumenta a tensão existente com o
regresso de D. João. Depois de Madalena sair da sala destroçada com a notícia
de que D. João de Portugal ainda está vivo e pode regressar, o Romeiro decide
retirar-se e, quando Frei Jorge o questiona “Romeiro, Romeiro, quem és tu?”, a
sua resposta, crua e simples, ”Ninguém”, é suficiente para que Frei Jorge
perceba que é D. João.
“Already see it, in you face / Already someone,
in my place [Já o vejo, na tua cara / Já há alguém, no meu lugar]” — o único
pedido que o Romeiro faz é falar com Telmo, e esse pedido é-lhe concedido. Com
a conversa com Telmo, D. João descobre que Madalena utilizou todos os recursos
possíveis para encontrar o seu marido. D. João toma a decisão de não deixar
Madalena saber que ele é o seu marido. Pede a Telmo para dizer que o Romeiro
era um vigarista, para que a vida de Madalena pudesse voltar ao normal, porque
sabia que tinha destruído a vida de Madalena com a notícia de que estava vivo e
não queria ser responsável pela
destruição da vida de Madalena e da sua família.
Laura [Bom -]
Esta canção, “Primavera”, do álbum com o mesmo
nome, editado em 2012, cantado pela banda portuguesa The Gift fez-me lembrar a
história de Madalena. Esta personagem da peça Frei Luís de Sousa tem dois amores, os seus maridos (um já, alegadamente
falecido), mas, no fim acaba por ter de abandonar a vida secular. A letra da
canção refere-se a duas pessoas com erros no seu passado, mas que, apesar de
tudo, querem a felicidade um do outro.
Enquanto casada com o primeiro marido, D. João
de Portugal, Madalena nutria sentimentos por outro homem, Manuel de Sousa
Coutinho, com quem viria a casar sete anos após a presumida morte de D. João de
Portugal. Apesar deste sofrimento, Madalena foi sempre fiel e respeitava D.
João (“Sabeis como chorei a sua perda, como respeitei a sua memória…”). Quando
este desapareceu na batalha de Alcácer Quibir, Madalena, depois de ter chorado
a sua morte e ter fornecido recursos para a sua procura, viu uma oportunidade
para estar com Manuel (“Meu marido, meu amor, meu Manuel”). Como diz a canção,
depois de chorar a perda de alguém, temos de o esquecer e tentar ser feliz
(“Hei de te amar, ou então hei de chorar por ti / Mesmo assim, quero ver-te
sorrir / E se perder vou tentar esquecer-me de vez / Conto até três / Se quiser
ser feliz”).
Como na mesma batalha desapareceu o rei de
Portugal, e se esperava que este regressasse um dia, Madalena tinha medo de que
o primeiro marido viesse destruir a relação que tinha criado com Manuel. Este
sentimento de perseguição devia-se ao facto de pensar noutro homem enquanto
estava com D. João, e ter medo de não merecer esse amor (“A sós contigo assim /
E sei dos teus erros / Os meus e os teus / Os teus e os meus”). Por este
capítulo da sua vida não se ter ainda fechado, Madalena era bastante insegura
(“Oh perdoa-me, perdoa-me, não me sai esta ideia da cabeça… que vou achar ali a
sombra despeitosa de D. João, que me está ameaçando com uma espada de dois
gumes… que a atravessa no meio de nós, entre mim e ti e a nossa filha, que nos
vai separar para sempre…”). Quando descobriu que D. João estava vivo, esta
insegurança aumentou. Apesar de ainda ter tentado o contrário pondo a hipótese
de se tratar de uma hipótese sem fundamento, esta descoberta fez com que a sua família
se destruísse. O ingresso de Manuel na vida religiosa e a morte da sua filha
Maria despedaçaram o coração de Madalena (“Misericórdia, meu Deus!”).
Apesar de todos terem cometido erros e de
saberem os pecados uns dos outros, depois de tantas novidades e tragédias,
Madalena e Manuel não conseguiram que o seu amor fosse suficiente para
continuarem juntos.
Ana S. [Suf +]
Após uma longa busca por uma música que se
enquadrasse na turbulenta história da peça Frei
Luís de Sousa, acabei por encontrar uma canção da dupla londrina Oh Wonder.
Dentre todas as incríveis músicas que compõem o seu primeiro e único álbum
lançado em 2014, elegi “All we do”. Ao ouvir esta canção, encontro diversos
versos que, sem dúvida, se adequam a diversas situações e até mesmo a
diferentes personagens que constituem a peça.
No início da peça, mais precisamente na cena I
do primeiro ato, Madalena mostra-se angustiada, infeliz, comparando até a sua
infelicidade com a de Inês, personagem do famoso episódio de Pedro e Inês.
