Aulas de cábulas
1.ª aula de cábulas
(12/jun)
Lírica
de Camões
(nos programas, surge a título de ilustração dos
elementos memorialísticos, autobiográficos)
[exame de 2016, 1.ª fase]
B
Leia o soneto.
Oh! como se me alonga, de ano em ano,
a peregrinação cansada minha!
Como se encurta, e como ao fim caminha
este meu breve e vão discurso humano!
Vai-se gastando a idade e cresce o dano;
perde-se-me um remédio, que inda tinha;
se por experiência se adivinha,
qualquer grande esperança é grande engano.
Corro após este bem que não se alcança;
no meio do caminho me falece,
mil vezes caio, e perco a confiança.
Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança,
se os olhos ergo a ver se inda parece,
da vista se me perde e da esperança.
Luís
de Camões, Rimas
4. Nas duas quadras, o sujeito poético reflete sobre
os efeitos da passagem do tempo na sua vida. Refira quatro dos aspetos que
integram essa reflexão.
5. Relacione o sentido do verso «qualquer grande
esperança é grande engano» com o conteúdo dos dois tercetos.
Cenários de resposta:
4. De acordo com as
duas quadras, o sujeito poético:
– entende a vida como uma experiência longa e cada vez mais penosa;
– toma consciência da aproximação do termo da sua vida;
– faz um balanço negativo da existência com base na experiência
passada;
– toma consciência de que a vida vai perdendo qualidade;
– encara toda a esperança como mera ilusão.
[acrescenta
as duas palavras em falta]
5. O verso «qualquer grande esperança é grande engano» (v. 8) sugere
que, para o sujeito poético, toda a esperança acaba por se revelar _______.
Esta ideia concretiza-se nos dois tercetos. O bem desejado é representado como
um objetivo que se persegue, num caminho em que o sujeito cai e se levanta, até
que o próprio bem desejado se perde de vista e o desânimo _______.
Expressões, 10.º ano, p. 155:
Expressões, 10.º ano, p. 157:
Lírica de Camões
Vertente tradicional
Medida velha
redondilha maior (heptassílabo)
redondilha menor (pentassílabo)
[Composições com mote]
vilancete
cantiga
[Composições sem mote]
esparsa
endechas ou trovas
Vertente renascentista
Medida nova (decassílabo)
soneto
(oitava, ode, sextina, elegia, ...)
Conselho — Ler nas pp. 152-154
do Expressões do 10.º ano os
enquadrados sobre a lírica de Camões, ainda que sem procurar memorizar uma
sistematização desta matéria.
Padre
António Vieira, «Sermão de Santo António»
[prova intermédia de 2014]
Leia o excerto seguinte, extraído do capítulo III
do Sermão de Santo António (aos peixes),
no qual o orador louva as virtudes dos peixes. Em caso de necessidade, consulte
as notas e o glossário apresentados a seguir ao texto.
Passando dos da
Escritura aos da História natural, quem haverá que não louve e admire muito a
virtude tão celebrada da Rémora? No dia de um Santo Menor, os peixes menores
devem preferir aos outros. Quem haverá, digo, que não admire a virtude daquele
peixezinho tão pequeno no corpo e tão grande na força e no poder, que, não
sendo maior de um palmo, se se pega ao leme de uma Nau da Índia, apesar das
velas e dos ventos, e de seu próprio peso e grandeza, a prende e amarra mais
que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante? Oh se houvera uma
Rémora na terra, que tivesse tanta força como a do mar, que menos perigos
haveria na vida, e que menos naufrágios no mundo! Se alguma Rémora houve na
terra, foi a língua de S. António, na qual, como na Rémora, se verifica o verso
de São Gregório Nazianzeno: Lingua quidem
parva est, sed viribus omnia vincit. O Apóstolo Santiago, naquela sua
eloquentíssima Epístola, compara a língua ao leme da Nau e ao freio do cavalo.
Uma e outra comparação juntas declaram maravilhosamente a virtude da Rémora, a
qual, pegada ao leme da Nau, é freio da Nau e leme do leme. E tal foi a virtude
e força da língua de S. António. O leme da natureza humana é o alvedrio, o
Piloto é a razão; mas quão poucas vezes obedecem à razão os ímpetos
precipitados do alvedrio? Neste leme, porém, tão desobediente e rebelde,
mostrou a língua de António quanta força tinha, como Rémora, para domar e parar
a fúria das paixões humanas. Quantos, correndo Fortuna na Nau Soberba, com as
velas inchadas do vento e da mesma soberba (que também é vento), se iam
desfazer nos baixos, que já rebentavam por proa, se a língua de António, como
Rémora, não tivesse mão no leme, até que as velas se amainassem, como mandava a
razão, e cessasse a tempestade de fora e a de dentro? Quantos, embarcados na
Nau Vingança, com a artilharia abocada e os bota-fogos acesos, corriam
enfunados a dar-se batalha, onde se queimariam ou deitariam a pique, se a
Rémora da língua de António lhe não detivesse a fúria, até que composta a ira e
ódio, com bandeiras de paz se salvassem amigavelmente? [...] Esta é a língua,
peixes, do vosso grande pregador, que também foi Rémora vossa, enquanto o
ouvistes; e porque agora está muda (posto que ainda se conserva inteira) se
veem e choram na terra tantos naufrágios.
Padre António
Vieira, Sermão de Santo António (aos
peixes) e Sermão da Sexagésima,
edição de
Margarida Vieira Mendes, Lisboa, Seara Nova, 1978, pp. 78-80
glossário e notas
abocada (linha 21) – apontada.
alvedrio (linha 14) – livre arbítrio, liberdade para tomar decisões.
baixos (linha 19) – zona de mar ou rio onde a água tem pouca
profundidade.
bota-fogos (linha 22) – varetas com que o artilheiro ateava fogo à
pólvora das bocas de fogo.
enfunados (linha 22) – inchados, envaidecidos.
Epístola (linha 11) – Epístola de São Tiago, um dos livros do Novo
Testamento.
Escritura (linha 1) – Bíblia.
Lingua quidem parva est, sed
viribus omnia vincit (linha 10) – expressão latina que significa «A
língua, na verdade, é pequena, mas vence tudo pela sua força».
posto que ainda se conserva inteira (linha 26) – referência à língua de
Santo António, guardada como relíquia na basílica com o nome do santo, em
Pádua.
Santo Menor (linha 2) – referência ao facto de Santo António pertencer à
ordem de São Francisco.
São Gregório Nazianzeno (linha 10) – teólogo e bispo cristão do séc. IV
d.C.
Apresente, de forma clara e bem estruturada, as
suas respostas aos itens que se seguem.
1. Releia o excerto desde o início até «por diante?»
(linha 7). Apresente os traços caracterizadores da Rémora, fundamentando a sua
resposta com citações do texto.
2. «Se alguma Rémora houve na terra, foi a língua de
S. António» (linhas 8 e 9). Explique a analogia entre a língua de Santo António
e a Rémora.
3. Vieira recorre à representação alegórica de
determinados pecados humanos. Explique de que modo os elementos presentes na
descrição das naus (linhas 17 a 24) permitem representar alguns desses pecados,
bem como as suas consequências.
1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,. . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,. . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,. . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . .
2. A analogia entre a língua de Santo António e a Rémora constrói-se com
base num elemento comum — a ideia de força e de poder, associada à humildade e
pequenez do corpo. Assim, a Rémora, apesar de pequena, é capaz de imobilizar
uma nau, sendo «freio da Nau» (l. 13), e de reorientar o seu trajeto, sendo
«leme do leme» (l. 13); a língua de Santo António, com o seu poder persuasivo,
é capaz de travar as paixões humanas, orientando, segundo a razão, as ações dos
homens.
3. Através da alegoria das naus, Vieira representa os pecados da soberba e
da vingança. A Nau Soberba, manifestação de vaidade, arrogância e altivez, é
representada pelas «velas inchadas do vento» (l. 18); a nau desfeita nos baixos
representa a inevitabilidade do desastre a que este pecado conduz. A Nau
Vingança, associada à guerra e à violência, é representada pela exibição bélica
(«a artilharia abocada e os bota-fogos acesos», ll. 21-22); a destruição
provocada pela batalha é a consequência a que este pecado conduz.
