Monday, August 29, 2016

Aulas de cábulas



1.ª aula de cábulas (12/jun)
Lírica de Camões
(nos programas, surge a título de ilustração dos elementos memorialísticos, autobiográficos)
[exame de 2016, 1.ª fase]
B
Leia o soneto.

Oh! como se me alonga, de ano em ano,
a peregrinação cansada minha!
Como se encurta, e como ao fim caminha
este meu breve e vão discurso humano!

Vai-se gastando a idade e cresce o dano;
perde-se-me um remédio, que inda tinha;
se por experiência se adivinha,
qualquer grande esperança é grande engano.

Corro após este bem que não se alcança;
no meio do caminho me falece,
mil vezes caio, e perco a confiança.

Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança,
se os olhos ergo a ver se inda parece,
da vista se me perde e da esperança.

Luís de Camões, Rimas

4. Nas duas quadras, o sujeito poético reflete sobre os efeitos da passagem do tempo na sua vida. Refira quatro dos aspetos que integram essa reflexão.
5. Relacione o sentido do verso «qualquer grande esperança é grande engano» com o conteúdo dos dois tercetos.

Cenários de resposta:
4. De acordo com as duas quadras, o sujeito poético:
– entende a vida como uma experiência longa e cada vez mais penosa;
– toma consciência da aproximação do termo da sua vida;
– faz um balanço negativo da existência com base na experiência passada;
– toma consciência de que a vida vai perdendo qualidade;
– encara toda a esperança como mera ilusão.

[acrescenta as duas palavras em falta]
5. O verso «qualquer grande esperança é grande engano» (v. 8) sugere que, para o sujeito poético, toda a esperança acaba por se revelar _______. Esta ideia concretiza-se nos dois tercetos. O bem desejado é representado como um objetivo que se persegue, num caminho em que o sujeito cai e se levanta, até que o próprio bem desejado se perde de vista e o desânimo _______.

Expressões, 10.º ano, p. 155:




Expressões, 10.º ano, p. 157:



Lírica de Camões
Vertente tradicional
Medida velha
            redondilha maior (heptassílabo)
            redondilha menor (pentassílabo)

[Composições com mote]
            vilancete
            cantiga

[Composições sem mote]
            esparsa
            endechas ou trovas

Vertente renascentista
Medida nova (decassílabo)
            soneto
            (oitava, ode, sextina, elegia, ...)


Conselho — Ler nas pp. 152-154 do Expressões do 10.º ano os enquadrados sobre a lírica de Camões, ainda que sem procurar memorizar uma sistematização desta matéria.

Padre António Vieira, «Sermão de Santo António»

 [prova intermédia de 2014]
Leia o excerto seguinte, extraído do capítulo III do Sermão de Santo António (aos peixes), no qual o orador louva as virtudes dos peixes. Em caso de necessidade, consulte as notas e o glossário apresentados a seguir ao texto.

Passando dos da Escritura aos da História natural, quem haverá que não louve e admire muito a virtude tão celebrada da Rémora? No dia de um Santo Menor, os peixes menores devem preferir aos outros. Quem haverá, digo, que não admire a virtude daquele peixezinho tão pequeno no corpo e tão grande na força e no poder, que, não sendo maior de um palmo, se se pega ao leme de uma Nau da Índia, apesar das velas e dos ventos, e de seu próprio peso e grandeza, a prende e amarra mais que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante? Oh se houvera uma Rémora na terra, que tivesse tanta força como a do mar, que menos perigos haveria na vida, e que menos naufrágios no mundo! Se alguma Rémora houve na terra, foi a língua de S. António, na qual, como na Rémora, se verifica o verso de São Gregório Nazianzeno: Lingua quidem parva est, sed viribus omnia vincit. O Apóstolo Santiago, naquela sua eloquentíssima Epístola, compara a língua ao leme da Nau e ao freio do cavalo. Uma e outra comparação juntas declaram maravilhosamente a virtude da Rémora, a qual, pegada ao leme da Nau, é freio da Nau e leme do leme. E tal foi a virtude e força da língua de S. António. O leme da natureza humana é o alvedrio, o Piloto é a razão; mas quão poucas vezes obedecem à razão os ímpetos precipitados do alvedrio? Neste leme, porém, tão desobediente e rebelde, mostrou a língua de António quanta força tinha, como Rémora, para domar e parar a fúria das paixões humanas. Quantos, correndo Fortuna na Nau Soberba, com as velas inchadas do vento e da mesma soberba (que também é vento), se iam desfazer nos baixos, que já rebentavam por proa, se a língua de António, como Rémora, não tivesse mão no leme, até que as velas se amainassem, como mandava a razão, e cessasse a tempestade de fora e a de dentro? Quantos, embarcados na Nau Vingança, com a artilharia abocada e os bota-fogos acesos, corriam enfunados a dar-se batalha, onde se queimariam ou deitariam a pique, se a Rémora da língua de António lhe não detivesse a fúria, até que composta a ira e ódio, com bandeiras de paz se salvassem amigavelmente? [...] Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador, que também foi Rémora vossa, enquanto o ouvistes; e porque agora está muda (posto que ainda se conserva inteira) se veem e choram na terra tantos naufrágios.
Padre António Vieira, Sermão de Santo António (aos peixes) e Sermão da Sexagésima,
edição de Margarida Vieira Mendes, Lisboa, Seara Nova, 1978, pp. 78-80

glossário e notas
abocada (linha 21) – apontada.
alvedrio (linha 14) – livre arbítrio, liberdade para tomar decisões.
baixos (linha 19) – zona de mar ou rio onde a água tem pouca profundidade.
bota-fogos (linha 22) – varetas com que o artilheiro ateava fogo à pólvora das bocas de fogo.
enfunados (linha 22) – inchados, envaidecidos.
Epístola (linha 11) – Epístola de São Tiago, um dos livros do Novo Testamento.
Escritura (linha 1) – Bíblia.
Lingua quidem parva est, sed viribus omnia vincit (linha 10) – expressão latina que significa «A língua, na verdade, é pequena, mas vence tudo pela sua força».
posto que ainda se conserva inteira (linha 26) – referência à língua de Santo António, guardada como relíquia na basílica com o nome do santo, em Pádua.
Santo Menor (linha 2) – referência ao facto de Santo António pertencer à ordem de São Francisco.
São Gregório Nazianzeno (linha 10) – teólogo e bispo cristão do séc. IV d.C.
Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
1. Releia o excerto desde o início até «por diante?» (linha 7). Apresente os traços caracterizadores da Rémora, fundamentando a sua resposta com citações do texto.
2. «Se alguma Rémora houve na terra, foi a língua de S. António» (linhas 8 e 9). Explique a analogia entre a língua de Santo António e a Rémora.
3. Vieira recorre à representação alegórica de determinados pecados humanos. Explique de que modo os elementos presentes na descrição das naus (linhas 17 a 24) permitem representar alguns desses pecados, bem como as suas consequências.

1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2. A analogia entre a língua de Santo António e a Rémora constrói-se com base num elemento comum — a ideia de força e de poder, associada à humildade e pequenez do corpo. Assim, a Rémora, apesar de pequena, é capaz de imobilizar uma nau, sendo «freio da Nau» (l. 13), e de reorientar o seu trajeto, sendo «leme do leme» (l. 13); a língua de Santo António, com o seu poder persuasivo, é capaz de travar as paixões humanas, orientando, segundo a razão, as ações dos homens.
3. Através da alegoria das naus, Vieira representa os pecados da soberba e da vingança. A Nau Soberba, manifestação de vaidade, arrogância e altivez, é representada pelas «velas inchadas do vento» (l. 18); a nau desfeita nos baixos representa a inevitabilidade do desastre a que este pecado conduz. A Nau Vingança, associada à guerra e à violência, é representada pela exibição bélica («a artilharia abocada e os bota-fogos acesos», ll. 21-22); a destruição provocada pela batalha é a consequência a que este pecado conduz.

