Aula 61-62
Aula 61-62 (16/jan [5.ª]; nas turmas mais atrasadas, esta
aula será diluída em outras) Sobre gravações (cfr. Apresentação).
A pouco e pouco temos
revisto as classes de palavras (adjetivo,
verbo, preposição, pelo menos). Calha agora a do pronome. Vamos olhar sobretudo os Pronomes pessoais
(situa-te, por favor, nas pp. 309-310).
Como nos pronomes pessoais
ainda sobrevivem os «casos» latinos (vão apresentando formas diferentes conforme
o papel sintático que desempenhem), também nos interessa lembrar os critérios para distinguir funções
sintáticas (o nosso manual, pp. 321-325, é um pouco incompleto quanto a
isto; ao contrário, o manual de muitos o ano passado, P9, tem boas páginas sobre o assunto — pp. 280-282).
Alguns critérios para distinguir funções sintáticas
— só
das funções que podem interessar agora —
o sujeito
concorda com o verbo. Se experimentarmos alterar o número ou pessoa do sujeito,
isso refletir-se-á no verbo que é núcleo do predicado:
Caiu
a cadeira. → Caíram
as cadeiras
(Para se confirmar que «a cadeira» não
é aqui o complemento direto: → *Caiu-a.)
O complemento direto é
substituível pelo pronome «o» («a», «os», «as»):
Dei um doce ao orangotango. = Dei-o ao
orangotango.
O complemento indireto,
introduzido pela preposição «a», é substituível por «lhe»:
Dei um doce ao orangotango. = Dei-lhe
um doce.
O complemento oblíquo, e
mesmo quando usa a preposição «a» (uma das várias que o podem acompanhar),
nunca é substituível por «lhe»:
Assistiu ao Sporting-Braga. → *Assistiu-lhe.
Para identificarmos um modificador
do grupo verbal, podemos fazer a pergunta «O que fez [sujeito] +
[modificador]?» e tudo soará gramatical:
A Florinda estudou gramática na segunda-feira.
Que fez a Florinda na
segunda-feira? Estudou gramática.
Ao contrário,
se se tratar de um complemento oblíquo, o resultado é
agramatical:
O Acácio foi à Cova da
Moura.
* Que fez o Acácio à Cova da Moura? Foi.
Reconhece-se o complemento
agente da passiva com facilidade. Começa com a preposição «por» e
podemos adotá-lo como sujeito da mesma frase na voz ativa:
A passagem de ano foi
prejudicada pelo fogo. → O fogo prejudicou a passagem de ano.
O predicativo do sujeito
é uma função sintática associada a verbos copulativos (como «ser», «estar»,
«parecer», «ficar», «permanecer», «continuar», mas também «tornar-se»,
«revelar-se», «manter-se», etc.). Atribui uma qualidade ao sujeito ou localiza-o
no tempo ou no espaço.
Os taxistas andam revoltados.
A Violeta está em casa.
Encosta-te a mim
1 Encosta-te a mim,
2 Nós já vivemos cem mil anos
Encosta-te a mim,
4 Talvez eu esteja a exagerar
Encosta-te a mim,
Dá cabo dos teus desenganos
7 Não queiras ver quem eu não sou,
8 Deixa-me chegar.
Chegado da guerra,
Fiz tudo p'ra sobreviver em nome
da terra,
11 No fundo p'ra te merecer
12 Recebe-me bem,
Não desencantes os meus passos
14 Faz de mim o teu herói,
Não quero adormecer.
16 Tudo o que eu vi,
17 Estou a partilhar contigo
O que não vivi hei de inventar
contigo
Sei que não sei às vezes entender
o teu olhar
20 Mas quero-te bem, encosta-te a mim.
Encosta-te a mim,
Desatinamos tantas vezes
23 Vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
Recebe esta pomba que não está
armadilhada
Foi comprada, foi roubada, seja
como for.
26 Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
Em nome da estrada, onde só quero
ser feliz
Enrosca-te a mim, vai desarmar a
flor queimada
Vai beijar o homem-bomba, quero
adormecer.
Tudo o que eu vi,
Estou a partilhar contigo o que
não vivi,
Um dia hei de inventar contigo
Sei que não sei às vezes entender
o teu olhar
Mas quero-te bem, encosta-te a
mim.
