Thursday, September 08, 2022

Aula 9-10

Aula 9-10 (28 [4.ª], 30/set [3.ª, 1.ª], 3/out [5.ª]) Correção do questionário sobre «Louvor do livro» (ver Apresentação).

Começa por ler o texto A da p. 22 do manual e resolver o ponto 1. Depois, passa ao texto aqui em baixo, do músico Kalaf Epalanga:

Novos trovadores

Sou da poesia declamada em voz alta. Tinha quinze anos quando me iniciei na arte de escrever versos, aprendiz de poeta, nos corredores da escola, com outros cúmplices interessados no jogo de fazer rimar todas as palavras do dicionário e que, mais tarde, dediquei em forma de coro à menina que, no fim das aulas, me dava a alegria de a acompanhar até ao portão de casa. Num esforço para não se rir da minha figura, ouvia com aparente entusiasmo os poemas que eu lhe segredava num só fôlego, com a voz trémula, com o receio de que se aborrecesse e, no meio da estrofe, desaparecesse, fugindo para dentro de casa, levando na canção verde o meu coração aos pulos.

Aquelas tardes de poesia junto ao portão arrastaram-se por longos e penosos meses, numa paixão não correspondida que expurgou de mim os mais sentidos versos de súplica e de devoção que, até então, nunca julgara ser capaz de escrever. E, quando me vi sem argumentos, fui beber inspiração nos poetas de outras épocas. E tal como os jograis ou segréis do século XII, cantei poesias alheias. Só me faltava mesmo um grupo de soldadeiras para me acompanharem com suas danças e cantares que animaram tantos serões nas cortes portuguesas do antigamente.

Entre os meus cúmplices, daqueles que se dedicavam aos jogos de rimas nos corredores, havia quem, ao contrário de mim, preferisse partilhar com o grupo as suas experiências com as raparigas do liceu, dando voz aos sentimentos de paixão e dor que julgavam que estas sentiam em relação a eles. Mas, dependendo do talento ou capacidade de exagero do trovador de serviço, não precisei de muito para me convencer de que aquela era a mais romântica das gerações que passaram pelo liceu, de tão belos e diversos que eram os versos que partilhávamos uns com os outros. Alguns troncos de árvore ainda guardam vestígios daqueles anos de descoberta abençoados pela espontaneidade e simplicidade que nos dias de hoje vemos refletidas nas canções pop da rádio.

Todos gostamos de ouvir uma história bem contada, e a poesia sempre foi tida como o veículo mais imediato para partilhar sentimentos, sejam nossos ou daqueles que estão à nossa volta. E nos dias de hoje, a par do lirismo representado pelas cantigas de amigo e de amor refletidas na canção popular, não podemos deixar de assinalar que o herdeiro direto das cantigas de escárnio e maldizer é «provavelmente» o rap, que, lado a lado com a vertente de crítica social, transporta a mesma perversidade das cantigas de maldizer. O deboche e a troça da pessoa ou ações de determinado indivíduo são características comuns, tal como a ironia e o duplo sentido das palavras usadas para satirizar o objeto-alvo.

Depois de teres lido «Novos trovadores» (que retirei de: Célia Cameira, Fernanda Palma & Rui Palma, Mensagens, Português, 10.º ano, Lisboa, Texto, 2015, p. 23), de Kalaf Epalanga — do antigo grupo Buraka Som Sistema —, completa este texto-síntese:

Nos três primeiros parágrafos, o narrador usa um estilo autobiográfico, recordando os tempos em que procurava usar a poesia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . (o que lhe sugere uma analogia com os trovadores e jograis medievais). No último parágrafo é menos memorialístico, estabelecendo agora comparações entre a música atual e as cantigas trovadorescas: o lirismo das cantigas de amigo e de amor encontrar-se-ia também nas  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . contemporâneas; a crítica social e a sátira típicas das cantigas de escárnio e maldizer teriam paralelo no  . . . . . . . . .

Repara nesta série de dez palavras, que criei a partir da palavra «Kalaf».

Kalaf

Buraca

David

Michelangelo

«Os Delfins»

Cascais

Marcelo

vichyssoise

termas

jatos

Kalaf lembra Buraca (porque integrou os Buraka Som Sistema); Buraca lembra David (por causa do conhecido restaurante «O David da Buraca»); David lembra Michelangelo (o artista renascentista autor da célebre escultura David); Michelangelo lembra Os Delfins (já que o vocalista deste grupo musical era homónimo do escultor italiano); Os Delfins sugere Cascais (porque a mais repetida canção da banda era «A Baía de Cascais»); Cascais pode associar-se a Marcelo (porque aí vive o atual Presidente da República); Marcelo fez-me recordar vichyssoise (uma sopa francesa que ficou ligada a um episódio contado acerca de Marcelo Rebelo de Sousa e que mostraria como é inventivo); vichyssoise levou-me até termas (porque Vichy, a cidade francesa que entra na formação do nome da sopa, é uma estância termal); de termas passei a jatos (por causa dos tratamentos com esguichos de água apontados aos pacientes, que não sei se se usam ainda, mas parecem castiços e serão, provavelmente, ineficazes).

Faz tu uma série assim, mas a partir de «Música». Vê se há relação entre a primeira e a segunda palavras, entre a segunda e a terceira, etc., mas, ao mesmo tempo, tenta afastar-te cada vez mais do motivo inicial (é que não se trata de arranjar palavras todas da mesma área lexical!). Depois escreve uma outra série — também começada por «Música» — que venha a ter como décimo elemento a mesma palavra que iniciou a lista.

Música

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Música

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Música

Acrescenta ao texto um parágrafo que se inserisse entre o segundo (o que termina com «antigamente.») e o atual terceiro parágrafo (o que começa com «Entre os»; e que passaria a ser o quarto).

O novo parágrafo deverá ter cerca de cem palavras (ou seja, tamanho aproximado do dos outros parágrafos de «Novos trovadores»), entre as quais, obrigatoriamente, estas [recolhidas nas séries ouvidas]: ______; ______; ______; ______; ______; ______. A ordem é irrelevante.

Deves procurar que a crónica se mantenha verosímil e adotar registo linguístico semelhante ao do resto do texto de Kalaf Epalanga. O ideal é que as seis palavras em causa, que sublinharás, não sejam sentidas como estranhas. (São interditas espertices do tipo «e fulano decidiu riscar as palavras tal, tal, tal, tal, tal e tal».)

 

animaram tantos serões nas cortes portuguesas do antigamente.

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Entre os meus cúmplices, daqueles que se dedicavam aos jogos de rimas nos corredores,

 

Se terminares cedo, lê os textos B e C das pp. 22-23.

TPC — Lê a parte de contextualização histórico-literária da poesia trovadoresca, nas pp. 22-24/5 do manual.

 

 

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