Características dos peixes criticados no capítulo V (tabela tirada a Fernanda Carrilho, «Sermão de Santo António aos Peixes» de Padre António Vieira, Lisboa, Texto, 2004, p. 83):

Peixes
Simbolizam
Características de Santo António (contrastantes com a do peixe)
Roncadores
Soberba e orgulho
Era detentor do saber e do poder e não se vangloriava por isso
Pegadores
Parasitismo e adulação
Pegou-se somente a Cristo
Voadores
Ambição e presunção
Tinha asas (sabedoria) e não as usou para exibição do seu valor
Polvos
Traição
Esteve sempre afastado da traição, sempre houve verdade e sinceridade

Esquema da descrição do polvo (segundo Fernanda Carrilho, «Sermão de Santo António aos Peixes» de Padre António Vieira, Lisboa, Texto, 2004, pp. 81-82):



Conselho — Reler «Roncadores», «Pegadores» (e, idealmente, «Polvo»; «Peixe de Tobias», «Torpedo», «Quatro-olhos»).

Cesário Verde

             III — Ao gás

1                  E saio. A noite pesa, esmaga. Nos
                Passeios de lajedo arrastam-se as impuras.
                Ó moles hospitais! Sai das embocaduras
                Um sopro que arrepia os ombros quase nus.

5                  Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso
                Ver círios laterais, ver filas de capelas,
                Com santos e fiéis, andores, ramos, velas,
                Em uma catedral de um comprimento imenso.

                    As burguesinhas do Catolicismo
10            Resvalam pelo chão minado pelos canos;
                E lembram-me, ao chorar doente dos pianos,
                As freiras que os jejuns matavam de histerismo.

                    Num cutileiro, de avental, ao torno,
                Um forjador maneja um malho, rubramente;
15            E de uma padaria exala-se, inda quente,
                Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.

                    E eu que medito um livro que exacerbe,
                Quisera que o real e a análise mo dessem;
                Casas de confeções e modas resplandecem;
20           Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.

                    Longas descidas! Não poder pintar
                Com versos magistrais, salubres e sinceros,
                A esguia difusão dos vossos reverberos,
                E a vossa palidez romântica e lunar!

25                Que grande cobra, a lúbrica pessoa,
                Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo!
                Sua excelência atrai, magnética, entre luxo,
                Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.

                    E aquela velha, de bandós! Por vezes,
30           A sua traîne imita um leque antigo, aberto,
                Nas barras verticais, a duas tintas. Perto,
                Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.

                    Desdobram-se tecidos estrangeiros;
                Plantas ornamentais secam nos mostradores;
35            Flocos de pós de arroz pairam sufocadores,
                E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.

                    Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes
                Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
                Da solidão regouga um cauteleiro rouco;
40           Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.

                    «Dó da miséria!... Compaixão de mim!...»
                E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
                Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,
                Meu velho professor nas aulas de latim!
Cesário Verde, «O Sentimento dum Ocidental», O Livro de Cesário Verde

Perguntas e soluções tiradas, com poucas adaptações, de uma sebenta sobre Cesário Verde (da autoria de Auxília Ramos e Zaida Braga, a quem agradeço o auxílio e o zaido):
1. Refira as coordenadas espácio-temporais em torno das quais esta parte do poema se estrutura.
[completa com as transcrições em falta]
O poema desenvolve-se acompanhando o deambular do sujeito poético pelas ruas da cidade — «_________» (v. 2), «________» (v. 3), «Cercam-me as lojas» (v. 5) — num determinado período do dia, a noite — «_______» (v. 1). O próprio título desta terceira parte de «O Sentimento dum Ocidental», «______», remete para esse momento em que a luz natural já desaparecera e ficara apenas a iluminação artificial usada à época.

2. Ao longo do poema há referências a determinados tipos sociais. Indique-os.
[risca o que tiver sido acrescentado indevidamente]
São vários os tipos sociais que «povoam» o texto: as impuras (v. 2), as burguesinhas (v. 9), a mulher «magnética» (v. 27; «a lúbrica pessoa», v. 25), a adolescente de tranças (v. 28) e a velha de bandós (v. 29) constituem o leque feminino de personagens. A par, surgem outras figuras como o forjador (v. 14), o «ratoneiro imberbe» (v. 20), os caixeiros (v. 36), o cauteleiro (l. 39) e o «velho professor», agora um pobre pedinte (vv. 43-44), depois dos péssimos exames que os seus alunos da ESJGF fizeram (precisamente porque ele os distraía a lerem frases absurdas como esta).

3. Escolha uma das figuras femininas referidas e estabeleça uma comparação, apontando semelhanças e diferenças, com outras figuras femininas cesarianas.
[completa com profissões]
Das várias figuras femininas referidas, talvez a mulher «magnética» (v. 27) seja aquela que permite estabelecer mais aproximações e mais pontos de afastamento com outras figuras femininas da imagética cesariana. Assim, pela sua sensualidade, mas ao mesmo tempo pelo seu estudado distanciamento, ela aproxima-se da milady de «Deslumbramentos»; a sua futilidade coloca-a no polo oposto ao das mulheres do povo tão frequentes em Cesário: a _________ de «Num Bairro Moderno», as _________ de «Cristalizações», a _______ de «Contrariedades».

4. Este poema aborda alguns dos temas-chave da poesia cesariana. Justifique a afirmação, apoiando-se também em excertos textuais.
[completa com os números do versos]
Este excerto quase constitui uma súmula dos temas fulcrais da poesia de Cesário. Assim, para além da variedade de figuras femininas presentes, as outras «personagens» ora são um meio de o poeta expressar a sua solidariedade pelos excluídos (o velho professor), ora um meio de concretizar a pintura da cidade, que aqui aparece, como é constante nos poemas de Cesário, como símbolo de dor, sofrimento, solidão, até de vencidismo — «Mas tudo cansa!» (v. ___). Por oposição, surge, implicitamente, uma ténue alusão ao campo, modelo de saúde, vida, força — «Um cheiro salutar e honesto a pão no forno» (v. ___). Finalmente, dever-se-á ainda referir as fugas imaginativas presentes na segunda e na décima estrofes («Eu penso / Ver círios laterais, ver filas de capelas», vv. _____; «Tornam-se mausoléus as armações fulgentes», v. ___).

5. Indique de que forma se concretiza, ao longo do poema, o carácter sensorial do texto.
[completa com tipos de sensações]
Todo o poema e, por isso, toda a descrição da cidade assentam numa sucessão de sensações, desde as ______ («Um sopro que arripia os ombros quase nus», v. 4), as _______ («ao chorar doente dos pianos», v. 11; «Da solidão regouga um cauteleiro rouco», v. 39; «Pede-me sempre esmola», v. 43), as _______ («exala-se, inda quente / Um cheiro salutar e honesto a pão no forno», vv. 15-16; «Flocos de pós de arroz pairam sufocadores», v. 35) ao claro predomínio das ______ («E a vossa palidez romântica e lunar!», v. 24).

6. Comente o facto de alguns críticos literários considerarem «O Sentimento dum Ocidental» como uma espécie de epopeia de sinal negativo.
[responde, mesmo sem citações]
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


Conselho — Relancear de novo «O Sentimento dum Ocidental» e ler artigo de Helder Macedo sobre o mesmo longo poema. Ver também textos soltos de Cesário — os sociais, os ligados a figuras femininas, também os quase memorialísticos («Nós»). (No blogue estão os poemas todos de Cesário Verde.)

2.ª aula de cábulas (14/jun)
O que se segue é um grupo I-A com Álvaro de Campos mas ainda do modelo antigo de provas. Completa apenas as questões 1 e 4 (as outras já não são sairiam hoje).