Madalena parece “não conseguir encontrar um paraíso na terra” (“Can’t find
Paradise on the ground”), acreditando que não consegue aproveitar o momento nem
ser feliz (“este medo, estes contínuos terrores, que ainda me não deixaram
gozar um só momento de toda a imensa felicidade”). Este verso não só nos remete
para o início da peça como também para a mesma em geral, dado que Madalena vive
num constante medo de que o seu marido, D. João de Portugal, volte, dado que,
embora o mesmo tenha sido dado como desaparecido na batalha de Alcácer Quibir,
a sua sobrevivência ainda não se descartou. D. Madalena mantém um casamento com
Manuel de Sousa e tem com o mesmo uma filha, que alimenta ainda mais o medo que
tem de que o seu primeiro marido esteja vivo.
Manuel de Sousa, após regressar de Lisboa, para
que os governantes, que iriam chegar, se não instalassem em sua casa, leva a
família para a antiga casa de Madalena, na qual a mesma viveu com o seu
primeiro marido. Este momento comparo-o com o verso “tudo o que nós fazemos é
escondermo-nos” (“All we do is hide away”). Com o regresso à casa onde
partilhava a sua vida com D. João de Portugal, Madalena encara o enorme retrato
do seu marido numa das paredes de uma sala onde se vão passar diversas cenas da
peça. O retrato chamou à atenção de Maria, a filha de Madalena e Manuel de
Sousa, que pergunta quem está retratado a Telmo (“De quem é este retrato aqui,
Telmo?”). Nem Madalena nem o próprio Telmo pretendem dar-lhe a conhecer que, na
verdade, o retrato que se encontra na grande parede, juntamente com outros, era
o do ex-marido da mãe, por isso decidem “jogar pelo seguro” (“play it safe”) e
omitir tal facto a Maria.
“Eu tenho andado de cabeça para baixo” (“I’ve
been upside down”) é um verso que se encaixa perfeitamente no momento que
Madalena passa na casa do ex-marido e em toda a sua vida desde que casou com
Manuel de Sousa.
Joana M. [Suf +]
A canção “Alone”, da
cantora Selah Sue, retrata com bastante coerência a situação em que se encontra
D. João de Portugal na peça Frei Luís de
Sousa de Almeida Garrett.
D. João de Portugal
foi o primeiro marido de D. Madalena de Vilhena, e participou com D. Sebastião
na Batalha de Alcácer Quibir, na qual desapareceu. Tal como aconteceu com D.
Sebastião, a sua morte nunca foi provada. Em Frei Luís de Sousa, no entanto, é
uma espécie de fantasma que arrastará, fatalmente, para um destino trágico,
todas as outras personagens.
Quando Madalena se
refere ao "senhor D. João de Portugal, que Deus tenha em glória" e
Telmo, em aparte, lança a dúvida "Terá…", manifesta, assim, a crença
de que ainda esteja vivo o nobre cavaleiro, que vai lentamente adquirindo
contornos até se tornar na figura do Romeiro, que se identifica como «Ninguém».
É, portanto, no
regresso de D. João de Portugal após vinte e um anos de ausência que a música
de Selah Sue se enquadra na perfeição. Quando o “Romeiro” entra em cena,
dizendo que tem um recado para Madalena, Jorge e Madalena dão-lhe as boas
vindas e tentam pô-lo à vontade, falando da vida que levara aquele peregrino
durante aqueles anos. O romeiro afirmava não ter família nem amigos, pois os
que tivera no passado contaram com a sua morte (“Parentes!... Os mais chegados,
os que eu me importava achar… contaram com a minha morte, fizeram a sua
felicidade com ela; hão de jurar que me não conhecem”). Toda esta solidão e
abandono sentidos por D. João após este seu regresso a casa o podemos associar
a um verso da música, “Back Home / But on the ground [De volta a casa / Mas no
chão]”. De imediato, se recordam alguns versos da primeira estrofe e do refrão
da música, tal como “Don’t you see I´m alone without you [Tu não vês que eu
estou sozinho sem ti]” ou mesmo “The day you abandoned me / Save me you
remember me to start [No dia que tu me abandonaste / Salve-me se lembra de mim para começar]”, na primeira estrofe. No refrão,
também podemos citar o “Cause I’m alone [Porque eu estou sozinho]”. No entanto,
ele trazia uma mensagem de D. João de Portugal (“Ide a D. Madalena de Vilhena,
e dizei-lhe que um homem que muito lhe quis… aqui está vivo… por seu mal… e
daqui não pode sair nem mandar-lhe novas suas, de há vinte anos que o trouxeram
cativo”), mensagem que deixou Madalena bastante abalada e Jorge desconfiado sobre
quem seria, realmente, aquele Romeiro.
