Friday, September 11, 2009

Testes

Aqui está uma correcção da prova nacional de 16 de Junho. Fi-la quando estava no secretariado de exames (durante a prova; ainda sem saber as correcções do GAVE). Admito que possa escapar-me algum pormenor. (Nas perguntas de interpretação haverá, é claro, outras soluções — e a minha pode ser, aqui e ali, excessiva.)

Grupo I
A
1. Trata-se da estância que resume o regresso das armada. (E, já agora, note-se como há aqui uma desproporção, entre tempo do discurso e tempo da história: uma única oitava serve para todo o percurso de volta.) As naus tiveram uma viagem em condições agora ideais («mar sereno / com vento sempre manso e nunca irado»), até chegarem a Lisboa («foz do Tejo ameno»). Ao cumprirem a sua missão, os nautas portugueses tornaram a pátria e o seu monarca, D. Manuel, mais poderosos.
2. As estâncias 145-148 do canto X, quase as últimas do poema épico (que termina no oitava 156), revelam sentimentos contraditórios (desalento, orgulho, esperança). O poeta recusa continuar o seu canto («No mais, Musa, no mais»), não por cansaço, mas por desânimo. O seu desalento advém de constatar que canta para «gente surda e endurecida», «metida no gosto da cobiça de na rudeza dua austera, apagada e vil tristeza». Por contraste, temos também o orgulho nos que continuam dispostos a lutar pela grandeza do passado e a esperança de que o Rei saiba estimular e aproveitar essas energias latentes («olhai que sois […] senhor só de vassalos excelentes»). É um apelo nesse sentido que vemos nas estrofes 147 e 148: louvam-se, primeiro, os intrépidos portugueses (147) dispostos a tudo para servir o seu rei (148). (Tudo isto é um pouco eufemístico: o poeta quer sobretudo que D. Sebastião reconheça o valor dos que por ele lutaram, e nesse grupo se inclui.)
3. A enumeração que ocupa quase toda a estrofe («a fomes e vigias [até] a naufrágios, a pexes, ao profundo») tem carácter anafórico (todos os segmentos começam pela preposição «a»). A presença repetida da preposição torna a série mais enfática, realçando-se assim a quantidade de situações a que os destemidos portugueses se não furtaram (para servir a pátria e o rei). Por outro lado, a estrutura é assindética (só há vírgulas entre os segmentos principais), mas, a meio dos sintagmas, surge algumas vezes a copulativa «e». Consegue-se um efeito de acumulação (hiperbólico, próprio da «tuba canora e belicosa» da épica), mas, ao mesmo tempo, mantém-se a necessária fluidez num momento que tem também carácter vagamente lírico (é a despedida e o tom não deixa de ser lamentoso).
4. [Em cima fui referindo o desânimo por se dirigir a quem o poeta acha que não o ouve (e não repito agora a citação). Há também revolta por não sentir o poeta o reconhecimento que julga merecer («O favor com que mais se acende o engenho / Não no dá a pátria»; «não sei por que influxo de Destino não tem um ledo orgulho e geral gosto»). Esse ressentimento nota-se ainda no modo como o poeta caracteriza a situação que se vive: a pátria está decadente («metida no gosto da cobiça e na rudeza d’ua austera, apagada e vil tristeza»).]

B
[Poder-se-ia lembrar que Blimunda recolheu as vontades indispensáveis à realização do voo, recordando, eventualmente, peripécias dessa importante tarefa (que lhe foi delegada por Bartolomeu): a epidemia em Lisboa, que propiciou boa colecção de vontades; a doença de Blimunda, depois curada pela música de Scarlatti. Além disso, Blimunda acompanhou Baltasar na estada na quinta dos Duques de Aveiro, quando foi construída a passarola. Integrou o voo inaugural (de São Sebastião a Montejunto), tendo nessa viagem papel mais racional até que o próprio Padre Bartolomeu (que por essa altura vai enlouquecendo). Menos directamente, poder-se-ia alegar a sua sabedoria, a força da Sete-Luas (é da trindade quem sobrevive), o carácter sibilino.]

Grupo II
1. Em relação às proezas exaltadas na antiguidade clássica, os contemporâneos de Camões consideraram a expansão portuguesa de importância // superior.
2. A aventura portuguesa entendida como uma forma de divulgação do cristianismo traduz o pensamento da classe mais // instruída.
3. A passagem do Cabo da Boa Esperança, no século XV, // marcou o começo de uma nova época.
4. As expressões textuais «expansão portuguesa» (l. 1) [e as restantes que não transcrevo] contribuem para a coesão // lexical.
5. Os termos «livre-arbítrio» (l. 8) e «fatalismo» (l. 8) mantêm entre si uma relação semântica de // oposição.
6. Em «para a sua errância» (linhas 6 e 7) «sua» remete para // «os homens».
7. A forma verbal «haviam gerado» (linha 22) encontra-se no // pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo.
8. Com o conector «Mas» (linha 2), // o enunciador traduz uma relação de contraste.
Ao usar o pronome átono «os» (linha 8), // o enunciador retoma um referente expresso na primeira linha do parágrafo.
Ao usar parênteses (linha 15), // o enunciador clarifica a referência de uma expressão nominal.
Ao mencionar a viagem de Bartolomeu Dias, a de Vasco da Gama e outras viagens portuguesas, nas linhas 15 a 20, // o enunciador fundamenta a ideia exposta no segundo parágrafo do texto.
Com o advérbio «avidamente» (linha 25), o enunciador introduz um modificador do predicado.


Grupo III [Não ponho resposta; a vossa há-de estar excelente.]