Características
dos peixes criticados no capítulo V (tabela tirada a Fernanda Carrilho, «Sermão de Santo António aos Peixes» de
Padre António Vieira, Lisboa, Texto, 2004, p. 83):
Peixes
|
Simbolizam
|
Características de Santo António (contrastantes
com a do peixe)
|
Roncadores
|
Soberba e orgulho
|
Era detentor do saber e do poder e não se vangloriava por
isso
|
Pegadores
|
Parasitismo e adulação
|
Pegou-se
somente a Cristo
|
Voadores
|
Ambição e presunção
|
Tinha
asas (sabedoria) e não as usou para exibição do seu valor
|
Polvos
|
Traição
|
Esteve sempre afastado da traição, sempre houve verdade e
sinceridade
|
Esquema
da descrição do polvo (segundo Fernanda Carrilho, «Sermão de Santo António aos Peixes» de Padre António Vieira,
Lisboa, Texto, 2004, pp. 81-82):
Conselho — Reler «Roncadores»,
«Pegadores» (e, idealmente, «Polvo»; «Peixe de Tobias», «Torpedo»,
«Quatro-olhos»).
Cesário
Verde
III — Ao gás
1
E saio. A noite pesa, esmaga. Nos
Passeios
de lajedo arrastam-se as impuras.
Ó
moles hospitais! Sai das embocaduras
Um
sopro que arrepia os ombros quase nus.
5
Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso
Ver
círios laterais, ver filas de capelas,
Com
santos e fiéis, andores, ramos, velas,
Em
uma catedral de um comprimento imenso.
As burguesinhas do Catolicismo
10 Resvalam pelo chão minado pelos
canos;
E
lembram-me, ao chorar doente dos pianos,
As
freiras que os jejuns matavam de histerismo.
Num cutileiro, de avental, ao torno,
Um
forjador maneja um malho, rubramente;
15 E de uma padaria exala-se, inda
quente,
Um
cheiro salutar e honesto a pão no forno.
E eu que medito um livro que exacerbe,
Quisera
que o real e a análise mo dessem;
Casas
de confeções e modas resplandecem;
20 Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.
Longas descidas! Não poder pintar
Com
versos magistrais, salubres e sinceros,
A
esguia difusão dos vossos reverberos,
E
a vossa palidez romântica e lunar!
25
Que grande cobra, a lúbrica pessoa,
Que
espartilhada escolhe uns xales com debuxo!
Sua
excelência atrai, magnética, entre luxo,
Que
ao longo dos balcões de mogno se amontoa.
E aquela velha, de bandós! Por vezes,
30 A sua traîne imita um leque antigo, aberto,
Nas
barras verticais, a duas tintas. Perto,
Escarvam,
à vitória, os seus mecklemburgueses.
Desdobram-se tecidos estrangeiros;
Plantas
ornamentais secam nos mostradores;
35 Flocos de pós de arroz pairam
sufocadores,
E
em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.
Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes
Os
candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
Da
solidão regouga um cauteleiro rouco;
40 Tornam-se mausoléus as armações
fulgentes.
«Dó da miséria!... Compaixão de mim!...»
E,
nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-me
sempre esmola um homenzinho idoso,
Meu
velho professor nas aulas de latim!
Cesário Verde, «O Sentimento dum
Ocidental», O Livro de Cesário Verde
Perguntas
e soluções tiradas, com poucas adaptações, de uma sebenta sobre Cesário Verde
(da autoria de Auxília Ramos e Zaida Braga, a quem agradeço o auxílio e o
zaido):
1. Refira as coordenadas
espácio-temporais em torno das quais esta parte do poema se estrutura.
[completa
com as transcrições em falta]
O poema desenvolve-se acompanhando o deambular
do sujeito poético pelas ruas da cidade — «_________» (v. 2), «________» (v. 3), «Cercam-me as lojas» (v. 5) — num determinado período
do dia, a noite — «_______» (v. 1). O próprio título desta terceira parte de «O
Sentimento dum Ocidental», «______», remete para esse momento em que a luz
natural já desaparecera e ficara apenas a iluminação artificial usada à época.
2. Ao longo do poema há
referências a determinados tipos sociais. Indique-os.
[risca o
que tiver sido acrescentado indevidamente]
São vários os tipos sociais que «povoam» o
texto: as impuras (v. 2), as burguesinhas (v. 9), a mulher «magnética» (v. 27; «a lúbrica
pessoa», v. 25), a adolescente de tranças (v. 28) e a velha de bandós (v. 29) constituem o
leque feminino de personagens. A par, surgem outras figuras como o forjador (v.
14), o «ratoneiro imberbe» (v. 20), os
caixeiros (v. 36), o cauteleiro (l. 39) e o «velho professor», agora um pobre pedinte (vv. 43-44), depois dos
péssimos exames que os seus alunos da ESJGF fizeram (precisamente porque ele os
distraía a lerem frases absurdas como esta).
3. Escolha uma das figuras
femininas referidas e estabeleça uma comparação, apontando semelhanças e
diferenças, com outras figuras femininas cesarianas.
[completa
com profissões]
Das várias figuras femininas referidas, talvez a
mulher «magnética» (v. 27) seja aquela que permite estabelecer mais
aproximações e mais pontos de afastamento com outras figuras femininas da
imagética cesariana. Assim, pela sua sensualidade, mas ao mesmo tempo pelo seu
estudado distanciamento, ela aproxima-se da milady
de «Deslumbramentos»; a sua futilidade coloca-a no polo oposto ao das mulheres
do povo tão frequentes em Cesário: a _________ de
«Num Bairro Moderno»,
as _________ de «Cristalizações», a _______ de «Contrariedades».
4. Este poema aborda
alguns dos temas-chave da poesia cesariana. Justifique a afirmação, apoiando-se
também em excertos textuais.
[completa
com os números do versos]
Este excerto quase constitui uma súmula dos temas
fulcrais da poesia de Cesário. Assim, para além da variedade de figuras
femininas presentes, as outras «personagens» ora são um meio de o poeta
expressar a sua solidariedade pelos excluídos (o velho professor), ora um meio
de concretizar a pintura da cidade, que aqui aparece, como é constante nos
poemas de Cesário, como símbolo de dor, sofrimento, solidão, até de vencidismo
— «Mas tudo cansa!» (v. ___). Por oposição, surge, implicitamente, uma ténue
alusão ao campo, modelo de saúde, vida, força — «Um cheiro salutar e honesto a pão no forno» (v. ___). Finalmente, dever-se-á ainda referir as
fugas imaginativas presentes na segunda e na décima estrofes («Eu penso / Ver círios
laterais, ver filas de capelas», vv. _____; «Tornam-se
mausoléus as armações fulgentes», v. ___).
5. Indique de que forma se
concretiza, ao longo do poema, o carácter sensorial do texto.
[completa
com tipos de sensações]
Todo o poema e,
por isso, toda a descrição da cidade assentam numa sucessão de sensações, desde
as ______ («Um
sopro que arripia os ombros quase nus», v. 4), as _______
(«ao chorar
doente dos pianos», v. 11; «Da solidão regouga um cauteleiro rouco», v. 39;
«Pede-me sempre esmola», v. 43), as _______ («exala-se, inda quente / Um cheiro salutar e honesto a pão no forno», vv. 15-16; «Flocos
de pós de arroz pairam sufocadores», v. 35) ao claro
predomínio das ______ («E
a vossa palidez romântica e lunar!», v. 24).
6. Comente o facto de
alguns críticos literários considerarem «O Sentimento dum Ocidental» como uma espécie de epopeia de sinal negativo.
[responde,
mesmo sem citações]
.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Conselho — Relancear de novo «O
Sentimento dum Ocidental» e ler artigo de Helder Macedo sobre o mesmo longo
poema. Ver também textos soltos de Cesário — os sociais, os ligados a figuras
femininas, também os quase memorialísticos («Nós»). (No blogue estão os poemas
todos de Cesário Verde.)