Quando o Romeiro
reencontra Telmo (o velho criado, aio de D. João de Portugal, definido pela
lealdade e fidelidade, que não quer magoar nem pretende a desgraça da família
de D. Madalena e Manuel, mas, como verdadeiro crente no mito sebastianista,
acredita que D. João de Portugal há de regressar), já no ato III, o velho aio
apercebe-se de que está perante o seu senhor e sente uma enorme felicidade (“Meu
filho!...Oh é o meu filho todo; a voz, o rosto...”). D. João de Portugal sabe
que Telmo fora o único que não acreditara que a causa do seu desaparecimento
fora a sua morte. Madalena sempre contrariou Telmo em tal pensamento e preferiu
acreditar na sua morte embora o tivesse procurado durante sete anos (“É verdade
que por toda a parte me procuraram, que por toda a parte… ela mandou
mensageiros, dinheiro?”). A verdade é que o Romeiro sentia-se esquecido, e
estes versos de Selah Sue ligam-se na perfeição a esse sentimento: “I hope you
remembre me at night / Love has forsaken me / The day you abandoned me [Eu
espero que tu te lembres de mim à noite / Amor que me desamparou / No dia que
tu me abandonaste]”.
Contudo, ainda na
cena V, D. João pede a Telmo para que ajude a evitar a desgraça da família,
ordena-lhe que diga que o romeiro é um impostor.
Na Cena VI, existe
uma última "ilusão" de D. João que, ouvindo Madalena chamar de fora
pelo seu marido, pensou que aquele se dirigia a si: “Before the end / Did the
door start close / Once we began / But did you let go [Antes do final / Será
que a porta se começa a fechar / Uma vez que começamos / Mas que tu me deixaste
ir]”. Estes versos de Selah Sue apontam para um pingo de esperança por parte do
Romeiro, pois antes da partida do Romeiro (antes do final, como a cantora diz),
se aquelas palavras de Madalena fossem para D. João, a porta a que Selah Sue se
refere poderia não se fechar mas abrir-se e dar origem a uma nova história. No
entanto, a verdade é que Madalena se referia a Manuel e não a D. João.
“Alone” aplica-se aos
sentimentos de D. João de Portugal, que, após a Batalha de Alcácer Quibir, é
dado como morto e, portanto, esquecido por Madalena, que o considera morto e
forma uma nova família com Manuel de Sousa. D. João sente-se só e, quando se
apercebe de que Madalena não o reconhece e apenas vive para Manuel de Sousa,
desiste da ideia de revelar a sua pessoa. A música termina com os versos “Cause
I’m alone / Without you [Porque eu estou sozinho / Sem ti]” que poderiam remeter
para o sentimento do pobre Romeiro.
Duarte [Suf +/Bom-]
A relação existente entre a música escolhida, “Mentira”,
de João Pedro Pais, e o enredo de Frei
Luís de Sousa é a de que, a par do título da canção, também na obra que
estudámos era falso o paradeiro de D. João de Portugal, o que, como
consequência, remetia para o precipitado casamento da personagem feminina
principal, Madalena, que, ao contrário do que pensava, não era viúva. Existem
ainda mais comparações que conseguimos estabelecer a partir da música e da
história…
Tenhamos em conta os versos “Dá-me vontade de te
ter ao meu lado, vendo-te a olhar para mim / Como um pássaro livre que voa sem
fim, porque é que a vida nos trama quando alguém se ama? / Recordo-me de ti e
imagino porquê a tua cara a flutuar, porque é que a vida nos fascina? / Acreditar
que no amor não se sente a dor, mas é Mentira! Mentira! Mentira! Mentiraaaa!”.
Todas estas frases nos ligam à personagem D. João
de Portugal e aos seus sentimentos por Madalena. Conseguimos entender que D. João,
com a infelicidade de em tantos anos não conseguir regressar ao seu país e por
ter sido considerado como morto (apenas o seu fiel aio Telmo acreditava no
contrário), acaba por ser “tramado” pelo amor e a mentira do seu
desaparecimento “tramar” o seu casamento com o passar do tempo só aumentava as
saudades e ânsia por ver a sua mulher. Entendo Frei Luís de Sousa enquanto portador de uma mensagem intemporal
através da qual o amor é um elemento destruidor da felicidade humana e causador
da destruição do Homem, o que se constata, por exemplo, no Romeu e Julieta, de Shakespeare, ou no episódio de Inês de Castro,
de Os Lusíadas: “Tu, só tu, puro
Amor, com força crua / Que os corações humanos tanto obriga, / Deste causa à
molesta morte sua, Como se fora pérfida inimiga”; “Se dizem, fero Amor, que a
sede tua, / Nem com lágrimas tristes se mitiga, / É porque queres, áspero e
tirano, / Tuas aras banhar em sangue humano.”
Também em Frei
Luís de Sousa o amor acaba por desgraçar o protagonista, obrigando-o a
partir (ou, como João Pedro Pais, escreveu: “ter de partir e não poder sorrir”)
e a escolher ficar com a recordação do que viveu, optando por deixar Madalena
ser feliz na ignorância (ou a viver uma mentira formal, o seu casamento bígamo,
embora feliz).
Luísa [Suf (+)]
A canção que escolhi para integrar neste
comentário-análise foi “Mentira” de João Pedro Pais, que está incluída no
segundo álbum do cantor, Outra Vez, de
1999. Escolhi esta música pois nela
podem agregar-se diversos sentimentos, de diferentes personagens.
