Aula 9-10
Aula 9-10 (28 [4.ª], 30/set [3.ª, 1.ª],
3/out [5.ª]) Correção do questionário sobre «Louvor do livro» (ver Apresentação).
Começa por ler o texto A
da p. 22 do manual e resolver o ponto 1. Depois, passa ao texto aqui em baixo,
do músico Kalaf Epalanga:
Novos
trovadores
Sou da poesia declamada em
voz alta. Tinha quinze anos quando me iniciei na arte de escrever versos,
aprendiz de poeta, nos corredores da escola, com outros cúmplices interessados
no jogo de fazer rimar todas as palavras do dicionário e que, mais tarde,
dediquei em forma de coro à menina que, no fim das aulas, me dava a alegria de
a acompanhar até ao portão de casa. Num esforço para não se rir da minha figura,
ouvia com aparente entusiasmo os poemas que eu lhe segredava num só fôlego, com
a voz trémula, com o receio de que se aborrecesse e, no meio da estrofe,
desaparecesse, fugindo para dentro de casa, levando na canção verde o meu
coração aos pulos.
Aquelas tardes de poesia junto
ao portão arrastaram-se por longos e penosos meses, numa paixão não correspondida
que expurgou de mim os mais sentidos versos de súplica e de devoção que, até
então, nunca julgara ser capaz de escrever. E, quando me vi sem argumentos, fui
beber inspiração nos poetas de outras épocas. E tal como os jograis ou segréis
do século XII, cantei poesias alheias. Só me faltava mesmo um grupo de
soldadeiras para me acompanharem com suas danças e cantares que animaram tantos
serões nas cortes portuguesas do antigamente.
Entre os meus cúmplices,
daqueles que se dedicavam aos jogos de rimas nos corredores, havia quem, ao contrário
de mim, preferisse partilhar com o grupo as suas experiências com as raparigas
do liceu, dando voz aos sentimentos de paixão e dor que julgavam que estas
sentiam em relação a eles. Mas, dependendo do talento ou capacidade de exagero
do trovador de serviço, não precisei de muito para me convencer de que aquela
era a mais romântica das gerações que passaram pelo liceu, de tão belos e
diversos que eram os versos que partilhávamos uns com os outros. Alguns troncos
de árvore ainda guardam vestígios daqueles anos de descoberta abençoados pela
espontaneidade e simplicidade que nos dias de hoje vemos refletidas nas canções
pop da rádio.
Todos gostamos de ouvir
uma história bem contada, e a poesia sempre foi tida como o veículo mais
imediato para partilhar sentimentos, sejam nossos ou daqueles que estão à nossa
volta. E nos dias de hoje, a par do lirismo representado pelas cantigas de
amigo e de amor refletidas na canção popular, não podemos deixar de assinalar
que o herdeiro direto das cantigas de escárnio e maldizer é «provavelmente» o rap,
que, lado a lado com a vertente de crítica social, transporta a mesma perversidade
das cantigas de maldizer. O deboche e a troça da pessoa ou ações de determinado
indivíduo são características comuns, tal como a ironia e o duplo sentido das
palavras usadas para satirizar o objeto-alvo.
Depois
de teres lido «Novos trovadores» (que retirei de: Célia Cameira, Fernanda Palma
& Rui Palma, Mensagens, Português, 10.º ano, Lisboa, Texto, 2015, p.
23), de Kalaf Epalanga
— do antigo grupo Buraka Som Sistema —, completa este texto-síntese:
Nos
três primeiros parágrafos, o narrador usa um estilo autobiográfico, recordando os tempos em que procurava usar a poesia
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
(o que lhe sugere uma analogia com os trovadores e jograis medievais). No
último parágrafo é menos memorialístico, estabelecendo agora comparações entre
a música atual e as cantigas trovadorescas: o lirismo das cantigas de amigo e de amor encontrar-se-ia também nas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
contemporâneas; a crítica social e a sátira típicas das cantigas de escárnio e maldizer teriam paralelo no . . . . . . . . .
Repara
nesta série de dez palavras, que criei a partir da palavra «Kalaf».
Kalaf
Buraca
David
Michelangelo
«Os Delfins»
Cascais
Marcelo
vichyssoise
termas
jatos
Kalaf lembra
Buraca (porque integrou os Buraka Som
Sistema); Buraca lembra David (por causa do conhecido restaurante
«O David da Buraca»); David lembra Michelangelo (o artista renascentista autor
da célebre escultura David); Michelangelo
lembra Os Delfins (já que o vocalista
deste grupo musical era homónimo do escultor italiano); Os Delfins sugere Cascais
(porque a mais repetida canção da banda era «A Baía de Cascais»); Cascais pode associar-se a Marcelo (porque aí vive o atual
Presidente da República); Marcelo
fez-me recordar vichyssoise (uma sopa
francesa que ficou ligada a um episódio contado acerca de Marcelo Rebelo de
Sousa e que mostraria como é inventivo); vichyssoise
levou-me até termas (porque Vichy, a
cidade francesa que entra na formação do nome da sopa, é uma estância termal);
de termas passei a jatos (por causa dos tratamentos com esguichos
de água apontados aos pacientes, que não sei se se usam ainda, mas parecem castiços
e serão, provavelmente, ineficazes).
Faz
tu uma série assim, mas a partir de «Música». Vê se há relação entre a primeira
e a segunda palavras, entre a segunda e a terceira, etc., mas, ao mesmo tempo,
tenta afastar-te cada vez mais do motivo inicial (é que não se trata de arranjar
palavras todas da mesma área lexical!). Depois escreve uma outra série — também
começada por «Música» — que venha a ter como décimo elemento a mesma palavra
que iniciou a lista.
Música
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Música
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Música
Acrescenta
ao texto um parágrafo que se inserisse entre o segundo (o que termina com
«antigamente.») e o atual terceiro parágrafo (o que começa com «Entre os»; e
que passaria a ser o quarto).
O
novo parágrafo deverá ter cerca de cem palavras (ou seja, tamanho aproximado do
dos outros parágrafos de «Novos trovadores»), entre as quais, obrigatoriamente,
estas [recolhidas nas séries ouvidas]: ______; ______; ______; ______;
______; ______. A ordem é irrelevante.
Deves
procurar que a crónica se mantenha verosímil e adotar registo linguístico semelhante
ao do resto do texto de Kalaf Epalanga. O ideal é que as seis palavras em causa,
que sublinharás, não sejam sentidas como estranhas. (São interditas espertices
do tipo «e fulano decidiu riscar as palavras tal, tal, tal, tal, tal e tal».)
animaram tantos serões nas cortes portuguesas do
antigamente.
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Entre os meus cúmplices,
daqueles que se dedicavam aos jogos de rimas nos corredores,
Se terminares cedo, lê os
textos B e C das pp. 22-23.
TPC
— Lê a parte de contextualização histórico-literária da poesia trovadoresca,
nas pp. 22-24/5 do manual.
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