2.ª aula
de cábulas (14/jun)
O
que se segue é um grupo I-A com Álvaro de Campos mas ainda do modelo
antigo de provas. Completa apenas as questões 1 e 4 (as outras já não são
sairiam hoje).
Leia atentamente
o seguinte texto:
Que noite serena!
Que lindo luar!
Que linda barquinha
Bailando no mar!
5 Suave, todo o passado — o que foi aqui de Lisboa — me
surge...
O terceiro-andar das tias, o
sossego de outrora,
Sossego de várias espécies,
A infância sem o futuro pensado,
O ruído aparentemente contínuo
da máquina de costura delas,
10 E tudo bom e a horas,
De um bem e de um a-horas
próprio, hoje morto.
Meu Deus, que fiz eu da vida?
Que noite serena, etc.
Quem é que cantava isso?
15 Isso estava lá.
Lembro-me mas esqueço.
E dói, dói, dói...
Por amor de Deus, parem com isso
dentro da minha cabeça.
Álvaro de Campos, Poesias, Lisboa, Ática, 1993
1. Reportando-se à segunda estrofe, identifique
os elementos caracterizadores do passado evocado pelo sujeito poético.
[preenche as lacunas com transcrições]
O tempo evocado é o da
infância feliz, vivida em Lisboa, que o sujeito poético caracteriza como um
tempo de encantamento que a memória convoca quando ouve a cantiga; é também um
período de «_____» (v. 7), físicas e mentais, vivido com despreocupação, porque
se trata de uma «________» (v. 8). É um tempo de harmonia, de tranquilidade, de
vivências familiares e domésticas, representado pelo «_______» (v. 6), pelo
«______» (v. 9) e em que «______» (v. 10).
2. Os quatro primeiros versos são a citação
de uma cantiga, parcialmente retomada no verso 13. Explique a função de cada
uma das citações.
A primeira citação remete para a memória
encantada da infância, o tempo em que o sujeito poético ouvia a cantiga agora
evocada; a segunda, para quando a consciência do presente se interpõe entre o
«eu» e a recordação da infância. A permanência do seu eco na memória do
sujeito poético faz com que essa cantiga se revele como um resto do passado
morto, que se torna incómodo e que, como tal, o sujeito tenta silenciar.
3. Refira os sentimentos do sujeito poético relativamente ao
presente.
A consciência do presente, que surge do confronto
com o passado evocado, desencadeia um sentimento de perda irremediável que domina
o sujeito poético. A saudade de um tempo perdido é agudizada e o verso final
traduz o desespero do «eu» perante a impossibilidade de esquecer a cantiga e de
recuperar a infância perdida.
4. Comente o efeito expressivo da repetição «E dói, dói, dói...»
(v. 17).
[lacunas a preencher correspondem a termos de
teoria literária ou linguística]
A repetição da forma _______
«dói» acentua o efeito da dor experimentada pelo sujeito poético, para a qual
contribui também o valor semântico do _______ utilizado. O facto de a repetição
constituir um ______ curto e tripartido, com recurso a um ______ de sons
abertos, confere a essa dor uma dimensão insuportável, uma presença constante,
da qual o sujeito poético não se consegue libertar. As ______ finais conferem à
série um efeito de indelimitação que acentua o valor _______, imperfetivo, que
já advinha do uso do Presente do Indicativo.
Agora
para Fernando
Pessoa ortónimo, uso de novo itens do modelo de exames antigo. Desta
vez, vale a pena completar todas as soluções, já que seriam perguntas
plausíveis também no modelo atual (embora só houvesse agora três itens).
Lê atentamente o
seguinte poema de Fernando Pessoa.
Em
tempos quis o mundo inteiro.
Era
criança e havia amar.
Hoje
sou lúcido e estrangeiro.
(Acabarei
por não pensar.)
A
quem o mundo não bastava,
(Porque
depois não bastaria)
E
a alma era um céu, e havia lava
Dos
vulcões do que eu não sabia,
Basta
hoje o dia não ser feio,
Haver
brisa que em sombras flui,
Nem
se perder de todo o enleio
De
ter sido quem nunca fui.
Fernando
Pessoa
1. O sujeito poético estabelece uma
distinção entre dois tempos da sua vida. Identifica-os, mencionando a sua
localização no poema. Refere os elementos linguísticos que os evidenciam.
[lacunas a preencher correspondem a citações
do texto]
Existe, no poema, uma distinção entre o passado
ou o tempo em que o sujeito poético «________» e o presente ou o «_______»
do adulto. Na primeira estrofe, os dois primeiros versos referem-se à infância
e os dois últimos versos ao presente. Na segunda estrofe, o sujeito poético
refere-se ao passado e, na terceira estrofe, ao presente.
Os elementos linguísticos que evidenciam a
distinção entre o passado e o presente são as formas verbais, o advérbio de
tempo e as expressões temporais. Assim, a referência ao passado está marcada
através das formas verbais do Pretérito Perfeito do Indicativo e do Pretérito
Imperfeito do Indicativo, além da expressão temporal «________». A referência
ao presente é feita através da conjugação de verbos no Presente do Indicativo e
do advérbio «______».
2. Explicita o estado de espírito do sujeito poético no
momento presente.
[lacunas a preencher correspondem a termos de
teoria literária ou linguística]
O sujeito poético descreve-se
como «lúcido» e «estrangeiro», na primeira estrofe. Estes dois _______ são
cruciais na caracterização do seu estado de espírito: a lucidez ou capacidade
de a inteligência analisar o real associa-se ao sofrimento que o pensar ou a
consciência traz ao _______; o «ser estrangeiro» traduz a incapacidade de o
sujeito poético se relacionar com os outros, mantendo distanciamento, quer em
relação aos outros, quer em relação ao real. Estas duas dimensões são
fundamentais na poesia de Pessoa ortónimo; são no presente o inverso do que «em
criança» havia, o «amar». Além disso, na última ________, constatamos que, para
o sujeito poético, a evocação de uma infância mítica (um passado onde havia
«amar») constitui uma «brisa», que ele descreve como «sombras», termo que
atribui um sentido negativo ao «hoje». Finalmente, a evocação desse passado
risonho é considerada um «enleio» associado a algo positivo — a infância —
reinventado pela imaginação, representado pelo pensamento e pela linguagem como
um tempo em que era possível sentir.
3. Identifica a figura de retórica presente
em «E a alma era um céu», explicando a sua importância para a construção do
sentido do poema.
[lacunas a preencher correspondem ao termo
que identifica o recurso estilístico e a uma palavra da figura]
A expressão transcrita associa, através da ______,
a «alma» a «céu», elemento que constitui o símbolo da felicidade. Através desta
associação descreve-se a infância do sujeito poético como momento de extrema
felicidade. Note-se ainda que o determinante artigo indefinido «______»
particulariza a analogia, o que permite conotá-la também com o sonho: a alma não
é «o céu», é um dado céu imaginado.
4. Explica o sentido dos dois últimos versos do poema.
[lacunas a preencher correspondem a termos da
ensaística acerca de Pessoa]
«Em tempos quis o mundo inteiro» desenvolve o
complexo de dimensões que caracteriza a poesia de Pessoa ortónimo: a evocação
de uma _______, em que o poeta se imagina feliz, constitui o reverso de um
presente pleno de ________ e de angústia, criados pelo constante ato de _______
que impede o sujeito poético de estabelecer qualquer relação, quer com os
outros, quer com o real, que incessantemente ele desconstrói.
Conselho — Para revisão de Pessoa e heterónimos,
podem ser úteis os esquemas no Caderno de
Apoio ao Exame e enquadrados no manual. (Note-se, porém, que o que mesmo
importa é ler bem os textos e as perguntas e escrever com correção.)
Que pode sair nos itens 8,
9, 10 do grupo II?
[2016, 1.ª fase]
8. Classifique a oração iniciada por
«que» (linha 1).
9. Identifique
o valor da oração subordinada adjetiva relativa presente nas linhas 3 e 4.
10. Refira a função
sintática desempenhada pela oração subordinada presente em «é inevitável que
vivamos permanentemente sob ameaças» (linha 8).
[2016, 2.ª fase]
8. Identifique a
função sintática desempenhada pela expressão «o rio Saône» (linha 14).