Podemos começar pelo que sentiu D. João de
Portugal quando voltou: “Sei que estou apaixonado / Mas não posso ficar assim”.
Quando voltou, D. João ainda estava completamente apaixonado por Madalena, mas
tinha também perfeita consciência de que a mesma tinha agora uma família, e que
não poderia continuar ali a atormentá-la (“E que sossegue, que seja feliz.
Telmo, adeus!“). Logo depois deste verso, encontramos um sentimento que
contrasta com o de D. João de Portugal, o de Madalena, que afirma a sua
tristeza (“Porque é que a vida nos trama / Quando alguém se ama?”) pois
Madalena, mesmo enquanto o antigo esposo era vivo, já tinha o seu coração a
bater por outrem, batia por Manuel de Sousa (“Este amor, que hoje está
santificado e bendito no céu, porque Manuel de Sousa é meu marido, começou com
um crime, porque eu amei-o assim que o vi (…) D. João de Portugal era ainda
vivo! O pecado estava-me no coração (…) mas dentro da alma eu já não tinha
outra imagem senão a do amante”).
Na letra escrita por João Pedro Pais, lemos os
versos “Ter de partir / E não poder sorrir”, que podemos aplicar a D. João, que
partiu para a Batalha de Alcácer Quibir, não podendo assim ficar com a dama
mais honrada de Portugal e a que ele tanto amava. Partindo para a batalha, D. João
não ficou com Dona Madalena, e perdeu assim tudo o que ele amava na vida.
Encontramos também na letra alguns versos que
nos servem para fazermos alusão à pequena e frágil Maria: ”Porque é que a vida
nos fascina? / Tantas vezes nos domina?”. Maria era uma menina muito perspicaz,
inteligente e curiosa, algo que assustava tanto a mãe como o seu tio, Frei
Jorge (“Sabeis que mais? Tenho medo desta criança. – Também eu “). Porém, toda
esta perspicácia e ânsia de viver não foram suficientes para salvar Maria, que
já havia sido dominada pela doença: uma terrível tuberculose ocupara todo o
corpo de Maria e não lhe deixou muito tempo de vida. Pode mesmo dizer-se que
Maria passou os últimos dos seus dias a “arder em curiosidade” (“Que febre que
ela tem hoje, meu Deus! Queimam-lhe as mãos… e aquelas rosetas nas faces…Se o
perceberá a pobre mãe”).
Quanto aos versos “Acreditar que no amor / Não
se sente a dor / Mas é mentira!”, pode aplicar-se tanto a Madalena como a D.
João de Portugal, e ainda a Manuel de Sousa Coutinho, já que todos no final
acabam desolados e com as vidas trocadas: Madalena vê-se prestes a cair na
desonra, e a desonrar a sua filha, acaba por a perder e perder o seu amado
Manuel de Sousa; D.João regressa a casa, e o que encontra são apenas peças soltas
do que deixara em tempos (é verdade que ainda tem a sua casa, mas ocupada por
Madalena e o seu amado; tem ainda o seu velho aio mas que agora quer mais a
Maria do que lhe quer a ele; e reencontra Madalena, mas agora nos braços de
outro); por fim, Manuel de Sousa Coutinho também perdeu a sua amada esposa, a
sua querida e, depois de perder tudo isso ingressa na vida religiosa, que, no
entanto, lhe irá permitir ser reconhecido pela sua obra literária.
Gonçalo [Suf-/Insuf+]
Escolher uma música
que se adequasse ao texto ou a qualquer ato de Frei Luís de Sousa é difícil, mas, ao ouvir “Amor Electro-Máquina”,
pude encontrar algo que identificasse com o enredo da peça, não com todo mas
com uma parte do drama. Na música, os versos “Que pena é ver-te assim / Já sem
saberes de ti.“ posso identificá-los com o ato segundo, cena I, quando Maria
conversa com Telmo, na sala dos retratos, e se diz que D. Madalena está triste,
sem vontade de viver, e, como é dito no verso da música, sem saber quem é,
devido a ter saído da sua antiga casa e agora residir na casa de seu marido falecido
(alegadamente), D. João de Portugal.
O verso em seguida — “É
de pedir aos céus, A mim, a ti e a Deus“ — identifica-se também com o mesmo ato
e com a mesma cena e com os seguintes (antes da entrada do romeiro), quando se
sabe que Frei Jorge esteve a falar com D.Madalena para a acalmar e tentar que
ela não estivesse tão deprimida e triste pela volta à sua antiga casa. Sendo a
obra de índole trágica, não só a música se relaciona com ela em geral, como há
partes que se identificam especialmente com a canção.
Também no videoclip
se percebe que há uma certa essência de épocas passadas, apesar de o contexto ser
o atual.
Joana Si. [Suf]
A música da Christina
Perri, “Jar of Hearts”, caracteriza bem a peça Frei Luís de Sousa através da forma como conta a história de um
homem que parte o coração da rapariga e lhe rouba o coração desaparecendo logo
a seguir, mas depois espera tê-la de volta.