Leia atentamente o seguinte texto:

                Que noite serena!
                Que lindo luar!
                Que linda barquinha
                Bailando no mar!

5              Suave, todo o passado — o que foi aqui de Lisboa — me surge...
                O terceiro-andar das tias, o sossego de outrora,
                Sossego de várias espécies,
                A infância sem o futuro pensado,
                O ruído aparentemente contínuo da máquina de costura delas,
10            E tudo bom e a horas,
                De um bem e de um a-horas próprio, hoje morto.

                Meu Deus, que fiz eu da vida?
               
                Que noite serena, etc.
               
                Quem é que cantava isso?
15            Isso estava lá.
                Lembro-me mas esqueço.
                E dói, dói, dói...
               
                Por amor de Deus, parem com isso dentro da minha cabeça.
Álvaro de Campos, Poesias, Lisboa, Ática, 1993

1. Reportando-se à segunda estrofe, identifique os elementos caracterizadores do passado evocado pelo sujeito poético.
[preenche as lacunas com transcrições]
O tempo evocado é o da infância feliz, vivida em Lisboa, que o sujeito poético caracteriza como um tempo de encantamento que a memória convoca quando ouve a cantiga; é também um período de «_____» (v. 7), físicas e mentais, vivido com despreocupação, porque se trata de uma «________» (v. 8). É um tempo de harmonia, de tranquilidade, de vivências familiares e domésticas, representado pelo «_______» (v. 6), pelo «______» (v. 9) e em que «______» (v. 10).

2. Os quatro primeiros versos são a citação de uma cantiga, parcialmente retomada no verso 13. Explique a função de cada uma das citações.
A primeira citação remete para a memória encantada da infância, o tempo em que o su­jeito poético ouvia a cantiga agora evocada; a segunda, para quando a consciência do presente se interpõe entre o «eu» e a recor­dação da infância. A permanência do seu eco na memória do sujeito poético faz com que essa cantiga se revele como um resto do passado morto, que se torna incómodo e que, como tal, o sujeito tenta silenciar.

3. Refira os sentimentos do sujeito poético relativamente ao presente.
A consciência do presente, que surge do con­fronto com o passado evocado, desencadeia um sentimento de perda irremediável que domina o sujeito poético. A saudade de um tempo perdido é agudizada e o verso final traduz o desespero do «eu» perante a impossibilidade de esquecer a cantiga e de recuperar a infância perdida.

4. Comente o efeito expressivo da repetição «E dói, dói, dói...» (v. 17).
[lacunas a preencher correspondem a termos de teoria literária ou linguística]
A repetição da forma _______ «dói» acentua o efeito da dor experimentada pelo sujeito poético, para a qual contribui também o valor semântico do _______ utilizado. O facto de a repetição cons­tituir um ______ curto e tripartido, com recurso a um ______ de sons abertos, confere a essa dor uma dimensão insuportável, uma presença constante, da qual o sujeito poético não se consegue libertar. As ______ finais conferem à série um efeito de indelimitação que acentua o valor _______, imperfetivo, que já advinha do uso do Presente do Indicativo.

Agora para Fernando Pessoa ortónimo, uso de novo itens do modelo de exames antigo. Desta vez, vale a pena completar todas as soluções, já que seriam perguntas plausíveis também no modelo atual (embora só houvesse agora três itens).

Lê atentamente o seguinte poema de Fernando Pessoa.

Em tempos quis o mundo inteiro.
Era criança e havia amar.
Hoje sou lúcido e estrangeiro.
(Acabarei por não pensar.)

A quem o mundo não bastava,
(Porque depois não bastaria)
E a alma era um céu, e havia lava
Dos vulcões do que eu não sabia,

Basta hoje o dia não ser feio,
Haver brisa que em sombras flui,
Nem se perder de todo o enleio
De ter sido quem nunca fui.
Fernando Pessoa

1. O sujeito poético estabelece uma distinção entre dois tempos da sua vida. Identifica-os, mencionando a sua localização no poema. Refere os elementos linguísticos que os evidenciam.
[lacunas a preencher correspondem a citações do texto]
Existe, no poema, uma distinção entre o passado ou o tempo em que o sujeito poético «________» e o presente ou o «_______» do adulto. Na primeira estrofe, os dois primeiros versos referem-se à infância e os dois últimos versos ao presente. Na segunda estrofe, o sujeito poético refere-se ao passado e, na terceira estrofe, ao presente.
Os elementos linguísticos que evidenciam a distinção entre o passado e o presente são as formas verbais, o advérbio de tempo e as expressões temporais. Assim, a referência ao passado está marcada através das formas verbais do Pretérito Perfeito do Indicativo e do Pretérito Imperfeito do Indicativo, além da expressão temporal «________». A referência ao presente é feita através da conjugação de verbos no Presente do Indicativo e do advérbio «______».

2. Explicita o estado de espírito do sujeito poético no momento presente.
[lacunas a preencher correspondem a termos de teoria literária ou linguística]
O sujeito poético descreve-se como «lúcido» e «estrangeiro», na primeira estrofe. Estes dois _______ são cruciais na caracterização do seu estado de espírito: a lucidez ou capacidade de a inteligência analisar o real associa-se ao sofrimento que o pensar ou a consciência traz ao _______; o «ser estrangeiro» traduz a incapacidade de o sujeito poético se relacionar com os outros, mantendo distancia­mento, quer em relação aos outros, quer em relação ao real. Estas duas dimensões são fundamentais na poesia de Pessoa ortónimo; são no presente o inverso do que «em criança» havia, o «amar». Além disso, na última ________, constatamos que, para o sujeito poético, a evocação de uma infância mítica (um passado onde havia «amar») constitui uma «brisa», que ele descreve como «sombras», termo que atribui um sentido negativo ao «hoje». Finalmente, a evocação desse passado risonho é considerada um «enleio» associado a algo positivo — a infância — reinventado pela imaginação, representado pelo pensamento e pela linguagem como um tempo em que era possível sentir.

3. Identifica a figura de retórica presente em «E a alma era um céu», explicando a sua importância para a construção do sentido do poema.
[lacunas a preencher correspondem ao termo que identifica o recurso estilístico e a uma palavra da figura]
A expressão transcrita associa, através da ______, a «alma» a «céu», elemento que constitui o símbolo da felicidade. Através desta associação descreve-se a infância do sujeito poético como momento de extrema felicidade. Note-se ainda que o determinante artigo indefinido «______» particulariza a analogia, o que permite conotá-la também com o sonho: a alma não é «o céu», é um dado céu imaginado.

4. Explica o sentido dos dois últimos versos do poema.
[lacunas a preencher correspondem a termos da ensaística acerca de Pessoa]
«Em tempos quis o mundo inteiro» desenvolve o complexo de dimensões que caracteriza a poesia de Pessoa ortónimo: a evocação de uma _______, em que o poeta se imagina feliz, constitui o reverso de um presente pleno de ________ e de angústia, criados pelo constante ato de _______ que impede o sujeito poético de estabelecer qualquer relação, quer com os outros, quer com o real, que incessantemente ele desconstrói.

Conselho — Para revisão de Pessoa e heterónimos, podem ser úteis os esquemas no Caderno de Apoio ao Exame e enquadrados no manual. (Note-se, porém, que o que mesmo importa é ler bem os textos e as perguntas e escrever com correção.)

Que pode sair nos itens 8, 9, 10 do grupo II?

[2016, 1.ª fase]
8. Classifique a oração iniciada por «que» (linha 1).
9. Identifique o valor da oração subordinada adjetiva relativa presente nas linhas 3 e 4.
10. Refira a função sintática desempenhada pela oração subordinada presente em «é inevitável que vivamos permanentemente sob ameaças» (linha 8).