9. Indique o valor da
oração subordinada adjetiva relativa presente na linha 16.
10. Classifique a oração introduzida por «em que» (linha 32).
[2016, época especial]
8. Indique o valor da
oração relativa «que aqui confesso» (linha 1).
9. Indique a função sintática desempenhada pela oração
«que houve opressão e apagamento» (linha 9).
10. Identifique o antecedente do possessivo «sua» (linha 27).
[2015, 1.ª fase]
8. Identifique o antecedente do pronome pessoal
presente na expressão «há cerca de duzentos e cinquenta termos a ela relativos»
(linha 17).
9. Identifique a função sintática desempenhada pela
oração subordinada presente na frase «E diz que o olfato perdeu importância em
favor da visão» (linha 21).
10. Classifique a oração iniciada por «mesmo se»
(linha 29).
[2015, 2.ª fase]
8. Transcreva a palavra que constitui uma catáfora da
expressão «os trajes (num figurino rigoroso), os cenários, as próprias vozes
dos atores» (linha 16).
9. Identifique o valor da oração subordinada adjetiva
relativa introduzida por «que» (linha 10).
10. Refira a função sintática desempenhada por «que»
(linha 26).
[2015, época especial]
8.
Identifique o valor da oração subordinada adjetiva relativa presente em «A
mente, ocupada com a obsessão de eliminar problemas antigos, não se liberta a
conceber a viagem que começará em breve.» (linhas 7 e 8).
9. Identifique a função sintática desempenhada pela
oração subordinada presente na frase «Sei que chegaremos todos ao mesmo tempo.»
(linha 18).
10.
Identifique o antecedente do pronome «o» presente na frase «Faço-o durante toda
a viagem.» (linhas 19 e 20).
[2014, 1.ª fase]
2.1. Identifique a função sintática desempenhada pela
palavra «queirosiano» (linha 13).
2.2. Classifique a oração «onde mal cabia» (linha 16).
2.3. Classifique o ato ilocutório presente em «Como um
dia veremos.» (linha 29).
[2014, 2.ª fase]
2.1. Identifique a expressão de que o pronome «aquilo»
(linha 7) é uma catáfora.
2.2. Classifique a oração «se bem que apreciadas por
alguns» (linha 25).
2.3. Identifique a função sintática desempenhada pelo
pronome pessoal em «pode inspirar-nos em cada tempo» (linhas 29 e 30).
[2014, época especial]
2.1.
Classifique a oração «que a carta não diz toda a verdade sobre a criação do
heterónimo, nem dos poemas» (linhas 11-12).
2.2. Indique o valor da oração subordinada adjetiva
relativa seguinte: «que rejeita a ideia defendida por muitos estudiosos da
“alma una” de Caeiro.» (linha 17).
2.3. Identifique a função sintática desempenhada pela
expressão «viver e pensar» (linha 25)
Portanto,
há apenas quatro tipos*:
— ‘Classifique a oração’;
— ‘Indique o valor da oração’;
— ‘Identifique a função sintática’;
— ‘Identifique o referente (o antecedente [a
expressão correspondente à anáfora] / a expressão correspondente à catáfora [o
sucedente])’.
(*) Numa prova de 2013, surge um quinto
tipo — ‘Classifique o ato ilocutório’.
Depois de veres trecho de Último a sair, completa com hiperónimo, hipónimo, holónimo, merónimo:
«museu» é _________ de «exposição»;
«quadro» é _________ de «museu»;
«artista» é __________ de «Jackson Pollock»;
«pintor» é _________ de «Pollock»;
«Louvre» é ________ de «museu»;
«Magritte» é _________ de «homem»;
«corrente artística» é ___________ de
«pictomarista»;
«Lourenço Marques (Maputo)» é ________ de
«Moçambique»;
«Bélgica» é _________ de «país».
São co-hipónimos __________ e
«Bélgica»;
São co-merónimos «quadro» e ________.
Sobre
Recursos
estilísticos (de Entre nós e
as palavras, 11.º ano):
Classifica
o ato
ilocutório presente em cada uma das intervenções (de Último a sair):
Eliminada. (no
gráfico)
|
|
Os portugueses
acabaram de decidir.
|
|
Fogo, meu! (dito por
Luciana Abreu)
|
|
Baza!
|
|
Vou ser a única
mulher aqui na casa. (Luciana, chorosa)
|
|
Tem dois minutos
para abandonar a casa.
|
|
Ah! Lindo, lindo,
lindo! (Roberto Leal a ver Débora a abraçar Unas)
|
|
Porque é que fizeste
isso, Débora? (por Unas)
|
|
Só tenho pena de não
ter comido o açoriano.
|
|
Amo-te Débora! (por
Débora)
|
|
* Sim, vou
descongelar duas portadas para o jantar do César.
|
|
Indica
o valor
aspetual predominante em cada uma destas frases de Último a sair:
Ela estava
a fazer jogo, esteve a fazer jogo desde
o início.
|
|
Há muitas melgas nesta
casa.
|
|
Já acabou o Fenistil.
|
|
A melga entrou
lá dentro.
|
|
A melga vinha
[a voar].
|
|
Procurei
bué. Estive ali um quarto de hora à procura da melga.
|
|
Tu és
meu amigo, Rui.
|
|
* Costumo
sair do quarto dos homens e visitar
o das mulheres.
|
|
* Tens
procurado as melgas todas as
noites.
|
|
* inventados para efeitos do exercício
Esboço
de léxico porventura útil para respostas a grupos I
o «eu» poético / o «eu» lírico / o sujeito poético
/ o sujeito lírico / o «eu» do texto / o «eu» / o sujeito / o poeta / [o
narrador] / ...
trecho / texto / excerto / passagem / passo /
período / parágrafo / segmento / frase / expressão / estrofe / estância /
terceto / quadra / quintilha / dístico / sextilha / verso / canto / episódio /
momento / fragmento / cena / ato /fala / ...
trata de / aborda / conota / denota / remete
para / implica / evoca / alude a / refere / traduz / significa / assinala /
menciona / exprime / traça / esboça / desenha / perfila / desenha / marca /
vinca / acentua / sublinha / sugere / insinua / salienta / valoriza /
desvaloriza / prefere / pretere / favorece / desfavorece / privilegia /
prejudica / enumera / elenca / estabelece / distingue / ...
infere-se / conjectura-se / adivinha-se /
percebe-se / nota-se / é percetível / é notório / evidencia-se / é evidente /
apercebemo-nos de que /...
oposição / paralelismo / contraste / simetria /
tema agregador / assunto / leitmotiv / binómio / motivo / símbolo / direção /
vetor / linha de sentido / tópico / alusão / dicotomia / ...
Entretanto, / Acrescente-se
que / Note-se ainda que / Diga-se também / É de notar / Assinale-se que /
Sublinhe-se que / Por outro lado, / Na verdade, / Com efeito, / Realmente, /
Efetivamente, /...
Mecanismos de coesão
textual (a partir da p.
110 de Felizmente há luar!)
Neste trecho de
Felizmente há luar! estão abonados mecanismos
de coesão textual de vária ordem (coesão temporoaspetual, lexical,
interfrásica, referencial). Tenta classificá-los em função da área de coesão que
neles se atualiza:
A
ocorrência de termos equivalentes ou antónimos, como «esmola», «medalha»,
«moedas», e «pague», «receba», «vende», constitui um mecanismo de coesão ______. O mesmo se pode dizer da
própria repetição da palavra «moeda».
Na
fala de Manuel, o referente «moeda», surge substituído várias vezes por termos
anafóricos: «[lh]a» (duas vezes), «a [use]»; depois, o antecedente «trinta
moedas» é substituído pelos pronomes, também anafóricos, «as» («as pague ou as
receba»). Trata-se de mecanismo de coesão
_______. Como o é também a elipse de «Rita» no segundo período da didascália
maior.
Numa
das didascálias, o valor imperfetivo de «iluminava», matizado pela
progressividade de «apaga-se gradualmente» — conferida pelo advérbio, mas
contraditória do sentido de ‘apagar’ —, vinca o valor também imperfetivo do
presente de «permanecer», verbo já marcado por sentido durativo. A sequência de
verbos no presente («entrega», beija», «corre», «surge») é estabelece a ideia
de ação, avanço no tempo. Este jogo entre tempos, advérbio, etc., constitui um
exemplo de coesão ________.