A partir do momento
em que D. João de Portugal volta, Madalena vive no terror por ter casado de
novo e o seu aparecimento poder abrir feridas que não estavam seladas – “Que o
não saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em que eu vivo. Este medo,
estes contínuos terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda
a imensa felicidade que me dava o seu amor.” Este excerto da peça representa o
medo e o terror que a ausência de D. João e o seu reaparecimento lhe provocaram.
Já na música esse medo é representado através dos seguintes versos – “And it
took so long just to feel alright / And now you're back / You don't get to get
me back [E demorou tanto tempo só para me sentir bem / E agora voltaste / Mas
não me vais ter de volta]”.
Telmo mantém a
esperança de que o seu primeiro amo chegue, mas Madalena sofre com a
possibilidade de o seu passado afetar o seu presente por isso tenta que este
não traga o assunto à tona. Com a chegada de João de Portugal, disfarçado de
Romeiro, todos os medos de Madalena se tornam realidade e Telmo fica feliz, mas
preocupado com Madalena e, sobretudo, Maria, e tentará esconder a identidade de
João, a pedido deste.
Existe uma cena
particular na peça em que Madalena chama por Manuel, seu esposo, e o Romeiro
pensa que chama por ela pronto a tê-la nos braços – “MADALENA - Esposo, esposo,
abri-me, por quem sois! Bem sei que aqui estais! Abri! / ROMEIRO - É ela que me
chama! Santo Deus! Madalena que chama por mim. / TELMO - Por vós? / ROMEIRO - Pois por quem? Não lhe ouves
gritar: «Esposo, esposo?»” – e a música representa bem este momento e desejo do
amado de voltar para os braços da sua antiga amada – “I know I can't take one
more step towards you / 'Cause all that's waiting is regret / Don't you know
I'm not your ghost anymore / You lost the love I loved the most / I learned to
live half alive / And now you want me one more time [Eu seu que não posso dar
mais um passo na tua direção / Por o que me espera é arrependimento / Não sabes
que já não sou o teu fantasma]”.
Escolhi esta música como
âncora para a análise da peça porque, a meu ver, neste drama romântico a parte
mais presente é a dor que uma pessoa pode trazer com a sua simples presença da canção
pinta um cenário semelhante ao o da peça: um amor antes correspondido nunca
morre para um dos lados.
Hugo [Suf-/Insuf+]
A obra Frei
Luís de Sousa aproxima-se da tragédia clássica. A história desenrola-se à
volta duma mulher que se crê viúva e se vê confrontada com os fantasmas do
passado, deparando-se com situações bastante embaraçosas. Esta mulher tal como o
sujeito poético da canção interpretada por Adele, sofre por amor. Ambas as
mulheres se mostram desesperadas.
Nesta parte específica da ação, podemos observar
Madalena, que, a seus olhos, perdeu tudo o que valorava na vida. Primeiramente,
deu-se a tragédia do reaparecimento de seu antigo marido, D. João de Portugal,
que tinha sido dado como morto, o que resultará na separação do seu actual
marido, Manuel de Sousa, deixando-a como «viúva» pela segunda vez (“Pela
derradeira vez neste mundo, querida. (Vai
para a abraçar e recua.) Adeus, adeus!”). Depois, abate-se sobre ela outra
tragédia, o estado crítico da filha, Maria, que mais tarde resultará na sua
morte (“Oh, a minha filha, a minha filha. Também essa vos dou, meu Deus. E
agora, que mais quereis de mim, Senhor?”).
Em suma, temos uma ínfima parte do sofrimento duma mulher que perde tudo.
A canção que escolhi fala-nos duma mulher que,
sem aviso prévio, perdeu o seu amado, tal como Madalena. Tanto a peça como a
canção se prendem ao tema da tragédia e da perda dum ou mais entes queridos,
sempre enaltecidos, de modo a fazer passar a mensagem e apelar à emoção do
recetor. A estrofe em seguida ilustra-nos perfeitamente a situação passada por
Madalena e podia até ter sido proferida por ela num dos seus desabafos: “When
will i see you again? [Quando irei ver-te de novo?] / You left with no goodbye
[Partiste sem dizer adeus] / Not a single word was said, [Nem uma palavra foi
dita] No final kiss to seal any sins. [Nem um beijo final para selar os
pecados]”.
O tema abordado em Frei Luís de Sousa é muito comum no Romantismo. A tragédia é algo
que prende bastante o leitor e é facilmente explorável de forma a “mexer” com
os sentimentos, de quem lê ou vê a peça. Madalena e o sujeito poético da canção
de Adele sentem uma dor quase inexplicável e, de diferentes formas,
expressam-na bastante efusivamente.
Madalena [Suf+/Bom-]
A música «Breakeven», da banda The Script,
contém vários versos que poderiam ser comparados com a peça de Almeida Garrett,
Frei Luís de Sousa. Toda a canção
poderia ser relatada pelo romeiro, como se há de dar a conhecer no regresso D.