[2016, 2.ª fase]
8. Identifique a função sintática desempenhada pela expressão «o rio Saône» (linha 14).
9. Indique o valor da oração subordinada adjetiva relativa presente na linha 16.
10. Classifique a oração introduzida por «em que» (linha 32).

[2016, época especial]
8. Indique o valor da oração relativa «que aqui confesso» (linha 1).
9. Indique a função sintática desempenhada pela oração «que houve opressão e apagamento» (linha 9).
10. Identifique o antecedente do possessivo «sua» (linha 27).

[2015, 1.ª fase]
8. Identifique o antecedente do pronome pessoal presente na expressão «há cerca de duzentos e cinquenta termos a ela relativos» (linha 17).
9. Identifique a função sintática desempenhada pela oração subordinada presente na frase «E diz que o olfato perdeu importância em favor da visão» (linha 21).
10. Classifique a oração iniciada por «mesmo se» (linha 29).

[2015, 2.ª fase]
8. Transcreva a palavra que constitui uma catáfora da expressão «os trajes (num figurino rigoroso), os cenários, as próprias vozes dos atores» (linha 16).
9. Identifique o valor da oração subordinada adjetiva relativa introduzida por «que» (linha 10).
10. Refira a função sintática desempenhada por «que» (linha 26).

[2015, época especial]
8. Identifique o valor da oração subordinada adjetiva relativa presente em «A mente, ocupada com a obsessão de eliminar problemas antigos, não se liberta a conceber a viagem que começará em breve.» (linhas 7 e 8).
9. Identifique a função sintática desempenhada pela oração subordinada presente na frase «Sei que chegaremos todos ao mesmo tempo.» (linha 18).
10. Identifique o antecedente do pronome «o» presente na frase «Faço-o durante toda a viagem.» (linhas 19 e 20).

[2014, 1.ª fase]
2.1. Identifique a função sintática desempenhada pela palavra «queirosiano» (linha 13).
2.2. Classifique a oração «onde mal cabia» (linha 16).
2.3. Classifique o ato ilocutório presente em «Como um dia veremos.» (linha 29).

[2014, 2.ª fase]
2.1. Identifique a expressão de que o pronome «aquilo» (linha 7) é uma catáfora.
2.2. Classifique a oração «se bem que apreciadas por alguns» (linha 25).
2.3. Identifique a função sintática desempenhada pelo pronome pessoal em «pode inspirar-nos em cada tempo» (linhas 29 e 30).

[2014, época especial]
2.1. Classifique a oração «que a carta não diz toda a verdade sobre a criação do heterónimo, nem dos poemas» (linhas 11-12).
2.2. Indique o valor da oração subordinada adjetiva relativa seguinte: «que rejeita a ideia defendida por muitos estudiosos da “alma una” de Caeiro.» (linha 17).
2.3. Identifique a função sintática desempenhada pela expressão «viver e pensar» (linha 25)

Portanto, há apenas quatro tipos*:
— ‘Classifique a oração’;
— ‘Indique o valor da oração’;
— ‘Identifique a função sintática’;
— ‘Identifique o referente (o antecedente [a expressão correspondente à anáfora] / a expressão correspondente à catáfora [o sucedente])’.
(*) Numa prova de 2013, surge um quinto tipo — ‘Classifique o ato ilocutório’.


Depois de veres trecho de Último a sair, completa com hiperónimo, hipónimo, holónimo, merónimo:
«museu» é _________ de «exposição»;
«quadro» é _________ de «museu»;
«artista» é __________ de «Jackson Pollock»;
«pintor» é _________ de «Pollock»;
«Louvre» é ________ de «museu»;
«Magritte» é _________ de «homem»;
«corrente artística» é ___________ de «pictomarista»;
«Lourenço Marques (Maputo)» é ________ de «Moçambique»;
«Bélgica» é _________ de «país».
São co-hipónimos __________ e «Bélgica»;
São co-merónimos «quadro» e ________.

Sobre Recursos estilísticos (de Entre nós e as palavras, 11.º ano):




Classifica o ato ilocutório presente em cada uma das intervenções (de Último a sair):

Eliminada. (no gráfico)

Os portugueses acabaram de decidir.

Fogo, meu! (dito por Luciana Abreu)

Baza!

Vou ser a única mulher aqui na casa. (Luciana, chorosa)

Tem dois minutos para abandonar a casa.

Ah! Lindo, lindo, lindo! (Roberto Leal a ver Débora a abraçar Unas)

Porque é que fizeste isso, Débora? (por Unas)

Só tenho pena de não ter comido o açoriano.

Amo-te Débora! (por Débora)

* Sim, vou descongelar duas portadas para o jantar do César.



Indica o valor aspetual predominante em cada uma destas frases de Último a sair:

Ela estava a fazer jogo, esteve a fazer jogo desde o início.

muitas melgas nesta casa.

Já acabou o Fenistil.

A melga entrou lá dentro.

A melga vinha [a voar].

Procurei bué. Estive ali um quarto de hora à procura da melga.

Tu és meu amigo, Rui.

* Costumo sair do quarto dos homens e visitar o das mulheres.

* Tens procurado as melgas todas as noites.

* inventados para efeitos do exercício

Esboço de léxico porventura útil para respostas a grupos I

o «eu» poético / o «eu» lírico / o sujeito poético / o sujeito lírico / o «eu» do texto / o «eu» / o sujeito / o poeta / [o narrador] / ...

trecho / texto / excerto / passagem / passo / período / parágrafo / segmento / frase / expressão / estrofe / estância / terceto / quadra / quintilha / dístico / sextilha / verso / canto / episódio / momento / fragmento / cena / ato /fala / ...

trata de / aborda / conota / denota / remete para / implica / evoca / alude a / refere / traduz / significa / assinala / menciona / exprime / traça / esboça / desenha / perfila / desenha / marca / vinca / acentua / sublinha / sugere / insinua / salienta / valoriza / desvaloriza / prefere / pretere / favorece / desfavorece / privilegia / prejudica / enumera / elenca / estabelece / distingue / ...

infere-se / conjectura-se / adivinha-se / percebe-se / nota-se / é percetível / é notório / evidencia-se / é evidente / apercebemo-nos de que /...

oposição / paralelismo / contraste / simetria / tema agregador / assunto / leitmotiv / binómio / motivo / símbolo / direção / vetor / linha de sentido / tópico / alusão / dicotomia / ...

Entretanto, / Acrescente-se que / Note-se ainda que / Diga-se também / É de notar / Assinale-se que / Sublinhe-se que / Por outro lado, / Na verdade, / Com efeito, / Realmente, / Efetivamente, /...

Mecanismos de coesão textual (a partir da p. 110 de Felizmente há luar!)



Neste trecho de Felizmente há luar! estão abonados mecanismos de coesão textual de vária ordem (coesão temporoaspetual, lexical, interfrásica, referencial). Tenta classificá-los em função da área de coesão que neles se atualiza:
A ocorrência de termos equivalentes ou antónimos, como «esmola», «medalha», «moedas», e «pague», «receba», «vende», constitui um mecanismo de coesão ______. O mesmo se pode dizer da própria repetição da palavra «moeda».
Na fala de Manuel, o referente «moeda», surge substituído várias vezes por termos anafóricos: «[lh]a» (duas vezes), «a [use]»; depois, o antecedente «trinta moedas» é substituído pelos pronomes, também anafóricos, «as» («as pague ou as receba»). Trata-se de mecanismo de coesão _______. Como o é também a elipse de «Rita» no segundo período da didascália maior.
Numa das didascálias, o valor imperfetivo de «iluminava», matizado pela progressividade de «apaga-se gradualmente» — conferida pelo advérbio, mas contraditória do sentido de ‘apagar’ —, vinca o valor também imperfetivo do presente de «permanecer», verbo já marcado por sentido durativo. A sequência de verbos no presente («entrega», beija», «corre», «surge») é estabelece a ideia de ação, avanço no tempo. Este jogo entre tempos, advérbio, etc., constitui um exemplo de coesão ________.
De novo na fala de Manuel, o conector final «para que» ou a ligação aditiva «e», que vemos na primeira frase da página, ou até a sequencialização conseguida pela justaposição de períodos podem ilustrar a chamada coesão ________.