De
novo na fala de Manuel, o conector final «para que» ou a ligação aditiva «e»,
que vemos na primeira frase da página, ou até a sequencialização conseguida
pela justaposição de períodos podem ilustrar a chamada coesão ________.
Deixis (a partir de uma página de Felizmente há luar!; p. 126 da edição
Areal):
Neste trecho de
Felizmente há luar! não faltam
expressões com valor deítico. A seguir, ponho algumas dessas expressões.
Classifica o deítico quanto ao seu escopo (espacial, pessoal, temporal).
Junto ainda um
só caso de deítico textual, que
identificarás também, assinalando o antecedente dessa expressão anafórica no texto da peça de Sttau Monteiro.
«Estou»
= deítico temporal e ______;
«aqui»
= deítico ______;
«vos»
= deítico ______;
«Venho
de» = deítico ______, ______, ______;
«Esta
afirmação» = deítico _______;
«essa
[mulher]» = deítico _______, _______.
3.ª aula de cábulas
(16/jun)
Almeida
Garret, Frei Luís de Sousa
Eis
um grupo I-B de uma prova ainda segundo o modelo antigo (em em que este grupo
não implicava texto, mas um pequeno comentário mais «teórico»). É-nos util para
fixarmos dados acerca de Frei Luís de
Sousa:
Grupo I-B
Tal como na tragédia clássica, também o
fatalismo é uma presença constante em Frei
Luís de Sousa. O destino acompanha todos os momentos da vida das
personagens, apresentando-se como uma força que as arrasta de forma cega para a
desgraça. É ele que não deixa que a felicidade daquela família possa durar
muito.
Recordando a peça
de Garrett,
responda de forma completa às questões que se seguem.
1. Na tragédia
clássica, a hybris (o desafio) era o ponto
de partida para o conflito (o desenvolvimento).
1.1. Identifique, na peça Frei Luís de Sousa, o desafio de D.
Madalena.
1.2. Indique o desafio de Manuel de Sousa e as consequências da sua
atitude no final do Ato I.
2. Demonstre a importância do destino e da superstição no
desenrolar dos acontecimentos.
[Sugestões de
resolução]
1.1 A hybris
é o desafio, o crime do excesso e do ultraje. D. Madalena não comete um crime
propriamente na ação, mas sabemos que ele existiu pela confissão a Frei Jorge
de que ________, embora guardasse fidelidade ao marido. O crime estava no seu
coração, na sua mente, embora não fosse explícito como entre os clássicos.
1.2. Manuel de Sousa Coutinho também comete a sua hybris ao ________. Esta
atitude obrigou-o a esconder-se durante alguns tempos e a evitar regressar ao
palácio durante o dia.
2.
[Completa só com nomes de personagens.]
O destino pode definir-se como força superior que tudo domina e a quem nem os
deuses podem fugir; apresenta-se como uma obrigação imperiosa, uma força que
arrasta «de forma cega para a desgraça». Madalena e Maria são
vítimas do destino que afeta também as restantes personagens.
Um presságio da desgraça percorre toda a obra: a
atmosfera de superstição, as apreensões e pressentimentos de ______ adquirem
sentido; também ______ pressente a hipótese de ser filha ilegítima e vem a ser
a vítima sacrificada; ________ alimenta a crença no Sebastianismo; o incêndio e
a necessidade de viver no palácio que fora de ________ aumentam a tensão
dramática; o terror apodera-se de _______...
O destino acompanha todos os momentos da vida
das personagens e arrasta-as de forma cega para a desgraça; o sofrimento não
acontece apenas nas personagens, mas age sobre os espectadores, através dos
sentimentos de terror e de piedade, para purificar as paixões (catarse); dentro
da lógica do teatro clássico, a intriga desenvolve-se, de forma a culminar num
desfecho dramático, cheio de intensidade: a morte física de ________ e a morte
para a vida secular de _______ e _______. É, pois, evidente que, tal como na
tragédia clássica, também em Frei Luís de Sousa o fatalismo é uma
presença constante, dado que o destino acompanha todos os momentos da vida das
personagens, apresentando-se como uma força que as arrasta de forma cega para a
desgraça.
Elementos
da tragédia clássica
(segundo Projetos, 11.º ano,
Santillana)
Hybris — desafio feito pelas personagens à ordem
instituída.
Peripécia — de acordo com a Poética de Aristóteles (c. 334-330 a. C.),
corresponde à «mutação dos sucessos no contrário», isto é, ao momento em que se
verifica uma alteração no rumo dos acontecimentos.
Anagnórise — «reconhecimento»;
segundo a Poética de Aristóteles, «é a
passagem do ignorar ao conhecer», podendo consistir na revelação de
acontecimentos desconhecidos ou na identificação de determinada personagem.
[Em FLS, a anagnórise sucede em simultâneo
com a peripécia: é com a chegada do Romeiro e o reconhecimento da sua
identidade (anagnórise) que se dá uma inversão brusca nos acontecimentos
(peripécia): o casamento é invalidado, Madalena torna-se uma mulher adúltera e
a filha, ilegítima.]
Clímax — momento culminante
(de maior intensidade) da ação.
[Em FLS, o clímax corresponde à cena final do ato II, pois é neste
momento que a tensão dramática atinge o seu auge: D. João de Portugal dá a
conhecer a sua identidade de forma inequívoca, demonstrando, ao mesmo tempo,
deforma paradoxal, que o esquecimento a que foi votado anulou a sua
existência.]
Catástrofe — desenlace trágico.
[Em FLS, a família é totalmente
exterminada: Madalena e Manuel morrem para o mundo, ingressando na vida
religiosa, e Maria morre, efetivamente.]
Ágon — conflito vivido pelas
personagens; pode designar o conflito com outras personagens ou o conflito
interior.
Pathos — sofrimento crescente
das personagens.
Ananké — o destino; preside à
existência das personagens e é implacável.
Catarse — efeito purificador que
a tragédia deve ter nos espectadores: ao desencadear o terror e a piedade,
permitir-lhes-ia purificar as suas emoções.
Conselho — Reler ou relancear de novo a peça (está
no manual do 11.º ano, na íntegra); como alternativa pior, assistir ao filme (link no blogue).
Acerca
de Eça
de Queirós poderiam sair itens deste estilo (mas não é nada provável
e não investiria muito na retoma do estudo de Os Maias).
Grupo I-B
De acordo com o romance de Eça de Queirós que
estudou, desenvolva os seguintes tópicos:
4. A crítica social e a
preocupação em narrar com pormenor a realidade.
5. Recorde duas
perspetivas em confronto (de ideias, de personalidades, de educação...),
identifique as personagens que as representam e as ideias que defendem.
[Sugestões de resposta, considerando que
o romance estudado foi Os Maias]
4. Eça de Queirós, n'Os Maias, elabora, aparentemente,
a história de uma família lisboeta em decadência, mas, sobretudo, constrói uma
crónica social, cultural e política que permite o conhecimento do espaço social
da época em que foi produzida. Faz a análise dessa sociedade portuguesa, de
forma cómico-trágica, sem perder de vista o propósito ético da literatura.
Apesar das peripécias e da catástrofe no fim do
enredo passional, uma certa intemporalidade resulta da crónica de costumes, da
análise social, que leva à observação, com mais pormenor, dos elementos que a
definem: os figurantes e os ambientes. Dá-nos um retrato da sociedade, embora
só tenha conseguido descrever-nos o seu lado mais negativo: os vícios, o
adultério, a chantagem, a corrupção, a falta de valores.
Ao recorrer à crítica social, à fina ironia e ao
procurar agitar as ideias sociais, políticas e literárias, Os Maias constituem um verdadeiro
fresco caricatural da sociedade portuguesa da época, conservando atualidade,
apesar dos contextos serem um pouco diferentes.
