Monday, August 29, 2016

Sobre a subjetividade da classificação dos exames de Português



Como tantas vezes tem acontecido com os exames de Português, percebe-se que a classificação de provas tem uma margem de subjetividade excessiva. Se percorrermos as pautas, mesmo conhecendo só parte dos alunos, vamo-nos apercebendo, logo ao primeiro relance, de que há zonas com notas (i) simpáticas, (ii) exigentes (mas, reconheça-se, talvez segundo a bitola mais comum nos exames), (iii) destrambelhadamente severíssimas. Ainda sem ter feito contas, percebi de imediato que o classificador das provas de alunos com nome começado por C tinha sido relativamente generoso (ou, mais provavelmente, equilibrado na forma como encarara a classificação das provas) e que o classificador dos alunos em L-M tinha sido muito antipático. Até este momento, note-se, jogara apenas com o meu conhecimento dos alunos (que eram menos de um terço do total nas pautas).
Se fizermos contas, contrastando as notas internas (CIF) e as notas de exame, vemos que, dentro de cada sequência atribuível a um classificador, o desfasamento é bastante uniforme. Nos dados seguintes, já aproveitei as classificações de todos os alunos internos (e não apenas os meus) — descartei os externos e os «externos por equívoco» (nas pautas, saíram como externos alguns que não tinham frequentado o nosso sistema nos dois anos anteriores, vindos do Brasil, Cabo Verde, EUA — porém, a média da nota destes alunos é feita na secretaria). Tenha-se em conta que eram distribuídos aos corretores conjuntos de 55 provas. Aos supervisores — corretores mais especializados — são atribuídas menos provas (admito que a sequência final, de apenas 23 provas, tivesse calhado a um supervisor).

Provas de ...
[n.º de provas (n.º de internos)]
Diferença exame / CIF (soma, em valores, de todas as provas)
Média da diferença entre exame e CIF
Afonso a Bárbara [55 (41)]
- 109
-2,66
Beatriz a Débora C. [55 (44)]
- 27
- 0,61
Débora R. a Inês C. [55 (48)]
- 96
-2
Inês M. a Laura R. [55 (43)]
- 102
- 2,37
Laura M. a Melissa [55 (48)]
- 140
- 2,92
Miguel a Sara Mel. [55 (40)]
- 66
- 1,65
Sara Mend. a Yaryna [23 (20)]
- 36
- 1,8

O segundo classificador (Bea-Déb) deu notas, quase sempre, próximas da nota de frequência. Por dezasseis vezes, a nota de exame é superior à nota interna. Há até um 20 (de alguém com 18 na CIF). São notas generosas mas, porventura, até dentro do que deveria ser o verdadeiro espírito dos critérios de classificação de exames. Desta sequência, foi-me dada a ver uma só prova (nesta série, como é óbvio, quase ninguém pensou em recorrer) e pareceu-me a sua correção equilibrada. Do conhecimento que tenho dos alunos, confirmo que, em geral, os desta sequência tiveram notas adequadas (embora, aqui e ali, até mais altas do que esperávamos).
Ao contrário, o quinto classificador (Lau-Mel) classifica as provas praticamente sempre abaixo das notas internas (por vezes, bastante abaixo). Conhecendo alunos, tendo também ecos acerca de notas de alunos que não conheço, confirmamos que as notas desta sequência foram desajustadas, muito «forretas», e que alunos terão sido prejudicados. Pude ver algumas destas provas — os candidatos a recurso eram já mais — e notei que houve uma interpretação irritada dos critérios de classificação.
Foram também demasiado exigentes o primeiro classificador (Af-Bar), o que confirmei pela leitura de uma prova por si corrigida, e o quarto (Inês M.-Laura R.).
Lamento que os alunos destas três séries tenham sido injustiçados.
O desfasamento CIF-exame por parte dos corretores terceiro, sexto e sétimo talvez esteja dentro da tradição destes exames de Português. Muitos dos alunos destas séries tiveram menos um valor em exame do que na CIF, o que fica dentro do esperável.
Enfim, tudo isto significa que uma mesma prova de exame, se assinada por uma Leocádia ou Mécia, teria menos dois valores e três décimas do que quando subscrita por uma Carla (nome que — como o onomástico muda rapidamente! — já não consta entre os 350 alunos). Mas quem manda a alguém chamar-se Leocádia ou Mécia?