João de Portugal, sobre o que lhe acontecera e o que lhe está a acontecer.
“I'm still alive but I'm barely breathing”
(“Continuo vivo mas mal respiro”) poderia D. João de Portugal afirmar quando
chega a Almada para cumprir o que prometera a Madalena, que ,“vivo ou morto”,
ainda se haviam de encontrar.
“Her best days will be some of my worst” (“Os
melhores dias dela serão dos meus piores”), continua o vocalista, como que a
dizer que Madalena, agora com o seu marido, Manuel de Sousa Coutinho, e com a
filha, Maria, terá melhores dias adiante, ao contrário de D. João. “She finally
met a man that's gonna put her first” (“Ela finalmente conheceu um homem que
vai colocá-la em primeiro lugar”) continuam então os versos.
Ao longo da peça podemos perceber que D. João
tinha apenas duas grandes paixões na vida sem as quais não poderia viver, a
guerra e Madalena: “e aquela mão que descansa na espada, como quem não tem
outro arrimo, nem outro amor nesta vida”; “Pois tinha, oh! se tinha”.
Os sentimentos de D. João de Portugal poderiam
então ser descritos nos restantes trechos da música, como em “What am I
supposed to do when the best part of me was always you?” (“O que hei eu de
fazer quando a melhor parte de mim sempre foste tu?”). Esta parte, do refrão,
parece dirigir-se a Madalena, que apesar de ter esperado por D. João sete anos,
voltara a casar, pensando que estaria livre de pecado, apesar de que é referido
na peça que D. Madalena sempre pecou em pensamento desde o momento em que viu
Manuel. Como está na peça: “com que amor a amava eu!”.
“I'm falling to pieces” (“Estou a desmoronar-me
aos bocados”) descreveria o estado de espírito de D. João que, desde que fora
dado como morto, tivera uma vida dura. E agora, “ressuscitado”, mais dura ainda
lhe seria por saber que o seu amor nunca fora correspondido: “she moved on
while I'm still grieving” (“ela seguiu em frente enquanto eu continuo
magoado”), mostra o sentimento de traição sentido por D. João ao saber que o
amor da sua vida, a mulher da sua vida, havia casado de novo e, mais tarde,
dado à luz uma filha. “you left me with no love, and no love to my name”
(“Deixaste-me sem amor e sem amor ao meu nome”) é mais um dos muitos versos que
nos transportaria para o sentimento de tristeza e de abandono sentido pelo
romeiro (D. João de Portugal) e que se encontra intimamente relacionado com uma
das suas falas, em Frei Luís de Sousa,
“Na hora em que ela acreditou na minha morte, nessa hora morri.”. Agora D. João
de Portugal teria de seguir em frente, como Madalena fizera: “De mim já não há
senão esse nome, ainda honrado”.
Miguel [Suf-]
Frei Luís
de Sousa
é uma obra de cariz português. Muitas coisas podem vir-nos à cabeça quando
pensamos em cultura portuguesa: Camões, Pessoa, mais de mil anos de história,
tremoços ou o “Benfas”. No entanto, nada nos caracteriza melhor do que a música
pimba.
Ao deparar-me com a parte da peça em que D. João
de Portugal volta à sua casa, não poderia deixar de me vir à cabeça a música
cuja autoria é de Mónica Sintra, “Na minha cama com ela”, embora prefira a
adaptação de Bruno Nogueira.
Ao pormos as duas histórias destes dois grandes
escritores nacionais lado a lado, haveria apenas uma alteração a fazer, trocar
no título da música o “ela” por “ele” (afinal tais modernices começaram a
aparecer depois de o vocalista dos “Queen” ter aderido ao movimento).
Ambas as histórias assentam numa traição. Na
obra publicada há cento e setenta e dois, podemos ver D. João de Portugal como
traído, “encornado” para os mais grosseiros. Este, depois de vinte e um anos
perdido na batalha de Alcácer Quibir, pretende voltar para os braços da sua
amada, D. Madalena. No entanto, ao chegar a casa sem avisar (obviamente,
podemos relacionar com os versos de Mónica Sintra “Cheguei sem avisar / Mais cedo a casa
nesse dia”),
vê que Madalena não estava sozinha. Na verdade, Madalena estava perdida nos
braços dele (Manuel de Sousa Coutinho), e nessa casa possuía também o retrato
de D. João de Portugal, já antes comentado pela doente filha e por Telmo
(“Perdido nos braços dela / Mesmo em frente ao meu retrato).
Porém, enquanto o sujeito poético de “Na minha
cama com ela” teve o prazer de verificar o seu marido a satisfazer uma
estranha, o Romeiro teve de se contentar em ver sua mulher e um estranho a
tentarem resolver a tuberculose da filha.