Jorge Palma, Voo Noturno
Na tabela estão pronomes pessoais encontráveis em
«Encosta-te a mim». Tendo o cuidado de ir
verificar o contexto em que aparecem os
pronomes na letra da canção, escreve a função sintática de cada um. (Não te
limites a procurar no quadro no manual; tenta mesmo compreender a função do
pronome nas frases em causa.)
verso |
pronome |
função sintática |
comentário que pode
ajudar na decisão quanto à função desempenhada |
1 |
te |
|
Na
3.ª pessoa seria «ele encosta-se». |
1 |
mim |
|
Era
possível trocar por «encosta-te-me». |
2 |
Nós |
|
|
4 |
eu |
|
|
7 |
eu |
|
|
8 |
me |
|
O pronome da 3.ª pessoa não seria «*deixa-lhe» mas
«deixa-o». |
11 |
te |
|
Na
3.ª pessoa seria «para o merecer». |
12 |
me |
|
Na
3.ª pessoa não seria «*recebe-lhe». |
14 |
mim |
|
|
16 |
eu |
|
|
17 |
contigo |
|
|
20 |
te |
|
Há duas interpretações possíveis: ‘quero a ti bem’ (=
‘desejo a ti o melhor’) e ‘quero-te muito’ (= ‘desejo-te muito’). |
23 |
mim |
|
|
26 |
Eu |
sujeito |
|
Ouvida a segunda metade do episódio da série
‘Grandes livros’ acerca das obras de Fernão Lopes, à esquerda destes períodos
escreve V(erdadeiro) ou F(also).
Cerco de Lisboa foi levantado assim que chegou ajuda vinda do
Porto.
Segundo Teresa Amado, foi
o povo de Lisboa que fez regente do reino D. João, Mestre de Avis.
As Crónicas de Fernão Lopes são sobretudo textos de história, mais do
que textos literários.
Segundo Borges Coelho,
apesar de ainda em português medieval, a prosa de Fernão Lopes é moderna porque
é próxima da fala, do diálogo.
Para Teresa Amado, a
história de Fernão Lopes é também uma história de pessoas (não é uma história
exterior, apenas de factos).
Para Alice Vieira, a
história como escrita por Fernão Lopes é como um relato de aventuras, de bons e
maus, de luta pelo poder, apaixonante, uma «reportagem».
Para António Borges
Coelho, Fernão Lopes tem o dom da síntese — numa frase, num grito popular consegue
juntar uma multidão em movimento.
Em 1385, as cortes reúnem
em Coimbra com vista a dar um novo rei a Portugal.
João das Regras defendeu
que a escolha do rei devia resultar de um referendo, semelhante ao que não se
haveria de fazer na Catalunha uns séculos mais tarde.
Segundo Borges Coelho, a Crónica de D. João I é a história da
refundição do estado português.
A desproporção entre o
número de castelhanos e portugueses em Aljubarrota foi ainda inflacionada por
Fernão Lopes.
O herói que emerge na batalha
de Aljubarrota é D. João I.
A estratégia usada para
derrotar os castelhanos em Aljubarrota incluiu a disposição das tropas em
quadrado, um terreno em declive, fossas cheias de cocós de cão mas disfarçadas
com folhagem.
Segundo Jaime Nogueira
Pinto, não haveria Portugal hoje se não tivessem existido D. João e D. Nuno
Álvares Pereira — teríamos sido absorvidos pela Espanha em formação.
As Crónicas foram encomendadas a Fernão Lopes por D. Duarte, filho de
D. João I, também com o fito de legitimar a segunda dinastia.
A convicção de Teresa
Amado é que D. Duarte seria suficientemente inteligente e culto para ter dado
liberdade a Fernão Lopes, sem o condicionar.
Segundo Borges Coelho,
investigação recente tem mostrado como era parcial a perspetiva de Fernão
Lopes.
Segundo Nogueira Pinto,
Fernão Lopes gosta dos portugueses, chegando mesmo a assediá-los.
Borges Coelho lembra que
Fernão Lopes, por hábito de tabelião, procurava documentação («ia às fontes») e
lera os autores que tinham já tratado aqueles episódios.
Para Alice Vieira, dada a
vivacidade que imprime ao relato, parece-nos sempre que Fernão Lopes esteve no
centro dos acontecimentos.
Conheces as
reportagens que são incluídas em telejornais ou programas de informação. A
jornalista faz introdução (descreve o contexto), depois ouve uns populares ou
uns especialistas, volta a sintetizar, pode até dialogar com o pivô no estúdio,
etc. Escreve um desses diretos, no momento do cerco de Lisboa, baseando-te no
texto de Fernão Lopes (pp. 99-102), mas criando também parte do contexto.
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