Deixis (a partir de uma página de Felizmente há luar!; p. 126 da edição Areal):



Neste trecho de Felizmente há luar! não faltam expressões com valor deítico. A seguir, ponho algumas dessas expressões. Classifica o deítico quanto ao seu escopo (espacial, pessoal, temporal).
Junto ainda um só caso de deítico textual, que identificarás também, assinalando o antecedente dessa expressão anafórica no texto da peça de Sttau Monteiro.
«Estou» = deítico temporal e ______;
«aqui» = deítico ______;
«vos» = deítico ______;
«Venho de» = deítico ______, ______, ______;
«Esta afirmação» = deítico _______;
«essa [mulher]» = deítico _______, _______.

3.ª aula de cábulas (16/jun)
Almeida Garret, Frei Luís de Sousa
Eis um grupo I-B de uma prova ainda segundo o modelo antigo (em em que este grupo não implicava texto, mas um pequeno comentário mais «teórico»). É-nos util para fixarmos dados acerca de Frei Luís de Sousa:
Grupo I-B
Tal como na tragédia clássica, também o fatalismo é uma presença constante em Frei Luís de Sousa. O destino acompanha todos os momentos da vida das personagens, apresentando-se como uma força que as arrasta de forma cega para a desgraça. É ele que não deixa que a felicidade daquela família possa durar muito.
Recordando a peça de Garrett, responda de forma completa às questões que se seguem.
1.         Na tragédia clássica, a hybris (o desafio) era o ponto de partida para o conflito (o desenvolvimento).
1.1.      Identifique, na peça Frei Luís de Sousa, o desafio de D. Madalena.
1.2.     Indique o desafio de Manuel de Sousa e as consequências da sua atitude no final do Ato I.
2.        Demonstre a importância do destino e da superstição no desenrolar dos acontecimentos.

[Sugestões de resolução]
1.1       A hybris é o desafio, o crime do excesso e do ultraje. D. Madalena não comete um crime propriamente na ação, mas sabemos que ele existiu pela confissão a Frei Jorge de que ________, embora guardasse fidelidade ao marido. O crime estava no seu coração, na sua mente, embora não fosse explícito como entre os clássicos.
1.2.     Manuel de Sousa Coutinho também comete a sua hybris ao ________. Esta atitude obrigou-o a esconder-se durante alguns tempos e a evitar regressar ao palácio durante o dia.
2. [Completa só com nomes de personagens.] O destino pode definir-se como força superior que tudo domina e a quem nem os deuses podem fugir; apresenta-se como uma obrigação imperiosa, uma força que arrasta «de forma cega para a desgraça». Madalena e Maria são vítimas do destino que afeta também as restantes personagens.
Um presságio da desgraça percorre toda a obra: a atmosfera de superstição, as apreensões e pressentimentos de ______ adquirem sentido; também ______ pressente a hipótese de ser filha ilegítima e vem a ser a vítima sacrificada; ________ alimenta a crença no Sebastianismo; o incêndio e a necessidade de viver no palácio que fora de ________ aumentam a tensão dramática; o terror apodera-se de _______...
O destino acompanha todos os momentos da vida das personagens e arrasta-as de forma cega para a desgraça; o sofrimento não acontece apenas nas personagens, mas age sobre os espectadores, através dos sentimentos de terror e de piedade, para purificar as paixões (catarse); dentro da lógica do teatro clássico, a intriga desenvolve-se, de forma a culminar num desfecho dramático, cheio de intensidade: a morte física de ________ e a morte para a vida secular de _______ e _______. É, pois, evidente que, tal como na tragédia clássica, também em Frei Luís de Sousa o fatalismo é uma presença constante, dado que o destino acompanha todos os momentos da vida das personagens, apresentando-se como uma força que as arrasta de forma cega para a desgraça.

Elementos da tragédia clássica (segundo Projetos, 11.º ano, Santillana)
Hybris — desafio feito pelas personagens à ordem instituída.
Peripécia — de acordo com a Poética de Aristóteles (c. 334-330 a. C.), corresponde à «mutação dos sucessos no contrário», isto é, ao momento em que se verifica uma alteração no rumo dos acontecimentos.
Anagnórise — «reconhecimento»; segundo a Poética de Aristóteles, «é a passagem do ignorar ao conhecer», podendo consistir na revelação de acontecimentos desconhecidos ou na identificação de determinada personagem.
[Em FLS, a anagnórise sucede em simultâneo com a peripécia: é com a chegada do Romeiro e o reconhecimento da sua identidade (anagnórise) que se dá uma inversão brusca nos acontecimentos (peripécia): o casamento é invalidado, Madalena torna-se uma mulher adúltera e a filha, ilegítima.]
Clímax — momento culminante (de maior intensidade) da ação.
[Em FLS, o clímax corresponde à cena final do ato II, pois é neste momento que a tensão dramática atinge o seu auge: D. João de Portugal dá a conhecer a sua identidade de forma inequívoca, demonstrando, ao mesmo tempo, deforma paradoxal, que o esquecimento a que foi votado anulou a sua existência.]
Catástrofe — desenlace trágico.
[Em FLS, a família é totalmente exterminada: Madalena e Manuel morrem para o mundo, ingressando na vida religiosa, e Maria morre, efetivamente.]
Ágon — conflito vivido pelas personagens; pode designar o conflito com outras personagens ou o conflito interior.
Pathos — sofrimento crescente das personagens.
Ananké — o destino; preside à existência das personagens e é implacável.
Catarse — efeito purificador que a tragédia deve ter nos espectadores: ao desencadear o terror e a piedade, permitir-lhes-ia purificar as suas emoções.

Conselho — Reler ou relancear de novo a peça (está no manual do 11.º ano, na íntegra); como alternativa pior, assistir ao filme (link no blogue).

Acerca de Eça de Queirós poderiam sair itens deste estilo (mas não é nada provável e não investiria muito na retoma do estudo de Os Maias).

Grupo I-B
De acordo com o romance de Eça de Queirós que estudou, desenvolva os seguintes tópicos:
4. A crítica social e a preocupação em narrar com pormenor a realidade.
5. Recorde duas perspetivas em confronto (de ideias, de personalidades, de educação...), identifique as personagens que as representam e as ideias que defendem.

[Sugestões de resposta, considerando que o romance estudado foi Os Maias]
4.        Eça de Queirós, n'Os Maias, elabora, aparentemente, a história de uma família lisboeta em decadência, mas, sobretudo, constrói uma crónica social, cultural e política que permite o conhecimento do espaço social da época em que foi produzida. Faz a análise dessa sociedade portuguesa, de forma cómico-trágica, sem perder de vista o propósito ético da literatura.
Apesar das peripécias e da catástrofe no fim do enredo passional, uma certa intemporalidade resulta da crónica de costumes, da análise social, que leva à observação, com mais pormenor, dos elementos que a definem: os figurantes e os ambientes. Dá-nos um retrato da sociedade, embora só tenha conseguido descrever-nos o seu lado mais negativo: os vícios, o adultério, a chantagem, a corrupção, a falta de valores.
Ao recorrer à crítica social, à fina ironia e ao procurar agitar as ideias sociais, políticas e literárias, Os Maias constituem um ver­dadeiro fresco caricatural da sociedade portuguesa da época, conservando atualidade, apesar dos contextos serem um pouco diferentes.
5.        (Os Maias, o confronto entre duas escolas literárias: o Ultrarromantismo e o Realismo)
Tomás de Alencar: identificado claramente com o Ultrarromantismo, na aparência, no modo de vestir. Surge como uma personagem antiquada, superficial e lúgubre, que defendia que as senhoras podiam ler a literatura romântica sem terem necessidade de corar de vergonha, mas, por outro lado, considerava que dentro da cabeça dos realistas só existia «excremento, vómito, pus, matéria verde».
João da Ega: projeção de Eça de Queirós, é um defensor acérrimo das ideias do Realismo, um pensador e um literato. Tem características que o distinguem de todas as outras personagens: excêntrico, cínico, inteligente, audacioso, demagogo, dândi, ateu... Na parte final da obra, assume um papel importante na intriga, ao tomar conhecimento da verdadeira identidade de Maria Eduarda; por isso, a sua presença passa a marcar os principais acontecimentos daí em diante.