5. (Os
Maias,
o confronto entre duas escolas literárias: o Ultrarromantismo e o Realismo)
Tomás de Alencar: identificado claramente com o
Ultrarromantismo, na aparência, no modo de vestir. Surge como uma personagem
antiquada, superficial e lúgubre, que defendia que as senhoras podiam ler a
literatura romântica sem terem necessidade de corar de vergonha, mas, por outro
lado, considerava que dentro da cabeça dos realistas só existia «excremento, vómito, pus, matéria verde».
João da Ega: projeção de Eça de Queirós, é um
defensor acérrimo das ideias do Realismo, um pensador e um literato. Tem características
que o distinguem de todas as outras personagens: excêntrico, cínico,
inteligente, audacioso, demagogo, dândi, ateu... Na parte final da obra, assume
um papel importante na intriga, ao tomar conhecimento da verdadeira identidade
de Maria Eduarda; por isso, a sua presença passa a marcar os principais
acontecimentos daí em diante.
Conselho — Não me focaria, nesta
altura, no estudo, ou na releitura, de Os
Maias.
Resolve
estes itens de grupo I (modelo antigo) com Alberto Caeiro. As lacunas a prencher nas soluções dos
itens correspondem a formas de verbo crucial em Caeiro.
VII
Da
minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por
isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque
eu sou do tamanho do que vejo
E
não do tamanho da minha altura...
Nas
cidades a vida é mais pequena
Que
aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na
cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem
o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos
pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E
tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
Fernando
Pessoa, Poemas de Alberto Caeiro, Lisboa, Ática,
1946.
1. A aldeia é descrita pelo sujeito poético
como «tão grande como outra terra qualquer.» Refere o argumento utilizado pelo
sujeito poético para sustentar esta afirmação.
O sujeito poético vê a sua aldeia «tão grande
como uma outra terra qualquer» porque desse local se tem um horizonte de visão
amplo (abrangente) e, para ele, aquilo que se é capaz de _______ é que determina
a dimensão dos lugares e dos seres.
2. Menciona os elementos que distinguem a
aldeia da cidade.
À aldeia o sujeito poético associa a largura de
todo o céu, o grau máximo de visibilidade do Universo; por isso, estão
associadas à aldeia a capacidade de _____ e, consequentemente, a riqueza de
quem vê. Pelo contrário, a cidade é um lugar pequeno e fechado, porque
restringe o campo de visão; as suas construções limitam o olhar e, por conseguinte,
impedem-nos de _______ a Natureza e o Universo.
3. Explicita em que reside, do ponto de
vista do sujeito poético, o tamanho de cada pessoa.
Para o sujeito poético, o tamanho de cada pessoa
mede-se a partir daquilo que ele é capaz de ______: se tem uma visão larga e
abrangente do Universo, é rico e é grande; se tem uma visão limitada e restrita,
é pobre e é pequeno. O tamanho, o valor de alguém depende daquilo que os seus
olhos são capazes de ________.
4. Indica a figura de retórica [recurso estilístico; figura de estilo] presente na frase «Na
cidade as grandes casas fecham a vista à chave» (v. 7), explicitando o seu
sentido.
Em «Na cidade as grandes casas fecham a vista à
chave» (v. 7), está presente uma metáfora, através da qual se expressa a
limitação ou a restrição que as casas da cidade impõem às pessoas que nelas
vivem relativamente ao que _______. As fechaduras das portas vedam a entrada
das pessoas nos locais, impedem o acesso. Do mesmo modo, as casas numa cidade
impedem a vista de olhar para um espaço aberto. Esta metáfora contribui para a
caracterização negativa da cidade em contraste com a aldeia.
É da 2.ª fase do exame de 2016 este início do grupo I, com Ricardo
Reis (fui já pondo a seguir a cada item o cenário de resposta
proposto pelo IAVE — que me limitei a linearizar):
Grupo I —A
Leia o
poema. Se necessário, consulte as notas.
1 Só o ter flores pela vista fora
Nas áleas largas dos jardins
exatos
Basta para
podermos
Achar a vida
leve.
5 De todo o esforço seguremos quedas
As mãos, brincando, pra que nos
não tome
Do pulso, e nos
arraste.
E vivamos assim,
Buscando o mínimo de dor ou
gozo,
10 Bebendo a goles os instantes
frescos,
Translúcidos como
água
Em taças
detalhadas,
Da vida pálida levando apenas
As rosas breves, os sorrisos
vagos,
15 E as rápidas
carícias
Dos instantes
volúveis.
Pouco tão pouco pesará nos
braços
Com que, exilados das supernas
luzes,
Scolhermos do que
fomos
20 O melhor pra lembrar
Quando, acabados pelas Parcas,
formos,
Vultos solenes de repente
antigos,
E cada vez mais
sombras,
Ao encontro fatal
25 Do barco escuro no soturno rio,
E os nove abraços do horror
estígio,
E o regaço
insaciável
Da pátria de
Plutão.
Ricardo Reis,
Poesia, edição de
Manuela Parreira da Silva, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, pp. 36-37
NOTAS
áleas
(verso 2) – caminhos ladeados de árvores ou
arbustos.
estígio
(verso 26) – relativo ao Estige, rio dos Infernos
na mitologia grega.
Parcas
(verso 21) – três divindades da mitologia romana
que representam o destino: uma preside ao nascimento, outra
ao
casamento e a terceira à morte.
Plutão
(verso 28) – deus dos Infernos, na mitologia
romana.
quedas
(verso 5) – quietas; imóveis.
Scolhermos
(verso 19) – escolhermos.
supernas
(verso 18) – supremas; superiores.
1. Explicite três traços da filosofia de vida
exposta nas quatro primeiras estrofes. Fundamente a resposta com transcrições
pertinentes.
Nas quatro primeiras estrofes, é exposta uma
filosofia de vida que se caracteriza por: um gosto pela fruição estética da
natureza («Só o ter flores pela vista fora / Nas áleas largas dos jardins
exatos / Basta para podermos / Achar a vida leve.», vv. 1-4); uma escolha da
serenidade, o que conduz a uma atitude contemplativa («De todo o esforço
seguremos quedas / As mãos, brincando, pra que nos não tome / Do pulso, e nos
arraste.», vv. 5-7); uma atitude epicurista, que valoriza o prazer moderado
(«Buscando o mínimo de dor ou gozo, / Bebendo a goles os instantes frescos»,
vv. 9-10); uma consciência da brevidade da vida, que conduz ao desejo de
fruição do momento presente (carpe diem) («As rosas breves, os sorrisos vagos, / E as rápidas carícias», vv.
14-15).
2. Justifique o
recurso à primeira pessoa do plural ao longo do poema.
O sujeito poético expõe um conjunto de normas que
devem ser seguidas por todas as pessoas de modo a facilitar a vida humana e a
aligeirar a dor provocada pelo facto de a vida ser efémera. Neste sentido, o
uso da primeira pessoa do plural — que surge nas formas verbais «podermos» (v.
3), «seguremos» (v. 5), «vivamos» (v. 8), «escolhermos» (v. 19), «fomos» (v.
19), «formos» (v. 21) e no pronome pessoal «nos» (vv. 6 e 7) — decorre de uma
atitude normativa (ou exortativa) assumida pelo sujeito poético, incluído nessa
primeira pessoa do plural.
3. De acordo
com o conteúdo das três últimas estrofes, explique o modo como o sujeito
poético perspetiva a morte.
O sujeito poético perspetiva a morte de acordo
com a conceção própria da antiguidade clássica, evidente: na ideia de que a
vida humana é comandada pelo Destino, ou pelas Parcas, e de que as almas
atravessam o rio Estige e chegam aos Infernos, à «pátria de Plutão» (vv.
21-28); na aceitação da morte, momento a que se deve chegar sem apego a nada e
apenas recordando o que foi agradável, para que o sofrimento não seja tão
penoso — atitude estoica (vv. 17-20).
O
mais recente exame com Mensagem
foi o de 2015, 2.ª fase:
Grupo I —A
Leia o poema.
AS ILHAS AFORTUNADAS
1 Que voz vem no som das ondas
Que
não é a voz do mar?
É
a voz de alguém que nos fala,
Mas
que, se escutamos, cala,
5 Por ter havido escutar.
E
só se, meio dormindo,
Sem
saber de ouvir ouvimos,
Que
ela nos diz a esperança
A
que, como uma criança
10 Dormente, a dormir sorrimos.
São
ilhas afortunadas,
São
terras sem ter lugar,
Onde
o Rei mora esperando.