Tanto a história escrita e cantada por Mónica
Sintra como a obra escrita por Almeida Garret retratam um episódio dramático, a
descoberta da substituição do parceiro por um outro indivíduo, se bem que no
poema de Mónica o sujeito poético se sujeite apenas a um sentimento de raiva e
tristeza: “Tenho o desgosto tatuado; Eternamente desde então; E cada vez esta mais amargo; O dissabor dessa traição.”. Já na obra romântica os
danos de tal relação ilegítima entre Madalena e Manuel de Sousa Coutinho foram
um pouco mais graves, havendo uma morte confirmada: Maria morre de vergonha por
ser fruto de tal laço matrimonial.
Francisco [Suficiente +/Bom-]
A canção dos Xutos & Pontapés, “Homem do leme”,
aplica-se às cenas V e VI do terceiro ato de Frei Luís de Sousa, com
destaque para as personagens Madalena, Telmo e Romeiro.
Os versos «Tentaram prendê-lo / impor-lhe uma fé / mas
vogando a bondade / rompendo a saudade» podem aplicar-se à crença de Telmo,
pois nunca duvidou da sobrevivência do seu amo na batalha de Alcácer Quibir, D.
João de Portugal. A sua desconfiança é confirmada na cena V do terceiro ato,
quando está em conversa com o Romeiro e acaba por descobrir que, diante si, se
encontra o seu amo («Meu amo, meu senhor… sois vós? Sois. D. João de Portugal,
oh, sois vós, senhor?»). Durante o diálogo com D. João de Portugal, Telmo
repara no seu aspeto desleixado, que D. João justifica com a sua experiência
vivida nos últimos vinte anos: «São vinte anos de cativeiro e miséria, de
saudades, de ânsias que por aqui passaram». Esta citação pode relacionar-se com
os versos «Vai quem já nada teme / vai o homem do leme», que estão presentes na
canção.
Quando D. João regressa a casa, é avisado por Telmo do
novo marido de Madalena, Manuel Coutinho, e da sua filha, chamada Maria («E têm
um filho?»). Ele fica surpreendido com as notícias, tomando, assim, a decisão
de ir embora, arrependido de ter voltado e indignado com a atitude de Madalena
(«D. João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera. Sua
mulher honrada e virtuosa, sua mulher que ele amava…»), apesar do grande
esforço de Telmo para o impedir. Esta atitude por parte de D. João poderia
associar-se aos versos «No fundo do tempo / foge o futuro / é tarde demais»,
onde também o autor da canção descreve um sentimento de impotência perante a
situação vivida, compreendendo que é tarde demais para mudar seja o que for.
A cena VI do terceiro ato apresenta o momento em que D.
João de Portugal volta a sonhar com o seu casamento, pensando que Madalena o
reconhecera e o chamara em tremendo pranto: «Pois por quem?... Não lhe ouves
gritar: “esposo, esposo?». Madalena acaba por desfazer o engano («Meu marido, meu
amo, meu Manuel!»), deixando D. João decidido a ir-se embora. Os versos «E uma
vontade de ir / correr o mundo e partir / a vida é sempre a perder»
relacionam-se com a parte final da cena, onde D. João demonstra um sentimento
de raiva por si próprio por ter acreditado que as palavras de Madalena pudessem
ser dirigidas para si, o que é comprovado na fala «Ah! E eu tão cego que já
tomava para mim! Céu e inferno! Abra-se esta porta… Não: o que é dito, é dito».
Magda [Suficiente]
A canção «Porto sentido», de Rui Veloso,
pertencente ao álbum Rui Veloso, onde é a oitava faixa, lançado em 1987,
pode, de várias maneiras, relacionar-se com algumas personagens da obra de
Almeida Garrett, Frei Luís de
Sousa.
Logo no início, a passagem "Quem vem e atravessa o rio" pode
ser relacionada com a localização da casa de Manuel de Sousa Coutinho e de
Madalena («No fundo, duas grandes janelas rasgadas, dando para um eirado que
olha sobre o Tejo e donde se vê toda Lisboa»), algures do outro lado do rio
Tejo — isto relativamente a quem se encontra em Lisboa, é claro. A parte da
letra da canção "Vê um velho casario / Que se estende ate ao mar" poderia
reportar-se, também, à habitação da família de Manuel de Sousa Coutinho.
Na segunda quadra da letra da canção dir-se-ia que se faz uma
referência às viagens de Manuel de Sousa a Lisboa ("Quem te vê ao vir da
ponte / És cascata, são-joanina / Erigida sobre o monte / No meio da neblina"),
também às emoções demonstradas pelo personagem em todos os seus regressos e à
ansiedade e felicidade sentidas por Manuel ao reencontrar sua mulher, Madalena,
e sua filha, a pequena Maria («Madalena! Minha querida filha, minha Maria!»).
