Wednesday, September 07, 2022

Aula 61-62

Aula 61-62 (16/jan [5.ª]; nas turmas mais atrasadas, esta aula será diluída em outras) Sobre gravações (cfr. Apresentação).

A pouco e pouco temos revisto as classes de palavras (adjetivo, verbo, preposição, pelo menos). Calha agora a do pronome. Vamos olhar sobretudo os Pronomes pessoais (situa-te, por favor, nas pp. 309-310).

Como nos pronomes pessoais ainda sobrevivem os «casos» latinos (vão apresentando formas diferentes conforme o papel sintático que desempenhem), também nos interessa lembrar os critérios para distinguir funções sintáticas (o nosso manual, pp. 321-325, é um pouco incompleto quanto a isto; ao contrário, o manual de muitos o ano passado, P9, tem boas páginas sobre o assunto — pp. 280-282).

Alguns critérios para distinguir funções sintáticas

— só das funções que podem interessar agora —

o sujeito concorda com o verbo. Se experimentarmos alterar o número ou pessoa do sujeito, isso refletir-se-á no verbo que é núcleo do predicado:

Caiu a cadeira. Caíram as cadeiras (Para se confirmar que «a cadeira» não é aqui o complemento direto: *Caiu-a.)

O complemento direto é substituível pelo pronome «o» («a», «os», «as»):

Dei um doce ao orangotango. = Dei-o ao orangotango.

O complemento indireto, introduzido pela preposição «a», é substituível por «lhe»:

Dei um doce ao orangotango. = Dei-lhe um doce.

O complemento oblíquo, e mesmo quando usa a preposição «a» (uma das várias que o podem acompanhar), nunca é substituível por «lhe»:

Assistiu ao Sporting-Braga. *Assistiu-lhe.

Para identificarmos um modificador do grupo verbal, podemos fazer a pergunta «O que fez [sujeito] + [modificador]?» e tudo soará gramatical:

A Florinda estudou gramática na segunda-feira.

Que fez a Florinda na segunda-feira? Estudou gramática.

Ao contrário, se se tratar de um complemento oblíquo, o resultado é agramatical:

O Acácio foi à Cova da Moura.

* Que fez o Acácio à Cova da Moura? Foi.

Reconhece-se o complemento agente da passiva com facilidade. Começa com a preposição «por» e podemos adotá-lo como sujeito da mesma frase na voz ativa:

A passagem de ano foi prejudicada pelo fogo. O fogo prejudicou a passagem de ano.

O predicativo do sujeito é uma função sintática associada a verbos copulativos (como «ser», «estar», «parecer», «ficar», «permanecer», «continuar», mas também «tornar-se», «revelar-se», «manter-se», etc.). Atribui uma qualidade ao sujeito ou localiza-o no tempo ou no espaço.

Os taxistas andam revoltados.

A Violeta está em casa.

Encosta-te a mim

1             Encosta-te a mim,

2             Nós já vivemos cem mil anos

               Encosta-te a mim,

4             Talvez eu esteja a exagerar

               Encosta-te a mim,

               Dá cabo dos teus desenganos

7             Não queiras ver quem eu não sou,

8             Deixa-me chegar.

               Chegado da guerra,

               Fiz tudo p'ra sobreviver em nome da terra,

11            No fundo p'ra te merecer

12           Recebe-me bem,

               Não desencantes os meus passos

14           Faz de mim o teu herói,

               Não quero adormecer.

 

16           Tudo o que eu vi,

17            Estou a partilhar contigo

               O que não vivi hei de inventar contigo

               Sei que não sei às vezes entender o teu olhar

20           Mas quero-te bem, encosta-te a mim.

 

               Encosta-te a mim,

               Desatinamos tantas vezes

23           Vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal

               Recebe esta pomba que não está armadilhada

               Foi comprada, foi roubada, seja como for.

26           Eu venho do nada porque arrasei o que não quis

               Em nome da estrada, onde só quero ser feliz

               Enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada

               Vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.

 

               Tudo o que eu vi,

               Estou a partilhar contigo o que não vivi,

               Um dia hei de inventar contigo

               Sei que não sei às vezes entender o teu olhar

               Mas quero-te bem, encosta-te a mim.