Mas,
se vamos despertando,
15 Cala a voz, e há só o mar.
Fernando
Pessoa, Mensagem, Lisboa, Assírio
& Alvim, 1997, p. 75
1. Refira a
condição necessária à manifestação da voz e transcreva elementos do texto que
justifiquem a sua resposta.
Para que a voz se
manifeste, é necessário que quem ouve se encontre semiacordado, ou num estado
de semiconsciência, sem procurar escutar essa voz – «Mas que, se escutamos,
cala, / Por ter havido escutar» (vv. 4-5); «E só se, meio dormindo, / Sem saber
de ouvir ouvimos,» (vv. 6-7); «Mas, se vamos despertando, / Cala a voz, e há só
o mar.» (vv. 14-15).
2. Explique o
sentido dos dois últimos versos do poema.
De acordo com o
sentido dos dois últimos versos do poema, quando se desperta do estado de
semiconsciência, a voz do mar, a voz
trazida pelo «som das ondas» (v. 1), associada a uma ideia de esperança,
desaparece; o mar passa a ser apenas uma realidade objetiva.
3. Explique de que modo o conteúdo da última estrofe
convoca o mito sebastianista.
Na última estrofe, a
esperança no regresso do Rei D. Sebastião e, consequentemente, na possibilidade
de resgatar a glória de Portugal está associada a aspetos como a existência de
um espaço mítico onde o Rei se encontra («São ilhas afortunadas, / São terras
sem ter lugar», vv. 11-12); o facto de o Rei aguardar o momento de agir («Onde
o Rei mora esperando.» (v. 13).
Conselho — Relancear os
comentários sobre cada um dos textos de Mensagem
na edição que reproduzi no blogue seria tarefa útil, embora talvez demasiado
morosa.
Será
(ainda) menos exequível reler as paráfrases de cada uma das estâncias de Os Lusíadas estudadas, que estão também
no blogue. Já o quadro comparativo entre Os
Lusíadas e Mensagem (no Caderno de Apoio ao Exame, pp. 14-19 —
reproduzo também no blogue) não demorará assim tanto a ser lido. E são bom
exemplo de como lidar com perguntas as respostas-modelo sobre «Padrão» (pp.
27-29 do Caderno de Apoio; também no
blogue).
A
leitura dos enquadrados (manual) e esquemas (Caderno de apoio ao exame)
sobre características de Fernando Pessoa (ortónimo) e dos heterónimos (Reis,
Caeiros, Campos) também se deve descartar.
Temas em torno
de Felizmente há luar! em que vale a pena pensar. Já
acrescentei três esboços de comentário. Outras respostas estarão no que fomos
fazendo em aula. Sugiro ainda que se releiam os enquadrados e súmulas
ensaísticas no manual.
1. Como
devemos ver Matilde? Como mulher comum? Como heroína?
2. Entre
os elementos simbólicos presentes em Felizmente
há luar podem citar-se os tambores, a moeda de cinco reis, a saia verde, o
luar.
Os tambores, que amedrontam os populares mal os ouvem à distância e
que tocam em fanfarra em momentos decisivos (como o anúncio da prisão e o fim
da execução de Gomes Freire), representam a repressão, simbolizam a opressão
aterrorizadora.
A moeda de cinco réis começa por significar a esmola, o auxílio
humilhante que os poderosos dão aos que nada têm (por isso, quando Manuel a
manda atirar a Matilde logo se arrepende; por outro lado, Matilde, ao
pedir-lha, está a associar-se aos
populares). Quando Matilde atira uma moeda aos pés do Principal Sousa, esta
passa a ser símbolo da traição da Igreja, eco das moedas que Judas recebeu pela
entrega de Cristo.
A saia verde, oferecida a Matilde pelo seu amado para quando
voltassem a Portugal, nunca tinha sido usada, talvez porque o país nunca lhes
tivesse dado motivos de esperança. Matilde planeava usá-la quando Gomes Freire
voltasse para casa (o que revela que não se resignara, que ainda acreditava),
mas acabou por ser a que vestiu no momento da execução do marido, simbolizando
então a esperança no futuro.
A fogueira destruiu com Gomes Freire a conspiração, a mudança. Porém,
foi uma destruição necessária para a purificação, para que todo o horror fosse
exposto e reforçasse o desejo de lutar por um Portugal melhor. O clarão é a luz da liberdade que se
anuncia. O clarão que se extingue com a morte de Gomes Freire irá iluminar
muitas consciências. A sua morte não terá sido em vão.
Para D. Miguel, a luz do luar simboliza a opressão necessária
para manter o país submisso. Para Matilde, o início do fim do obscurantismo em
que o país stá mergulhado: é a luz que permite ver um exemplo, o caminho a
seguir.
3. Matilde
é uma personagem mais redonda, menos plana, do que as outras. Essa maior
complexidade psicológica faz dela a figura mais elaborada da peça.
4. A
concentração do tempo da ação é uma das características de Felizmente há luar!. Entretanto, a única data explicitada na peça
está numa fala de Matilde: «Esta praga lhe rogo eu, Matilde de Melo, mulher de
Gomes Freire d’Andrade, hoje 18 de outubro de 1817».
Aparentemente, no mesmo dia em que
os populares conversam sobre Gomes Freire, Vicente é incumbido por D. Miguel de
o vigiar. Também nesse mesmo dia, os Governadores recebem os delatores e
Vicente traz a informação de que «Ontem à noite entraram mais de dez pessoas em
casa de...». Não sabemos, contudo, o tempo que decorre entre a situação incial
e este «ontem». E é impossível determinar o tempo que decorre até declararem
Gomes Freire como chefe da conjura.
Note-se ainda que, no segundo acto,
o tempo parece mais lento, devido sobretudo ao longo discurso acusatório que
Matilde dirige ao Primcipal Sousa. Por outro lado, é-nos transmitida a ideia de
que, entre a prisão dos conjurados e a sua execução, decorreram apenas quatro
dias.
Esta concentração do tempo evidencia que o poder não
esperava senão um pretexto para eliminar
um adversário. Para prender Gomes Freire não houve necessidade de recolher
provas da sua participação na conjura.
5. Na
linha do teatro de Bertold Brecht, Felizmente
há luar! analisa criticamente a sociedade, mostrando-a com o objectivo de
levar o espectador a tomar uma posição.
6. Há
paralelismos entre os dois actos, mas também há contrastes.
7. O
espaço físico da peça é, no fundamental, Lisboa…
A referência de que a ação se
desenrola em Lisboa é-nos dada várias vezes ao longo da peça. Por exemplo, é
num café do Cais do Sodré que se «reúnem todos os dias os defensores do sistema
das cortes», informa Vicente no seu primeiro encontro com D. Miguel. É também
durante este encontro que é referido, pela primeira vez, que o General mora
para «os lados do Rato», é aí que é preso e, nesse dia, no Largo do Rato «são
mais os soldados do que as pedras», segundo o comentário de um popular. Gomes
Freire é levado para o forte de S. Julião da Barra, onde é executado. A
execução dos outros conjurados, segundo Sousa Falcão, dá-se no Campo de
Sant’Ana (atual Campo dos Mártires da Pátria).
Os espaços exteriores são as ruas de
Lisboa e, no final da peça, o alto de uma serra donde se avista o forte de S.
Julião. Os espaços interiores são a casa de Matilde, o palácio da Regência e
uma igreja onde Matilde se confronta com o principal Sousa.
Na encenação da peça, para se
transmitir a ideia de mudança de espaço seriam fundamentais os jogos de luzes,
os focos a isolar determinadas personagens.
8. Os dois atos iniciam-se com a personagem Manuel, um
dos poucos populares que tem o seu nome explicitado. Parece, portanto, que o
dramaturgo quis valorizar a personagem.
9. Segundo
Luciana Stegano Picchio, Sttau Monteiro «constrói em torno da figura do general
Gomes Freire uma trágica apoteose da
história do movimento liberal oitocentista».