Conselho — Não me focaria, nesta altura, no estudo, ou na releitura, de Os Maias.

Resolve estes itens de grupo I (modelo antigo) com Alberto Caeiro. As lacunas a prencher nas soluções dos itens correspondem a formas de verbo crucial em Caeiro.

            VII

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
Fernando Pessoa, Poemas de Alberto Caeiro, Lisboa, Ática, 1946.

1. A aldeia é descrita pelo sujeito poético como «tão grande como outra terra qualquer.» Refere o argumento utilizado pelo sujeito poético para sustentar esta afirmação.
O sujeito poético vê a sua aldeia «tão grande como uma outra terra qualquer» porque desse local se tem um horizonte de visão amplo (abrangente) e, para ele, aquilo que se é capaz de _______ é que deter­mina a dimensão dos lugares e dos seres.

2. Menciona os elementos que distinguem a aldeia da cidade.
À aldeia o sujeito poético associa a largura de todo o céu, o grau máximo de visibilidade do Universo; por isso, estão associadas à aldeia a capacidade de _____ e, consequentemente, a riqueza de quem vê. Pelo contrário, a cidade é um lugar pequeno e fechado, porque restringe o campo de visão; as suas construções limitam o olhar e, por conse­guinte, impedem-nos de _______ a Natureza e o Uni­verso.

3. Explicita em que reside, do ponto de vista do sujeito poético, o tamanho de cada pessoa.
Para o sujeito poético, o tamanho de cada pessoa mede-se a partir daquilo que ele é capaz de ______: se tem uma visão larga e abrangente do Universo, é rico e é grande; se tem uma visão limitada e res­trita, é pobre e é pequeno. O tamanho, o valor de alguém depende daquilo que os seus olhos são capazes de ________.

4. Indica a figura de retórica [recurso estilístico; figura de estilo] presente na frase «Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave» (v. 7), explicitando o seu sentido.
Em «Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave» (v. 7), está presente uma metáfora, através da qual se expressa a limitação ou a restrição que as casas da cidade impõem às pessoas que nelas vivem relativamente ao que _______. As fecha­duras das portas vedam a entrada das pessoas nos locais, impedem o acesso. Do mesmo modo, as casas numa cidade impedem a vista de olhar para um espaço aberto. Esta metáfora contribui para a caracterização negativa da cidade em con­traste com a aldeia.

É da 2.ª fase do exame de 2016 este início do grupo I, com Ricardo Reis (fui já pondo a seguir a cada item o cenário de resposta proposto pelo IAVE — que me limitei a linearizar):
Grupo I —A
Leia o poema. Se necessário, consulte as notas.

1              Só o ter flores pela vista fora
                Nas áleas largas dos jardins exatos
                               Basta para podermos
                               Achar a vida leve.

5              De todo o esforço seguremos quedas
                As mãos, brincando, pra que nos não tome
                               Do pulso, e nos arraste.
                               E vivamos assim,

                Buscando o mínimo de dor ou gozo,
10            Bebendo a goles os instantes frescos,
                               Translúcidos como água
                               Em taças detalhadas,

                Da vida pálida levando apenas
                As rosas breves, os sorrisos vagos,
15                            E as rápidas carícias
                               Dos instantes volúveis.

                Pouco tão pouco pesará nos braços
                Com que, exilados das supernas luzes,
                               Scolhermos do que fomos
20                           O melhor pra lembrar

                Quando, acabados pelas Parcas, formos,
                Vultos solenes de repente antigos,
                               E cada vez mais sombras,
                               Ao encontro fatal

25            Do barco escuro no soturno rio,
                E os nove abraços do horror estígio,
                               E o regaço insaciável
                               Da pátria de Plutão.
Ricardo Reis, Poesia, edição de Manuela Parreira da Silva, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, pp. 36-37

NOTAS
áleas (verso 2) – caminhos ladeados de árvores ou arbustos.
estígio (verso 26) – relativo ao Estige, rio dos Infernos na mitologia grega.
Parcas (verso 21) – três divindades da mitologia romana que representam o destino: uma preside ao nascimento, outra
ao casamento e a terceira à morte.
Plutão (verso 28) – deus dos Infernos, na mitologia romana.
quedas (verso 5) – quietas; imóveis.
Scolhermos (verso 19) – escolhermos.
supernas (verso 18) – supremas; superiores.

1. Explicite três traços da filosofia de vida exposta nas quatro primeiras estrofes. Fundamente a resposta com transcrições pertinentes.
Nas quatro primeiras estrofes, é exposta uma filosofia de vida que se caracteriza por: um gosto pela fruição estética da natureza («Só o ter flores pela vista fora / Nas áleas largas dos jardins exatos / Basta para podermos / Achar a vida leve.», vv. 1-4); uma escolha da serenidade, o que conduz a uma atitude contemplativa («De todo o esforço seguremos quedas / As mãos, brincando, pra que nos não tome / Do pulso, e nos arraste.», vv. 5-7); uma atitude epicurista, que valoriza o prazer moderado («Buscando o mínimo de dor ou gozo, / Bebendo a goles os instantes frescos», vv. 9-10); uma consciência da brevidade da vida, que conduz ao desejo de fruição do momento presente (carpe diem) («As rosas breves, os sorrisos vagos, / E as rápidas carícias», vv. 14-15).

2. Justifique o recurso à primeira pessoa do plural ao longo do poema.
O sujeito poético expõe um conjunto de normas que devem ser seguidas por todas as pessoas de modo a facilitar a vida humana e a aligeirar a dor provocada pelo facto de a vida ser efémera. Neste sentido, o uso da primeira pessoa do plural — que surge nas formas verbais «podermos» (v. 3), «seguremos» (v. 5), «vivamos» (v. 8), «escolhermos» (v. 19), «fomos» (v. 19), «formos» (v. 21) e no pronome pessoal «nos» (vv. 6 e 7) — decorre de uma atitude normativa (ou exortativa) assumida pelo sujeito poético, incluído nessa primeira pessoa do plural.

3. De acordo com o conteúdo das três últimas estrofes, explique o modo como o sujeito poético perspetiva a morte.
O sujeito poético perspetiva a morte de acordo com a conceção própria da antiguidade clássica, evidente: na ideia de que a vida humana é comandada pelo Destino, ou pelas Parcas, e de que as almas atravessam o rio Estige e chegam aos Infernos, à «pátria de Plutão» (vv. 21-28); na aceitação da morte, momento a que se deve chegar sem apego a nada e apenas recordando o que foi agradável, para que o sofrimento não seja tão penoso — atitude estoica (vv. 17-20).

O mais recente exame com Mensagem foi o de 2015, 2.ª fase:
Grupo I —A
Leia o poema.

AS ILHAS AFORTUNADAS

1              Que voz vem no som das ondas
                Que não é a voz do mar?
                É a voz de alguém que nos fala,
                Mas que, se escutamos, cala,
5              Por ter havido escutar.