Enquanto que a segunda quadra se relaciona, maioritariamente, com Manuel
Coutinho, a quarta quadra da canção de Rui Veloso podia retratar Madalena:
"E esse teu ar grave e sério / Num rosto de cantaria" estaria
relacionado com o ar sempre pesado e preocupado de Madalena, devido não só ao
tormento causado pelo amor antigo («Depois que fiquei só, depois daquela
funesta jornada de África que me deixou viúva, órfã e sem ninguém...») como
também à situação de saúde de sua filha Maria (« É a minha única filha; não
tenho... nunca tivemos outra... e, além de tudo o mais, bem vês que não é uma
criança... muito... muito forte»).
A quadra "Ver-te assim abandonada / Nesse timbre pardacento / Nesse
teu jeito fechado / De quem mói um sentimento", mais uma vez, pode
associar-se à constante angústia sentida pela viúva de Dom João de Portugal,
demonstrada, de forma mais acentuada, com o momento em que a família é obrigada
a mudar-se para a casa de Dom João (« Mas oh! Esposo da minha alma... para
aquela casa não, não me leves para aquela casa!»).
Por fim, a última quadra parece dedicada inteiramente ao regresso do
Romeiro — Dom João de Portugal — e à dor que causa em Madalena este regresso
tão tardio ("E é sempre a primeira vez / Em cada regresso a casa /
Rever-te nessa altivez / De milhafre ferido na asa") e à esperança de João
de Portugal em rever Madalena, e de que, assim, pudesse voltar a viver o seu
antigo amor (« Pois por quem?... não lhe ouves gritar:" esposo,
esposo?"»), acabando, porém, por cair em angústia e apercebendo-se de que
deve deixar Madalena e a sua família viverem em paz, embora lhe fosse doloroso.
Mariana [Suf+/Bom-]
A canção dos OneRepublic “Apologize [pedir
desculpa]” pode ser relacionada com a obra de Almeida Garrett Frei Luís de Sousa. O refrão — “It's too
late to apologize / It's too late / I said it's too late to apologize / It's
too late [É tarde demais para pedir desculpas / é tarde demais / Eu disse que é
tarde para pedir desculpas / é tarde demais]” — pode ser relacionado com o
final da obra.
No final do terceiro ato, D. João de Portugal
fica arrependido (“Fui imprudente, fui injusto, fui duro e cruel.”) — pois por
Madalena “I'd take another chance, take a fall, take a shot for you / And I
need you like a heart needs a beat, but it's nothing new [Eu arriscar-me-ia de
novo, cairia, levaria um tiro por ti / E preciso de ti como um coração precisa
bater, mas isso não é nenhuma novidade] — por vir a destruir a família que D.
Madalena havia construído, pedindo a Telmo que negasse o que tinha dito
enquanto Romeiro, ordenando-lhe que dissesse a Madalena que “falaste com o
romeiro, que o examinaste, que o convenceste de falso e de impostor…” e pedindo
também que atribuísse a autoria daquele acontecimento aos inimigos de D.
Manuel.
Quando já se encontram D. Manuel, Madalena e
Maria na igreja, prestes a sofrer o destino fatal que os aguardava, após Maria
implorar aos pais que desistissem da entrada na vida religiosa, esta, devido à
sua apurada audição proveniente da sua doença, a tuberculose, ouve a voz de D.
João que incita Telmo (“salva-os, que ainda podes”), porém não ouve as palavras
que por esta são proferidas, acabando por morrer “de vergonha”. Este desfecho,
tal como a crença de D. João em que pode salvar a família de Madalena da
fatalidade que a espera, pode ser relacionado com o refrão (“It's too late to
apologize [É tarde demais para pedir desculpas]” pois foi “too late [demasiado
tarde]” para conseguir impedir a morte de Maria e a entrada para a vida
religiosa de D. Manuel e Madalena.
Desde o início são-nos dados indícios do final
trágico, começando logo pelo início da obra, no ato primeiro, cena I, as
palavras repetidas por Madalena (“«Naquele engano d’alma ledo e cego, / que a
fortuna não deixa durar muito…»”). Este trecho de Os Lusíadas, do episódio de Inês de Castro, remete o leitor para a
semelhança com o final da peça, visto que ambos os enredos (o da história de
Pedro e Inês e o da peça de Garrett) possuem um final trágico para o casal. Os
primeiros versos da canção podem ser facilmente relacionados com os sentimentos
que Madalena experiencia ao longo da peça (“I'm holding on your rope, got me
ten feet off the ground [Eu estou a segurar na tua corda, deixou-me a 10 pés do
chão]”, metáfora para o que Madalena sente ao saber a verdade, pois encontra-se
numa situação com uma saída difícil, sendo que “And I'm hearing what you say,
but I just can't make a sound [E estou a ouvir o que me dizes, mas eu simplesmente
não consigo emitir nenhum som]” pode ser associado à sua perplexidade ao saber que
o antigo marido estava vivo. Por fim, “You tell me that you need me then you go
and cut me down [Tu dizes que precisas de mim, então tu vens e derrubas-me]” remete-nos
para os sentimentos de D. João por Madalena e para as consequências do ato de
se dar a conhecer.
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