10. A realidade do período da Regência, que é o contexto
histórico de Felizmente Há Luar!, é
transponível para a fase política que se atravessava quando Sttau Monteiro
escreveu a peça.
11. A
obra tem como figura central o general Gomes Freire de Andrade, que, «embora
nunca apareça», como diz o dramaturgo, está sempre «presente».
12. De um lado, temos Manuel, Rita e um Antigo Soldado.
Oposto a este, podemos considerar um núcleo que inclui Vicente, Andrade Corvo,
Morais Sarmento, os dois polícias.
13. No
núcleo de personagens constituído pelos governantes (Beresford, o principal
Sousa, D. Miguel), podemos considerar que cada um representa um certo grupo
social.
Conselho — Fazer o mesmo trabalho — reler enquadrados no manual — também
para Memorial do Convento, sobretudo,
e talvez Pessoa — incluindo Mensagem
— ou Camões. No caso das obras de leitura integral (Memorial, Felizmente, Frei Luís de Sousa — talvez até o
«Sermão»), ter lido mesmo o texto todo será
uma boa vantagem.
Indica a função sintática das expressões
sublinhadas (umas poucas terão um grau de dificuldade excessivo para exame; porém,
em geral, ficaram os tipos mais recorrentes em provas — descartei o complemento do nome e o complemento do adjetivo). Na prova, tens
de escrever o termo completo.
Frase (em geral de Último a sair)
|
A ter em atenção
|
Função sintática
|
Ó pessoal, podem vir até aqui?
|
|
|
Ó pessoal, podem
vir até aqui?
|
|
|
Antes que
expluda, é melhor falarmos entre todos.
|
oração adverbial
temporal
|
|
Antes que
expluda, é melhor falarmos entre todos.
|
|
|
Basicamente, é isto.
|
* É basicamente
que é isto
|
|
Vocês acham
normal terem-me nomeado?
|
acham normal isso
|
|
Vocês acham normal
terem-me nomeado?
|
cfr. verbo transitivo-predicativo
|
|
terem-me
nomeado
|
terem-na /*
terem-lhe
|
|
Limpo esta
merda todas as semanas.
|
Limpo-a
|
|
Limpo esta merda
todas as semanas.
|
Que faço todas as semanas?
|
|
Limpo a merda que
vocês deixam espalhada na cozinha.
|
«que» = ‘a
merda’, ‘a qual’
|
|
Trato das
plantas.
|
|
|
Estou-te a
perguntar se és tu que vais limpar tudo isto.
|
|
|
Vê se te
acalmas.
|
se o acalmas / * se lhe acalmas
|
|
Deixa o Bruno
em paz.
|
|
|
Olha a gaja que
fala com as árvores.
|
oração adjetiva relativa restritiva
|
|
Olha a gaja que
fala com as árvores.
|
|
|
Ai, coitadinha,
que eu sou tão especial.
|
cfr. verbo
copulativo
|
|
Vou mostrar ao
mundo a verdadeira Luciana.
|
Vou mostrar-lhe
|
|
Olha, filha,
verdadeiro é isto.
|
cfr. «verdadeiras
são estas»
|
|
Eu não fui assim
criada.
|
|
|
Pensas que
vens aqui falar assim para as pessoas.
|
= isso / substantiva completiva
|
|
Sónia, gostas de
partir pratos?
|
* Que faz ela de partir pratos? Gosta
|
|
Débora e
Luciana, que são ambas tripeiras, discutem.
|
|
|
Por causa da nomeação de Débora gerou-se grande discussão.
|
|
|
— O Roberto
uniu-nos — disseram Débora e Rui.
|
|
|
— Os quartos e a casa foram limpos por mim — disse a sopeirinha.
|
|
|
Classifica as orações sublinhadas:
Foi um momento
chocante, teve a entrada do INEM, porque a situação estava complicada.
Vou fazer uma cena
que ainda não mostrei a ninguém.
É um salto muito
complicado, mas tens de o ver.
Quero que dês
um mortal e que te partas todo.
Quero que dês um mortal e que te partas todo.
Se te partisses
todo, deixavas-me em paz.
Vês o mortal ou
não vês o mortal.
É um mortal que
eu vi num filme.
A produção já
contactou o 112 e o Inem está a chegar à casa.
Nuno Lopes
perguntou se não o queriam no programa.
Não tenho trabalho
até setembro, portanto faço aí umas macacadas.
Nuno Lopes entrará
na casa, pois Bruno Nogueira partiu a perna.
Mal saia Bruno, entrará Nuno.
Como Sónia não lhe
ligava, Bruno fez um mortal.
Para que voltes a
falar comigo, é preciso o quê?
Bruno quer Sónia, embora
esta pouco lhe ligue.
Nuno Lopes
representa tão bem como canta Luciana Abreu.
Bruno Nogueira, que
é também o argumentista, partiu a perna.
Saltou tão mal que
partiu a perna.
Quem se porta mal
na casa recebe más votações.
Indica o valor das seguintes orações
sublinhadas:
da segunda —
_____________
da antepenúltima —
___________
Conselho — Ver
folha(s) com lista de orações (e conjunções que as iniciam), para fixar todas
as situações. Para funções sintáticas, talvez uma folha nossa onde indicava
todos os critérios. Para dúvidas, os capítulos que reproduzi no blogue são
esclarecedores. Nesta semana só não chegámos a rever a formação de palavras e
os tipos de texto.
Uma
dissertação
de exame (modelo tirado de Plural 12,
Caderno de Atividades):
GRUPO III
No
mundo atual em crise, económica e de valores, o voluntariado pode ser um
caminho de ajuda aos outros e, simultaneamente, de realização pessoal.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um
máximo de trezentas palavras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia
exposta no excerto transcrito.
Fundamente
o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um
deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
[Solução possível:]
É impossível ignorar a crise em que a Europa
mergulhou. Até há pouco tempo esperança para muitos, o projeto europeu parece
ruir e, na queda, arrasta milhões de desempregados e de famílias em desespero.
O que fazer para minimizar o problema? Entre as muitas formas de intervenção
possíveis, o voluntariado é, sem dúvida, um caminho ao nosso alcance, que nos trará
muitas compensações.
A verdade é que, quando olhamos à nossa
volta com a atenção que os outros nos merecem, é impossível não sentir as
necessidades que de todos os lados apelam à nossa intervenção. Ora, se sempre
reclamámos uma Europa dos cidadãos, é agora o momento de ser responsável e
atuante, e ajudar os outros é, precisamente, um exercício de cidadania. Estamos
num tempo em que ninguém pode sentir-se de fora: se hoje são os outros a
necessitar de ajuda, amanhã poderemos ser nós. Felizmente, são muitos os
exemplos de envolvimento voluntário, desde o Banco Alimentar Contra a Fome, à
AMI, à Abraço, às muitas organizações de solidariedade social que abrirão as
portas ao nosso contributo que, sendo voluntário, não deixa de constituir um
dever.
Mas
não poderemos colocar esta questão apenas no plano dos direitos e dos deveres.
Fazer voluntariado vai para além dessa dimensão, que, sendo a essencial, não
esgota, contudo, o alcance da ação voluntária. É que o retorno de realização
pessoal é extraordinário, bastando escutar os testemunhos de quantos se dedicam
a ajudar os outros para compreendermos que, ao fazê-lo, estamos a ajudar-nos a
nós próprios. Inúmeros estudos atestam, por exemplo, a eficácia da colaboração
em ações de voluntariado no combate à depressão e na ajuda à construção de um
projeto de vida.
Em suma, sejamos atuantes. Não esqueçamos que, ao apoiar os outros, damos um
sentido maior à nossa vida. Não há dúvida de que o voluntariado é um caminho de
ajuda altruísta e, «simultaneamente, de realização pessoal».
Conselho — A partir de certa altura, não insistir
no estudo (se isso prejudicar o descanso ou sono suficientes). Num exame de
Português é decisivo ir com a cabeça em boa forma. Mais importante do que ter
tudo revisto em cima da hora, é conseguir ler e escrever com inteligência. Se
não tiver havido descanso, não estarão suficientemente frescos. É uma prova
mais de performance do que de estrita
avaliação de conhecimentos.
#
<< Home