                E só se, meio dormindo,
                Sem saber de ouvir ouvimos,
                Que ela nos diz a esperança
                A que, como uma criança
10            Dormente, a dormir sorrimos.
                São ilhas afortunadas,
                São terras sem ter lugar,
                Onde o Rei mora esperando.
                Mas, se vamos despertando,
15            Cala a voz, e há só o mar.
Fernando Pessoa, Mensagem, Lisboa, Assírio & Alvim, 1997, p. 75

1. Refira a condição necessária à manifestação da voz e transcreva elementos do texto que justifiquem a sua resposta.
Para que a voz se manifeste, é necessário que quem ouve se encontre semiacordado, ou num estado de semiconsciência, sem procurar escutar essa voz – «Mas que, se escutamos, cala, / Por ter havido escutar» (vv. 4-5); «E só se, meio dormindo, / Sem saber de ouvir ouvimos,» (vv. 6-7); «Mas, se vamos despertando, / Cala a voz, e há só o mar.» (vv. 14-15).

2. Explique o sentido dos dois últimos versos do poema.
De acordo com o sentido dos dois últimos versos do poema, quando se desperta do estado de semiconsciência,  a voz do mar, a voz trazida pelo «som das ondas» (v. 1), associada a uma ideia de esperança, desaparece; o mar passa a ser apenas uma realidade objetiva.

3. Explique de que modo o conteúdo da última estrofe convoca o mito sebastianista.
Na última estrofe, a esperança no regresso do Rei D. Sebastião e, consequentemente, na possibilidade de resgatar a glória de Portugal está associada a aspetos como a existência de um espaço mítico onde o Rei se encontra («São ilhas afortunadas, / São terras sem ter lugar», vv. 11-12); o facto de o Rei aguardar o momento de agir («Onde o Rei mora esperando.» (v. 13).

Conselho — Relancear os comentários sobre cada um dos textos de Mensagem na edição que reproduzi no blogue seria tarefa útil, embora talvez demasiado morosa.
Será (ainda) menos exequível reler as paráfrases de cada uma das estâncias de Os Lusíadas estudadas, que estão também no blogue. Já o quadro comparativo entre Os Lusíadas e Mensagem (no Caderno de Apoio ao Exame, pp. 14-19 — reproduzo também no blogue) não demorará assim tanto a ser lido. E são bom exemplo de como lidar com perguntas as respostas-modelo sobre «Padrão» (pp. 27-29 do Caderno de Apoio; também no blogue).
A leitura dos enquadrados (manual) e esquemas (Caderno de apoio ao exame) sobre características de Fernando Pessoa (ortónimo) e dos heterónimos (Reis, Caeiros, Campos) também se deve descartar.

Temas em torno de Felizmente há luar! em que vale a pena pensar. Já acrescentei três esboços de comentário. Outras respostas estarão no que fomos fazendo em aula. Sugiro ainda que se releiam os enquadrados e súmulas ensaísticas no manual.

1.         Como devemos ver Matilde? Como mulher comum? Como heroína?
2.        Entre os elementos simbólicos presentes em Felizmente há luar podem citar-se os tambores, a moeda de cinco reis, a saia verde, o luar.
Os tambores, que amedrontam os populares mal os ouvem à distância e que tocam em fanfarra em momentos decisivos (como o anúncio da prisão e o fim da execução de Gomes Freire), representam a repressão, simbolizam a opressão aterrorizadora.
A moeda de cinco réis começa por significar a esmola, o auxílio humilhante que os poderosos dão aos que nada têm (por isso, quando Manuel a manda atirar a Matilde logo se arrepende; por outro lado, Matilde, ao pedir-lha, está a associar-se  aos populares). Quando Matilde atira uma moeda aos pés do Principal Sousa, esta passa a ser símbolo da traição da Igreja, eco das moedas que Judas recebeu pela entrega de Cristo.
A saia verde, oferecida a Matilde pelo seu amado para quando voltassem a Portugal, nunca tinha sido usada, talvez porque o país nunca lhes tivesse dado motivos de esperança. Matilde planeava usá-la quando Gomes Freire voltasse para casa (o que revela que não se resignara, que ainda acreditava), mas acabou por ser a que vestiu no momento da execução do marido, simbolizando então a esperança no futuro.
A fogueira destruiu com Gomes Freire a conspiração, a mudança. Porém, foi uma destruição necessária para a purificação, para que todo o horror fosse exposto e reforçasse o desejo de lutar por um Portugal melhor. O clarão é a luz da liberdade que se anuncia. O clarão que se extingue com a morte de Gomes Freire irá iluminar muitas consciências. A sua morte não terá sido em vão.
Para D. Miguel, a luz do luar simboliza a opressão necessária para manter o país submisso. Para Matilde, o início do fim do obscurantismo em que o país stá mergulhado: é a luz que permite ver um exemplo, o caminho a seguir.
3.        Matilde é uma personagem mais redonda, menos plana, do que as outras. Essa maior complexidade psicológica faz dela a figura mais elaborada da peça.
4.        A concentração do tempo da ação é uma das características de Felizmente há luar!. Entretanto, a única data explicitada na peça está numa fala de Matilde: «Esta praga lhe rogo eu, Matilde de Melo, mulher de Gomes Freire d’Andrade, hoje 18 de outubro de 1817».
Aparentemente, no mesmo dia em que os populares conversam sobre Gomes Freire, Vicente é incumbido por D. Miguel de o vigiar. Também nesse mesmo dia, os Governadores recebem os delatores e Vicente traz a informação de que «Ontem à noite entraram mais de dez pessoas em casa de...». Não sabemos, contudo, o tempo que decorre entre a situação incial e este «ontem». E é impossível determinar o tempo que decorre até declararem Gomes Freire como chefe da conjura.
Note-se ainda que, no segundo acto, o tempo parece mais lento, devido sobretudo ao longo discurso acusatório que Matilde dirige ao Primcipal Sousa. Por outro lado, é-nos transmitida a ideia de que, entre a prisão dos conjurados e a sua execução, decorreram apenas quatro dias.
Esta concentração  do tempo evidencia que o poder não esperava  senão um pretexto para eliminar um adversário. Para prender Gomes Freire não houve necessidade de recolher provas da sua participação na conjura.
5.        Na linha do teatro de Bertold Brecht, Felizmente há luar! analisa criticamente a sociedade, mostrando-a com o objectivo de levar o espectador a tomar uma posição.
6.        Há paralelismos entre os dois actos, mas também há contrastes.
7.        O espaço físico da peça é, no fundamental, Lisboa…
A referência de que a ação se desenrola em Lisboa é-nos dada várias vezes ao longo da peça. Por exemplo, é num café do Cais do Sodré que se «reúnem todos os dias os defensores do sistema das cortes», informa Vicente no seu primeiro encontro com D. Miguel. É também durante este encontro que é referido, pela primeira vez, que o General mora para «os lados do Rato», é aí que é preso e, nesse dia, no Largo do Rato «são mais os soldados do que as pedras», segundo o comentário de um popular. Gomes Freire é levado para o forte de S. Julião da Barra, onde é executado. A execução dos outros conjurados, segundo Sousa Falcão, dá-se no Campo de Sant’Ana (atual Campo dos Mártires da Pátria).
Os espaços exteriores são as ruas de Lisboa e, no final da peça, o alto de uma serra donde se avista o forte de S. Julião. Os espaços interiores são a casa de Matilde, o palácio da Regência e uma igreja onde Matilde se confronta com o principal Sousa.
Na encenação da peça, para se transmitir a ideia de mudança de espaço seriam fundamentais os jogos de luzes, os focos a isolar determinadas personagens.
8.        Os dois atos iniciam-se com a personagem Manuel, um dos poucos populares que tem o seu nome explicitado. Parece, portanto, que o dramaturgo quis valorizar a personagem.
9.        Segundo Luciana Stegano Picchio, Sttau Monteiro «constrói em torno da figura do general Gomes Freire uma trágica apoteose da história do movimento liberal oitocentista».
10.      A realidade do período da Regência, que é o contexto histórico de Felizmente Há Luar!, é transponível para a fase política que se atravessava quando Sttau Monteiro escreveu a peça.
11.       A obra tem como figura central o general Gomes Freire de Andrade, que, «embora nunca apareça», como diz o dramaturgo, está sempre «presente».
12.      De um lado, temos Manuel, Rita e um Antigo Soldado. Oposto a este, podemos considerar um núcleo que inclui Vicente, Andrade Corvo, Morais Sarmento, os dois polícias.
13.      No núcleo de personagens constituído pelos governantes (Beresford, o principal Sousa, D. Miguel), podemos considerar que cada um representa um certo grupo social.