Jorge Palma, Voo Noturno

Na tabela estão pronomes pessoais encontráveis em «Encosta-te a mim». Tendo o cuidado de ir verificar o contexto em que aparecem os pronomes na letra da canção, escreve a função sintática de cada um. (Não te limites a procurar no quadro no manual; tenta mesmo compreender a função do pronome nas frases em causa.)

verso

pronome

função sintática

comentário que pode ajudar na decisão quanto à função desempenhada

1

te

 

Na 3.ª pessoa seria «ele encosta-se».

1

mim

 

Era possível trocar por «encosta-te-me».

2

Nós

 

 

4

eu

 

 

7

eu

 

 

8

me

 

O pronome da 3.ª pessoa não seria «*deixa-lhe» mas «deixa-o».

11

te

 

Na 3.ª pessoa seria «para o merecer».

12

me

 

Na 3.ª pessoa não seria «*recebe-lhe».

14

mim

 

 

16

eu

 

 

17

contigo

 

 

20

te

 

Há duas interpretações possíveis: ‘quero a ti bem’ (= ‘desejo a ti o melhor’) e ‘quero-te muito’ (= ‘desejo-te muito’).

23

mim

 

 

26

Eu

sujeito

 

Ouvida a segunda metade do episódio da série ‘Grandes livros’ acerca das obras de Fernão Lopes, à esquerda destes períodos escreve V(erdadeiro) ou F(also).

Cerco de Lisboa foi levantado assim que chegou ajuda vinda do Porto.

Segundo Teresa Amado, foi o povo de Lisboa que fez regente do reino D. João, Mestre de Avis.

As Crónicas de Fernão Lopes são sobretudo textos de história, mais do que textos literários.

Segundo Borges Coelho, apesar de ainda em português medieval, a prosa de Fernão Lopes é moderna porque é próxima da fala, do diálogo.

Para Teresa Amado, a história de Fernão Lopes é também uma história de pessoas (não é uma história exterior, apenas de factos).

Para Alice Vieira, a história como escrita por Fernão Lopes é como um relato de aventuras, de bons e maus, de luta pelo poder, apaixonante, uma «reportagem».

Para António Borges Coelho, Fernão Lopes tem o dom da síntese — numa frase, num grito popular consegue juntar uma multidão em movimento.

Em 1385, as cortes reúnem em Coimbra com vista a dar um novo rei a Portugal.

João das Regras defendeu que a escolha do rei devia resultar de um referendo, semelhante ao que não se haveria de fazer na Catalunha uns séculos mais tarde.

Segundo Borges Coelho, a Crónica de D. João I é a história da refundição do estado português.

A desproporção entre o número de castelhanos e portugueses em Aljubarrota foi ainda inflacionada por Fernão Lopes.

O herói que emerge na batalha de Aljubarrota é D. João I.

A estratégia usada para derrotar os castelhanos em Aljubarrota incluiu a disposição das tropas em quadrado, um terreno em declive, fossas cheias de cocós de cão mas disfarçadas com folhagem.

Segundo Jaime Nogueira Pinto, não haveria Portugal hoje se não tivessem existido D. João e D. Nuno Álvares Pereira — teríamos sido absorvidos pela Espanha em formação.

As Crónicas foram encomendadas a Fernão Lopes por D. Duarte, filho de D. João I, também com o fito de legitimar a segunda dinastia.

A convicção de Teresa Amado é que D. Duarte seria suficientemente inteligente e culto para ter dado liberdade a Fernão Lopes, sem o condicionar.

Segundo Borges Coelho, investigação recente tem mostrado como era parcial a perspetiva de Fernão Lopes.

Segundo Nogueira Pinto, Fernão Lopes gosta dos portugueses, chegando mesmo a assediá-los.

Borges Coelho lembra que Fernão Lopes, por hábito de tabelião, procurava documentação («ia às fontes») e lera os autores que tinham já tratado aqueles episódios.

Para Alice Vieira, dada a vivacidade que imprime ao relato, parece-nos sempre que Fernão Lopes esteve no centro dos acontecimentos.

Conheces as reportagens que são incluídas em telejornais ou programas de informação. A jornalista faz introdução (descreve o contexto), depois ouve uns populares ou uns especialistas, volta a sintetizar, pode até dialogar com o pivô no estúdio, etc. Escreve um desses diretos, no momento do cerco de Lisboa, baseando-te no texto de Fernão Lopes (pp. 99-102), mas criando também parte do contexto.

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