Conselho — Fazer o mesmo trabalho — reler enquadrados no manual — também para Memorial do Convento, sobretudo, e talvez Pessoa — incluindo Mensagem — ou Camões. No caso das obras de leitura integral (Memorial, Felizmente, Frei Luís de Sousa — talvez até o «Sermão»), ter lido mesmo o texto todo será uma boa vantagem.


Indica a função sintática das expressões sublinhadas (umas poucas terão um grau de dificuldade excessivo para exame; porém, em geral, ficaram os tipos mais recorrentes em provas — descartei o complemento do nome e o complemento do adjetivo). Na prova, tens de escrever o termo completo.

Frase (em geral de Último a sair)
A ter em atenção
Função sintática
Ó pessoal, podem vir até aqui?


Ó pessoal, podem vir até aqui?


Antes que expluda, é melhor falarmos entre todos.
oração adverbial temporal

Antes que expluda, é melhor falarmos entre todos.


Basicamente, é isto.
* É basicamente que é isto

Vocês acham normal terem-me nomeado?
acham normal isso

Vocês acham normal terem-me nomeado?
cfr. verbo transitivo-predicativo

terem-me nomeado
terem-na /* terem-lhe

Limpo esta merda todas as semanas.
Limpo-a

Limpo esta merda todas as semanas.
Que faço todas as semanas?

Limpo a merda que vocês deixam espalhada na cozinha.
«que» = ‘a merda’, ‘a qual’

Trato das plantas.


Estou-te a perguntar se és tu que vais limpar tudo isto.


Vê se te acalmas.
se o acalmas / * se lhe acalmas

Deixa o Bruno em paz.


Olha a gaja que fala com as árvores.
oração adjetiva relativa restritiva

Olha a gaja que fala com as árvores.


Ai, coitadinha, que eu sou tão especial.
cfr. verbo copulativo

Vou mostrar ao mundo a verdadeira Luciana.
Vou mostrar-lhe

Olha, filha, verdadeiro é isto.
cfr. «verdadeiras são estas»

Eu não fui assim criada.


Pensas que vens aqui falar assim para as pessoas.
= isso / substantiva completiva

Sónia, gostas de partir pratos?
* Que faz ela de partir pratos? Gosta

Débora e Luciana, que são ambas tripeiras, discutem.


Por causa da nomeação de Débora gerou-se grande discussão.


— O Roberto uniu-nos — disseram Débora e Rui.


— Os quartos e a casa foram limpos por mim — disse a sopeirinha.




Classifica as orações sublinhadas:

Foi um momento chocante, teve a entrada do INEM, porque a situação estava complicada.
Vou fazer uma cena que ainda não mostrei a ninguém.
É um salto muito complicado, mas tens de o ver.
Quero que dês um mortal e que te partas todo.
Quero que dês um mortal e que te partas todo.
Se te partisses todo, deixavas-me em paz.
Vês o mortal ou não vês o mortal.
É um mortal que eu vi num filme.
A produção já contactou o 112 e o Inem está a chegar à casa.
Nuno Lopes perguntou se não o queriam no programa.
Não tenho trabalho até setembro, portanto faço aí umas macacadas.
Nuno Lopes entrará na casa, pois Bruno Nogueira partiu a perna.
Mal saia Bruno, entrará Nuno.
Como Sónia não lhe ligava, Bruno fez um mortal.
Para que voltes a falar comigo, é preciso o quê?
Bruno quer Sónia, embora esta pouco lhe ligue.
Nuno Lopes representa tão bem como canta Luciana Abreu.
Bruno Nogueira, que é também o argumentista, partiu a perna.
Saltou tão mal que partiu a perna.
Quem se porta mal na casa recebe más votações.

Indica o valor das seguintes orações sublinhadas:
da segunda — _____________
da antepenúltima — ___________

Conselho — Ver folha(s) com lista de orações (e conjunções que as iniciam), para fixar todas as situações. Para funções sintáticas, talvez uma folha nossa onde indicava todos os critérios. Para dúvidas, os capítulos que reproduzi no blogue são esclarecedores. Nesta semana só não chegámos a rever a formação de palavras e os tipos de texto.

Uma dissertação de exame (modelo tirado de Plural 12, Caderno de Atividades):

GRUPO III
No mundo atual em crise, económica e de valores, o voluntariado pode ser um caminho de ajuda aos outros e, simultaneamente, de realização pessoal.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia exposta no excerto transcrito.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.

[Solução possível:]
            É impossível ignorar a crise em que a Europa mergulhou. Até há pouco tempo esperança para muitos, o projeto europeu parece ruir e, na queda, arrasta milhões de desempregados e de famílias em desespero. O que fazer para minimizar o problema? Entre as muitas formas de intervenção possíveis, o voluntariado é, sem dúvida, um caminho ao nosso alcance, que nos trará muitas compensações.
            A verdade é que, quando olhamos à nossa volta com a atenção que os outros nos merecem, é impossível não sentir as necessidades que de todos os lados apelam à nossa intervenção. Ora, se sempre reclamámos uma Europa dos cidadãos, é agora o momento de ser responsável e atuante, e ajudar os outros é, precisamente, um exercício de cidadania. Estamos num tempo em que ninguém pode sentir-se de fora: se hoje são os outros a necessitar de ajuda, amanhã poderemos ser nós. Felizmente, são muitos os exemplos de envolvimento voluntário, desde o Banco Alimentar Contra a Fome, à AMI, à Abraço, às muitas organizações de solidariedade social que abrirão as portas ao nosso contributo que, sendo voluntário, não deixa de constituir um dever.
            Mas não poderemos colocar esta questão apenas no plano dos direitos e dos deveres. Fazer volunta­riado vai para além dessa dimensão, que, sendo a essencial, não esgota, contudo, o alcance da ação voluntária. É que o retorno de realização pessoal é extraordinário, bastando escutar os testemunhos de quantos se dedicam a ajudar os outros para compreendermos que, ao fazê-lo, estamos a ajudar-nos a nós próprios. Inúmeros estudos atestam, por exemplo, a eficácia da colaboração em ações de voluntariado no combate à depressão e na ajuda à construção de um projeto de vida.
Em suma, sejamos atuantes. Não esqueçamos que, ao apoiar os outros, damos um sentido maior à nossa vida. Não há dúvida de que o voluntariado é um caminho de ajuda altruísta e, «simultaneamente, de realização pessoal».

Conselho — A partir de certa altura, não insistir no estudo (se isso prejudicar o descanso ou sono suficientes). Num exame de Português é decisivo ir com a cabeça em boa forma. Mais importante do que ter tudo revisto em cima da hora, é conseguir ler e escrever com inteligência. Se não tiver havido descanso, não estarão suficientemente frescos. É uma prova mais de performance do que de estrita avaliação de conhecimentos.

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